Mondo Pop

O pop de ontem, hoje, e amanhã...

Tag: documentário (page 3 of 4)

Gretchen Filme Estrada, bizarro e genial

Por Fabian Chacur

Adoro ver documentários sobre praticamente qualquer tema. Música, então, vira obrigação, por razões profissionais e também gosto pessoal. Neste sábado (15), tive a oportunidade de finalmente conferir Gretchen Filme Estrada (2010), e fiquei simplesmente estupefato. Bizarro e genial ao mesmo tempo!

Maria Odete Miranda virou Gretchen na segunda metade dos anos 70, e tornou-se sucesso nacional graças ao faro do produtor argentino radicado no Brasil Mister Sam. Ele sacou a sensualidade da jovem e soube oferecer a ela um repertório ideal, composto de pop dançante com tempero latino e muita simplicidade, ideais para sua voz de pequena extensão, embora bastante agradável. Deu certo.

Durante um período de aproximadamente cinco anos, a cantora levou às paradas hits dançantes como Freak Le Boom Boom, Melô do Piripiri (Je Suis La Femme) e Conga Conga Conga e se tornou figurinha fácil em programas populares de TV do tipo Silvio Santos e Chacrinha. Aí, Sam e Gretchen seguiram caminhos distintos, e o sucesso da moça acabou.

A partir de meados dos anos 80, Gretchen passou a viver do passado, dublando seus sucessos onde fosse possível. De tempos em tempos, tentava gravar novos hits, mas seus discos nunca mais venderam coisa alguma, e nem mesmo um breve retorno da parceria com Sam nos anos 90 reverteu tal situação, ou Marisa Monte cantar Conga Conga Conga em alguns shows.

Gretchen Filme Estrada surgiu com o intuito de registrar a campanha da moça para tentar ser eleita em 2008 prefeita de Itamaracá, em Pernambuco, onde se radicou há mais de uma década. Seu projeto era abandonar a vida artística e mergulhar de vez na política. Inacreditável, mas real. Quem será que deu a ela essa ideia “genial”?

O que vemos no documentário é uma pessoa próxima dos 50 anos de idade com a ingenuidade de uma adolescente de antigamente. Sua incursão na política é do tipo “eu sou a solução para tudo”, típica de quem não tem noção de onde está entrando. Seu ataque de choro no finalzinho do filme prova isso de forma certeira. Isso, mesmo com pessoas tentando treiná-la.

Enquanto sua campanha se desenvolve aos trancos e barrancos, com direito a uma inesperada mudança da candidata a vice no decorrer do período, ela é flagrada durante apresentações patéticas em pequenos shows no nordeste, realizados em circos com condições precárias e na base da dublagem dos sucessos dos velhos e bons tempos.

Em uma das apresentações, o CD player falha, e Gretchen paga o mico de, perante um público quase inexistente, ter de repetir a música mais de uma vez. O momento mais triste é em João Pessoa (PB), quando uma chuva de proporções bíblicas afasta o público e deixa o circo mais vazio do que bolso de pobre. De chorar.

Conforme o tempo vai passando, a inicialmente animada Gretchen vai se dando conta da fria na qual entrou, e com isso nossa personagem se torna perdida, tensa, agressiva e em muitos momentos sem saber o que fazer. Uma senhora chega a questionar Gretchen: “eu acho que você sonhou alto demais”. Sonhou mesmo…

No fim das contas, a Rainha do Bumbum não passa de 400 votos, algo em torno de 2% do eleitorado local, e vê seu “sonho” enterrado bem fundo. Na verdade, fica claro, no fim das contas, que ela foi vítima de sua total falta de noção e incapacidade de investir em uma carreira política. Tremo só de pensar no que ocorreria, se ela fosse eleita.

Eliane Brum e Paschoal Samora mereciam um prêmio por terem conseguido, a partir de um material tão ruim, concretizar um documentário como esse. Em alguns momentos do filme, por exemplo, temos depoimentos das pessoas autorizando o uso de suas imagens no documentário. Vários momentos, por sinal! Em um deles, com o público de um dos circos onde ela cantou falando junto com ela a frase cedendo seus direitos.

Se esse material exibido era o melhor disponível, dá arrepios imaginar nas sobras de filmagens… Pouco se fala na carreira de Gretchen, de como começou, como gravou os hits etc, e o nome de Mister Sam sequer é citado durante ele. No fim, é exibido um clipe com ela cantando nos bons tempos, o que equivale a uma espécie de “olhem como ela era, e olhem como ela ficou, depois de tantos anos”.

Gretchen Filme Estrada é ao mesmo tempo bizarro e essencial, pois mostra a coragem de uma artista ao se mostrar tão frágil, perdida e mal assessorada em uma fase de carreira na qual deveria estar devidamente consolidada. Tipo do filme ideal para quem acha fácil ser artista.

Ainda mais quando a artista em questão não conseguiu dar continuidade ao que parecia ser seu destino, no início: uma diva pop. No fim das contas, virou uma melancólica caricatura disso. Mesmo assim, Gretchen merece nosso carinho e nosso apoio, pois continua sendo aquela adolescente sonhadora de seu início, nos já distantes anos 70 do século passado.

Veja cenas de Gretchen Filme Estrada:

Filme traz inacreditável vida de Ginger Baker

Por Fabian Chacur

Que tal um documentário que abre com o personagem principal acertando uma certeira bengalada no nariz de seu respectivo diretor? É assim que tem início Beware Of Mr. Baker, que registra de forma brilhante e abrangente a trajetória de Ginger Baker,ex-integrante do Cream e considerado um dos melhores bateristas de todos os tempos. E também um ser humano inacreditável.

Jay Bulger, o diretor que tomou a porrada no nariz e sangrou de dar gosto, levou três anos para realizar o seu sonho. Ele passou três meses na casa de Baker, na África do Sul, período durante o qual teve a chance de conhecer a fundo seu personagem. Inicialmente, escreveu uma matéria para a Rolling Stone americana (leia aqui) publicada em agosto de 2009, quando o músico completava 70 anos. Depois, registrou as entrevistas com o músico em vídeo.

O documentário mergulha de cabeça na trajetória do baterista britânico nascido em 19 de agosto de 1939. Desde a infância, quando perdeu o pai aos 4 anos de idade durante a Segunda Guerra Mundial até os dias de hoje. Seu envolvimento com a música, as drogas, os relacionamentos afetivos, nada fica de fora.

Ginger Baker surge na tela como um indivíduo contraditório. Ora agressivo, ora afetivo, mas sempre controverso e capaz das maiores brigas, o que explica a duração sempre reduzida de seus projetos musicais. O Cream, por exemplo, considerado um dos grandes trios da história do rock (com Baker, Jack Bruce e Eric Clapton), durou apenas dois anos (1966 a 1968). O Blind Faith, menos ainda (nem um mísero ano).

A qualidade musical dessas diversas incursões, no entanto, sempre foi no mínimo interessante, e frequentemente seminal para a história da música. Os depoimentos de músicos do naipe de Bill Ward (Black Sabbath), Neil Peart (Rush), Johnny Rotten (Sex Pistols, PIL), Steve Winwood, Denny Laine (Wings), Stewart Copeland (The Police), Eric Clapton e Jack Bruce (Cream), entre outros, sustentam essa visão durante o documentário.

As entrevistas com seus familiares, incluindo quatro ex-mulheres, duas filhas e o filho Kofi (que também é baterista) servem como ilustração de seu temperamento difícil. Kofi acha que o pai não deveria ter tido filhos, enquanto uma das ex-esposas questiona se Ginger merece elogios por sempre ir em frente ou críticas por não ter capacidade de consolidar seus relacionamentos pessoais e profissionais, fugindo no fim das contas.

Além das excelentes entrevistas feitas especialmente para o filme, temos também belíssimas animações ilustrando vários momentos da vida do músico, incluindo alguns pornográficos e outros com mapas contextualizando suas várias viagens pelo mundo durante sua longa trajetória de vida. Ele morou na Inglaterra, Itália, Nigéria, EUA e África do Sul.

O título do filme teve como inspiração a placa que o ex-integrante do Cream colocou na entrada de sua casa na África do Sul (Beware Of Mr. Baker- cuidado com Mr. Baker). Durante a atração, temos acesso também a seu amor aos cavalos e cães, sua faceta como jogador de cricket e a relação sempre complicada com as drogas.

Jazzista, roqueiro, precursor do heavy metal e da world music, capaz de jogar no lixo milhões de dólares em diferentes épocas de sua vida, Ginger Baker é um personagem que nem o autor mais criativo conseguiria conceber, tal a sua complexidade como músico e ser humano.

Beware Of Mr. Baker foi exibido durante a edição 2013 do festival In-Edit de documentários musicais em São Paulo e é um dos melhores trabalhos nesse setor que já vi nos meus 51 anos de vida. E olha que sou um verdadeiro devorador de documentários musicais…

Duas notas finais: o produtor de Beware Of Mr. Baker é Fisher Stevens, que fez inúmeros trabalhos bacanas como ator, um deles na maravilhosa e extinta série televisiva Early Edition, além de ter namorado com Michelle Pfeifer nos anos 80, quando ela estava no auge. E em uma cena de arquivo, temos a chance de ver Mr.Baker cair sentado no palco, obviamente encharcado de drogas e quetais…

Veja o trailer de Beware Of Mr. Baker:

Filme sobre os Stone Roses estreia em maio

Por Fabian Chacur

Made Of Stone, documentário sobre uma das mais importantes bandas da história do rock inglês, os Stone Roses, já tem data para estrear. Segundo o site da revista americana Billboard, o filme dirigido por Shane Meadows (de This Is England e Dead Man’s Shoes) será exibido pela primeira vez no dia 30 de maio na cidade natal do quarteto, Manchester.

O documentário entrará no circuito comercial de cinema do Reino Unido no dia 5 de junho, sendo que a exibição em outros países ainda não possui data oficial de lançamento. A produção é da Picturehouse Entertainment, sendo que a produção mescla cenas da carreira da banda e entrevistas feitas especialmente para a ocasião.

Integrado em sua formação clássica por Ian Brown (vocal), John Squire (guitarra), Gary ‘Mani’ Mounfield (baixo) e Alan ‘Reni’ Wren (bateria), os Stone Roses surgiram na segunda metade dos anos 80, e se tornaram mitológicos após o lançamento de seu álbum de estreia, The Stone Roses (1989), um dos melhores discos da história do rock.

Sua mistura de psicodelismo, dance music, rock e pop ajudou a criar as bases do que viria a ser rotulado posteriormente como britpop, abrindo as portas para bandas como Oasis, Blur e tantas outras. Eles podem ser considerados os criadores dessa nova onda do rock inglês ao lado dos também seminais Happy Mondays.

O documentário abrange esse estouro inicial, os problemas dos seus integrantes com prisões, drogas e declarações polêmicas à imprensa e os problemas jurídicos entre gravadoras que deixaram o grupo fora dos estúdios até 1994, quando lançaram Secondo Coming, bom trabalho que no entanto obteve repercussão bem abaixo do que se esperava.

Após o fim em plena decadência, em 1996, os integrantes da banda tentaram outros projetos musicais, mas nada chegou sequer perto da excelência e do êxito do trabalho anterior. Muito se especulou sobre um possível retorno deles nesses anos todos, mas as rixas entre eles davam a entender que esse sonho dos fãs não se concretizaria nunca.

Até que, no início de 2012, os filhos de Manchester acertaram enfim os ponteiros e tocaram juntos de novo, iniciando uma turnê mundial em junho de 2012 em Barcelona e começaram a novamente encarar a estrada. No repertório, os sucessos que os consagraram, como I Wanna Be Adored, Waterfall, She Bangs The Drums e Made Of Stone, entre tantos outros.

Curiosamente, os Stone Roses nunca conseguiram muita coisa em termos de popularidade nos EUA, o que explica um pouco o porque até hoje o quarteto possui menos fama em termos mundiais do que bandas como o Oasis e o Blur. Os problemas com gravadoras certamente ajudaram nessa situação. Azar dos americanos…

Veja o trailer do documentário Made Of Stone, sobre os Stone Roses:

DVD conta a história dos Doobie Brothers

Por Fabian Chacur

Se há um grupo que amo e que acompanho desde o seu início, ele atende pelo nome The Doobie Brothers. Conheci essa fantástica banda americana logo em seu primeiro compacto simples, Nobody (de 1971), adquirido por meu saudoso irmão Victor. Curiosamente, essa música só fez sucesso aqui no Brasil, passando batido nos EUA e arredores.

Com seu segundo álbum (Toulose Street-1972), impulsionado pelo certeiro single Listen To The Music, os Doobies invadiram as paradas de sucesso de todo o mundo, protagonizando uma história de sucesso contada no excelente documentário Let The Music Play- The Story Of The Doobie Brothers, que a distribuidora ST2 acaba de lançar por aqui. E que história!

Tudo começou quando Tom Johnston (vocal e guitarra) e Patrick Simmons (vocal e guitarra) se conheceram em um barzinho de má reputação chamado Chateau Liberté, na região de Santa Cruz/San Jose (California). Ali surgia o núcleo básico do grupo, que com o decorrer dos anos passou por várias formações. Seu som fundiu rock básico, folk, country e soul de forma única.

O documentário traz entrevistas recentes com os músicos que integraram/integram a banda, o manager Bruce Cohn (o único da história deles, algo raro no show business), críticos e DJs, além de contar com registros feitos nos shows e bastidores da banda nesses 40 anos de estrada.

O início difícil, o sucesso, a importância de cada álbum e as diversas fases vividas por eles são detalhadas de forma consistente e leve. A surpreendente saída de cena de Johnston em 1975 e a entrada em cena ainda mais inesperada do então desconhecido Michael McDonald, que os impulsionou a um rumo totalmente diferente e de grande sucesso comercial, são explicadas.

A separação do grupo em 1982 e a forma como shows beneficentes anuais com seus ex-integrantes acabou sendo a semente que gerou o retorno em 1987 também estão no filme, assim como a carreira da banda após esse retorno, capitaneado por Johnston e Simmons (o único que nunca saiu dos Doobies durante sua existência).

Se a história do grupo é bem legal, a música que eles fizeram nesses anos todos é ainda melhor, com direito a maravilhas como as canções já citadas e também Long Train Runnin’, Rockin’ Down The Highway, China Grove, Black Water, It Keeps You Runnin’, Takin’ It To The Streets, What a Fool Believes, The Doctor e tantas outras.

Nos extras, temos nove músicas gravadas ao vivo nos anos 70, 80 e 90 e apresentadas na íntegra, servindo como uma boa introdução à fantástica obra dessa banda que merece muito mais reconhecimento do que tem aqui no Brasil.

O que dizer de um grupo que chegou a ter três vocalistas/guitarristas e dois bateristas ao mesmo tempo, por exemplo? E por aí vai. Esse DVD certamente ajudará muita gente a descobrir essa fantástica banda de rock. Mergulhe de cabeça sem susto!

Veja um trailer de Let The Music Play- The Story Of The Doobie Brothers:

Documentário sobre os Eagles estreia nos EUA

Por Fabian Chacur

Estreará neste sábado (19) no famoso festival de cinema Sundance Film, em Park City, Utah, o documentário History Of The Eagles Part One. Com direção a cargo de Alison Ellwood, o filme conta a história dos Eagles, uma das bandas mais bem-sucedidas da história do rock.

Com produção de Alex Gibney, que ganhou o Oscar em 2007 com o documentário Taxi To The Dark Side, o filme conta a história do grupo desde os seus primórdios, quando Don Henley e Glenn Frey se conheceram, no fim dos anos 60, até a separação do time, no início dos anos 80.

A atração traz entrevistas com os integrantes atuais e de formações anteriores da banda, produtores, colaboradores e empresários, e conta com cenas gravadas em 16 mm durante a turnê de divulgação do álbum Hotel California feitas pelos consagrados câmeras Haskell Wexler (Woodstock) e Richard Pearce (No Nukes) em 1977, com direito a várias cenas de bastidores bastante reveladoras, segundo os produtores.

O filme terá lançamento em breve no formato DVD duplo. Antes que alguém pergunte, a segunda parte, que cobre as carreiras solo dos integrantes da banda a partir de 1982 e também o seu retorno em 1994 com o álbum Hell Freezes Over, já está pronta e também será lançada em um futuro próximo no mercado.

Segundo entrevista ao site americano da Billboard, os produtores explicam que, na verdade, essa segunda parte era para ser apenas uma sessão de extras a ser incluída no DVD do filme, mas que o material teria ficado tão bom que eles preferiram apostar em um documentário adicional, com direito a participação destacada do guitarrista Joe Walsh.

How Long (ao vivo), com The Eagles:

DVD tenta desvendar o mito Freddie Mercury

Por Fabian Chacur

Em seus 45 anos de vida, Freddie Mercury deixou sua marca como um dos artistas mais talentosos da história da música popular. Como cantor e compositor do Queen, tornou-se um verdadeiro ícone do rock, e ainda teve tempo de investir em uma carreira solo repleta de boas incursões por outros gêneros musicais.

Quem era ele, e o que o levou a tentar uma carreira individual, mesmo tendo tanto sucesso como integrante de uma das bandas mais bem sucedidas da história do rock? São essas perguntas que o ótimo DVD The Great Pretender, lançado no Brasil pela ST2, tenta responder.

O documentário se concentra na trajetória individual de Mercury, e traz entrevistas com o cantor, incluindo uma, longa e reveladora, feita em 1985, e também depoimentos de seus colegas de Queen, produtores, colaboradores, parceiros e jornalistas que acompanharam de perto esse gênio da música, um dos artistas mais versáteis e criativos de todos os tempos.

Em suas entrevistas, Freddie era irônico, debochado e às vezes agressivo, mas ficava claro que no fundo ele era na verdade um ser humano tímido e reservado, bem diferente do gigante carismático que se transformava ao entrar nos palcos e estúdios.

The Great Pretender procura mostrar os bastidores da criação de seus trabalhos solo. Mr. Bad Guy (1985), seu primeiro álbum sem o Queen, por exemplo, era para ter tido participações especiais de Rod Stewart e Michael Jackson, e trechos dessas históricas gravações feitas com eles (inéditas até hoje) são apresentadas.

Pouco depois de iniciar o trabalho para gravar esse disco, Mercury resolveu fazê-lo praticamente sozinho, sem convidados, de certa forma tentando evitar o que ocorreu no álbum Hot Space (1982), do Queen, que ganhou um contorno dance-rhythm and blues por imposição dele, e contra a vontade dos colegas, que o culparam por seu fracasso comercial.

O fraco desempenho em termos de vendagens de Hot Space e de Mr.Bad Guy levou Freddie Mercury a voltar a trabalhar com o Queen. A impressão que se tem é de que se Mr. Bad Guy tivesse estourado, o cantor teria optado pela carreira solo de forma definitiva.

Mesmo tendo voltado ao Queen, Mercury continuou investindo paralelamente em trabalhos individuais, e o filme enfoca as experiências na bela releitura de The Great Pretender, sucesso do grupo vocal americano The Platters, e no ousado álbum pop Barcelona, gravado ao lado da cantora lírica espanhola Montserrat Caballé.

Fluente e bom de se assistir, The Great Pretender também enfoca a vida pessoal do cantor, e de como ele teve de lidar com a Aids, doença responsável por sua morte prematura, em 1991. Mas esse tema é abordado de forma classuda e longe do sensacionalismo, com a música sendo mesmo o tema principal do filme.

Nos extras, temos entrevistas adicionais com Freddie e Montserrat Caballet. Um belo encarte repleto de informações também acompanha o DVD, que é certamente essencial para aqueles que desejam ter uma ideia mais abrangente de como era Freddie Mercury.

Veja o trailer do DVD The Great Pretender:

Tropicália disseca Tropicalismo com maestria

Por Fabian Chacur

De todos os movimentos ocorridos na história de nossa riquíssima música popular, o Tropicalismo certamente segura o estandarte de o mais polêmico, influente e original. Mais de 40 anos após seu surgimento nos efervescentes anos 60, esse importante capítulo de nossa cultura permanece relevante e atraindo as atenções gerais.

Tropicália, documentário dirigido pelo experiente e competente Marcelo Machado, estreará nos cinemas paulistanos nesta sexta-feira (14) com a missão de oferecer ao público a oportunidade de conhecer melhor o que representa essa palavra de sonoridade agradável e imediatamente associada ao nosso “País Tropical abençoado por Deus”, como diria Jorge Ben.

O principal mérito da produção é conciliar, de forma inteligente e impecável, uma apresentação fluente do Tropicalismo oferecida a quem não o domina e a busca por elementos inéditos ou pouco divulgados para satisfazer quem conhece o tema de forma mais apurada.

Sem cair em um didatismo que poderia tornar o filme enfadonho, Tropicália proporciona ao espectador uma visão abrangente do movimento que ajudou a quebrar as barreiras entre estilos musicais e culturais até então considerados opostos. Graças ao Tropicalismo, rock, bossa nova, bolero, música erudita de vanguarda e jazz (para citar apenas alguns gêneros musicais) puderam dialogar em um mesmo contexto de forma livre e ousada.

Para contar essa história, Machado e sua equipe mergulharam em pesquisas que resgataram registros inéditos ou raríssimos por aqui de momentos importantes dos artistas envolvidos. Caetano Veloso e Gilberto Gil, por exemplo, aparecem dando entrevista a uma emissora de TV portuguesa em 1969, e em Londres em meio a seu exílio imposto pela Ditadura Militar.

Os cantores também são flagrados em uma desconhecida por muita gente participação no palco do mitológico festival da Ilha de Wight, na Inglaterra, evento que também incluiu figuras mitológicas como Jimi Hendrix, The Who, Miles Davis e The Doors, entre outros. Caetano e seus parceiros cantam Shoot Me Dead. De arrepiar.

Além dessas cenas garimpadas nos mais diversos arquivos, também temos entrevistas atuais com Caetano, Gil, Tom Zé, Gal Costa, Sérgio Dias, Arnaldo Baptista e outros protagonistas do Tropicalismo. Em alguns momentos, o filme mostra Caetano, por exemplo, vendo algumas daquelas cenas raras e interagindo com elas.

Lógico que a música come solta durante os 82 minutos de duração do filme, entre as quais uma interpretação ao vivo simplesmente arrasadora de Back In Bahia, um dos clássicos composto por Gil e relacionado a seus dias de exílio londrino.

Tropicália é um documentário essencial para quem deseja entender os caminhos da música brasileira nessas décadas todas. Não vejo a hora do lançamento em DVD, principalmente se tivermos extras aproveitando material que ficou de fora da edição final. Deve ter muita coisa boa adicional nessa geleia geral pesquisada pela troupe da Bossa Nova Filmes.

Veja o trailer de Tropicália, de Marcelo Machado:

Scorpions preparam filme e CD para 2013

Por Fabian Chacur

Para os fãs dos Scorpions que andam tristes pelo fato de a banda estar realizando no momento sua turnê de despedida, boas notícias: eles não irão parar de se dedicar a novos lançamentos ou mesmo a tocar ao vivo em algumas ocasiões.

Segundo entrevista do guitarrista Mathias Jabbs ao site americano da revista Billboard, o grupo não fará mais turnês, mas alguns shows eventuais poderão ocorrer, um inclusive na abertura da Copa do Mundo de Futebol do Brasil em 2014, em São Paulo.

O músico garante que recebeu representantes do evento futebolístico em Londres que foram oficializar o convite, aceito por eles logo de imediato, pois são fãs entusiásticos de futebol.

E isso não é tudo. Jabbs também revelou que o quinteto atualmente prepara um novo CD, retrabalhando material que foi deixado de fora dos álbuns Blackout (1982) e Love At First Sting (1984), dois dos discos mais bem-sucedidos do grupo liderado por Jabbs, Rudolph Schenker (guitarra) e Klaus Meine (vocal).

O material, iniciado na primeira metade dos anos 80, está sendo refeito pelos músicos, que estão procurando manter o espírito original dos mesmos, acrescentando elementos atuais. A ideia é finalizar de 16 a 18 músicas, e escolher 12 delas para o produto final, previsto para sair em 2013. A produção está sendo feita por Mikael Nord Andersson e Martin Hansen.

Também está previsto para o ano que vem um documentário sobre a história dos Scorpions. O diretor Katja Von Garnier e sua equipe acompanham o grupo alemão há mais de um ano e meio, gravando cenas de shows e fazendo entrevistas com os integrantes da banda, sua equipe, amigos e outros músicos envolvidos com sua trajetória.

Como já noticiado anteriormente por Mondo Pop, os Scorpions farão dois shows em São Paulo nos dias 20 e 21 de setembro, no Credicard Hall, como parte dessa turnê de despedida.

Veja o clipe de Rock You Like a Hurricane, com os Scorpions:

Filme mergulha na alma de Ray Davies

Por Fabian Chacur

O Festival In-Edit, cuja quarta edição está sendo realizada em São Paulo e Salvador neste mês de junho, equivale à consolidação de um evento fundamental para aquele tipo de fã de música cujo objetivo é saber mais dos seus ídolos, ou de seus futuros ídolos, ou apenas para matar sua curiosidade musical. Não importa.

Um dos grandes momentos da programação desse evento maravilhoso em 2012 é Ray Davies: Imaginary Man (2010), com direção a cargo de Julian Temple, diretor britânico que tem em seu currículo clássicos como The Great Rock And Roll Swindle (1979) e The Filth And The Fury (2000), ambos sobre os Sex Pistols, e o filme Absolute Beginners (1986), além de outras obras e muitos clipes.

O documentário foi realizado em 2010, quando o líder dos Kinks havia acabado de lançar See My Friends, álbum solo no qual releu vários de seus sucessos ao lado de Bruce Springsteen, Jon Bon Jovi, Metallica e outros. Ray fala sobre o álbum quase que de passagem, pois a entrevista mergulha mesmo é em sua trajetória musical e de vida.

Não se trata de uma biografia daquelas completinhas. Quem deseja ver algo assim deve procurar o DVD You Really Got Me – The Story Of The Kinks, já resenhado aqui em Mondo Pop e disponível nas lojas brasileiras, ou então procurar o filme Do It Again, do jornalsta Geoff Edgers (2010, exibido no In-Edit 2011 e também resenhado aqui). Eles cumprem melhor essa função de dar uma geral na carreira da banda.

Imaginary Man é, na verdade, um delicioso bate-papo entre dois amigos, no qual Ray Davies relembra sua juventude ao rever locais importantes em sua vida, situados em Londres e nas imediações da capital inglesa. Em meio a isso, o astro fala sobre suas composições, os problemas que encarou como astro, seu temperamento e suas paixões.

Ora bem-humorado, ora levemente melancólico e frequentemente filosófico (sem ser chato, diga-se de passagem), Ray Davies nos revela um pouco do ser humano por trás de maravilhas como You Really Got Me, Tired Of Waiting For You, Waterloo Sunset, Celluloid Heroes, Superman, Low Budget e tantos outros clássicos do rock.

Ray está brigado há muito anos com seu irmão, o guitarrista Dave Davies, o que levou Julian Temple a fazer outro documentário, Kinkdom Come: Dave Davies, também exibido no In-Edit 2012 mostrando a visão de Dave da carreira dos Kinks. A chuva paulistana, no entanto, me impediu de ver esse. Buááááááá´!

Vale lembrar que boa parte dos filmes exibidos no In-Edit não entra no circuito comercial brasileiro, e nem ao menos é lançado por aqui nos formatos DVD ou Blu-ray. Ou seja, quem viu, viu. Quem não viu terá de correr atrás de cópias na internet ou coisa que o valha. O braço paulistano do In-Edit 2012 vai até domingo (10). Aproveitem!

Veja trechos de Ray Davies: Imaginary Man:

Scorsese mergulha na alma de George Harrison

Por Fabian Chacur

A 16ª edição do Cultura Inglesa Festival pode ser considerada histórica por pelo menos três razões: trouxe novamente o excelente grupo Franz Ferdinand ao Brasil, resgatou o filme Rutles: All You Need Is Cash (1978), de Eric Idle e Gary Weis, a melhor paródia aos Beatles, e apresentou aos brasileiros George Harrison: Living In The Material World, documentário de Martin Scorsese sobre o “beatle quieto”.

Além de grande cineasta, Scorsese se mostrou em sua carreira um excelente documentarista de rock, vide os ótimos trabalhos que fez com The Band, Bob Dylan e Rolling Stones. Sua nova incursão na área é um mergulho em busca da essência de George Harrison, não só o músico, mas também o ser humano.

Durante suas 3 horas e 28 minutos de duração, George Harrison: Living In The Material World nos apresenta material de altíssima qualidade oriundo dos arquivos da viúva do roqueiro (Olivia Trinidad Harrison) e também entrevistas feitas especialmente para a ocasião, além de muita informação de primeira.

Boa parte desse tempo é dedicado à carreira de Harrison nos Beatles, com várias relevações muito interessantes, como Paul McCartney admitindo que o marcante riff de And I Love Her é na verdade de autoria do guitarrista e também de como o Macca recusou riffs que George criou para Hey Jude, algo que ajudou a distanciar os dois.

Aliás, um dos méritos de Scorsese é não tentar pintar o beatle místico como um santo. Suas falhas aparecem várias vezes, como nos registros de sua catastrófica turnê solo de 1974 (ele tocando What Is Life em ritmo de reggae cantando de forma horrível, ao vivo, é um dos momentos mais constrangedores da história do rock!) ou da viúva Olívia admitindo, cheia de dedos, que o maridão deu várias puladas de cerca em seus 25 anos juntos.

Os depoimentos são suculentos, especialmente os de Eric Clapton, que fala bastante sobre a célebre disputa dele com o amigo por Patty Harrison, que inspirou o clássico do rock Layla e depois se tornaria mulher de Clapton, sem que a amizade entre os dois grandes músicos se encerrasse. Aliás, a própria Patty conta o seu lado nessa história mitológica.

Um dos grandes momentos fica por conta de um encontro entre McCartney e Harrison nos anos 90, quando o segundo solta uma frase que sintetiza seu sarcástico senso de humor: “nossa, que belo casaco de couro vegetariano!”. Provavelmente, nem Paul tinha notado o quanto era absurdo ele, um vegetariano militante, vestir um casaco feito de couro animal…

A emoção de Ringo Starr ao se lembrar da última vez em que viu o amigo, Tom Petty (colega de George no supergrupo Travelling Wylburys) recordando do dia em que ganhou quatro ukeleles do autor de Something, ou mesmo do diretor do filme A Vida de Brian, ao recordar como Harrison investiu quatro milhões de dólares naquele filme apenas porque “queria vê-lo; foi o ingresso mais caro já pago por alguém para ver um filme!”.

Lógico que dá para fazer algumas restrições ao documentário, se você por acaso é detalhista demais. Ele praticamente ignora dois momentos importantes da carreira solo de George, os álbuns Living In The Material World (1973- caramba, é o disco que deu o título ao documentário!) e Cloud Nine (1988, que marcou o retorno do músico ao topo das paradas após uns bons anos), assim como a música All Those Years Ago, feita em homenagem à John Lennon, mas fazer o quê? Não caberia tudo em um só documentário, mesmo um tão longo como esse.

Um fato emerge nas entrelinhas do filme: que o fim dos Beatles na verdade teve um forte incentivador nas brigas entre George e Paul, que provavelmente foram muito mais sérias do que se pensou durante décadas. E também que o beatle que meditava também sabia ser agressivo e briguento, além de em alguns momentos da vida ter mergulhado fundo nas drogas.

George Harrison: Living In The Material World equivale a um excelente e profundo registro referente à vida de um dos mais importantes nomes da história do rock e da música como um todo. Como dificilmente será exibido por aqui em circuito comercial, vale ficar atento ao lançamento em DVD/Blu-ray no Brasil (já saiu lá fora), pois se trata de um ítem indispensável para quem gosta de rock.

Veja o trailer de George Harrison: Living In The Material World:

Older posts Newer posts

© 2024 Mondo Pop

Theme by Anders NorenUp ↑