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Por Fabian Chacur

Eliana Pittman viveu seus anos de ouro em termos profissionais durante as décadas de 1960 e 1970. Nesse período, fez inúmeros shows no Brasil e no exterior, gravou discos de sucesso, mostrou versatilidade ao cantar de jazz a carimbó e de quebra foi capa da badalada revista americana Ebony em 1965. Desde 1991 sem lançar um disco de estúdio, embora se mantivesse na ativa, a cantora enfim quebra essa escrita negativa com Hoje, Ontem e Sempre (Kuarup Música), um trabalho à altura de seu belo currículo.

O álbum se divide em duas partes que justificam o seu título. A primeira consiste em um repertório composto por dez canções oriundas de vários períodos, todas interpretadas com o acompanhamento do violão de Joan Barros, com percussão em alguns momentos a cargo de Michel Machado. As gravações ocorreram em um único dia, o que nos proporciona interpretações espontâneas, nas quais Eliana se mostra craque no seu jogo, mais do que nunca.

As canções fluem bem graças à ótima interação entre os músicos e a intérprete. O Morro Não Tem Vez (Carlos Lyra e Vinícius de Moraes), Gamei (Délcio Luiz e André Renato, hit nos anos 1990 com o Exaltasamba), Preciso Dizer Que Te Amo (Dé, Cazuza e Bebel Gilberto), Yo Vengo a Ofrecer Mi Corazón (Fito Paes) e Drão (Gilberto Gil) são pontos altos de uma seleção musical bem diversificada que a cantora alinhava sem grandes sustos.

A segunda parte do disco traz oito faixas gravadas ao vivo em 1970, durante show de Eliana na boate Dom Camilo, em Paris, França. A fita com o registro dessa apresentação histórica estava nos arquivos da cantora, e foi descoberta pelo sempre inquieto produtor Thiago Marques Luiz. Acompanhada por uma banda afiada cuja formação infelizmente se perdeu, a moça aparece no auge de seus 25 anos de idade, inquieta e com um swing absurdo.

Temos aqui como pontos altos Aquele Abraço (Gilberto Gil), Ponteio (Edu Lobo e Capinam), Desafinado (Tom Jobim e Newton Mendonça), Big Spender (Cy Coleman e Dorothy Fields) e um incrível pot-pourry incluindo Felicidade (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), Deixa Isso Pra Lá (Edson Menezes e Alberto Paz) e curiosamente O Morro Não Tem Vez, a mesma que abre a parte de estúdio do álbum, permitindo ao ouvinte comparar a performance da cantora na mesma música em duas épocas distintas.

A performance de Eliana neste disco ao vivo é uma prova cabal de sua alma jazzística, com direito a improvisos, scat singing e muito, mas muito swing mesmo, além de uma interação total e completa com a plateia presente. O resultado é simplesmente arrebatador, pequena e belíssima prova da grande capacidade dessa artista em um palco.

Se o conteúdo musical merece nota alta, a apresentação de Ontem, Hoje e Sempre no formato CD é simplesmente brilhante. Além de bela capa digipack, o disco físico traz encarte com 38 páginas incluindo pequenos textos da cantora e de seu produtor e uma maravilhosa seleção de fotos oriundas de várias fases de sua carreira, incluindo capas de revistas como a Ebony e uma da extinta Intervalo na qual aparece ao lado de Roberto Carlos.

Eis uma forma inteligente de tornar a versão física um objeto de desejo não só para os mais fanáticos pela cantora, mas também por quem curte música brasileira e quer ter em mãos um verdadeiro documento dessa carreira. Grande sacada de Thiago, assim como essa ideia de reunir conteúdo de duas épocas distintas da artista em um mesmo CD, algo que ele já havia feito com a cantora Rosa Marya Colin (leia resenha de Mondo Pop aqui).

Gamei (clipe)- Eliana Pittman: