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Por Fabian Chacur

Em 2013, Marcos Lessa ficou conhecido nacionalmente ao ser semifinalista do programa global The Voice Brasil. Não venceu a competição, mas deixou claro que não se tratava de um desses artistas que aparecem e somem como se não houvessem surgido. Tinha mais coisa ali. E a prova concreta é o seu CD Entre o Mar e o Sertão, no qual mescla material autoral e de outros compositores com uma classe digna de veterano.

Natural de Fortaleza, Ceará, Lessa tem apenas 25 anos, mas já nos apresenta um currículo repleto de apresentações ao vivo, parcerias e gravações. Ou seja, quando apareceu na telinha da Globo, já estava devidamente batizado e lapidado pelas dificuldades reservadas aos jovens talentos nesse país continental. Essa maturidade transborda nas 13 faixas deste álbum, um desses que você ouve, ouve de novo, ouve mais uma vez e não se enjoa de forma alguma.

Começa pelo delicioso timbre de barítono de Lessa, que o aproxima bastante do saudoso Emilio Santiago, sem em momento algum soar como clone, cópia ou coisa que o valha. A influência está ali, mas devidamente digerida. O intérprete sabe se valer da potência e da beleza de sua voz, sem cair em exageros ou virtuosismos que frequentemente matam inúmeros novatos talentosos. Ele valoriza as melodias que interpreta, e joga a favor delas.

Inteligente, o artista cearense soube pinçar canções bacanas de outros autores, inéditas ou não, e as somou às suas ótimas composições, criando assim um repertório consistente, diversificado e de uma riqueza típica de quem sabe sentir o espírito de cada canção, tirando delas o melhor. Nenhuma das faixas de Entre o Mar e o Sertão soa como “enchedora de linguiça”. Todas são importantes e tem função nesse roteiro musical de rara qualidade.

Como forma de tornar a coisa ainda melhor, os arranjos musicais e vocais são de uma classe e bom-gosto absurdos, sem excessos nem vazios, tudo na medida certa para Marcos Lessa deslizar sua voz mágica. Versátil, ele investe em samba, sambossa, ritmos nordestinos, baladas, pop e até jazz, saindo-se bem em todos esses rumos. Dois belos duetos são as ameixas neste delicioso manjar musical: Fagner em Contrassenso e Flavia Wenceslau em Andaluzia.

Se não fosse o bastante, o compositor se equivale ao cantor, com direito a belas canções autorais como Poesia Flor, Trilha de Cinema e Andaluzia (esta em parceria com Flavia Wenceslau). A balada O Que Eu Queria (David Duarte) consegue a façanha de ter apelo comercial e grande qualidade artística. E tem também O Último Pau de Arara, Último Trem e Eu Quero Botar Meu Bloco na Rua, esta última com uma surpreendente citação de trecho melódico de Don’t Let Me Be Misunderstood, aquela gravada pelo grupo disco Santa Esmeralda.

Entre o Mar e o Sertão investe em uma concepção musical de certa forma conservadora, centrada nas sonoridades oriundas da MPB dos anos 1970 e 1980. No entanto, essas fontes de inspiração são aproveitadas de forma muito inspirada e criativa, especialmente nas sutilezas. O resultado é um CD brilhante, repleto de belos versos e melodias interpretadas por uma voz que é tudo isso e muito mais. Esse cara veio para ficar!

O Que Eu Queria (clipe)- Marcos Lessa: