Por Fabian Chacur

Geraldo Maia está na estrada, na área musical, desde os anos 80. Natural de Recife (PE), ele viveu várias experiências até lançar Cena de Ciúme (1987), álbum em parceria com Henrique Mauro.

Na década de 90, viveu em Portugal, onde teve diversas experiências importantes e consolidou sua musicalidade.
Ao voltar ao Brasil, lançou seu primeiro álbum solo, Verd’Água, em 1999. Desde então, lançou trabalhos como Astrolábio (2001), Samba do Mar Quebrado (2004) e Samba de São João (2007).

Em 2011, lançou Ladrão de Purezas, álbum dedicado à releitura da obra de Manezinho Araújo, o rei das emboladas e figura de suma importância para a cultura brasileira.

Lançando Estrada (pelo selo Continente), seu 9º álbum de carreira, Geraldo Maia fala sobre o novo lançamento e também sobre sua carreira, forma de trabalho e outros temas bacanas, como seus lados intérprete e compositor.

Mondo Pop – Estrada inclui só composições de sua autoria, e mescla canções inéditas com outras já lançadas antes. Como foi a concepção desse trabalho, e o que o levou a buscar músicas já registradas anteriormente para criá-lo?

Geraldo Maia – O disco faz um apanhado da minha trajetória enquanto compositor. Eu tinha dois discos de autor já lançados: Peso Leve (2008) e Lundum (2009). Pincei algumas músicas de um e do outro. Em alguns casos, as músicas ganharam nova roupagem. Agreguei a elas mais cinco inéditas, o que acabou por tornar Estrada um novo CD de carreira.

Mondo Pop- O que é mais difícil, gravar suas próprias composições ou reler obras alheias? Como você atua em cada uma dessas situações?

Geraldo Maia– Eu me sinto mais à vontade cantando do que compondo. Adoro garimpar, interpretar é meu forte, mas também gosto do exercício da criação. Gosto de compor, de fazer parcerias e tal. Enfim, são coisas bem distintas, cada uma tem seu charme e seus encantos.

Mondo Pop- Você é um adepto do formato acústico para suas obras. Justifique essa opção e fale um pouco sobre suas vantagens e eventuais desvantagens. Pensa um dia em lançar uma obra com acompanhamento predominantemente eletrônico?

Geraldo Maia – O meu disco Peso Leve (2008) teve muitos elementos eletrônicos, loops, samplers etc. Em 2001, lancei Astrolábio, que também era um disco com muitas influências, inclusive da música eletrônica. Mas o meu forte realmente é o acústico, quanto mais orgânico melhor, quanto menos elementos, mais à vontade vou ficando. Gosto do mínimo, da coisa mais crua, do despir a canção de todo e qualquer artifício, esse é um prazer que sinto, talvez algo ligado a uma certa nostalgia, um sentimento atávico, mas já entrei numa outra conjectura que foge um pouco à sua pergunta.

Mondo Pop- Você compõe tanto sozinho como em parceria. Você se sente mais à vontade escrevendo letras ou melodias? Como atua, quando escreve músicas em parceria?

Geraldo Maia– Na grande maioria dos casos, meus parceiros me dão a letra e eu ponho a melodia. Esse é o modo em que funciono melhor. Ou, no caso, escrevo as duas coisas, letra e música.

Mondo Pop- Qual a importância em sua carreira de ter integrado a trilha do filme Lisbela e o Prisioneiro com a releitura de A Deusa da Minha Rua, e como foi gravar com Yamandú Costa?

Geraldo Maia– Foi uma experiência única e bastante auspiciosa.

Mondo Pop- O currículo de qualquer músico ganha grande força com a participação no programa Ensaio, de Fernando Faro, destinado apenas a grandes nomes da MPB. Como foi para você essa experiência tão importante?

Geraldo Maia– Como você bem frisou, esse programa tem uma marca, é uma grife da (boa) televisão brasileira. Foi uma honra para mim participar dele e, mais que isso, poder levar a música de Manezinho Araújo para o Brasil ouvir; Manezinho que foi um grande e multifacetado artista que hoje se encontra praticamente esquecido.

Mondo Pop- Você aborda em suas composições várias vertentes da MPB, mas nunca de forma ortodoxa. Fale um pouco sobre essa sua forma de investir na MPB, especialmente em relação ao samba, que ganha um tempero nordestino incomum na sua interpretação.

Geraldo Maia– Eu tenho meu “filtro”, minha forma de expressar e amalgamar tudo aquilo que aprendi. Nisso entra também a minha relação com o samba, por exemplo. Não me considero sambista mas tenho uma intimidade natural com esse ritmo e faço dele uma parte das muitas vertentes por onde busco me expressar artisticamente.

Mondo Pop- Como foi abrir shows de nomes como Milton Nascimento, Beto Guedes e Zizi Possi, entre outros?

Geraldo Maia– É sempre uma ótima experiência.

Mondo Pop- Você já gravou desde autores jovens até compositores consagrados. Como é o seu processo de seleção de material alheio na hora de gravar discos ou fazer shows? Que critérios você usa?

Geraldo Maia– Meu critério número um é a identidade com aquela obra, aquele autor. Primeiro “chega” essa empatia, sem essa condição prévia nada se materializa. Sou sequioso, tenho uma sede meio natural por encontrar coisas, caminhos, projetos que me caibam e nos quais possa dar a minha contribuição enquanto intérprete; acho que tenho esse mérito, de estar sempre burilando novas possibilidades.

Mondo Pop- Como avalia os quase dez anos que viveu em Portugal? Você mudou como artista em função desse longo tempo fora do Brasil? Ou esse “exílio voluntário” ajudou a firmar sua brasilidade?

Geraldo Maia– As duas coisas são verdade, se misturam e se intersectam. Viver fora do nosso país é uma experiência única, importantíssima, diria.

Mondo Pop- Você dedicou o CD Estrada a Maria Bethânia. Fale da importância dela para você. Gostaria de um dia gravar com ela, ou ter uma de suas composições gravadas por ela?

Geraldo Maia– Sou devoto, já disse antes. Mas sou parcimonioso também, compreende? E claro, bem gostaria que ela gravasse algo meu e, mais ainda, poder dividir os vocais com ela em alguma música. Seria um superluxo, um mimo de ouro…

A Deusa da Minha Rua, com Geraldo Maia e Yamandu Costa: