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Esse Keith Richards que me faz tão “Happy”

Por Fabian Chacur

Em 1972, pedi de presente de aniversário ao meu padrinho um compacto simples dos Rolling Stones que trazia como destaque uma faixa que estava na época tocando nas rádios brasileiras abertas ao rock and roll, tipo Excelsior e Difusora. E ganhei. A tal música era Happy, um dos destaques do seminal álbum Exile On Main St. (saiba mais sobre esse álbum maravilhoso aqui), e pode-se dizer que teve início ali minha relação com os Rolling Stones.

Demorou um pouco para eu saber que o cantor naquela faixa não era Mick Jagger, e sim o guitarrista da banda, Keith Richards. Esse mesmo, que nesta ensolarada quarta-feira (18) completa 70 anos de idade. Uma efeméride no mínimo curiosa, pois durante muito tempo, o músico e coautor dos grandes clássicos dos Stones com Mick Jagger liderou as listas sobre quem seria o novo astro do rock a morrer ainda jovem, seguindo Janis Joplin, Jim Morrison e o ex-colega de banda Brian Jones.

Aliás, chega a ser curioso pensar que, se fosse perguntado a alguém naquele mesmo 1972 sobre quem morreria primeiro, Keith ou outro guitarrista lendário também nascido em 1943, George Harrison, todos apostariam no primeiro. Pois o saudável ex-beatle nos deixou há 12 anos, enquanto “Keef” completa sete décadas sem dar mostras de que sairá de cena tão cedo. Um típico sobrevivente do rock.

Keith Richards é um dos maiores ícones do rock and roll em todos os aspectos, desde o visual de pirata, os instrumentos sempre marcantes, a atitude cool (contraponto irreverente ao mais midiático Jagger) e um estilo musical que conseguiu extrair elementos do blues e do rhythm and blues original para criar alguns dos mais fantásticos riffs de guitarra de todos os tempos.

Tive a honra de ver os Rolling Stones ao vivo no Brasil em sua primeira passagem por aqui, como atração máxima do Hollywood Rock em janeiro de 1995. Três dias de chuva, mas compensados por performances simplesmente endiabradas das Pedras Rolantes, com direito a ouvir Keith interpretando ali na minha frente com muita garra a minha amada Happy.

Sem se caracterizar como um solista dos mais refinados, Richards sempre nos proporcionou riffs poderosos como os de Jumpin’ Jack Flash, (I Can’t Get No) Satisfaction, Start Me Up e tantos outros copiados e reciclados por legiões de guitar players nos quatro cantos do Planeta. E sua voz rouca sempre foi benvinda entre uma penca e outra de interpretações certeiras de Mick Jagger, um dos cantores mais carismáticos da história da música.

Fora da banda, lançou ao menos um disco solo antológico, Talk Is Cheap, que completou 25 anos de seu lançamento em 2013 e inclui maravilhas como Take It So Hard. Outro marco foi ter produzido e sido o band leader no show que homenageou seu grande ídolo, Chuck Berry, nos anos 80, espetáculo que gerou um dos filmes mais legais de rock and roll, o documentário Hail! Hail! Rock N’Roll (1987).

Ainda bastante ativo, Keith Richards viveu um pirata na franquia Piratas do Caribe ao lado de Johnny Depp, e atualmente sua a camisa nos shows comemorativos dos 50 anos de carreira dos Rolling Stones. Só nos resta desejar ao Homem Caveira muita saúde, muitos anos de vida e ainda muitos riffs certeiros para que nós, fãs, possamos nos deleitar com eles. Valeu, fera, por make me happy all these years!!!

Ouça Happy, com os Rolling Stones:

Ouça Take It So Hard, com Keith Richards:

Exile On Main ST em relançamento primoroso

Por Fabian Chacur

Exile On Main ST (1972), um dos melhores álbuns da carreira dos Rolling Stones, está sendo relançado pela Universal Music em uma edição que merece o adjetivo primoroso como definição.

De cara, a embalagem em forma de caixinha, que reproduz com maior fidelidade a vinil duplo original equivale a um belo acréscimo. Mas tem mais. O encarte luxuoso é repleto de fotos e ficha técnica de cada faixa. Só faltou um texto sobre esse trabalho, mas o documentário sobre o álbum que foi exibido em Cannes e sairá em DVD ainda em 2010 suprirá essa falha.

Embora não seja para mim o melhor álbum do grupo liderado por Mick Jagger e Keith Richards (ponho Sticky Fingers, de 1971 e imediatamente anterior a este em tal posto), é um desses clássicos perenes do rock.

Certas características marcam Exile. De cara, é o trabalho da banda mais pontuado pelas influências de blues, country e gospel. A pegada blueseira do guitarrista Mick Taylor, que em 1969 substituiu Brian Jones, certamente teve muita influência nisso. A participação em algumas faixas dos virtuoses no piano Nicky Hopkins e Billy Preston também ajudaram nisso.

A produção mais suja de Jimmy Miller, aquele tipo de profissional que tinha como marca não complicar, simplesmente gravando os músicos e procurando deixá-los à vontade, marca os trabalhos da fase 1969-1973 da banda, uma das melhores (a melhor?) de sua longa trajetória.

Outra influência perene em todo o álbum é a do grupo The Band, que com sua combinação de blues, soul, rock básico, folk e country trouxe o rock de volta às suas raízes, fazendo a cabeça dos Stones, Eric Clapton, George Harrison, Mark Knopfler e inúmeros outros.

Mal comparando, Exile On Main Street é uma espécie de White Album dos Rolling Stones, sem abrir tanto o leque como o álbum dos Beatles mas propondo (e realizando!) viagens sonoras tão diversificadas e profundas quanto a de seus contemporâneos britânicos.

As musicas mais conhecidas do álbum são os singles matadores Happy (que me ganhou quando eu tinha só dez aninhos!) e Tumbling Dice (rock soul da melhor qualidade cujo single integrava a discoteca de Victor Chacur), mas o álbum é uma festa.

Loving Cup, I Just Want To See His Face, Shine a Light (que deu nome ao recente documentário da banda dirigido por Martin Scorsese), Sweet Virginia, é uma paulada atrás da outra, além de releituras de dois clássicos do blues, Stop Breaking Down (do mítico Robert Johnson) e Shake Your Hips (de Slim Harpo).

Antes de ouvir o álbum, li uma resenha que dizia ser a dobradinha de faixas que o abrem, Rocks Off e Rip This Joint, de deixar o cidadão sem fôlego logo de cara. Acredite, são mesmo!

Se a versão remasterizada do material lançado originalmente já seria razão suficiente para comprar o álbum, o CD adicional que traz dez gravações inéditas o torna indispensável. São gravações feitas na época.

Duas faixas são versões alternativas de Loving Cup e Soul Survivor, enquanto Good Time Women é na verdade Tumbling Dice mais rápida e básica, e com diferenças na letra.

As totalmente inéditas receberam alguns poucos acréscimos de estúdio, sendo os mais identificáveis os vocais de apoio de Lisa Fischer e Cindy Myzelle, que não descaracterizaram as canções.

Esse CD bônus soa bastante coeso, o que chega a ser quase um milagre em se tratando de material adicional. A swingada Pass The Winte (Sophia Loren), a balada rasgada a la Beast Of Burden cujo título é Plundered My Soul e a deliciosa So Divine (Alladin Story) poderiam integrar qualquer álbum do grupo, sem ficar devendo coisa alguma.

Esta edição de Exile On Main  ST é a prova concreta de que o formato físico ainda terá muita importância para as gravadoras, pois quem só ouvir as músicas em mp3 só conhecerá uma pequena parte da história.

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