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Por Fabian Chacur

Ruy Faria e Fast Eddie Clarke nunca estiveram juntos, seja em palco, estúdio de gravação ou mesmo entrevistas. Eram de países e áreas musicais muito distintas entre si. Os dois, no entanto, tem duas coisas em comum, uma boa, a outra nem tanto: eram ótimos no que faziam, e infelizmente nos deixaram, Clarke nesta quarta (10) aos 67 anos, e Faria nesta quinta (11), aos 80 anos. Ambos se tornaram famosos integrando grupos.

Nascido no Rio de Janeiro em 31 de julho de 1937, Ruy Faria foi um dos fundadores do MPB4 em 1965 ao lado de Magro Waghabi (1943-2012), Aquiles e Miltinho. O grupo que surgiu no meio universitário logo se tornou um dos mais importantes no quesito vocal, sempre com repertório impecável e arranjos criativos e personalizados.

A carreira do quarteto é intimamente ligada à de Chico Buarque, com quem gravaram e fizeram shows em diversas ocasiões, e de quem gravaram inúmeras composições. Em sua discografia, o MPB4 traz clássicos do porte de Cicatrizes (1972), Canto dos Homens (1976), Bons Tempos, Heim?! (1979) e Vira Virou, só para citar alguns.

Para tristeza dos fãs da boa musica, Ruy saiu do MPB4 em 2004, em uma briga que é melhor não entrarmos em detalhes. Em 2005, lançou o álbum Só Pra Chatear em parceria com outro grande amigo de Chico Buarque, o cantor, compositor e músico Carlinhos Vergueiro. Vale lembrar que o grupo continua na ativa, hoje tendo Dalmo Medeiros e Paulo Malaguti Pauleira nas vagas de Ruy e Magro.

Nascido na Inglaterra em 5 de outubro de 1950, Edward Allan Clarke começou a se tornar conhecido no cenário rocker inglês ao integrar o grupo Zeus, de Curtis Knight. Em 1976, entrou no Motorhead, integrando a chamada formação clássica da banda ao lado de Lemmy Kilmister (baixo e vocal) e Philty Animal Taylor (bateria).

Com uma mistura de punk e heavy metal que abriu as portas para tendências como o hardcore e o thrash metal, o Motorhead viveu seus anos de ouro com Clarke, lançando álbuns seminais como Overkill (1978), Ace Of Spades (1979) e o espetacular ao vivo No Sleep ‘Til Hammersmith (1980), que chegou ao topo da parada do Reino Unido.

Em 1982, Fast Eddie Clarke resolveu sair do Motorhead, e criou sua própria banda, a Fastway, que viveu seus momentos de maior sucesso na década de 1980, embora se mantivesse na ativa (entre idas e vindas) durante muitos anos. Fastway (1983) e All Fired Up (1985) são seus álbuns mais badalados e com maiores vendagens.

O Motorhead e Clarke se reencontrariam ao menos em duas ocasiões, após a separação entre eles. Em 1985, no aniversário de dez anos de sua carreira, a banda fez um show registrado no VHS The Birthday Party (lançado também em CD em 1990) e em 2000, em show documentado pelo DVD/CD Live At Brixton Academy (lançado em 2003).

Dá para se imaginar Fast Eddie Clarke e Ruy Faria juntos, cantando e tocando uma nova versão de Ace Of Spades, ou quem sabe A Lua? Obviamente que não, mas a tristeza de seus fãs neste momento é absolutamente relevante e enorme. Que possam descansar em paz e ser recebidos por seus ex-parceiros que já estão do outro lado do mistério…

No Sleep ‘Til The Hammersmith- Motorhead (em streaming):