Por Fabian Chacur

Já vai longe o tempo em que só nas capitais brasileiras é que surgiam bandas de rock de real qualidade e consistência artística. O interior do estado de São Paulo, por exemplo, é um dos grandes celeiros do rock pesado do nosso país. Uma das bandas mais bacanas desse cenário, a Kappa Crucis, acaba de lançar seu 2º CD, Rocks, verdadeira tour de force em termos de consistência artística e criação roqueira.

Lógico que tanta qualidade não poderia ter surgido do nada. A banda iniciou sua carreira na cidade de Apiaí (SP) em meados dos anos 90, e lançou cinco trabalhos no formato demo até sentir que era a hora de apresentar um CD cheio. Isso ocorreu em 2009 com Jewel Box (nome em inglês da caixinha que abriga os CDs), que trouxe músicas extraídas das demos e também faixas inéditas,

Bastante elogiado, o álbum agora é sucedido por Rocks, que conta com a formação que podemos considerar a clássica da Kappa Crucis: F. Dória (bateria, vocal de harmonia), G. Fischer (guitarra e vocal principal), R. Tramontin (baixo e vocal de apoio) e A. Stefanovitch (teclados e vocal de apoio). Gravado no Ger Som Estúdio, situado na cidade de Itapeva (SP) e masterizado no estúdio Vertex C em Montereal no Canadá, o álbum esbanja qualidades.

O som do quarteto tem como base o heavy metal, mas vai muito além em termos de sonoridades, mostrando influências do Deep Purple em sua fase inicial (anos 1960), Uriah Heep, rock sulista americano dos anos 70, Black Sabbath (fases Ozzy e Dio), psicodelismo e até mesmo o grunge do Soundgarden (também filhotinhos do Black Sabbath). Uma mistura bacana, original e inspirada.

Os vocais frequentemente seguem o clima épico do metal dos anos 80, sempre bem concatenados. Os músicos esbanjam bom senso e qualidade técnica, solando com categoria e concisão quando os espaços surgem e criando um invólucro sonoro original e digno do que se faz de melhor no rock pesado em termos mundiais na atualidade. Cada faixa traz suas próprias surpresas e nuances, em um trabalho detalhista e feito no capricho.

Os duelos guitarra/teclados em What Comes Down, o delicioso clima rock balada de Invisible Man, a energia bruta bem lapidada de Flags And Lies e o clima rock sulista ianque total de When The Legs Are Wheels são bons momentos de um álbum forte, consistente e prova mais do que sólida da força que o heavy rock ganhou no Brasil nas últimas décadas. Rocks é um dos melhores CDs de rock pesado do ano.

Veja a pré-produção de Flags And Lies, do Kappa Crucis: