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Gal Costa tem LP Água Viva relançado em vinil caríssimo

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Por Fabian Chacur

Sabe a brincadeira do “tenho duas notícias, uma boa e a outra ruim?”. Pois cabe feito luva na notícia a seguir. Comecemos com o lado positivo. A Universal Music acaba de disponibilizar na sua loja virtual uma reedição de Água Viva (1978), um dos álbuns mais bem-sucedidos da carreira da saudosa Gal Costa. A parte negativa: cada exemplar custa a bagatela de R$ 169,90, fora o frete (saiba mais aqui).

Ou seja, para quem não estiver nadando em dinheiro, quem sabe valha mais a pena ir atrás de uma edição em CD, ou mesmo de um exemplar em vinil da época ou de outra reedição mais antiga e menos, digamos assim, salgada em termos de preço. Vai do bolso de cada um.

Em termos musicais, Água Viva é um álbum impecável. Seus maiores sucessos são Folhetim (Chico Buarque), que Gal interpretou em um capítulo da novela global Dancin’ Days (1978), e Paula e Bebeto (Milton Nascimento e Caetano Veloso), esta última uma belíssima homenagem ao amor sem preconceitos, fronteiras ou restrições.

Com um total de 12 faixas, traz também um delicioso dueto de Gal com Gonzaguinha em uma composição deste, o sacudido forró moderno O Gosto do Amor. A releitura de Olhos Verdes (Vicente Paiva), sucesso em 1950 na voz de Dalva de Oliveira é outro destaque, entre composições assinadas por craques como Dorival Caymmi, Milton Nascimento, Chico Buarque, Gilberto Gil, Suely Costa, Moacyr Albuquerque, Ruy Guerra e Abel Silva.

O Gosto do Amor– Gal Costa e Gonzaguinha:

Joyce Moreno e Marcos Valle criam bela homenagem a Gal

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Por Fabian Chacur

Ao receber a triste notícia da morte de Gal Costa em 9 de novembro deste ano, Marcos Valle reagiu criando uma delicada melodia no piano, inspirado pela chuva que caía e que rememorou Chuva de Prata (Ed Wilson-Ronaldo Bastos), de 1984, um dos grandes hits da cantora. Logo, surgiu a ideia de mandar a nova criação para que Joyce Moreno, grande amiga da cantora, se incumbisse da letra. Nascia A Chuva Sem Gal, canção lançada nesta terça-feira (20) nas plataformas digitais pela Biscoito Fino.

Em depoimento enviado à imprensa, Joyce Moreno explica como foi escrever esses lindos versos:

“Eu estava mexidíssima. Foi como se um pedaço do coração do Brasil tivesse parado de bater, naquele momento. Aí, eu recebi essa melodia linda do Marcos. Escrevi a letra chorando muito: achei que não conseguiria, mas ela saiu, na emoção da hora. No dia seguinte eu fiz os últimos ajustes e mandei pra ele, que imediatamente me disse que tinha adorado”.

A Chuva Sem Gal nasce já clássica, com um sentimento genuíno que a faz ficar muito longe de um possível oportunismo que alguns poderiam encarar nesse tipo de homenagem. Aqui, tudo soa genuíno. Além de Joyce no vocal e Marcos Valle no vocal e piano, temos Tutty Moreno (bateria), Jorge Helder (baixo) e Jessé Sadoc (flugelhorn). Onde estiver, Gal deve ter amado.

A Chuva Sem Gal (clipe)- Joyce Moreno e Marcos Valle:

Gal Costa, 77 anos, um ícone da cultura e aquela voz tamanha

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Por Fabian Chacur

A morte de uma pessoa é normalmente algo triste, em quaisquer circunstâncias. Mas isso se exacerba quando se trata de alguém que estava ativa, produtiva e repleta de planos e projetos bacanas. E esse é o caso de Gal Costa, que nos deixou nesta quarta-feira (9) aos 77 anos, deixando órfãos não só o seu querido filho Gabriel como milhões de fãs espalhados pelo mundo afora. Como essa voz tamanha pode ter se calado tão de repente? Difícil de assimilar. Mais uma estrela no céu.

Desde o início de sua carreira, nos anos 1960, Maria da Graça Costa Penna Burgos dava pistas que não estava ali para uma passagem rápida e/ou provisória. Já em Domingo (1967), álbum que dividiu com o eterno parceiro musical Caetano Veloso, ficava claro que estava entrando em cena alguém que não chegava apenas para brincar, ou para ser uma burocrata da canção.

Nesses mais de 50 anos de trajetória artística, Gracinha mergulhou fundo no universo musical. Experimentou de tudo, desde a vanguarda até a canção mais popular, passando rigorosamente por todos os caminhos. Sempre com muita personalidade, com sua digital clara e facilmente distinguível. Do rock à guarânia, do jazz ao soul, do bolero à bossa nova, a moça sabia como entrar e sabia como sair, sempre com uma voz que usava com uma categoria reservada a poucas colegas de profissão.

Gravações de Gal Costa frequentaram as trilhas sonoras das vidas de todos nós, através das novelas, dos filmes, das rádios. Uma que me marcou profundamente foi Só Louco, sua inspiradíssima releitura do clássico de Dorival Caymmi escolhida como tema de abertura da minha novela favorita de todos os tempos, O Casarão (1976), e que me emociona sempre que a ouço. Mas tem muitas outras.

Essa moça de inúmeras roupagens foi uma espécie de atriz musical, incorporando o espírito das eras em que viveu, seja o Tropicalismo, os anos de chumbo da ditadura militar, o som mais pop associado à abertura política, a bossa nova revisitada e o que mais viesse. Se os discos sempre foram deliciosos, era nos shows que Gal dava o máximo de si, cativando um fã-clube extenso que ela sabia como encantar.

Gal tinha o raro dom de pegar uma composição alheia e torná-la sua, dom que Deus não proporciona a muita gente. Seu estilo de cantar influenciou muita gente, sendo que Marisa Monte é provavelmente o primeiro nome que vem às mentes de todos. Sempre aberta, dialogou com as gerações anteriores e as posteriores, além da sua própria, o que lhe proporcionou atingir um público amplo que, hoje, chora a sua perda.

Tive a honra de entrevistá-la em várias ocasiões, a partir do finalzinho dos anos 1980, e ela sempre se mostrou muito franca, acessível e receptiva. A mais recente foi em 2013 (leia a entrevista aqui).

Com os progressos da medicina atual, dava para se esperar que Gal ainda ficasse entre nós por muitos e muitos anos. Infelizmente, ela permanecerá apenas em seus inúmeros álbuns e vídeos, que nos permitirão dar uma maneirada nessa saudade imensa que certamente irá aumentar conforme a gente for se tocando de que, como disse Adriana Calcanhoto em entrevista à Globo News, “não tem mais Gal”.

Só Louco– Gal Costa:

Breve Festival é uma das marcas do retorno dos grandes eventos

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Por Fabian Chacur

Mesmo em um momento em que não fica muito claro a quantas vai a pandemia da covid-19, após dois longos anos e mais de 600 mil mortes apenas no Brasil, os eventos musicais de grande porte começam a ser anunciados por aqui. Fica a torcida para que tudo dê certo. Previsto para ocorrer em 2020, será enfim realizado no dia 9 de abril (sábado) em Belo Horizonte, mais precisamente na Esplanada do Mineirão, o Breve Festival 2022 (mais informações aqui), com ingressos custando de R$ 240,00 a R$ 460,00. O elenco traz mais de 20 nomes de várias tendências musicais.

Quem curte rap terá a forte presença dos Racionais MC’s, que não costumavam participar desses eventos massivos, mas que estão devidamente confirmados no Breve Festival. O rock nacional terá em Pitty uma representante mais do que poderosa. Na área da MPB, temos Gal Costa, Ney Matogrosso e o projeto O Grande Encontro, que nesta sua nova edição inclui Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo. E, na praia pop, Ludmilla, Céu e Silva são outros nomes bem expressivos. Serão quatro palcos, no total.

Guilherme Rabelo, sócio e curador do evento, explica a motivação básica do Breve Festival: “O projeto, que seria em 2020 e acabou não acontecendo por conta da pandemia, cresceu e agora temos um novo festival. Maior e mais potente, com um line-up de peso e muita vontade de reunir as pessoas de novo, de fazer um evento incrível, pois estamos todos precisando, depois desses dois anos. Será um presente pra cidade”.

Diário de um Detento (ao vivo)- Racionais MC’s:

Trinca de Ases, bela união de Gil, Nando Reis e Gal Costa

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Por Fabian Chacur

A ideia de reunir Gilberto Gil, Nando Reis e Gal Costa em um show que inicialmente celebraria o centenário de Ulysses Guimarães foi do jornalista Jorge Bastos Moreno (1954-2017), mas ele infelizmente não viveu o suficiente para ver sua sugestão concretizada. Com o nome Trinca de Ases, o show passou com sucesso pelo Brasil e Europa e agora é lançado em DVD duplo pela Biscoito Fino, em espetáculo registrado no Espaço das Américas (SP) em 25 de novembro de 2017.

O conteúdo é divido em duas partes. O primeiro disco traz o documentário A Gente Quer é Viver, frase extraída da clássica canção de Gilberto Gil eternizada na voz de Gal Costa nos anos 1970 e que encerra o show. Durante seus 71 minutos de duração, temos entrevistas dos participantes (juntos e individualmente) e cenas dos ensaios, bastidores e dos shows propriamente ditos, nos quais podemos descobrir as peculiaridades da parceria.

Nando, por exemplo, confessa que, ao receber o convite para o projeto, ficou em dúvida se seria capaz de encarar tal desafio. Ele foi entrando no espírito da coisa graças à forma como Gil o abordou, ao mesmo tempo dando a ele a tranquilidade necessária para se soltar e também deixando claro que existiam expectativas em relação a Nando naquela parceria tripla que precisavam ser concretizadas para que tudo desse certo. Nando TINHA de se soltar. E ele conseguiu.

Um momento do documentário que deixa bem clara esse ajuste fino entre Gil e Nando ocorre quando o eterno tropicalista questiona o ex-titã sobre a inédita Dupla de Ás, de Nando, tentando entender a estrutura rítmica da canção e levando o autor a até mesmo questionar se aquela sua composição seria mesmo adequada ao projeto. Era, e entrou no repertório.

A concepção de como fazer o show também seguiu sugestões de Gil, que impulsionou-os a fugir de uma estrutura com apenas vozes, violões e apenas os três em cena. Assim, foram acrescentados à Trinca de Ases os músicos Kainã do Jejê (bateria e percussão) e Magno Brito (baixo). Ele também apontou o rumo de cantarem em pé, defendendo um repertório energético em sua essência.

Outra coisa bacana do documentário é mostrar como o relacionamento entre os músicos se desenvolveu, com Gil sendo na prática diretor musical e músico principal, Nando seu braço direito e Gal o algodão entre cristais, brilhando em seus momentos solo e ajudando a dar ao trabalho uma consistência de um grupo de fato e de direito.

Apenas três das 25 músicas são apresentadas no formato sentado e sem os músicos de apoio. São elas Retiros Espirituais, Copo Vazio e Meu Amigo Meu Herói, sendo que na segunda Nando só canta, e na terceira, temos apenas Gil e Gal em cena. De resto, são os três de pé, com Nando tocando violão com cordas de aço e o autor de Realce valendo-se de cordas de nylon no seu instrumento.

Das 25 músicas que integram o repertório do show, 12 são de Gil, 9 de Nando, uma é parceria entre Gil e Nando (a ótima Tocarte) e três são sucessos do repertório de Gal. Além de Tocarte, são inéditas Trinca de Ases (Gil), espécie de canção-tema do show composta por sugestão de Nando e claramente inspirada nos Rolling Stones (com direito a citação de Satisfaction por parte de Gal) e a já citada Dupla de Ás (Nando).

O show, com quase duas horas de duração, equivale a uma deliciosa viagem por momentos importantes das carreiras dos três devidamente atualizados e adaptados para o contexto do trio. O ótimo desempenho dos músicos de apoio ajuda a concretizar de forma brilhante o conceito inicial de Gil, e também a disposição que Gal tinha de ver elementos rockers incorporados ao projeto. O entrosamento de Gil e Nando nos violões é muito bom, com os timbres distintos de seus instrumentos se encaixando de forma harmônica e rica, sem virtuosismos tolos.

Com vitalidade e energia elogiáveis para dois setentões e um cinquentão, o trio cativa com recriações muito boas de maravilhas do porte de Palco, All Star, Esotérico, Cores Vivas, Pérola Negra (incluída no repertório após a morte de seu autor, Luiz Melodia), Refavela, Nos Barracos da Cidade, O Segundo Sol e A Gente Precisa Ver o Luar.

Há durante o show algumas arestas não aparadas que poderiam ter dado ao trabalho, se devidamente ajustadas, um formato mais, digamos assim, “limpinho”, mas uma das graças deste Trinca de Ases é exatamente esse, sentir onde os três se completaram por inteiro e onde soam como água e óleo, sem se misturar com tanta simplicidade. Prova de que Gil, Nando e Gal não tiveram medo de ousar e experimentar, conquistando dessa forma uma consistência artística que torna esse projeto histórico por fato, por direito e por merecimento artístico.

Trinca de Ases (ao vivo)- Gil, Nando & Gal:

Polysom relançará clássicos de Gal Costa no formato vinil

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Por Fabian Chacur

A Polysom, que nos últimos anos tem relançado no formato vinil de luxo álbuns importantes da história da música brasileira, promete mais dois títulos para breve, ambos de Gal Costa. Os dois discos foram lançados originalmente em 1969, e são cotados entre os melhores já lançados pela seminal cantora baiana, eterna musa da Tropicália.

O primeiro a chegar às lojas, ainda este mês, será Gal, considerado pela crítica como provavelmente o trabalho mais psicodélico da carreira da intérprete. Entre outras faixas, destacam-se a icônica Meu Nome é Gal (de Roberto e Erasmo Carlos), Cinema Olímpia, Pulsar e Quasars, Com Medo Com Pedro e País Tropical. Um banho de ousadia e criatividade de uma artista talentosíssima.

Gal Costa, cuja reedição está prevista para sair em janeiro de 2015, traz diversas canções fundamentais no repertório de Gal, entre elas Baby, Namorinho de Portão, Se Você Pensa, Divino Maravilhoso e Que Pena (Ela Já Não Gosta Mais de Mim). A produção deste e do outro LP é de Manuel Barembeim, nome importante na era tropicalista da MPB.

A única notícia não tão boa fica por conta do preço médio de cada título, R$ 79,90 , justificado pelo fato de se tratar de edições especiais e limitadas. A coleção da Polysom conta com títulos importantes de nomes como Jorge Ben, Caetano Veloso, Azymuth, Chico Science & Nação Zumbi, Banda Black Rio e títulos da gravadora Elenco.

Ouça Meu Nome é Gal, com Gal Costa:

Gal Costa mostra várias facetas em novo DVD

Por Fabian Chacur

No final de 2011, Gal Costa lançou o ousado álbum Recanto, seu primeiro trabalho de inéditas em quase uma década e com repertório composto especialmente para ela por Caetano Veloso. O trabalho gerou uma turnê que, por sua vez, acaba de render o DVD e CD duplo Recanto Gal Ao Vivo, lançado pela Universal Music.

Como forma de divulgar esse novo ítem em seu currículo, a cantora baiana concedeu uma entrevista coletiva à imprensa em São Paulo (onde mora atualmente), realizada em um hotel de luxo na região dos Jardins. Mondo Pop esteve lá e teve a chance de fazer algumas perguntas e também de saber mais sobre o DVD/CD.

Simpática, tranquila e não aparentando nem de perto os 67 anos de idade que possui, Gal deu uma geral em seus projetos mais recentes, detalhou alguns aspectos dessa nova obra e fez comentários sobre o seu modo de encarar a vida e a profissão. Uma entrevista muito bacana, que durou quase uma hora e que você poderá ler a seguir, em seus melhores momentos.

Como foi a concepção de Recanto Gal Ao Vivo, e como foram sendo encaixadas as canções de outras fases de sua carreira ao lado do repertório do disco de estúdio?
Gal Costa– O álbum de estúdio teve como ideia inicial ser feito com minha voz em tom mais cool. O show acabou virando outra coisa, pois os arranjos cresceram, os músicos adicionaram outros elementos. A estreia foi no Rio em um lugar intimista, mas a segunda apresentação ocorreu em São Paulo ao ar livre, com um público heterogêneo mas com muitos jovens,que estão ouvindo meus discos dos anos 60 e 70. E ali ficaram explicitadas todas as Gals que estão dentro de mim. As canções antigas foram adaptadas à nova sonoridade, mas algumas soam mais próximas dos arranjos anteriores. Baby, por exemplo, ficou mais suave. Há mudanças maiores e menores, dependendo de cada canção.

Como ocorreu a seleção do repertório e a escolha dos músicos que tocaram com você neste show?
Gal Costa– O Caetano (produtor do CD e diretor do show) selecionou o repertório, sendo que não concordei com uma ou duas músicas, e teve uma que entrou depois. Os músicos foram escolhidos pelo Moreno Veloso e pelo Caetano, e nasceu uma harmonia espontânea entre eu e eles. Fizemos 16 ensaios para o show, o que não é muito. A interação entre nós foi rápida.

Um desses músicos é o Pedro Baby, que é filho do Pepeu Gomes e da Baby do Brasil. Você, no lendário show Fa-Tal, tocou com Pepeu. Como foi ter agora o filho dele em sua banda?
Gal Costa– Conheci o Pedro Baby quando ele era pequenininho, era muito amiga da Baby, tenho um carinho muito grande por ele, que toca muito bem. Aliás, foi emocionante tocar novamente Vapor Barato no mesmo teatro (o hoje Theatro Net Rio) em que essa música foi lançada por mim no show Fa-tal.

No repertório do show, temos várias músicas clássicas em seu repertório, e também aquela que provavelmente é a que fez mais sucesso entre todas, Um Dia de Domingo, que você gravou originalmente com o Tim Maia. Como surgiu a ideia de neste show você imitar o Tim Maia na parte que ele cantava, e como você avalia essa canção em sua carreira?
Gal Costa– A sugestão de eu imitar o Tim Maia veio do Caetano, e fiz uma caricatura dele, aproveitei os graves que tenho hoje na voz. Gravei originalmente essa música por causa do Tim, que eu só conheci em 1985 quando participamos da música Chega de Mágoa, gravada em benefício do Nordeste. Ele me elogiou e propõs que gravássemos juntos. Essa canção era dos autores que ele gravava, deixei a música no meu disco Bem Bom por causa dele, essa música existe na minha vida graças a ele. Um Dia de Domingo fez sucesso no Brasil todo e na América Latina, em Portugal. Fui também crucificada pela crítica por gravá-la, mas nunca tive medo de encarar desafios, faz parte do meu temperamento.

Quem ouvir e ver o DVD terá a oportunidade de observar que você continua cantando músicas que gravou há décadas nos mesmos tons originais, sem ter perdido rigorosamente nada de sua afinação. A que você atribui isso? Faz algum tipo de preparação ou coisa do gênero para manter de forma tão intacta sua voz?
Gal Costa– Nunca aprendi canto, sempre tive muita intuição ao usar minha voz. Descubro coisas enquanto canto, mas eu me deixo levar, a emoção vem nova, sempre. Eu me aproprio das canções. Canto as antigas nas mesmas tonalidades em que as gravei. Não perdi os agudos e ainda ganhei os graves que o tempo nos dá. Procuro cuidar da minha saúde, pois quero envelhecer de forma saudável, tendo saúde.

Quais são os seus planos para este ano? Tem outros projetos já engatilhados?
Gal Costa– Já estou pensando em um próximo trabalhom sem nada fechado que eu possa revelar agora. Recanto ainda tem muita história pela frente, pelo menos durante este ano. Farei shows em vários locais, sendo que em São Paulo cantarei no Teatro Bradesco e no Sesc Pinheiros. Também me apresentarei no Circo Voador (RJ), Portugal, Itália, França etc.

Muitas cantoras e artistas da nova geração citam você como uma forte influência. Como encara isso?
Gal Costa– A nova geração tem cantoras super bacanas. Conheci pessoalmente a Céu, a Tulipa Ruiz. A juventude sempre traz boas energias, mas a minha alma sempre foi jovem, não é nada forçado. Cantar para os jovens é bom, a energia é muito forte, muito boa.

Recanto Escuro (ao vivo)- Gal Costa:

Vapor Barato (ao vivo) – Gal Costa:

Expresso 2222 volta em reedição luxuosa

Por Fabian Chacur

Álbum que marcou a volta de Gilberto Gil ao Brasil em 1972 após um exílio involuntário de quase três anos, Expresso 2222 volta às lojas em luxuosa edição comemorativa remasterizada e com reprodução da embalagem original do álbum, incluindo encarte com letras e ficha técnica completa. Estão à venda versões em CD e LP de vinil. O comentário de Mondo Pop a seguir leva em conta a edição em CD.

A qualidade de áudio ficou muito boa, ressaltando os elementos acústicos imprimidos à obra, enquanto a parte visual mereceu um apuro técnico elogiável. O único ponto fraco fica por conta da exclusão das faixas bônus da reedição anterior, mantendo apenas as nove faixas do disco original. Ficaram de fora, portanto, Cada Macado No Seu Galho (Cho Chuá), Vamos Passear no Astral e Está na Cara Está na Cura.

O álbum abre com a interpretação instrumental rústica e cativante de Pipoca Moderna (Caetano Veloso e Sebastiano Biano), com a Banda de Pífaros de Caruaru, como que apresentando as raízes da música nordestina em sua forma mais crua e em seu habitat natural.

Logo a seguir, temos Back In Bahia (Gil), um rockão com a cara de 1972 e cuja letra fala sobre esse retorno do tropicalista a seu país. A seu lado, uma banda composta por Lanny Gordin (guitarra), Bruce Henry (baixo), Antonio Perna (teclados) e Tutty Moreno (bateria).

O Canto da Ema (Ayres Viana, Alventino Cavalcante e João do Vale) surge como uma espécie de síntese entre a crueza de Pipoca Moderna e eletricidade de Back In Bahia, propondo uma mistura da tradição do forró com a modernidade do rock. O resultado é empolgante, com direito a um forró sacudido sem a presença de seu instrumento primordial, a sanfona.

Clássico do repertório de Jackson do Pandeiro, Chiclete Com Banana já propunha há mais de uma década o que Gil pôs em prática nesse disco, a mistura do chiclete americano com a banana tupiniquim, e ganha aqui uma versão beirando o lado mais rítmico e interessante da bossa nova. Metalinguagem de primeiríssima linha. Ele e Eu é outro momento rock and roller de Gil e seus músicos, com direito a tempero brasileiro e blueseiro.

Sai do Sereno (Onildo Almeida) é outra bela tentativa bem-sucedida de fundir forró e rock, com direito aos vocais de uma endiabrada Gal Costa duelando com Gil e dando uma vitaminada geral na mistura, com direito a uns surpreendentes acordes e convenções jazzísticas aqui e ali, fruto do imenso talento de Lanny Gordin.

A parte final do álbum nos oferece três faixas nas quais a incrível habilidade de Gilberto Gil como violonista e cantor ficam exacerbadas. A incrivelmente rítmica faixa título equivale a um roteiro da viagem feita durante todo o álbum, um mergulho futurista em uma nova dimensão na qual a miscigenação sonora inteligente e criativa não tem fim.

Se em Expresso 2222 o genial astro baiana ainda se vale de alguma percussão, em O Sonho Acabou e Oriente é só ele, no melhor esquema voz e violão. E aí, a viagem se torna simplesmente irresistível. A primeira se vale da célebre frase de John Lennon e de certa forma ironiza o fim de um sonho que, na verdade, estava mais do que vivo naquele momento.

E já que toquei no tema metalinguagem, Oriente utiliza esse recurso com habilidade impressionante, brincando com as possibilidades da palavra em termos geográficos (influências orientais permeiam os acordes tocados por Gil no violão) e existenciais (se oriente, rapaz). Viajante, a faixa fecha o álbum com um quê de psicodelismo.

Expresso 2222 consegue abrigar minimalismo, modernidade, fusão de várias tendências músicais, genialidade dos músicos e um Gilberto Gil em estado de graça como compositor, violonista, cantor e intérprete de material alheio. Um álbum simplesmente maravilhoso, indispensável para os fãs de música sem fronteiras e sem amarras.

Expresso 2222, com Gilberto Gil, ao vivo em programa na Globo em 1972:

Tropicália disseca Tropicalismo com maestria

Por Fabian Chacur

De todos os movimentos ocorridos na história de nossa riquíssima música popular, o Tropicalismo certamente segura o estandarte de o mais polêmico, influente e original. Mais de 40 anos após seu surgimento nos efervescentes anos 60, esse importante capítulo de nossa cultura permanece relevante e atraindo as atenções gerais.

Tropicália, documentário dirigido pelo experiente e competente Marcelo Machado, estreará nos cinemas paulistanos nesta sexta-feira (14) com a missão de oferecer ao público a oportunidade de conhecer melhor o que representa essa palavra de sonoridade agradável e imediatamente associada ao nosso “País Tropical abençoado por Deus”, como diria Jorge Ben.

O principal mérito da produção é conciliar, de forma inteligente e impecável, uma apresentação fluente do Tropicalismo oferecida a quem não o domina e a busca por elementos inéditos ou pouco divulgados para satisfazer quem conhece o tema de forma mais apurada.

Sem cair em um didatismo que poderia tornar o filme enfadonho, Tropicália proporciona ao espectador uma visão abrangente do movimento que ajudou a quebrar as barreiras entre estilos musicais e culturais até então considerados opostos. Graças ao Tropicalismo, rock, bossa nova, bolero, música erudita de vanguarda e jazz (para citar apenas alguns gêneros musicais) puderam dialogar em um mesmo contexto de forma livre e ousada.

Para contar essa história, Machado e sua equipe mergulharam em pesquisas que resgataram registros inéditos ou raríssimos por aqui de momentos importantes dos artistas envolvidos. Caetano Veloso e Gilberto Gil, por exemplo, aparecem dando entrevista a uma emissora de TV portuguesa em 1969, e em Londres em meio a seu exílio imposto pela Ditadura Militar.

Os cantores também são flagrados em uma desconhecida por muita gente participação no palco do mitológico festival da Ilha de Wight, na Inglaterra, evento que também incluiu figuras mitológicas como Jimi Hendrix, The Who, Miles Davis e The Doors, entre outros. Caetano e seus parceiros cantam Shoot Me Dead. De arrepiar.

Além dessas cenas garimpadas nos mais diversos arquivos, também temos entrevistas atuais com Caetano, Gil, Tom Zé, Gal Costa, Sérgio Dias, Arnaldo Baptista e outros protagonistas do Tropicalismo. Em alguns momentos, o filme mostra Caetano, por exemplo, vendo algumas daquelas cenas raras e interagindo com elas.

Lógico que a música come solta durante os 82 minutos de duração do filme, entre as quais uma interpretação ao vivo simplesmente arrasadora de Back In Bahia, um dos clássicos composto por Gil e relacionado a seus dias de exílio londrino.

Tropicália é um documentário essencial para quem deseja entender os caminhos da música brasileira nessas décadas todas. Não vejo a hora do lançamento em DVD, principalmente se tivermos extras aproveitando material que ficou de fora da edição final. Deve ter muita coisa boa adicional nessa geleia geral pesquisada pela troupe da Bossa Nova Filmes.

Veja o trailer de Tropicália, de Marcelo Machado:

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