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Gonzaga Leal e Áurea Martins homenageiam Dalva de Oliveira

CD Aurea Martins & Gonzaga Leal --400x

Por Fabian Chacur

Dalva de Oliveira (1917-1972) deixou sua marca na história da música brasileira como uma de suas melhores e mais bem sucedidas cantoras. Ela também pode ser considerada, infelizmente, uma das precursoras da excessiva exposição na mídia atual de artistas, graças a suas intensas e polêmicas relações afetivas. Como forma de homenagear essa personalidade marcante da nossa cultura, o cantor Gonzaga Leal concebeu um show, semente que, agora, dá um fruto dos mais preciosos, o CD Olhando o Céu, Viu Uma Estrela, que gravou ao lado da cantora Áurea Martins.

Com uma carreira repleta de projetos consistentes e de forte conteúdo cultural (leia mais sobre Gonzaga Leal aqui ), este experiente e talentoso artista pernambucano resolveu mergulhar no universo musical de Dalva, repleto de belas canções nas quais o amor é o tema principal e sempre de forma abrangente, indo das paixões arrasadoras aos finais nem sempre muito agradáveis, passando por todas as nuances possíveis.

Dalva de Oliveira foi uma das grandes estrelas da era do rádio no Brasil, e se manteve ativa entre as décadas de 1930 e 1960. Seu casamento com o grande compositor Herivelto Martins, que durou por volta de dez anos, rendeu grandes momentos musicais e também muita confusão, e essa seria a marca de sua vida pessoal. No entanto, sua voz potente e versátil a eternizou, independente de tumultos e ácidas manchetes de jornal.

O repertório do álbum gravado em estúdio nos apresenta alguns dos maiores clássicos do repertório da intérprete oriunda de Rio Claro (SP), sendo seis de autoria de Herivelto. Algumas integram até hoje o imaginário dos fãs da nossa música em função de regravações ocorridas posteriormente, casos de Kalú, Atiraste Uma Pedra, Tudo Acabado e Estão Voltando as Flores.

A direção musical e regência, a cargo de Caca Barreto (também assinou os arranjos) e Cláudio Moura, deram ao álbum uma roupagem delicada e singela, ressaltando dessa forma as belas melodias e as letras inspiradas de cada canção.

A grande sacada do trabalho foi ter sido montado como se fosse uma apresentação radiofônica, entremeando as canções com depoimentos da própria Dalva de Oliveira (gravados em 1970 para o Museu da Imagem e do Som-RJ) e com outras declarações dela interpretadas pela cantora e atriz Marília Barbosa. Também participam a grande Cida Moreira e a talentosa Isadora Melo.

E Gonzaga não poderia ter escolhido melhor a parceira para o álbum. Áurea, há mais de cinco décadas na estrada e dona de uma trajetória artística, musical e pessoal digna e invejável, captou com categoria o espírito deste trabalho, relendo com sensibilidade e alma (e uma voz encantadora) músicas que marcaram a história da nossa música e do nosso país.

Olhando o Céu, Viu Uma Estrela é um daqueles álbuns que já nascem clássicos, e que precisa ser ouvido com atenção, de preferência tendo em mãos o belíssimo livreto que acompanha o CD, que além das letras das canções e da ficha técnica completa, traz também belos textos contextualizando esta obra. Um resgate belíssimo e mais um golaço na carreira desse inquieto Gonzaga Leal.

Ouça Olhando o Céu, Viu Uma Estrela em streaming:

Alaíde Costa e Gonzaga Leal e sua sutileza no CD Porcelana

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Por Fabian Chacur

Se eu fosse obrigado a definir Porcelana, primeiro CD lançado em dupla pelos experientes e talentosos cantores Alaíde Costa e Gonzaga Leal, com uma única palavra, ela seria sutileza. Nada mais sutil do que as canções, os arranjos e especialmente as interpretações contidas neste álbum, com direito a 13 canções repletas de lirismo e sensibilidade pura.

Alaíde Costa é uma das pioneiras da Bossa Nova, e está na estrada há mais de 50 anos, esbanjando talento ao interpretar composições alheias e também as de sua própria autoria. Seu dueto com Milton Nascimento em Me Deixa em Paz, faixa do antológico Clube da Esquina (1972), é para mim um dos mais brilhantes e emocionantes da história da MPB.

Por sua vez, Gonzaga Leal está na estrada desde a década de 1970, investindo em um trabalho que se preza pelo bom gosto e por um apurado senso de qualidade na seleção de repertório e músicos que o acompanham. Investir no que estiver na moda ou em facilidade para “tocar nas rádios” nunca foi sequer opção para ele, que assim construiu uma trajetória bem respeitável no cenário da MPB.

A carioca radicada há décadas em São Paulo e o pernambucano fazem shows juntos há dez anos, e faltava apenas registrar essa parceria bem entrosada em disco. Não falta mais. Porcelana é um daqueles trabalhos que você precisa ouvir com atenção, para poder captar as suas nuances em termos musicais e poéticos. Não se presta a uma audição apressada e desatenta, pois não foi feito para isso. E vale dar ao CD essa atenção.

As vozes de Gonzaga e Alaíde são muito belas, e brilham tanto nos momentos solo como nas horas em que se encontram. Facilita as coisas os belos arranjos instrumentais, que são assinados por ótimos músicos como Maurício Cesar (teclados) e Marcos FM (baixo). O tema básico do disco são as idas e vindas do amor, olhados de forma lírica e poética e sem cair no rotineiro ou no banal. É a paixão como mote o tempo todo.

O repertório, assinado por autores das mais diversas origens e fama, prima pelas melodias elaboradas e letras sofisticadas, mas sem nunca cair naquela erudição exagerada/arrogante. É música popular, sim, mas de bom gosto. São vários os destaques, entre os quais Meu Amor Abre a Janela, O Meu Menino é D’oiro e Quando Se Vai Um Amor, provas de que dá para se falar de amor sem cair naquelas coisas repetitivas e tolas que tocam nas rádios mais popularescas.

Porcelana é um daqueles trabalhos que apostam na inteligência e no bom gosto do ouvinte. Impressiona a categoria de Alaíde Costa, que há pouco comemorou 80 anos de idade que definitivamente não aparenta, nem em termos físicos, nem em termos vocais. E Gonzaga Leal é categoria pura, digno seguidor do que de melhor a nossa música popular nos rendeu em toda a sua história. Eis um disco que merecia ter impresso a frase Disco é Cultura que aparecia nos LPs nos anos 1970.

Meu Amor Abre a Janela:

Divinamente Nua a Lua:

Gonzaga Leal esbanja brasilidade em novo CD

Por Fabian Chacur

Com mais de 30 anos de estrada, o cantor e autor pernambucano Gonzaga Leal traz como marca registrada o desejo de mergulhar nas várias sonoridades da música popular brasileira, sem se prender a um único estilo. Seu novo CD, De Mim, lançado pela via independente, é uma boa prova da consistência de sua proposta, com 15 faixas que equivalem a uma bonita viagem pela musicalidade tupiniquim de qualidade.

Nascido em Serra Talhada e radicado desde a adolescência em Recife (PE), Gonzaga tem no currículo atuações em shows e discos de gente do gabarito de Edu Lobo, Boca Livre, Milton Nascimento, Alaíde Costa e inúmeros outros. Já lançou diversos trabalhos individuais, entre os quais O Olhar Brasileiro (2000), Um Tributo a Nelson Ferreira (2002) e Cantando Capiba…e Sentirás o Meu Cuidado (2004).

De Mim inclui em seu repertório composições de autores de vários estados brasileiros, como Altay Veloso, Adriana Calcanhoto, Paulo Cesar Pinheiro, Luiz Tatit, Fábio Tagliaferri e Junio Barreto, só para citar alguns. Os arranjos musicais são minimalistas, delicados e bastante elaborados, um deles assinados pelo grande músico e arranjador Jaime Além, conhecido por seu trabalho realizado há muitos anos com Maria Bethânia.

Com sua voz suave e doce, Gonzaga Leal dá um tom sóbrio e bem pessoal ao repertório. Um dos destaques do álbum fica por conta da participação especial da amiga Marília Medalha, conhecida pelo antológico dueto com Edu Lobo no clássico Ponteio. Aqui, ela divide com Gonzaga as músicas Voo Cego e Deusa da Lua, dois dos momentos mais felizes desse álbum.

A marcante cantora Cida Moreira é a atração da faixa A Janela Da Casa do Tempo. J. Veloso marca presença em Sonho Imaginoso, enquanto Juliano Holanda e Públius comparecem em Ainda Bem Que Eu Trouxe a Viola. Por sinal, a viola brasileira é uma das paixões confessas de Gonzaga Leal, e uma das principais inspirações para sua obra e este trabalho em particular.

Com ótima produção, participação de músicos de primeira linha e apresentação gráfica belíssima, com direito a capa digipack e encarte luxuoso, De Mim é o tipo de trabalho que certamente irá cativar os fãs da música popular brasileira de real mérito artístico, além de ser prova concreta e segura de que a produção independente brasileira continua crescendo cada vez mais em termos qualitativos e organizacionais.

Ouça Água Serenada, do CD De Mim, de Gonzaga Leal:

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