Por Fabian Chacur

Durante a minha infância e adolescência, tive a oportunidade de ver nascer, crescer e entrar na eternidade a disco music, uma das ramificações mais polêmicas, bem-sucedidas e criativas da história da música pop.

Entre os grandes expoentes da disco figurou a KC & The Sunshine Band, grupo criado em Miami e liderado pelo cantor, compositor e músico Harry Wayne Casey e pelo baixista e compositor Richard Finch.

Entre 1973 e 1979 os caras simplesmente arrebentaram, criando um som contagiante e de assinatura própria que rendeu hits como (Shake Shake Shake) Shake Your Booty, Get Down Tonight, Keep It Comin’ Love, I’m Your Boogie Man e That’s The Way (I Like It), entre vários outros.

Nos anos 80, com a saída de Richard Finch e de outros músicos importantes, Casey perdeu o faro para os hits, e passou a viver dos shows nostálgicos para saudosistas dos good disco times.

Tive a oportunidade de participar de uma entrevista coletiva com Casey lá pelos idos de 1995, e fiquei tão irritado com a arrogância do cara que nem pedi a ele o autógrafo que pretendia. Nem sempre é bom conhecer pessoalmente um ídolo…

Agora, quase 16 anos depois, ele e os 14 músicos da atual encarnação da Sunshine Band, que só mantém o percussionista Fermyn Goytisolo dos bons tempos, voltou ao Brasil para mais um show.

Confesso que relutei e muito em marcar presença por lá. Mas, no fim das contas, a vontade de ouvir algumas daquelas canções que encheram pistas de dança em todo o mundo me venceu. Foi nesta terça-feira (8/11).

O início foi esquisito, com a música I Gotta Feeling, do Black Eyed Peas, tocando no intuito de criar um clima perante a plateia, que preencheu pouco mais da metade da lotação da Via Funchal, em São Paulo.

Em seguida, a boa banda entrou em cena, com direito a dez músicos e quatro cantoras/dançarinas, e criou a expectativa da entrada do líder e dono do time.

Ao som de (Shake Shake Shake) Shake Your Booty, Harry Casey entrou no palco, muitos quilos acima do peso dos bons tempos e com os cabelos cada vez mais raros.

No entanto, o pior ficou por conta de quando ele resolveu soltar o gogó. Apertem os cintos, a voz sumiu quase que por completo. Mesmo assim, no início o clima dançante segurou a onda. E as músicas são matadoras!

Após mais uma música sacudida, Boogie Shoes, imortalizada na trilha sonora de Os Embalos de Sábado à Noite, Casey fez a aposta errada e perdeu feio: resolveu investir em uma longa sessão de baladas.

Nelas, a falta de voz se mostrou muito mais evidente, logo de cara com Yes’ I’m Ready, que estourou com ele em parceria com a cantora Teri de Sario em 1980. Uma de suas vocalistas de apoio ajudou a encobrir um pouco. O cantor teve de dar uma saidinha do palco durante essa música. Foi a primeira, mas não seria a última.

Logo em seguida, veio Please Don’t Go, megahit em 1979/80 na qual ele deu um show de voz na gravação original.

Desta vez, ao vivo, Casey a interpretou vários tons abaixo do original, e soava como um patético cantor de karaokê, o que piorou na sequência, em covers de músicas de outros artistas, como Kiss And Say Goodbye (Manhattans) e Ain’t No Mountain High Enough (das Supremes). De doer. De chorar.

Depois dessa sessão dolorosa de tortura, os hits dançantes voltaram, com I’m Your Boogie Man e Keep It Comin’ Love, sendo esta última com citações de vários hits alheios, como Do Ya Think I’m Sexy e Rock Your Babe (que Casey escreveu para George McRae em 1974).

Give It Up, único sucesso do grupo nos anos 80 e também executado em tom bem abaixo do original, também foi esticada ao máximo com citação de sucessos de outros artistas, entre os quais Brick House (Commodores) e Shake Your Body (Down To The Ground), dos Jacksons.

Como forma de justificar outra longa saída do palco de seu líder, a banda se desdobrou em performances instrumentais para preencher o tempo, com direito a algo que nem em shows de rock é agradável, que dirá em um show de disco music: um longo solo de bateria, com direito a “momento samba”.

Aí, como que para compensar um pouco tanta encheção de linguiça, Casey voltou ao palco e nos ofereceu os megahits That’s The Way (I Like It) e Get Down Tonight, esta última no bis e com direito à citação do hit Do You Feel Alright.

O show teve início às 22h12 e acabou às 23h52. Ou seja, 1h40 de duração, com pelo menos uns 40 minutos de embromação, que ajudaram a deixar de fora do set list inúmeros hits da banda.

Apesar dos pesares, confesso que não me arrependi de ter ido. Não deixou de ser a oportunidade única de ver um ídolo (mesmo que decadente) aos 60 anos de idade ainda na ativa, e de ouvir algumas das minhas músicas preferidas da disco music.

Veja (Shake Shake Shake) Shake Your Booty, nos anos 70:

Veja I’m Your Boogie Man, com o KC atual: