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Caixa traz gravações inéditas de Ivan Lins da década de 70

ivan lins anos 70 caixa-400x

Por Fabian Chacur

Ivan Lins teve na década de 1970 o período decisivo em sua brilhante carreira. Foi durante aqueles anos que ele deixou de ser apenas um artista promissor para se inserir com força entre os grandes nomes da MPB, gravando discos essenciais e cativando o público. O selo Discobertas celebra os 70 anos de idade do artista e lança Ivan Lins Anos 70, caixa com três CDs de gravações inéditas do genial cantor, compositor e pianista carioca.

O material contido neste ótimo lançamento registra dois momentos distintos na carreira do autor de Madalena. Os volumes 1 e 2 trazem gravações feitas ao vivo em dois shows realizados em 1975, o primeiro (sem especificação do mês) em Curitiba (PR) e o outro em São José do Rio Preto (SP), este último no mês de novembro. São apresentações que marcam a primeira turnê mais extensa do artista, que estreava uma nova banda de apoio, a Modo Livre.

Além de Ivan nos vocais e piano, o grupo trazia Gilson Peranzzetta (teclados, que seria a partir dali seu braço direito nos próximos dez anos), Ricardo Pontes (flauta e sax), Fred Barboza (baixo) e João Cortez (bateria). O grupo surgiu para acompanha-lo depois do lançamento do álbum Modo Livre (1974), e se mostra em pleno processo de entrosamento nesses dois registros ao vivo.

A edição de som não nos permite deduzir se os shows foram gravados na íntegra ou não, mas a inclusão de falas de Ivan em algumas partes acaba sendo bem informativa, como no momento em que no show de Curitiba ele anuncia que iria cantar três músicas que seriam lançadas em seu próximo álbum, o então ainda inédito Chama Acesa. Apenas quatro músicas se repetem no repertório dos dois shows: Abre Alas (primeira parceria e primeiro hit escrito com Vitor Martins), Acender As Velas (Zé Ketti), Nesse Botequim (Ivan Lins e Vitor Martins) e Quero de Volta o Meu Pandeiro (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza).

No set list, o artista demonstra rebeldia ao deixar de lado seus hits mais impactantes até então, as músicas Madalena e O Amor é Meu País, substituídas ou por canções ainda inéditas em discos dele, ou composições de Zé Kéti (Opinião é a outra, além de Acender as Velas), ou ainda temas instrumentais compostos por ele e/ou integrantes da banda. Os improvisos são frequentes, e o resultado dos dois shows no geral é bem bacana, com qualidade de áudio ótima.

Para o terceiro CD, foram reservadas 12 gravações feitas por Ivan em 1978 no estúdio Eldorado, em São Paulo. Por Cima dos Ossos (Ivan Lins-Ronaldo Monteiro de Souza) é inédita. As Minhas Leis, Esse Pássaro Chamado Tempo, Eu Preciso de Silêncio e Desalento (todas parcerias de Ivan com Ronaldo) foram gravadas por outros intérpretes e nunca haviam entrado antes em um álbum do próprio autor.

A Visita (Ivan Lins-Vitor Martins) entraria em outra versão no seminal álbum Nos Dias de Hoje, lançado naquele mesmo 1978. Temos as instrumentais Gaivota e Procurando Inês/Minas de Mim, assinadas só por ele. Acender as Velas, de Zé Kéti, é curiosamente a única música que aparece nos três CDs, em versões diferentes.

Completam o repertório do CD de estúdio O Sol Nascerá (Cartola e Elton Medeiros), O Amor em Paz (Tom Jobim e Vinícius de Moraes) e Não Me Diga Adeus (Paquito, Luiz Soberano e Correa da Silva). As performances são no esquema piano e voz, sendo que em quatro delas temos a participação da cantora e atriz Lucinha Lins (então casada com ele) nos vocais, todas muito boas. O clima intimista domina e encanta.

A apresentação da caixa é simpática, os encartes trazem as letras das canções e algumas fotos legais, mas deixa a desejar no sentido de que não temos textos com informações mais detalhadas sobre as gravações ou mesmo as contextualizando em relação à carreira do astro carioca.

O crédito da música Chega no encarte e na contracapa também está errado, pois a música é só de Ivan, e não da dupla Ivan Lins-Vitor Martins. Mas são deslizes perdoáveis, se levarmos em conta a preciosidade do material contido aqui. Uma homenagem à altura desse grande Ivan Lins, um gênio da música popular brasileira.

Quero de Volta o Meu Pandeiro– Ivan Lins:

Chega– Ivan Lins:

A Visita– Ivan Lins:

Kuarup relança Chama Acesa e Modo Livre, de Ivan Lins

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Por Fabian Chacur

A gravadora paulistana Kuarup anda prestando um belo serviço aos fãs da melhor música brasileira. Além de lançar novos artistas e reeditar títulos importantes de seu acervo de mais de 30 anos, o selo também está resgatando obras lançadas por outros selos. Agora, é a vez de dois títulos importantes da discografia de Ivan Lins, Modo Livre (1974) e Chama Acesa (1975), da extinta RCA (hoje no acervo da Sony Music).

Esses dois ótimos trabalhos marcam uma fase de transição na carreira do genial cantor, compositor e músico carioca, que recentemente completou 70 anos de idade (ler homenagem de Mondo Pop aqui). Marcam uma espécie de ruptura com seu trabalho anterior.

Embora de ótima qualidade artística, os três primeiros álbuns de Ivan eram olhados com narizes torcidos por parte da crítica especializada. Após lançar o sintomaticamente intitulado Quem Sou Eu? (1972), o artista perdeu o grande destaque que havia obtido na mídia, e deu uma célebre entrevista ao jornal alternativo O Pasquim no qual admitiu sua alienação em termos políticos. Novidades maiores viriam a seguir.

Modo Livre traz um artista centrado no samba moderno. Seis das onze músicas foram escritas com o parceiro dos hits iniciais, Ronaldo Monteiro de Souza, entre elas as ótimas Deixa Eu Dizer (que também fez sucesso com Claudya, cuja versão foi sampleada por Marcelo D2), Tens (Calmaria) e Espero. Mas outras faixas teriam mais destaque.

Abre Alas, por exemplo, equivale ao início da parceria com o paulista de Ituverava Vitor Martins, dobradinha que se tornaria nos anos seguintes uma das melhores e mais importantes da história da MPB. Foi o grande hit do álbum. Por sua vez, Chega, assinada só por Ivan, é um desabafo em relação às pressões que sofria: “as pessoas tem que gostar de mim como eu sou, e não como você quer que eu seja”.

Tocam em Modo Livre músicos como o guitarrista e maestro Artur Verocai, que já havia atuado antes com ele e que há pouco foi resgatado pelas novas gerações, o consagrado tecladista Wagner Tiso e o baterista Robertinho Silva, entre outros do mesmo alto nível. Avarandado (Caetano Veloso) e o pot-pourry de sambas clássicos General da Banda – A Fonte Secou- Recordar é Viver são releituras bacanas do álbum.

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Chama Acesa mostra a rápida evolução da dupla Ivan Lins/Vitor Martins, que assina cinco das onze músicas do álbum, com apenas duas de Ivan com Ronaldo Monteiro de Souza. Paulo Cesar Pinheiro, que escreveu com Ivan Rei do Carnaval, no CD anterior, volta a ser parceiro na faixa que deu título ao álbum e de Poeira Cinza e Fumaça. Duas são só do autor de Madalena, as ótimas Sorriso da Mágoa e Nesse Botequim.

Embora ainda tendo o samba como base, este álbum de 1975 ganhou fortes elementos jazzísticos, além de marcar o início da colaboração de Ivan Lins com o excelente pianista e tecladista Gilson Peranzzetta, parceria que se estenderia por muitos anos. Os sopros (flauta e sax) de Ricardo Ribeiro ajudam a ressaltar esse clima jazzy que pontua o álbum.

Os dois álbuns já haviam sido lançados em CD pela antiga BMG em 2001, mas as novas edições da Kuarup são mais caprichadas, incluindo encartes rediagramados com fotos mais nítidas e ótima remasterização. Bela homenagem a um artista que mereceria ser mais venerado em sua terra natal, já que no exterior é cultuado como o mestre que de fato é.

Deixa eu Dizer– Ivan Lins:

Abre Alas– Ivan Lins:

Chega– Ivan Lins:

Sorriso da Mágoa– Ivan Lins:

Lenda do Carmo– Ivan Lins:

Joana dos Barcos– Ivan Lins:

Aos 70 anos, Ivan Lins é astro ainda produtivo e essencial

ivan lins-400x

Por Fabian Chacur

Ivan Lins completa nesta terça-feira (16) 70 anos de idade. É mais um integrante célebre da incrível “safra de 1945”, que deu ao mundo músicos fantásticos como Eric Clapton, Bob Marley, Gonzaguinha, Renato Teixeira, Pete Townshend e Elis Regina, só para citar alguns dos essenciais dessa geração incrível. Um grande nome da MPB mais reverenciado no exterior do que aqui. Uma vergonha!

Entre os inúmeros fãs ilustres desse cantor, compositor e pianista carioca, encontram-se gente do alto gabarito de Quincy Jones, George Benson, Patty Austin, Sting, Ella Fitzgerald e inúmeros outros, atraídos por sua incrível musicalidade, mistura preciosa de música brasileira, jazz, soul music e música pop repleta de riqueza melódica e artística.

Elis Regina (1945-1982) foi uma de suas melhores intérpretes, assim como Simone. Por alguma razão estranha, setores da crítica musical brasileira sempre torceram seus narizes para a sua obra, algo inexplicável se a analisarmos com calma e justiça. Enfim, gosto não se discute, embora às vezes seja digno de lamentação. A obra dele fala por si, e seus fãs bem qualificados também.

Do início nos festivais universitários nos anos 1960, Ivan estourou nacionalmente com o sucesso de Madalena, na voz de Elis, e de O Amor é Meu País, com ele próprio. No início, mergulhou fundo na mistura da MPB com a soul music a la Blood Sweat & Tears e Jimmy Webb, tempos em que seu principal parceiro era Ronaldo Monteiro de Souza.

Em 1974, conhece o poeta paulista Vitor Martins, que se torna seu maior parceiro. Sua primeira composição em dupla já mostrava o que viria a seguir: Abre Alas, lançada naquele mesmo ano no álbum Modo Livre. A partir de então, a música brasileira ganhava uma dupla de sensibilidade impressionante, repleta de grandes momentos.

As melodias intensas e interpretadas de forma apaixonada por Ivan ganharam versos ora líricos, ora agressivos, falando das idas e vindas do amor e também da terrível situação política vivida no Brasil daqueles anos 1970. Entre 1977 e 1980, quando esteve na gravadora EMI Odeon, viveu seu momento maior, com produção simplesmente perfeita.

Nesse período, lançou quatro álbuns hoje considerados clássicos: Somos Todos Iguais Nesta Noite (1977), Nos Dias de Hoje (1978), A Noite (1979) e Novo Tempo (1980). São discos pop por excelência, na qual o samba surge somado a soul, música nordestina, bossa nova, jazz, rock e o que mais pintar, sempre com muita intensidade, criatividade, bom gosto e paixão. Música com alma, muita alma.

Nos anos 1980, com o fim dos anos de chumbo, sua produção enveredou mais para o lado romântico, mas sem perder a qualidade, como comprovam canções maravilhosas do naipe de Depois dos Temporais, Iluminados, Vieste, Daquilo Que Eu Sei, Eu Ainda Te Procuro e Vitoriosa, só para citar algumas das mais conhecidas.

No finalzinho dos anos 1980, cria com Vitor Martins a gravadora Velas, que abriu espaços para grandes nomes da MPB e também lançou alguns títulos muito importantes da carreira de Ivan, entre os quais o fantástico Awa Yiô (1990), no qual se destacam faixas como Meu País, a canção que dá título ao CD e Ai Ai Ai Ai Ai. Vale também destacar sua trilha para o belo filme Dois Córregos (1999).

Se tivesse encerrado a carreira no fim dos anos 1990 seu lugar no panteão dos mestres da MPB já estaria garantido, mas o cara se manteve extremamente produtivo, lançando bons discos de inéditas e também relendo canções de seu acervo em parcerias com artistas dos mais diferentes estilos e nacionalidades. É conhecido e respeitado no mundo todo, merecidamente.

A música feita por ele nos últimos tempos se tornou mais contemplativa e menos empolgante do que a dos anos 1970 e 1980, mas ainda assim muito efetiva e apreciável, assim como seus shows. Em pleno 2015, é um artista relevante, para a felicidade de quem curte música brasileira com gabarito. Abram alas, que o cara continua firme e forte por aí!

Quaresma– Ivan Lins:

Cantoria– Ivan Lins:

Quadras de Roda– Ivan Lins:

Velas Içadas– Ivan Lins:

Somos Todos Iguais Nesta Noite– Ivan Lins:

Conheça o genial músico Arthur Verocai

Por Fabian Chacur

Arthur Verocai tem um daqueles currículos invejáveis. O cantor, compositor, músico, maestro e arranjador carioca já trabalhou com nomes do naipe de Ivan Lins, Jorge Ben Jor, Erasmo Carlos, Gal Costa, Célia, MPB-4, Marcos Valle, Marlene e inúmeros outros.

Nascido no Rio em 17 de junho de 1945, Verocai iniciou sua trajetória musical em meados dos anos 1960, e teve a honra de ver uma de suas composições, Um Novo Rumo, defendida em um festival universitário por ninguém menos do que Elis Regina no ano de 1968.

Em 1972, ele lançou seu primeiro álbum solo, autointitulado. Na época, o disco, que oferecia uma belíssima e original fusão de MPB, soul, jazz e muito mais, obteve pouquíssima repercussão, o que levou Verocai a aos poucos deixar o cenário da música popular, dedicando-se aos jingles publicitários.

No início dos anos 90, no entanto, o público internacional, especialmente o europeu e o japonês, descobriu essa verdadeira relíquia, que não só virou um dos discos mais valiosos da MPB como também foi sampleado por artistas como o astro do rhythm and blues americano Ludacris em seu hit Do The Right Thang, de 2006.

A repercussão de Arthur Verocai, o álbum, também lhe valeu o convite para um concerto realizado nos EUA em 2009 no qual apresentou as faixas do disco e outras, em esquema luxuoso com direito a 30 músicos e gravação em DVD.

Graças à iniciativa do ex-titã Charles Gavin, enfim esse trabalho mitológico volta ao mercado fonográfico, nos formatos CD e vinil e disponível apenas nas lojas da Livraria Cultura, que bancou o projeto com exclusividade.

Nesta entrevista feita por e-mail por Mondo Pop, Verocai nos fala um pouco sobre sua carreira, projetos etc.

Mondo Pop – Como foi que a música entrou na sua vida? Sua família tem tradição musical? E quais artistas você ouvia em sua infância/adolescência? Qual a origem do seu sobrenome?
Arthur Verocai – Meu bisavô, Aniceto Verocai, imigrou da Itália(mais precisamente de Cortina d’Ampezo) para o Brasil em 1881. Minha casa sempre tinha música e instrumentos como violão, gaita cavaco e flautas caseiras. Ouvia muitos discos de vários estilos e também a Rádio Nacional, sendo que depois veio a TV.

Mondo Pop- Você teve a música Um Novo Rumo defendida por Elis Regina em um festival no Rio em 1968. Como foi esse contato com ela, e como você avalia a importância da Pimentinha, que nos deixou há 30 anos?
Arthur Verocai – Elis foi “apenas” a maior intérprete da música brasileira de todos os tempos. Foi uma honra e muita felicidade ter uma canção interpretada por ela. O festival foi realizado pela TV Tupi, que na época tinha Elis como sua contratada. Deram as quatro músicas mais votadas na fase de seleção para ela escolher e tive a sorte de ela ter optado por Um Novo Rumo.

Mondo Pop – Você participou de forma decisiva dos primeiros discos de Ivan Lins, tendo feito arranjos, tocado e até composto em parceria com ele. Como e quando você conheceu o Ivan, e qual a importância dessa parceria para a sua carreira?
Arthur Verocai – Naquele tempo havia um encontro da galera musical, gerando um intercâmbio muito bom. Já estava fazendo arranjos na gravadora Philips do Brasil (n.da r.:hoje, Universal Music) quando eu e o produtor e meu parceiro musical Paulinho Tapajós chamamos o Ivan para fazer seu primeiro disco, o Agora (1970).

Mondo Pop – Quando surgiu o convite para a gravação do seu primeiro disco solo, você já era uma espécie de jovem veterano aos 27 anos, pois já havia trabalhado com muita gente do primeiríssimo escalão da MPB. Já havia ocorrido algum convite anterior para gravar um trabalho seu ou esse foi o primeiro?
Arthur Verocai: A gravadora Continental (n.da.r: hoje seu acervo faz parte da gravadora Warner Music) foi quem fez o primeiro convite.

Mondo Pop – Oito das dez músicas de Arthur Verocai (o disco) foram escritas por você em parceria com Vitor Martins. A Célia já havia gravado músicas de vocês. Como e quando vocês se conheceram, quantas músicas vocês escreveram juntos e qual a importância dessa parceria para a sua carreira? É verdade que você apresentou o Vitor ao Ivan Lins?
Arthur Verocai – A Minha parceria com o Vitor Martins é anterior à dele com o Ivan. Quando fomos gravar o disco Modo Livre (1974), que marcou a estreia do Ivan na RCA (n.da r.: cujo acervo hoje pertence à Sony Music), o Vitor era diretor artístico daquela gravadora e dei a maior força para a nova parceria, que começou justamente naquele disco com a música Abre Alas.

Mondo Pop – O LP Arthur Verocai contou com a participação de inúmeros músicos do primeiro escalão. Deve ter sido um disco caro em termos de produção. A gravadora topou essa estrutura para gravar o álbum logo de cara? E como foi a seleção desses músicos? Pergunto isso pelo fato de você ter dado espaços generosos para os músicos que participaram do seu trabalho, sem apontar todos os holofotes para si próprio.
Arthur Verocai – Quando recebi o convite da Continental, minha única exigência foi a de ter liberdade total para gravar o meu disco do jeito que eu quisesse. Eles toparam logo de cara, e aí escolhi os músicos que poderiam se encaixar naquele trabalho.

Mondo Pop – Quando o disco saiu, como foi o esforço da então Continental para divulgar o trabalho? Você fez shows para divulga-lo, deu entrevistas, saiu alguma crítica em jornais e revistas?
Arthur Verocai – A gravadora não fez nenhum esforço e não fiz nenhum show para divulgá-lo. Houve uma crítica publicada no JB (Jornal do Brasil) assinada pelo Júlio Hungria.

Mondo Pop – Como você ficou visto no meio musical após o lançamento deste álbum? Diminuiram os convites para participar de outros trabalhos como músico, arranjador etc? Rolou algum tipo de preconceito por não ter sido um disco campeão de vendagens?
Arthur Verocai – Fiquei um pouco de mãos atadas para escrever novas canções e arranjos, uma vez que o que gostava de fazer não se enquadrava no mercado fonográfico da época.

Mondo Pop – Gostaria que você falasse um pouco de como foi o seu trabalho no mercado de jingles publicitários e de como foi que você entrou nessa área. Como avalia essa experiência, quais foram os mais conhecidos, se esse trabalho te proporcionou sobreviver dignamente.
Arthur Verocai – Cofrinho da Delfim (divulgando a caderneta de poupança da hoje instinta instituição bancária Delfim), Fanta Laranja, dois jingles para a Petrobrás das copas do mundo de futebol de 1990 e 1994 etc. Criei meus filhos com a música que fiz para a publicidade muito bem, obrigado.

Mondo Pop – Quando e como você descobriu pela primeira vez que o seu primeiro disco solo estava sendo alvo de um culto no exterior? Isso te surpreendeu?
Arthur Verocai – Foi na década de 1990, e fiquei surpreso.

Mondo Pop – Quando foi lançado, o álbum Clube da Esquina também foi inicialmente rejeitado por público e crítica. Alguns anos depois, o próprio Milton Nascimento afirmou que esse disco tinha ido “de porcaria a antológico” (palavras dele) na opinião da crítica, sem negar o seu ressentimento em relação a essa reação negativa inicial. Como você encarou a pouca repercussão de seu primeiro disco? Imaginava que um dia esse quadro se alteraria, como de fato se alterou?
Arthur Verocai – Não poderia imaginar.

Mondo Pop – Antes de ser relançado no Brasil, seu disco de estreia foi lançado no exterior, e trechos de suas músicas foram sampleados por artistas como Ludacris. Você recebe royalties por isso?
Arthur Verocai – ——- (n.da.r: uma forma delicada de dizer que certamente ele não recebeu nada…)

Mondo Pop – Onde foi feita a foto da belíssima capa de seu disco de estreia, em 1972?
Arthur Verocai – Esta casa ficava pertinho da minha casa aqui no Humaitá, no Rio. Era uma gráfica do tempo do Império, e estava abandonada naquela época. Foi o fotógrafo Fernando Bergamaschi quem me levou até lá e fez a foto.

Mondo Pop -Fale sobre os seus próximos projetos-shows, discos, DVDs etc
Arthur Verocai – Pretendo realizar um concerto para violão e orquestra já escrito por mim, além de gravar um novo album DVD.

Ouça Presente Grego, com Arthur Verocai:

Ouça Caboclo,com Arthur Verocai:

Somos Todos Iguais Nesta Noite – Ivan Lins (EMI-1977)

Por Fabian Chacur

Chegou às melhores bancas de jornais, livrarias e espaços similares o número 21 da Grande Discoteca Brasileira.

Esse volume é dedicado a Ivan Lins e traz como brinde um de seus álbuns mais importantes e belos, Somos Todos Iguais Nesta Noite (1977).

Logo, uma bela desculpa para escrever sobre esse trabalho, que deu início à melhor fase da carreira deste genial cantor, compositor e músico carioca.

O álbum marcou a estreia de Ivan na EMI-Odeon, onde, nesta sua primeira fase no selo (voltaria nos anos 2000), gravou quatro álbuns entre 1977 e 1980.

O emocionante A Noite (1979) já faz parte dos Discos Indiscutíveis de Mondo Pop. E lá vai mais um para a lista.

Somos Todos Iguais Nesta Noite consolida a parceria entre Ivan e o poeta Vitor Martins, um casamento musical perfeito iniciado em 1974 com a música Abre-Alas.

Das 11 faixas do disco, nove levam a assinatura da dupla, com o quase baião Velho Sermão escrita com o seu parceiro anterior, Ronaldo Monteiro de Souza (coautor de Madalena) e a bossa nova Aparecida com Maurício Tapajós.

Somos Todos Iguais Esta Noite (É o Circo de Novo) é como se fosse um hino dedicado àqueles humildes cidadãos que em seu dia a dia são obrigados a encarar uma vida injusta, triste e sem perspectivas, mas sem nunca largar a luta. É a joia da coroa deste CD.

Quadras de Roda começa com leve ingenuidade no estilo canção infantil e acaba como forte estocada contra a Ditadura Militar que nos dominava naqueles anos de chumbo.

Dinorah Dinorah é um escândalo rítmico e melódico, tornando-se uma das melhores criações da dobradinha Lins/Martins, com letra que invade as fantasias eróticas adolescentes/adultas.

Baladas tocantes e doces como Choro das Águas, Mãos de Afeto e Qualquer Dia pontuam o repertório, que também inclui a marcha Dona Palmeira e a visionária e tocante Qualquer Dia, que encerra o álbum.

Somos Todos Iguais Nesta Noite mostrava que Ivan Lins podia estar atingindo o auge de sua forma aos 33 anos.

Mal sabíamos nós que o melhor viria nos dois anos seguintes, com os fantásticos Nos Dias de Hoje (1978) e A Noite (1979).

Mas este aqui é bem legal, também.

Um único senão: o texto do livro que acompanha o CD não está a altura desta obra excelente. Mesmo assim, pelo preço de R$ 14,90 e com essa apresentação visual, é uma boa pedida.

Última ressalva: faltaram as letras, algo imperdoável para uma obra em que as palavras são tão marcantes quanto as melodias…

Ouça Qualquer Dia, de Ivan Lins:

Ivan Lins aos 65 anos de idade, parabéns!

Por Fabian Chacur

Em 1979, vi Ivan Lins ao vivo pela primeira vez, no extinto teatro Pixinguinha do Sesc, na rua doutor Vila Nova, no centro de São Paulo. Ele estava lançando, na época, um de seus melhores álbuns, A Noite, e o show foi maravilhoso.

Sou fã desse cantor, compositor e tecladista carioca nascido em 16 de junho de 1945 desde que era moleque. Desde que Madalena invadiu as paradas de sucesso de todo o país, na voz dele e, principalmente, na de Elis Regina, que depois gravaria diversas de suas composições.

Chega a ser curioso pensar que, por pouco, o mundo perde um grande músico para ganhar mais um engenheiro químico. Sorte que a atuação dele no cenário musical universitário acabou motivando-o a deixar o mundo das calculadoras, pranchetas e réguas tê rumo ao universo da notas musicais.

Atualmente, a sonoridade de Ivan é mais mansa, aproximando-se mais da bossa nova, do jazz e do pop latino. Curto, sim, mas não tanto como a de suas fases anterioras. A inicial, por exemplo, era bastante calcada na soul music, e rendeu maravilhas como Quero de Volta O Meu Pandeiro e O Amor é o Meu País, entre outras.

Em 1974, quando vivia o auge do desgaste de ter apresentado um programa na Globo, o Som Livre Exportação, e ter sido descartado pela mesma, e também de uma perseguição por parte da crítica, que o considerava um artista alienado, surgiu Vitor Martins em sua vida.

O paulista de Ituverava se mostrou o parceiro ideal para Ivan, com sua poesia ora lírica e romântica, ora política e incisiva. A primeira parceria dos dois já indicava o que viria a seguir: Abre Alas, um dos grandes sucessos da MPB em 1974 e um clássico instantâneo.

A primeira fase de Ivan Lins na EMI-Odeon foi impecável. Fazendo uma mistura de MPB, rock, pop, jazz e soul, ele lançou alguns dos melhores discos pop da história da nossa música: Somos Todos Iguais Nesta Noite (1977), Nos Dias de Hoje (1978), A Noite (1979) e Novo Tempo (1980).

Ivan Lins sempre foi um artista de música emotiva, forte, intensa. Lógico que nem sempre a crítica especializada gosta desse tipo de artista, e então, muitos adoram baixar o cacete em seus trabalhos. Azar deles, pois assinam atestado de ignorantes.

Nessa fase, Ivan e Vitor Martins assinaram maravilhas como Quaresma, Guarde Nos Olhos, Cartomante, Saindo de Mim, Antes Que Seja Tarde, Somos Todos Iguais Nesta Noite e Velas Içadas, só para citar algumas canções dessas que nem o tempo irá apagar, de tão fortes e belas.

Nos anos 80 e 90, Ivan Lins se firmou no mercado internacional, virando fã de gente do naipe de Quincy Jones, George Benson (que gravou-bem- Dinorah Dinorah), Patty Austin, Sting e tantos outros.

Ele continuou lançando bons discos, como Awa-ii-o (1991) e Mãos (1987), com direito a algumas músicas arrepiantes, entre as quais Iluminados, Vitoriosa, Ai Ai Ai Ai Ai, Lua Soberana e Lembra de Mim.

Ivan Lins é um daqueles artistas difíceis de serem rotulados, pois sua música é MPB, é jazz, é rock, é pop, é soul…. É música com eme maiúsculo. Parabens, grande mestre, muita saúde, paz e alegria!

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