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Por Fabian Chacur

Michael Jackson teria completado 60 anos de idade nesta quarta-feira (29), se não nos tivesse deixado no dia 25 de junho de 2009. Mas confesso que nunca conseguiria imaginar este cantor, compositor, produtor, dançarino, entertainer etc como um tiozinho de meia-idade. Ele entrou no imaginário coletivo ainda criança, e esse espírito juvenil esteve a seu lado durante seus 50 anos e alguns meses de vida. Eternamente na Terra do Nunca, e seu inconteste rei do pop.

Oriundo de uma família repleta de irmãos e irmãs talentosos, ele no entanto não demorou a se mostrar o mais promissor de todos. O pai, Joseph, percebeu isso rapidamente. Se sua fama de tirano com os herdeiros se tornou lendária, não dá para negar que ele lhes ensinou uma forte senso disciplinar, bom caminho para quem deseja se tornar estrela da música. E desde molequinho Michael se mostrou um apaixonado por trabalho, o típico workaholic.

Se você quer ser o melhor, aprenda com e fique perto dos melhores, e isso ocorreu com o autor de Billie Jean durante toda a sua vida. Ao assinar com a Motown Records, ele e seu grupo, o Jackson 5, teve a oportunidade de trabalhar com o genial Berry Gordy. Logo no primeiro single pela gravadora, I Want You Back, lançado em 7 de outubro de 1969, ficava claro que algo novo estava surgindo no cenário do pop, com aqueles garotos energéticos e aquele molequinho vibrante a comandá-los, repleto de carisma e simpatia.

Até 1975, Michael aprendeu muito na gravadora surgida em Detroit. Só que, em um determinado momento, ficou claro que lá ele não conseguiria desenvolver plenamente suas aptidões, especialmente as de compositor e produtor. Aí, seu próximo passo, ao lado dos irmãos (exceto Jermaine, que preferiu ficar na Motown), foi assinar com a Epic. No início, optou por ser produzido por outros mestres da música, Kenny Gamble e Leon Huff (os criadores do “Som da Filadélfia”), mas sabendo ser aquele um momento provisório. Um novo aprendizado.

Em 1978, os Jacksons lançaram o álbum Destiny, e nele Michael Jackson daria pistas do que viria a seguir, com músicas fortes como Blame It On The Boogie (de Mick Jackson, que apesar do sobrenome não era seu parente) e Shake Your Body (Down To The Ground) (esta, parceria dele com o irmão Randy). O encontro com o produtor Quincy Jones na gravação da trilha do filme The Wiz, no mesmo ano, completaria a expectativa de dias ainda melhores.

No ano em que completou 21 anos, Michael Jackson já tinha muito o que comemorar. Sua trajetória com o Jackson 5/The Jacksons se mostrava até então repleta de grandes momentos. A carreira solo, iniciada ainda em 1971 com Got To Be There, também gerou belos frutos e inúmeras gravações maravilhosas. Se por ventura ele não conseguisse ir adiante, já teria um número de hits suficientes para lhe dar um lugar eterno na história da música pop.

Mas a ambição do rapaz era imensa, e seu talento lhe possibilitava ir muito além. E essa transformação de astro pop infanto-juvenil dos melhores para rei do pop teve início naquele 1979 com o lançamento do excepcional Off The Wall. O álbum fez tanto sucesso que a grande questão no cenário pop do início dos anos 1980 era de como aquele artista faria para conseguir lançar um novo trabalho tão impactante.

A resposta foi Thriller (1982), o disco mais vendido de todos os tempos, que de uma vez por todas o tornou um astro sem fronteiras. Michael sempre quis ser um artista que superasse as barreiras de raça, credo, idade e classe social, e conseguiu isso de forma avassaladora, vencendo até o preconceito inicial da MTV contra a música negra.

Michael Jackson consagrou-se como um artista completo: cantor excepcional, dançarino intenso, compositor de primeira, especialista em shows cativantes e o rei dos videoclipes. Sua trilogia Off The Wall, Thriller e Bad (1987), com sua fusão de black music, rock, pop e romantismo, mostrou ser a mais potente de todos os tempos.

Lógico que ninguém conseguiria ficar impune ao impacto desse sucesso todo, ainda mais alguém que a rigor não teve tempo de curtir a infância e adolescência, por viver uma trajetória totalmente dedicada ao trabalho. Aí, ele se viu envolvido em transformações visuais questionáveis, boatos terríveis sobre possíveis envolvimentos libidinosos com crianças, investimentos megalomaníacos como sua Disneylândia particular chamada Neverland e outros quetais. E tome quetais!

Sou um desses possíveis ingênuos que não acredita que Michael tenha assediado de fato alguma criança. Não alguém que sofreu tanto com a rigidez do pai. Na verdade, o mais provável é que ele amava ficar próximo das crianças como forma de, com esse convívio, vivenciar a infância a que não teve direito. Mas são questões irrelevantes e de cunho pessoal, no fim das contas. Como dizem por aí, visto de perto ser humano algum é normal. E ele era isso, um ser humano, apenas.

Como artista, Michael Jackson nos deixou um legado maravilhoso, mesmo que, a partir de 1996, pouco tenha nos oferecido que se comparasse ao que fez em seus anos de ouro. Aliás, uma das causas de sua morte prematura pode ter sido a pressão exercida por ele em si próprio, no propósito de realizar uma turnê que superasse todas as suas conquistas anteriores. Só que o nosso ídolo não tinha mais saúde para isso, e pagou um preço muito alto pela ousadia.

Uma pena. Com a morte prematura, Michael Jackson enfim chegou à Terra do Nunca, conquistando a juventude eterna e ficando distante das imensas dificuldades da convivência com os seres humanos, repletos de contradições e maledicências. A qualidade de seu legado, da infância até os trabalhos lançados de forma póstuma, certamente embalará e alegrará as vidas de muitas novas gerações, nos anos que virão por aí.

Forever, Michael!

One Day In Your Life– Michael Jackson: