krig-ha-bandoloPor Fabian Chacur

Nunca me esqueço de quando ouvi pela primeira vez a música Ouro de Tolo. “O que é isso?”, perguntei a mim mesmo. Seria brega? Seria rock? Seria um ET baixando na Terra? Era Raul Seixas.

Gostei tanto daquilo que comprei o LP no qual essa música estava, Krig-ha, Bandolo!, em 1973. Tinha 12 aninhos.

Cheguei em casa e pus o disco de vinil para rolar. Aí, ouvi aquele moleque de oito anos e voz esganiçada cantando em inglês de mentirinha Good Rockin’ Tonight, sucesso do repertório de Elvis Presley. A voz é do próprio Raul.

Aí, depois de dizer errado o nome da música (ei a red too you, ou algo assim), a qualidade do som melhorava. E vinha mais um susto.

“Eeeeeeeeeeeu sou a mooooosca!!!! Que pousou em sua sooooopa (e tome percussão). Eeeeeeeu soooou a mosca, que pintou pra lhe abusar”…. E entra em cena uma batucada igual às de pontos de macumba.

Quando você começa a se acostumar com o som,  a música mergulha em outra direção, virando um rock poderoso, para, pouco depois, voltar ao ponto de macumba. Uma revolução. E ainda estamos na primeira música!!!!

Krig-ha, Bandolo!, que é o grito do Tarzan ou coisa que o valha, virou o título do melhor disco de rock brasileiro de todos os tempos. Leia atentamente o que escrevi: rock brasileiro.

Porque só no Brasil alguém conseguiria misturar forró, baião, ponto de macumba, rock básico, pop, baladas, romantismo e brega com tanta competência e assinatura própria.

Só alguém genial escreveria uma pedrada como Mosca na Sopa. Ou uma profissão de fé na eterna mudança que é a balada Metamorfose Ambulante, uma canção no mínimo emocionante.

Quer um rock básico, dançante, de letra genialmente irônica? Ataque de Al Capone. Quer uma balada em inglês daquelas arrepiantes? Ponha para rolar a maravilhosa How Could I Know, de padrão internacional.

Rockixe mistura rock e maxixe com uma letra que defende a personalidade de quem não desiste na primeira dificuldade. E o alto astral da curtinha Dentadura Postiça? Delícia!

Quer saber? Se não conhece, não espere a hora do trem passar, vá às minas do rei Salomão e pegue o ouro que não é de tolo, que é Krig-ha, Bandolo! Ah, e tem também a voz de Raul.

Quem acha que Raul Seixas canta mal está delirando. O cara neste disco arrebenta de cantar bem. Leia-se com personalidade, assinatura própria, marca registrada e sem medo de ser feliz.

Isso é cantar bem, não essas vozes operísticas e gritadas que não expressam emoção alguma!

Krig-ha, Bandolo! tem de estar nas discotecas de quem gosta de rock brasileiro de primeira. Discaço do primeiro ao último segundo!