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Chico Lobo esbanja talento e gentileza em Alma e Coração

chico lobo alma e coracao

Por Fabian Chacur

Neste árido e complicado 2020, há quem considere o Brasil um caso perdido, entre lutas políticas insanas, falta de uma luz no fim do túnel e a consolidação de problemas sérios que oprimem e judiam violentamente a população menos bem aventurada em termos financeiros. É em meio a essa desesperança que o álbum Alma e Coração (Kuarup), do cantor, compositor e violeiro mineiro Chico Lobo, nos traz uma mais do que necessária dose de lirismo, arte e esperança, espalhadas por suas 13 canções. Um verdadeiro bálsamo eficaz e gentil.

Com 56 anos de idade muito bem vividos, Lobo começou a tocar seu instrumento musical de preferência aos 14 anos. O primeiro CD, No Braço Dessa Viola, veio em 1996. Este é o de Nº26, entre trabalhos solo e com outros artistas, e marca uma trajetória repleta de parcerias bacanas, shows no Brasil e no exterior, dois DVDs, um livro, o apoio a vários projetos bacanas e uma inquietude eterna.

Alma e Coração está disponível nas plataformas digitais e também em uma belíssima edição em CD no formato digipack com direito a encarte luxuoso, prova de que nada supera as versões físicas enquanto prova concreta de um trabalho consistente e cujo teor artístico transborda de cada nota tocada e cantada por este grande artista.

Sabe aquele espírito poético e cordial que a gente imagina ter sumido de cena do brasileiro em geral? Pois o nosso amigo mineiro, oriundo de São João Del Rei, prova que isso ainda existe. Aquele clima do ser convidado a ir à casa de um amigo, tomar um cafezinho, comer um pão de queijo e jogar conversa qualificada fora. Este álbum nos remete precisamente a esse lado bacana do nosso povo que precisa ser resgatado em meio a tanta sandice.

Com a pandemia comendo solta, Chico soube rapidamente se adaptar ao novo momento, tanto que conseguiu gravar este álbum valendo-se de um esquema de cooperativa com seus músicos, que realizaram suas partes no trabalho a partir de estúdios caseiros. E isso também valeu para os convidados especiais, algo constante em sua carreira.

Acima de tudo, Alma e Coração é um trabalho centrado em canções, e o nosso querido amigo mineiro usa sua afiada viola para ressaltar cada parte delas, sem cair em virtuosismos desnecessários que por ventura pudessem tirar o foco desejado. Ele e os músicos que o acompanharam souberam criar uma moldura sonora ideal para cada uma das composições incluídas no álbum, com um resultado impecável.

Pela primeira vez em sua carreira, Chico Lobo optou por lançar previamente cinco das canções de um de seus álbuns pela via digital, o que permitiu ao público ir descobrindo aos poucos o seu conteúdo. Uma dessas músicas foi a encantadora Nós, que conta com a delicada e deliciosa voz de Roberta Campos. Luiz Carlos Sá, um dos inventores e mestres do rock rural, marca presença em outra pérola preciosa deste CD, Sonhos.

Criativo e sem se limitar a um único caminho musical, Chico mistura folk, rock rural, o chamado “som caipira” e elementos da música nordestina e latino-americana, entre outros ingredientes, para nos proporcionar um som doce, amistoso e com letras líricas e repletas de uma esperança tão necessária para todos os de alma sensível.

Sagrado em Meu Olhar, com participação do talentoso paulista de Jundiaí Drigo Ribeiro, a definidora faixa que dá nome ao álbum, a inspirada Povos da América e a encantadora Própria História, na qual se destaca outro parceiro constante, Tatá Sympa, são outros momentos de destaque de um álbum acima de tudo necessário para os fãs de boa música. O título não mente, tem mesmo muita alma e coração neste novo disco do Chico Lobo.

Alma e Coração (clipe)- Chico Lobo:

Joyce Moreno e Alfredo Del-Penho resgatam Sidney Miller

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Por Fabian Chacur

Sidney Miller (1945-1980) infelizmente nos deixou ainda jovem, e de forma trágica. No entanto, o legado que nos deixou de seus 15 anos de carreira como cantor, compositor e músico só proporciona alegria, emoção e prazer a quem se propor a conhecer melhor essa obra curta, porém caudalosa. Como seus três discos são bem raros, uma boa forma de se apreciar suas canções acaba de chegar ao mercado discográfico e virtual. Trata-se de Argumento, álbum lançado pela gravadora Kuarup que reúne dois grandes talentos de gerações distintas, Joyce Moreno e Alfredo Del-Penho, relendo essas sublimes pérolas musicais.

O álbum nos traz a íntegra de um show realizado no Auditório do Instituto Moreira Sales (IMS), no Rio de Janeiro, em 17 de abril de 2012. Na programação, as 12 canções contidas no autointitulado álbum de estreia do artista carioca, lançado em 1967 pelo mitológico selo Elenco, além de outras 4 de outros períodos. Joyce (voz, arranjos e violão) e Alfredo (voz, violão de sete cordas e viola) interpretam seis músicas em dupla, enquanto a cantora se incumbe de sete por conta própria e seu parceiro de outras três.

Em um formato acústico e minimalista, os dois músicos e cantores esbanjam bom gosto, talento e carisma para preencher os espaços existentes. Ora em dupla, que revive a parceria de Miller com Nara Leão (decisiva no impulsionamento de sua carreira), ora individualmente, eles demonstram um lindo entrosamento entre si e com a obra que abordaram. As deliciosas canções do artista carioca, dividindo-se entre samba, bossa e ritmos regionais, são incorporadas de forma ágil e sensível, valorizando cada verso, cada frase melódica, cada acorde. Um show que te pega logo de cara e só te solta minutos após o último acorde.

Em dupla, eles dão um banho nas deliciosas A Estrada e o Violeiro e É Isso Aí. Joyce nos resgata a deliciosa O Circo, que em 1977 fez muito sucesso na voz de Marília Barbosa como abertural da novela global À Sombra dos Laranjais, e brilha em Argumento, Pede Passagem e Maria Joana, com seu violão endiabrado dando o tom com aquela classe que poucos instrumentistas no Brasil conseguem igualar.

Por sua vez, Alfredo, no frescor de seus 37 anos, esbanja uma bela voz e segurança como músico em canções como Me Dá Um Dó e Botequim Nº 1. Este cantor, compositor, músico, ator e pesquisador carioca encarou uma árdua missão ao mergulhar em um repertório tão bom e caudaloso, e ao lado de um verdadeiro mito da nossa música, e passou com nota máxima.

Argumento não só apresenta as canções de Sidney Miller às novas gerações como mostra o incrível talento de Joyce Moreno e Alfredo Del-Penho como intérpretes de repertório alheio. Um disco daqueles que surge e rapidamente se revela como discografia essencial para os fãs de música brasileira da boa.

Show Argumento na íntegra:

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