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Barbatuques e Lenine se unem em um single recém-lançado

barbatuques lenine single-400x

Por Fabian Chacur

Na ativa desde 1995, o grupo Barbatuques sofreu um forte baque em fevereiro de 2021, quando o seu criador e líder, Fernando Barba, nos deixou prematuramente. Apesar da imensa perda, o time resolveu seguir adiante, até mesmo como forma de levar adiante sua original proposta de percussão corporal e vocais extremamente bem articulados. Eles acabam de lançar um novo single, Entre Amigos, homenagem ao seu eterno líder, com participação mais do que especial de Lenine.

Renato Epstein, autor da melodia (com letra a cargo de Leandro Medina), fala sobre o processo de criação dessa canção deliciosa, que mostra o grupo e seu convidado em perfeita integração:

“A música foi composta pela ocasião do falecimento do Barba, uma homenagem a ele. Tentei resgatar algumas coisas que o Barba gostava muito, como tocar guitarra e pife. Ele tinha um gosto musical que mesclava bastante a música brasileira, com música instrumental e o jazz, que ele também curtia bastante. Quis colocar o violão como parte do arranjo. O Barba era muito sútil, ele tinha a sutileza das pequenas notas. Então, a melodia da música é bastante sutil, uma melodia de poucas notas, até chegar ao refrão. É uma homenagem, um retorno ao Barba tocando entre amigos”.

O Barbatuques lançou um total de sete singles durante o ano, entre os quais Entre Amigos. Os outros são Gogó da Ema (releitura de Maria do Carmo Barbosa), Natureza (parceria com Russo Passapusso, do Baianasystem), Clariô (parceria com o italiano Stefano Baroni e participação especial das Clarianas), Na Roda do Mundo e Eu Vou Cantar (releitura a junção de dois baianás da Maria do Carmo Barbosa) e Rosa de Fogo. Todos os lançamentos são pela MCD Records.

Entre Amigos– Barbatuques e Lenine:

Lenine regrava um clássico de Cat Stevens no projeto Girão Sessions

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Por Fabian Chacur

Desde o início de sua carreira, na década de 1980, Lenine vem dando mostras de sua versatilidade e talento. Desta vez, ele certamente surpreenderá seus inúmeros fãs com uma releitura de Where Do The Children Play?, clássico da música folk britânica lançada em 1970 por seu autor, Cat Stevens (que hoje usa o nome Yusuf) e faixa de um de seus álbuns mais bem-sucedidos em termos comerciais e artísticos, o aclamado Tea For The Tillerman.

Lenine fez essa releitura como parte do projeto Girão Sessions, no qual um grupo de músicos registra à distância parcerias diferenciadas com diversos músicos. Desta vez, tivemos, além de Lenine nos vocais, um time composto por Fabio Girão (baixo), Marcos Amorim (guitarras e violões), Nito Lima (violões) e André Barion (teclados e programação). Já marcaram presença no elenco Frejat, Alice Caymmi, Toni Garrido, Zé Renato e MPB4.

Where Do The Children Play?– Lenine- Girão Sessions:

Banda mineira Gamp relê um clássico hit de 1997 de Lenine

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Por Fabian Chacur

A banda mineira Gamp aparece com uma boa surpresa. Trata-se de uma releitura de Hoje Eu Quero Sair Só, clássico hit lançado por seu autor, Lenine, em seu maravilhoso álbum O Dia Em Que Faremos Contato (1997). A canção, parceria do astro pernambucano com Mú Chebabi e Caixa Aragão, é uma das melhores do mestre pernambucano, e periga voltar aos charts.

A regravação do grupo oriundo de Belo Horizonte tem andamento mais rápido, tipicamente pop rock, sem no entanto subverter a bela melodia original. O resultado ficou muito bacana, com belos riffs de guitarra e performance vocal impecável de Bernardo Viana, que integra o time ao lado de Matheus Ribeiro (guitarra e violão), Eduardo Dequech (guitarra e violão), Euclydes Bomfim (baixo e vocais) e Lucas Bastos (bateria).

O Gamp lançou seu álbum de estreia, Keep Rockin’ (2014), pela Som Livre (leia a resenha de Mondo Pop aqui). A nova versão de Hoje Eu Quero Sair Só já está disponível em todas as plataformas digitais, e não tem previsão por enquanto de ser lançada no formato físico.

Hoje Eu Quero Sair Só– Gamp:

Hoje Eu Quero Sair Só (clipe)- Lenine:

Carbono registra Lenine com parceiros e fiel a si próprio

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Por Fabian Chacur

Lenine é um artista que consegue conciliar uma forte assinatura própria nos trabalhos que faz com uma grande capacidade de trabalhar com parceiros de forma criativa e democrática. Carbono, seu novo CD, é uma boa prova dessa afirmativa, pois conta com participações bacanas que não descaracterizam o jeitão próprio dele atuar.

Desde seu primeiro álbum, Baque Solto (de 1983, gravado em parceria com Lula Queiroga), Lenine investe em uma mistura de ritmos nordestinos, MPB do Eixo Rio-São Paulo (digamos assim), rock, pop e o que mais vier. O resultado de sua concepção é um som que tem fortes doses de poesia, ritmo e boas melodias, sem aceitar rótulos fáceis.

É rock, é pop, é baião, é bossa nova, é samba, tudo ao mesmo tempo agora. Jack Soul Brasileiro, como bem diz o título de uma de suas músicas mais emblemáticas. Isso o coloca em raia própria, distante de movimentos ou tendências limitadoras, mas nunca o impediu de trocar figurinhas bacanas com gente como o genial percussionista Marcos Suzano, por exemplo (com quem gravou o icônico CD Olho de Peixe, de 1993, discoteca básica de música brasileira).

Outra marca de Lenine é o fato de ele só gravar novos trabalhos quando tem material decente para tal. Não existe um disco com sua assinatura que seja menos do que bom. Sua autocrítica poderosa deve ser a explicação, e Carbono segue essa linha positiva. Traz 11 faixas ótimas, escritas com parceiros como Lula Queiroga, Carlos Posada, Vinícius Calderoni, Carlos Rennó e Dudu Falcão, entre outros.

Em relação ao ótimo Chão (2011), seu trabalho “de carreira” anterior, trata-se de um álbum mais nervoso e rítmico, com pelo menos dois momentos alucinantes e matadores: Cupim de Ferro, com parceria e participação da Nação Zumbi, e À Meia Noite dos Tambores Silenciosos, dobradinha com a excitante Orkestra Rumpilezz de Letieres Leite.

Quede Água, Castanho, O Impossível Veio Para Ficar e O Universo na Cabeça do Alfinete são outros momentos de rara felicidade. A produção tocada a seis mãos por Bruno Giorgi, JR Tostoi e o próprio Lenine se incumbe de acrescentar sonoridades ora grandiosas, ora delicadas, mas sempre dando o que cada canção pede.

Mas a faixa que provavelmente mais fala sobre o espírito desse grande artista pernambucano é Quem Leva A Vida Sou Eu, assinada só por ele. Ao contrário do tom conformista do sucesso de Zeca Pagodinho Deixa a Vida Me Levar, ele prefere apostar no contrário, capitaneando novos rumos e novas experiências. Como esse ótimo Carbono.

Quem Leva a Vida Sou Eu– Lenine:

“Chão é meu CD mais romântico”, diz Lenine

Por Fabian Chacur

fotos: Daniel Chiacos (divulgação)

Lenine é um artista que teve de penar muito para chegar onde chegou. Nascido em 1959, lançou seu primeiro LP em 1983, Baque Solto, em parceria com Lula Queiroga.

Só conseguiria lançar o segundo, Olho de Peixe, em 1992, em parceria com o percussionista Marcos Suzano e já na era do CD. E o terceiro demoraria mais cinco longos anos, O Dia Em Que Faremos Contato (1997).

A partir daí, no entanto, o cantor, compositor e músico pernambucano radicado no Rio há 30 anos se firmou de uma vez por todas como um dos grandes nomes da música brasileira, graças a um trabalho criativo, consistente e instigante, admirado aqui e no exterior.

Ele define a forma como superou as dificuldades de forma bem direta:

“A vida sorriu amarelo para mim, no começo, mas eu não sorri amarelo para ela, não, fiz muitas coisas entre o Baque Solto e o Olho de Peixe, e acabei conseguindo me consolidar. Não fiz sucesso da noite para o dia”.

Na capa do novo álbum, Lenine aparece deixado e com o neto Tom apoiado no seu peito, uma espécie de imagem tradutora do significado do título.

O autor de Hoje Eu Quero Sair Só e tantas outras músicas legais está lançando Chão, seu décimo trabalho, e fala na entrevista abaixo sobre o processo criativo deste álbum, projetos, planos carreira etc

Mondo Pop – Como você costuma conceber seus projetos musicais, e como foi desta vez, com Chão?

Lenine – Sou sempre movido por um desejo inicial, que se modifica a cada novo trabalho. O que vem primeiro é sempre o título, no caso deste aqui, Chão. Sou fascinado por esses monossílabos anasalados, é algo que não existe em nenhuma outra língua do mundo com essa ênfase. Entre os vários significados de chão, o que mais me fascina é “o que te dá sustentação”. Minha primeira resolução foi não incluir bateria nas gravações, é um disco muito íntimo, no qual me valho de um outro jeito de formatar as canções.

                    Bruno, Lenine e JR Tostoi

Mondo Pop- Você se vale nas 10 faixas de Chão de elementos curiosos, como ruídos de passos, batida de coração, máquinas e até mesmo o canto de um pássaro. Como surgiu a ideia de incluir essas sonoridades, e como você as utilizou?

Lenine – Vale registrar: todos esses elementos foram usados nas musicas sem edições, loopings ou recursos desse tipo. São espaços percorridos, usados de fato, como se fossem instrumentos, no andamento real de cada canção. Amor é Pra Quem Ama, por exemplo, tem a participação do Frederico VI, que é o canário belga da minha sogra. A gente fez uma primeira gravação da música e o meu filho Bruno percebeu o canto dele interagindo com a música. Aí, gravamos mais uma vez, e como saiu, ficou. Acabamos usando o cotidiano como elemento sonoro, nas músicas.


Mondo Pop – Uma presença essencial neste disco é a do seu filho Bruno. Fale um pouco de como surgiu essa parceria entre vocês.

Lenine – O Bruno, que tem 22 anos, não está em Chão por nepotismo. Ele estuda música, tem uma excelência no fazer. Esse disco também é dele e do meu parceiro JR Tostoi, a mixagem foi feita por ele. Sou muito criterioso em tudo o que faço, e ainda mais em relação a quem amo. O Bruno toca vários instrumentos, gosta do hardware, a física e a eletrônica deixaram de ser um monstro para ele muito cedo. Além disso, ainda canta e toca.

Mondo Pop – Como você avalia Chão em termos gerais, comparado com os outros discos que você já lançou? A ideia inicial era fazer um trabalho mais compacto, com menos música e duração menor?

Lenine– Talvez esse seja o disco mais romântico que eu já fiz. Esse trabalho pode ser comparado a um romance, para ser ouvido de uma tacada só, como se fosse uma suíte. Compus mais de 20 músicas para este CD, não faltava material, poderia ter colocado mais canções, se quisesse.


Mondo Pop – Você já está preparando o show que divulgará o álbum Chão?

Lenine – Sim. O show terá o mesmo espírito sonoro que usamos no disco, e as músicas de trabalhos anteriores que irão entrar no repertório serão transpostas para esse universo sonoro. Aliás, em alguns lugares, tocaremos usando som surround 4.2, como forma de dar ao público uma experiência nova, descolada do bidimensional, de se sentir mergulhando no meio das sonoridades de cada música.

                Bruno, JR Tostoi e Lenine

Mondo Pop – Você teve de batalhar durante muitos anos para ter o seu trabalho reconhecido. Como você avalia essa fase?

Lenine – Na minha época, o artista precisava sair do nordeste para poder ampliar seus horizontes. No começo, quando eu e o Lula Queiroga lançamos Baque Solto, foi muito difícil ser aceito, pois o pessoal do rock nos achava muito MPB, enquanto o pessoal da MPB nos achava muito roqueiros (risos). Fui aceito inicialmente no Rio pelo pessoal do samba, gente como Martinho da Vila, Beth Carvalho, Arlindo Cruz etc. Eles se surpreenderam quando participei de rodas de samba e comecei a versar. Hoje eu relembro disso e não acredito que tive tanta coragem (risos).


Mondo Pop – Aliás, duas curiosidades sobre a sua trajetória são marcantes: a de não fazer parte de nenhuma turma musical específica, e de ao mesmo tempo disputar um campeonato com Zélia Duncan para ver quem participa de mais trabalhos alheios (risos).

Lenine – Participo de muitos projetos alheios sempre com muita generosidade, sem preconceitos, com muita abertura. Eu me defino como da Turma do Eu Sozinho, uma turma que celebra a música acima de tudo.

Mondo Pop – Como você encara o cenário musical atual?

Lenine – Se na minha época eu tive de sair de Recife e vir para o Rio como forma de viabilizar minha carreira, hoje não acho que isso seja mais necessário, pois as coisas estão acontecendo de forma mais ampla e democrática, sem precisar estar no eixo Rio/São Paulo. Aposto que em cada região do país tem uma geração nova fazendo coisas novas e interessantes. A tecnologia digital facilitou muito as coisas.

Mondo Pop – Há muitos anos eu percebo que a sua trajetória musical, guardadas as devidas proporções e características próprias, tem muito a ver com a do João Bosco. Você concorda com isso?

Lenine – Fico orgulhoso de você perceber que eu tenho a ver com o João Bosco, e sinto que também tenho a ver com a tradição do violão brasileiro, da linha evolutiva do violão brasileiro, de gente como Dilermando Reis, Djavan, Jorge Ben Jor, João Gilberto. Eu me defino como um percussionista de violão.


Mondo Pop – Você normalmente lança seus trabalhos de uma forma mais espaçada. Isso tem a ver com os shows?

Lenine – Sim. Se lançasse discos todo ano, não teria tempo para viajar. Já fiz várias turnês pelo Brasil e pelo exterior. Lá fora, já participei até mais de uma vez de festivais importantes, a agenda está cada vez maior. E é bom poder rever os amigos que fiz nesses anos todos. Para você ter uma ideia, teve um ano em que passei um mês só na França, fazendo uma turnê extensa por lá.


Mondo Pop – Você, que já gravou e fez shows com tanta gente diferente, tem alguém com quem sonharia em trabalhar?

Lenine – Já realizei muitos sonhos, mas tenho vários ainda para realizar. Por exemplo: quem não gostaria de ter uma música de sua autoria gravada pelo Rei Roberto Carlos?

Ouça trechos de músicas de Chão e vídeos sobre o CD em www.lenine.com.br

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