Por Fabian Chacur

Em gravação realizada na noite desta quarta-feira (21), o Capital Inicial participou do projeto Mix Ao Vivo- Álbuns Clássicos, feito pelo conglomerado Mix FM/TV/Internet e no qual grandes bandas do rock brasileiro fazem releituras na íntegra de seus álbuns mais emblemáticos, para exibição em breve. Aqui, o escolhido foi Capital Inicial (1986), estreia do grupo nascido em Brasília há mais de 30 anos.

Foi uma deliciosa viagem ao passado de uma das mais bem-sucedidas bandas surgidas no tsunami roqueiro que invadiu o Brasil na década de 80. Dinho Ouro Preto (vocal), Fê Lemos (bateria) e seu irmão Flávio Lemos (baixo), na época com Lôro Jones na guitarra e o auxílio luxuoso de Bozzo Barretti (teclados, depois oficializado como integrante do time) não poderiam ter estreado melhor.

Capital Inicial, o disco, é uma vibrante mistura de punk, pós punk e rock básico com um tempero pop preciso. Inclui hits como Fátima, Música Urbana e Veraneio Vascaína, até hoje no set list de seus shows, e também faixas hoje mais obscuras, mas tão marcantes quanto, como a pop-folk Linhas Cruzadas, a contundente Cavalheiros e a punkíssima e ótima Psicopata. Para se ouvir de ponta a ponta, sempre.

Estive no show de lançamento deste álbum em São Paulo, no segundo semestre de 1986, em apresentação dividida com o Biquíni Cavadão no extinto Projeto SP em sua fase no formato circo, situado na rua Caio Prado, no centro de São Paulo. Foi uma apresentação memorável da banda, e ficava a expectativa de como seria a retomada única desse material tão impactante.

Da formação de 1986, saíram Lôro e Bozzo e entraram Yves Passarell (guitarra) como integrante oficial e Fabiano Carelli (guitarra) e Robledo Silva (teclados e violão) como músicos de apoio. Os novos membros ajudaram a injetar energia rejuvenescedora na mistura, mas isso não adiantaria nada se os três remanescentes não dessem conta do recado.

Os Lemos Brothers continuam formando uma das cozinhas rítmicas mais sólidas e eficientes do rock brasileiro, sempre seguros e bem entrosados. Enquanto isso, Dinho Ouro Preto deveria ser apelidado de o vampiro Edward do rock brazuca. Como um cara pode, aos 49 anos, manter a mesma energia de seus tempos de garotão? E com o mesmo carisma? A mesma energia?

Dinho foi sempre um bom cantor, mas o tempo lhe ajudou a aprimorar muito o seu desempenho, hoje bem mais seguro e sólido do que antigamente. Nem mesmo o terrível acidente que quase o leva antes do tempo em 2009 conseguiu retirar dele esse carisma que leva as mulheres ao delírio e aos fãs do rock à vibração. Simples, alegre e simpático como sempre.

As onze faixas do primeiro álbum do Capital foram relidas em aproximadamente uma hora e dez minutos de gravação, entre comentários sobre as músicas que detalhavam suas feituras. Momentos hilários ficaram por conta da revelação de trechos extraídos das versões definitivas das letras e da lembrança do trecho de Psicopata que citava de forma irônica Francisco Cuoco (“e o cara está aí até hoje”, comentou Dinho, gerando gargalhadas).

Os arranjos seguiram basicamente os originais, com um pouco menos de ênfase nos teclados, e apenas duas músicas apareceram em tons mais baixos do que os originais, Fátima e Música Urbana. Música Urbana, Gritos, Fátima e Cavalheiros tiveram que ser tocadas novamente por problemas técnicos imperceptíveis para o leigo. O público, que lotou o Teatro da Mix e ocupou até os degraus entre as cadeiras e o fundo do teatro (de pé), vibrou o tempo todo.

Após a gravação, a banda tocou mais duas músicas de seu repertório mais recente, os megahits Natasha e À Sua Maneira, e aí a garotada, boa parte dela com bem menos do que os 27 anos decorridos desde o lançamento do trabalho de estreia do Capital Inicial, gritou, cantou junto e dançou ainda mais. Legal eles terem tido a oportunidade de ouvir um disco tão bom e difícil de ser encontrado em CD ou vinil como esse.

Fica a torcida para que a execução de Capital Inicial, o disco, não fique apenas nesse imperdível especial de rádio e TV, e que de repente a banda se anime a gravar um DVD/CD ao vivo com esse repertório, tal qual os Titãs fizeram em relação a Cabeça Dinossauro (1986), outro álbum esmiuçado pelo projeto Mix Ao Vivo -Álbuns Clássicos.

Saiba mais sobre Mix Ao Vivo- Álbuns Clássicos em www.mixfm.com.br/albunsclassicos

Ouça Linhas Cruzadas, com o Capital Inicial:

Ouça Psicopata, com o Capital Inicial: