Mondo Pop

O pop de ontem, hoje, e amanhã...

Tag: livro (page 1 of 2)

Tempo Feliz é livro que conta a história de uma bela aventura

tempo feliz capa do livro-400x

Por Fabian Chacur

Uma forma interessante de estudar a história da música brasileira é se deter na trajetória das gravadoras, especialmente as independentes ou de pequeno e médio porte. É através delas que muita coisa importante aconteceu. Um bom exemplo é a Forma, criada por Roberto Quartin e Wadi Gebara em 1964 e que se manteve assim até 1967, quando foi vendida para a CBD (cujo acervo hoje pertence à Universal Music). Eis a missão assumida pelo jornalista Renato Vieira, que mergulhou fundo nela e nos proporcionou o excelente livro Tempo Feliz- A História da Gravadora Forma (Kuarup Música).

Além das tradicionais entrevistas com boa parte dos principais envolvidos com o enredo do tema que resolveu abordar, Vieira teve uma ideia bastante interessante. Como o acervo de lançamentos da Forma em seu período independente comporta um número pequeno de títulos (pouco mais de 20), ele nos traz uma análise de cada um deles, com direito a fichas técnicas, textos das contra-capas e também uma análise inteligente dos discos, incluindo desempenho comercial e repercussão na imprensa.

Além disso, ele nos situa de forma basante precisa naquele período da história do Brasil, quando o golpe militar havia acabado de ocorrer e as perseguições à área cultural foram aos poucos aumentando, além do clima favorável à bossa nova no exterior, graças ao mitológico show no Carnegie Hall em 1962 e principalmente ao estouro do álbum Getz-Gilberto (1964), que vendeu muito e rendeu 4 troféus Grammy ao músico americano Stan Getz e seus talentosos parceiros brazucas.

É dentro dessa dualidade medo/esperança que a Forma surge. Ela é fruto do idealismo quase irresponsável do jovem Roberto Quartin, que se une a um profissional do meio musical, o alemão Peter Keller, para criar um selo musical que teria seus discos prensados e distribuídos pela CBD. Keller saiu da sociedade antes mesmo do lançamento do 1º álbum, e o também jovem músico amador e arquiteto Wadi Gebara acabou sendo o seu parceiro de fato nessa ousada empreitada.

Quartin tinha como objetivo lançar discos de artistas extremamente talentosos e que admirava muito, mesmo sem saber se poderiam lhe dar um retorno comercial que viabilizasse o negócio. Cada álbum teria apresentação luxuosa, com direito a capas duplas, textos assinados por nomes importantes da cultura brasileira e fichas técnicas completas. E assim foi feito, mesmo sob o olhar assustado de Gebara em vários momentos, ele mais próximo do lado financeiro dessa operação.

Em termos musicais, deu muito certo. Entre outros, lançou o mitológico Os Afro-Sambas, firmando a célebre parceria de Baden Powell e Vinícius de Moraes, os primeiros discos do seminal Quarteto em Cy, o icônico Coisas, do maestro Moacir Santos e discos importantes e marcantes dos então ainda novatos Eumir Deodato e Victor Assis Brasil, só para citar alguns.

O duro é que, por circunstâncias as mais diversas, esses discos foram acumulando prejuízos, e em 1966 o próprio Quartin resolveu se mandar, deixando a encrenca nas mãos de Gebara. A Forma só se manteve no mesmo espírito independente até 1967, quando foi vendida para a CBD e tornou-se apenas um selo como outro qualquer até 1971, quando enfim saiu de cena. Mas sua história ficou marcada.

Com um texto fluente e consistente, Renato Vieira nos conta essa história com muita riqueza de detalhes e bastidores, e que mostra um pouco do idealismo em prol da criação de espaços nobres para lançamentos de artistas que praticassem a boa música brasileira que gerou empreitadas como esta Forma e também a mais conhecida delas, a Elenco de Aloysio de Oliveira, outra que acabou sendo incorporada ao acerco da gloriosa CBD.

Roberto Quartin ainda faria algumas produções eventuais, após deixar a Forma, e nos deixou em 2004, aos 62 anos de idade. Wadi Gebara saiu de vez da cena musical sem um tostão, e voltou a se dedicar à arquitetura, sendo uma das fontes deste livro e quem sugeriu o belo título. Ele infelizmente nos deixou antes de vê-lo publicado, em 2019, aos 81 anos.

Ao desabafar um dia com o amigo Roberto Menescal sobre o fato de ter perdido todo o dinheiro que tinha com o projeto da Forma, Gebara ouviu de um dos grandes craques da bossa nova uma frase lapidar, e com um trocadilho matador: “Wadi, foi a melhor forma de você perder dinheiro”.

Os Afro-Sambas- Baden e Vinícius (ouça em streaming):

João Marcello Bôscoli realiza um talk show baseado em Elis e Eu

joao marcelo boscoli 400x

Por Fabian Chacur

Em 2019, João Marcello Bôscoli lançou o livro Elis e Eu, baseado nos 11 anos, seis meses e 19 dias em que conviveu com a sua mãe, ninguém menos do que Elis Regina. Com boa repercussão, a publicação agora gera um novo projeto. Trata-se de um talk show, no qual o produtor, músico e executivo de gravadora nos mostra de forma audiovisual o conteúdo de sua obra. Ele estará em São Paulo no palco do Bourbon Street Music Club (rua dos Chanés, nº 127- Moema- fone 0xx11-5095-6100) neste domingo (25) às 20h30, com ingressos custando de R$ 90,00 a R$ 100,00.

Embora tenha perdido a mãe quando ainda era criança, João Marcello guarda memórias bem interessantes do convívio com ela, o que ele mostrará em seu talk show com pouco mais de uma hora de duração valendo-se de trechos de vídeos, fotografias e objetos como forma de ilustrar essas recordações sobre uma das maiores cantoras não só da história da nossa música popular, como certamente do mundo como um todo. Inesquecível.

Em sua carreira, João Marcello Bôscoli foi o principal dirigente da gravadora Trama, da qual foi um dos fundadores, além de ter atuado em diversos projetos culturais relevantes. Ele também lançou o que definiu na época como um “disco de produtor”, o ótimo João Marcello Bôscoli (1995-Sony Music), que emplacou o swingado hit Flor do Futuro e contou com participações de Cláudio Zoli, Wilson Simoninha, Max de Castro e outros.

Flor do Futuro– João Marcello Bôscoli & Cia:

Solano Ribeiro relembra MPB e belas histórias dos festivais

solano ribeiro livro capa-400x

Por Fabian Chacur

Quem começa a pesquisar sobre a era dos festivais chegará infalivelmente no nome de Solano Ribeiro. E não é para menos. Esse produtor de TV, rádio e publicidade teve participação fundamental nos principais eventos ligados ao tema no Brasil, dos anos 1960 aos dias de hoje. Em 2003, lançou Prepare Seu Coração- Histórias da MPB, livro relançado agora em edição revista e atualizada pela Kuarup. A noite de autógrafos em São Paulo será nesta terça (18) a partir das 19h na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (avenida Paulista, 2.073- fone 3170-4033). No Rio de Janeiro, vai rolar no dia 2 de outubro (terça) na Livraria da Travessa do Leblon (avenida Afrânio de Melo Franco, nº 290- loja 205- fone 0xx21-3138-9600).

Solano Ribeiro nasceu em 1939, e começou sua trajetória no meio artístico na segunda metade da década de 1950, estudando e atuando em teatro e também integrando o grupo The Avalons, um dos pioneiros do rock paulistano. Logo se envolveu na produção de shows musicais e também de programas de TV e festivais televisivos. O seu trabalho nos festivais das TVs Excelsior, Record e Globo foi decisivo, especialmente nos aspectos criativos e organizacionais.

Com um texto na primeira pessoa bastante fluente, franco e direto, ele narra suas experiências nessa era de enorme criatividade na música brasileira. Do namoro com Elis Regina aos bastidores dos eventos, histórias que envolvem nomes que ajudou a impulsionar, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Geraldo Vandré, Edu Lobo e tantos outros. Ficamos sabendo também dos arranjos políticos, das lutas de egos, dos altos e baixos, das idas e vindas.

Dono de um temperamento forte que se evidencia em cada página de seu livro de memórias, Solano certamente deve ter desagradado alguns colegas com certas opiniões, mas demonstrou coragem ao colocar no papel as suas ideias e visões sobre cada evento no qual se envolveu. Nem mesmo nomes incensados por alguns, como o radialista e jornalista Zuza Homem de Mello e o empresário Paulinho Machado de Carvalho, da TV Record, escaparam da sua pena afiada.

Lógico que temos também momentos muito bem-humorados, incluindo até mesmo uma longa descrição de um affair amoroso de Solano com direito a detalhes eróticos. Suas lembranças gastronômicas também ocupam diversas páginas, assim como viagens e trabalhos não só em festivais, mas também em especiais feitos para TV no Brasil e na Alemanha, atuação em rádio, publicidade etc. Um profissional sempre inquieto, criativo e combativo em sua longa e produtiva trajetória.

Nas páginas de Prepare Seu Coração- Histórias da MPB, viajamos por um tempo incrível repleto de realizações, criatividade e também com direito a frustrações e fracassos. O legal é saber que Solano nunca desistiu de lutar pela criação de espaços para a MPB, sigla que, por sinal, ele afirma ter criado. Mais na ativa do que nunca, ele apresenta o programa de rádio Solano Ribeiro e a Nova Música do Brasil, criou o prêmio Cata-Vento, que premia os melhores da produção independente musical, além de criar o portal www.solanoribeiro.com.br . Sua história ainda irá longe, pelo andar da carruagem!

Solano Ribeiro fala sobre Festival de 1968:

Sambalanço é dissecado com categoria por Tarik de Souza

sambalanço livro tarik de souza

Por Fabian Chacur

A riqueza da música popular brasileira é tanta que algumas de suas vertentes acabam ficando em segundo plano, no que se refere ao estudo e à divulgação para o grande público. Uma que permaneceu durante muito tempo na penumbra foi o chamado sambalanço, roupagem swingada e repleta de molho que surgiu na mesma época da bossa nova, nos anos 1950 e 1960. O livro Sambalanço, a Bossa Que Dança- Um Mosaico, de Tarik de Souza e lançado pela Kuarup, chega com a missão de preencher essa lacuna, e cumpre sua missão com brilhantismo e riqueza de detalhes.

Não é de se estranhar a qualidade deste livro. Tarik de Souza é um dos melhores e mais gabaritados jornalistas, críticos e pesquisadores musicais do país, com diversos livros no currículo e também atuação em jornais, revistas, sites e programas de TV. Foram longos anos de pesquisas, durante os quais resgatou um estilo musical que curtia desde a sua infância e adolescência e que correu à margem do prestígio de outras vertentes musicais brazucas.

No livro, Tarik mostra o quanto o sambalanço foi colocado em segundo plano devido ao fato de investir em uma sonoridade mais dançante e descontraída, em contraponto à maior seriedade da “concorrente” bossa nova. Mesmo assim, teve forte aceitação por parte do público na época, gerando ídolos como Miltinho, Orlandivo, Ed Lincoln, Elza Soares, Silvio Cesar, Dóris Monteiro e tantos outros, além de ser a trilha sonora preferencial para bailes pelos quatro cantos do país.

Em comportamento que vem se transformando em padrão em nossa história recente, o sambalanço saiu de cena em meados dos anos 1970 e só foi resgatado graças ao interesse de pesquisadores e fãs de outros países, notadamente da Inglaterra e de outros países europeus e asiáticos. E também a artistas brasileiros das novas gerações, entre os quais Marco Mattoli, Amanda Bravo e Clara Moreno, além de pesquisadores como o próprio Tarik, Charles Gavin e outros.

A obra nos oferece um ensaio geral sobre o movimento, uma discografia básica (que poderia ter sido mais detalhada), 15 deliciosas entrevistas com grandes nomes do estilo, como Elza Soares, Orlandivo, Durval Ferreira, Dóris Monteiro e Silvio Cesar, e 13 perfis de outros artistas fundamentais para o sambalanço, tipo Walter Wanderley, Nilo Sérgio, Luiz Bandeira e Miltinho.

Com riqueza de detalhes e muita, mas muita informação mesmo, Sambalanço, a Bossa Que Dança- Um Mosaico pode ser uma obra difícil de ser assimilada pelo leitor menos afeito ao mundo musical, mas é essencial para quem é iniciado nesse universo e quer completar a sua formação, além de ser uma incrível fonte de consultas sobre o sambalanço e suas estrelas, especialmente sobre o curioso e peculiar Orlandivo, uma figura carimbada da nossa música.

Bolinha de Sabão– Orlandivo:

Lindo Sonho Delirante é livro com um padrão internacional

bento-araujo-livro-capa-400x

Por Fabian Chacur

Conheci o Bento Araújo quando ele trabalhava na mitológica e saudosa Nuvem Nove Discos, ponto de encontro para se conseguir os melhores CDs, DVDs, LPs e outros itens relativos a música e também para se conviver com grandes figuras ligadas a esta cena. Lá se vão uns 20 anos, mais ou menos. E quanta coisa se passou desde então… Até chegarmos a esse seu primeiro livro, o incrível Lindo Sonho Delirante- 100 Discos Psicodélicos do Brasil. Que bela trajetória!

Durante esses anos incríveis, ele se formou em jornalismo, comprou inúmeros livros, discos e quetais, criou o histórico Poeira Zine em 2003 e esteve envolvido em diversos projetos bacanas ligados à música. Seu trabalho sempre teve como marcas a busca pelas informações corretas, a troca de figurinhas com pessoas importantes para a música no Brasil e principalmente uma paixão sem limites por seu objeto de estudo. Além, é claro, de um texto impecável.

Seu primeiro livro chega em momento de maturidade pessoal, e isso reflete no conteúdo. Viabilizado com financiamento coletivo a partir do site Catarse, Bento não mediu esforços para que o seu trabalho tivesse o mesmo altíssimo padrão daqueles lançamentos americanos e ingleses que possui em seu rico acervo. Nivelou por cima, o que certamente deve ter dificultado um bocado a realização desse verdadeiro “sonho maluco do seo Bento”. Mas valeu a pena!

Lindo Sonho Delirante- 100 Discos Psicodélicos do Brasil é uma publicação deslumbrante a partir de sua apresentação visual, simplesmente perfeita em termos de edição, diagramação, capa etc. Uma de suas grandes sacadas é o fato de ser uma edição bilíngue português-inglês, o que certamente a torna bem atraente para os fãs de música dos quatro cantos do planeta.

A concepção do conteúdo é simples. Bento compilou 100 lançamentos, entre compactos simples, compactos duplos e LPs de vinil lançados por artistas brasileiros entre 1968 e 1975 e que se encaixam dentro do conceito de uma psicodelia musical à moda brasileira. Cada verbete traz textos concisos, informativos e opinativos sobre os lançamentos, com direito a reprodução de suas respectivas capas e relação de músicas.

Os títulos escolhidos trazem desde figurinhas carimbadas da nossa música como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Os Mutantes e Secos & Molhados até obras raríssimas de nomes obscuros como Marconi Notaro, Loyce & Os Gnomos e Liverpool, além de alguns inesperados para a maioria das pessoas, como João Donato e Ronnie Von. O livro mostra como o estilo psicodélico foi adaptado pelos músicos no Brasil e ganhou uma cara própria, original e marcante.

Lógico que algumas escolhas podem ser contestadas, enquanto outros ausentes certamente mereceriam estar aqui (tipo um Tim Maia Racional Volume 1, por exemplo), mas isso é totalmente secundário, pois não há como agradar a todos em uma seleção desse tipo. Uma dica é que você vez por outra encontra pequenas, mas importantes, diferenças entre os textos em português e em inglês, com direito a informações adicionais. Leia os dois, portanto.

O texto de introdução faz uma bela contextualização do universo musical abrangido por Bento Araújo, além de justificar seus critérios de escolha. Lindo Sonho Delirante (título de uma música gravada por Fábio, aquele do hit Stella e amigo do Tim Maia) é publicação essencial para quem curte ler sobre música brasileira, e coloca uma baita responsabilidade nas costas do autor: como lançar um próximo livro com este mesmo altíssimo nível? Mas não se assustem se esse cara atingir esse objetivo…

Mais informações sobre o livro aqui .

Lindo Sonho Delirante (LSD)- Fábio:

Livro serve como uma ótima e segura viagem pelo jazz world

capa-jazzaoseualcance-400x

Por Fabian Chacur

Jazz. Como todo grande patrimônio cultural da humanidade, é difícil de ser definido ou delimitado. O que é e o que não é jazz? Quem começou esse ritmo musical? Quem são seus nomes essenciais? O que deve ou não deve ser cultuado por quem deseja conhecer essa importante vertente da música? São muitas questões. Se você se interessa por essas e outras tantas, uma ótima dica é ler Jazz Ao Seu Alcance, de Emerson Lopes (editora Multifoco).

O livro surgiu do trabalho de pesquisa do jornalista Emerson Lopes para um site da internet. Sem ser inicialmente fã de jazz, ele como tempo foi se apaixonando pelo tema, e virou um especialista, mesmo que possa não se encarar dessa forma. Seu trabalho virou referência para muita gente, e a concepção de Jazz Ao Seu Alcance é bastante generosa, pois se propõe a dividir com o seu leitor esse conhecimento todo de forma metódica e bem organizada, no melhor estilo guia.

Vale, logo de cara, apontar a principal virtude do trabalho de Emerson. Ele não se deixa levar pela tentação de encaminhar o leitor rumo a uma visão definida e/ou definitiva do jazz. Pelo contrário. O escritor apresenta as mais importantes tendências, estilos e derivações do jazz, citando nomes essenciais e dando à oportunidade ao leitor da busca pelo aprofundamento nos campos que forem se tornando os seus favoritos.

Isso se mostra fundamental nas áreas do fusion e do smooth jazz, que sofrem muito preconceito por parte dos jazzistas mais radicais, que não só os abominam como preferem nem classifica-los como vertentes do jazz. Emerson não cai nessa armadilha, embora também não deixe de apresentar ao leitor a existência dessas correntes mais radicais e suas posições. Isso é democracia no melhor sentido da palavra, e serve como embasamento para o guia como um todo.

O conteúdo é dividido em vários capítulos, que podem ser apreciados separadamente ou na ordem. Temos aqui preciosas dicas de sites em português e outros idiomas sobre esse estilo musical, sites sobre a obra dos artistas mais importantes, rádios online e podcasts, os principais festivais, lojas de discos e DVDs, revistas, música instrumental brasileira, CDs fundamentais e músicos decisivos em cada instrumento.

Se os itens citados são úteis e importantes como um todo, vale como destaque o capítulo dedicado a entrevistas feitas especialmente para o livro, nas quais uma série de perguntas mais ou menos padronizadas é feita para vários especialistas, entre músicos, críticos musicais e radialistas, nas quais você poderá ter contato com pontos de vistas bem distintos entre si, e que certamente o ajudarão a criar a sua própria forma de encarar o jazz. Um banho de informação.

Com bela capa e apresentação visual, Jazz Ao Seu Alcance só peca pela revisão um pouco descuidada para um trabalho desse alto gabarito, assim como uma padronização também deficiente. Mas são pequenos pecados diante da consistência do guia como um todo, que tem como tempero o texto claro, simples e sem muitos rodeios de Emerson, que facilita a vida especialmente do neófito que tenta se iniciar no mundo do jazz. Livro essencial para novatos, mas que também pode acrescentar muito para quem conhece esse seminal gênero musical.

Vale a dica: Emerson também possui um ótimo blog com resenhas, informações sobre shows e outras informações bacanas, além de apresentar um podcast bem bacana, no qual apresenta maravilhas do mundo do jazz de forma abrangente e descolada. Confira os links abaixo:

https://www.mixcloud.com/podcastjazzy/novo-jazzy-89/

http://jazzaoseualcance.blogspot.com.br/2009/10/jazz-ao-seu-alcance.html

Take Five (live)- Dave Brubeck:

Bento Araújo e crowdfunding para concretizar o seu sonho

Lindo_Sonho_Delirante__B-400x

Por Fabian Chacur

Crowdfunding é uma palavra complicada para explicar uma coisa simples: vaquinha virtual. É o que esse tipo de ação busca, arrecadar dinheiro para viabilizar projetos culturais com pessoas que se interessem por eles. E é exatamente o que Bento Araújo está fazendo atualmente para tentar obter a verba que precisa para produzir e lançar seu 1º livro, Lindo Sonho Delirante- 100 Discos Psicodélicos do Brasil (1968-1975).

Até o dia 16 de agosto, o site catarse (entre aqui) abriga a campanha para a concretização do projeto deste talentoso jornalista, crítico musical, pesquisador e músico. Até o dia em que este post foi escrito, ele já havia conseguido contabilizar R$ 37.650,00, sendo que sua meta mínima é de R$ 45.000,00. Ou seja, pelo andar da carruagem, a obra irá se concretizar, para felicidade de quem gosta de livros sobre a nossa riquíssima música brasileira. Saiba como colaborar e os respectivos valores, além de outros detalhes, no link do Catarse.

Bento Araújo trabalhou em lojas de discos como a saudosa Nuvem Nove até iniciar seu bem-sucedido Poeira Zine. A publicação durou de 2003 até recentemente, gerando 69 edições e se tornando verdadeira referência em relação ao rock e à música brasileira de qualidade, especialmente as raridades. Ele também teve diversas matérias publicadas em órgãos de imprensa como O Estado de S.Paulo, Folha de São Paulo, revista Rolling Stone e vários outros.

Com 228 páginas coloridas, tamanho 21 centímetros de altura por 19.5 de largura e edição bilíngue português/inglês, o livro (cujo título dá, não por acaso, a sigla LSD, alucinógeno sempre relacionado ao cenário psicodélico) traz resenhas e informações detalhadas sobre 100 discos brasileiros psicodélicos, indo desde trabalhos conhecidos como Tropicália Ou Panis Et Circencis (de 1968, considerado por Bento o marco zero da cena psicodélica tupiniquim) até Paêbiru (1975, de Zé Ramalho e Lula Côrtes, o título mais recente incluído).

O elenco de artistas selecionados é amplo, trazendo obras de Mutantes, Daminhão Experiença, A Bolha, Casa das Máquinas, Arthur Verocai, João Donato, Marcos Valle e outros. Também temos um texto dando uma geral nessa cena e contextualizando o gênero dentro do panorama nacional e mundial. Tipo da publicação que tem tudo para se tornar clássica, levando-se em conta o alto nível do trabalho de Araújo. O preço do livro deve girar em torno de R$ 95,00, inicialmente comercializado apenas pelo autor. Saiba mais no link do catarse.

Arthur Verocai- LP em streaming (1972):

Tropicália ou Panis Et Circences em streaming (1978):

Paêabirú- Lula Cortez e Zé Ramalho (1975) em streaming:

Herman Rarebell conta suas memórias com os Scorpions

herman rarebell livro capa-400x

Por Fabian Chacur

De 1977 a 1995, Herman Rarebell foi o baterista de uma das bandas de maior sucesso da história do hard/heavy metal e que colocou a Alemanha no mapa desse gênero musical em termos mundiais, os Scorpions. Ele conta as histórias sobre esse período de sua carreira e também outras memórias bem bacanas sobre o antes e depois no livro Scorpions-Minha História em uma das Maiores Bandas de Todos os Tempos (Panda Books), que este crítico comprou a módicos R$ 10,00. Bom negócio!

A trajetória do baterista alemão nascido em 18 de novembro de 1949 é repleta de momentos interessantes, e ele nos conta tudo, com o auxílio do jornalista Michael Krikorian, de uma forma repleta de bom humor e sem cair na linearidade. Entre um acontecimento e outro, Rarebell dá suas opiniões sobre os mais diversos assuntos, incluindo muita coisa sobre relações afetivas e sexuais e a vida de um rocker na estrada.

Quando entrou nos Scorpions, a banda já estava há seis anos na estrada, com sucesso apenas mediano. Não por acaso, a partir de sua integração no time, a partir do álbum Taken By Force (1977), as coisas foram melhorando. Uma curiosidade é saber que o músico foi selecionado pelo grupo alemão em Londres, onde Rarebell morou durante uns bons anos, tocando e participando de gravações em estúdios na cidade britânica.

Graças a seu melhor conhecimento da língua inglesa, Rarebell logo se tornou um dos principais letristas da banda, e colaborou para a composição de hits marcantes como Blackout e Rock You Like a Hurricane, entre outros. Nos anos 1980, os Scorpions entraram no primeiro time do rock internacional, e Herman Ze German (seu apelido) teria participação decisiva para que isso ocorresse, com seu carisma e talento.

A ascensão da banda, o relacionamento entre eles, a importância do produtor Dieter Dierks, as turnês, a passagem pelo Brasil no primeiro Rock in Rio em 1985, sua fase como artista solo pós 1995, está tudo lá, com detalhes bem bacanas. O texto às vezes fica “viajante” demais, mas não a ponto de atrapalhar quem deseja saber mais sobre ele e os Scorpions. Se encontrar a preço bacana, pode pegar sem susto.

Blackout– Scorpions:

Rock You Like a Hurricane– Scorpions:

Take It As It Comes– Herman Rarebell:

Trabalho de Geraldo Vandré é muito bem abordado em livro

geraldo vandre uma cancao interrompida

Por Fabian Chacur

Geraldo Vandré é uma das figuras mais fascinantes e enigmáticas da história da música brasileira. Inúmeros pontos de interrogação sempre pairaram sobre o seu trabalho como cantor, compositor e músico, especialmente seus problemas com a Ditadura Militar. Para quem quiser mergulhar de cabeça no tema, vale ler Geraldo Vandré- Uma Canção Interrompida, livro que nos permite conhecer a vida e obra do autor de Pra Que Não Dizer Que Não Falei das Flores (Caminhando).

Fruto de aproximadamente dez anos de minuciosas pesquisas por parte de seu autor, o experiente jornalista Vitor Nuzzi, o livro foi inicialmente lançado por conta própria em pequena tiragem. Com a regulamentação da lei sobre as biografias, a gravadora e editora Kuarup agora lança o livro em tiragem comercial, permitindo ao grande público ter acesso a um trabalho de fôlego digno do personagem enfocado no mesmo.

Sem conseguir entrevistas com o personagem de sua obra, Nuzzi superou essa dificuldade inicial fazendo inúmeras e significativas entrevistas com pessoas que trabalharam ou tiveram contato direto com Vandré, além de literalmente comer poeira nos arquivos de revistas, jornais, internet etc (e tome etc) para buscar o máximo possível de informações confiáveis, incluindo aí depoimentos do artista concedidos em entrevistas para outros repórteres.

Geraldo Vandré- Uma Canção Interrompida equivale a uma extensa reportagem, das boas, por sinal, na qual o autor se exime de dar opiniões ou analisar, deixando isso para suas fontes e sempre procurando dar ao leitor várias visões sobre cada questão, para que cada um possa tirar as suas próprias conclusões. Foi opção do autor fugir do clima romanceado de outras obras do gênero, e o resultado é elogiável.

O relato engloba toda a trajetória do paraibano Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, desde sua infância em João Pessoa até a participação, em 2014, em dois shows de Joan Baez em São Paulo, passando por tudo. O início nas rádios cariocas, a adesão à bossa nova, o desenvolvimento de uma obra calcada nas raízes da música nordestina, os festivais, os parceiros, os amigos, está tudo lá, sempre com minuciosos detalhes sobre cada personagem.

A incrível história que envolve suas músicas mais famosas, Disparada e Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores (Caminhando), os problemas com o Regime Militar que o levaram a ficar fora do Brasil entre 1969 e 1973, seu estranho retorno ao país, o afastamento da carreira musical e as raras incursões públicas pela música são apresentadas de um jeito detalhado e acessível ao público médio.

Embora enfatize nos momentos corretos as ocorrências de cunho pessoal, o livro dá amplos espaços para aquilo que tornou o artista conhecido e digno de nota, que é a sua obra artística. Todos os seus poucos discos são esmiuçados, assim como canções que não foram gravadas, obras inéditas e muito mais, com direito a uma discografia no fim do livro (que também inclui uma bibliografia bacana).

“Causos” pitorescos e bem documentados ajudam a mostrar a singularidade de Geraldo Vandré, que aos 80 anos de idade continua sendo cultuado por muitos e odiado por outros tantos. O livro de Vitor Nuzzi é essencial para quem deseja não só conhecer a trajetória desse grande artista, mas também para se ter uma ideia do tamanho das mudanças ocorridas na indústria cultura nos últimos 60 anos.

Obs.: a capa, com uma imagem em preto e branco granulada do artista no palco ladeado por um banquinho e com o violão em mãos é simplesmente genial, uma obra prima, pois dá bem a dimensão de como esse artista que chegou a ser tão popular saiu de cena, pelas razões que podem ser descobertas em suas 350 páginas.

Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores (Caminhando)– Geraldo Vandré:

Na Terra Como No Céu- Geraldo Vandré:

Canção Nordestina- Geraldo Vandré:

Autobiografia mostra agitada vida do astro Jerry Lee Lewis

jerry lee lewis capa livro-400x

Por Fabian Chacur

Dos integrantes da primeiríssima geração do rock and roll, nos anos 1950, Jerry Lee Lewis pode ser considerado um dos mais alucinados, no melhor sentido da palavra. Ele, que completou 80 anos de idade em 29 de setembro de 2015, lançou em parceria com o jornalista americano Rick Bragg a autobiografia Jerry Lee Lewis- Sua Própria História (Edições Ideal), um livro simplesmente delicioso, repleto de histórias incríveis.

O livro, extremamente bem escrito por Rick Bragg, com texto fluente e muito bom de se ler, traz como base longas entrevistas concedidas pelo roqueiro americano ao autor. O rico material é complementado por elementos extraídos de outras fontes, e não cai no clima “chapa branca”, pois não se furta de tocar em temas complicados da conturbada vida de Lewis, como os inúmeros casamentos e a morte precoce de filhos.

A trajetória de Jerry Lee Lewis é simplesmente incrível, e é contada em ricos detalhes no livro. Da infância atribulada ao encontro com a música gospel, seguido pela paixão pelo blues e outras vertentes da música negra, o cara aos poucos se tornou um cantor e pianista de estilo inconfundível. Compunha pouco ou quase nada, mas como poucos soube reler canções alheias com originalidade e energia, tornando-as suas.

Boa parte do conteúdo se concentra nos anos formativos e na fase áurea do sucesso inicial do roqueiro, entre 1957 e 1958, quando hits como Whole Lotta Shakin’ Going On, Great Balls Of Fire e Breathless invadiram as paradas de sucesso de todo o mundo. A fase áurea na mitológica Sun Records, o relacionamento com seu dono, o visionário Sam Phillips, e a amizade com Elvis Presley são detalhadas com esmero.

O casamento com a prima Myra, de apenas 13 anos, algo comum na família de Jerry Lee Lewis, bagunçou sua carreira quando de sua primeira turnê pela Inglaterra, em 1958. Viriam anos difíceis, que só seriam superados a partir de 1968, quando o cantor enveredou com sucesso pela música country, tornando-se um campeão de vendagens no estilo, que ajudou a inovar com sua criatividade.

A franqueza de Lewis ao comentar cada episódio de sua conturbada vida é impressionante. Ele, inclusive, afirma que o fato de nunca ter escondido nada das pessoas em termos de vida pessoal certamente lhe trouxe muitas dores de cabeça, ao contrário de amigos como Elvis, que se cercavam de pessoas especializadas em ocultar e não divulgar fatos mais obscuros de suas vidas, só conhecidos posteriormente.

Detalhes sobre shows e gravações também estão incluídos na autobiografia, que serve como uma bom relato de como o nosso amado rock and roll surgiu, e também das dificuldades vividas por seus pioneiros, que pagaram caro por ajudar a inventar esse incrível estilo musical. Tipo do livro indispensável para roqueiros de todos os quilates, e também para quem curte boas histórias. E pensar que o cara está ainda aí, firme, na ativa…. Um milagre!

Great Balls Of Fire– Jerry Lee Lewis:

Breathless– Jerry Lee Lewis:

Whole Lotta Shakin’ Going On– Jerry Lee Lewis:

Older posts

© 2024 Mondo Pop

Theme by Anders NorenUp ↑