Mondo Pop

O pop de ontem, hoje, e amanhã...

Tag: marisa monte

Tribalistas se divertem muito e os fãs observam pela fresta

tribalistas 2017 cd e dvd-400x

Por Fabian Chacur

A parceria entre Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown vem dos anos 1990. Em 2002, eles surpreenderam a todos ao lançar um álbum como se fossem um grupo, adotando o nome Tribalistas. Grande sucesso. Embora continuassem a fazer trabalhos juntos aqui e ali, deixaram o grupo hibernando durante 15 anos. Agora, quando ninguém mais esperava um retorno, eis que surge o segundo trabalho da trinca, em DVD, CD e nas plataformas digitais.

Em uma época na qual até um espirro na rua é capaz de criar polêmicas agressivas, este lançamento obviamente acirrou opiniões, algumas dadas até mesmo antes de conferir o conteúdo de Tribalistas (título igual ao do trabalho de estreia, no melhor estilo Roberto Carlos). Por isso, nada melhor do que esperar a poeira baixar para publicar uma análise deste pacote, que envolve 10 canções, oferecidas ao público em vídeo e também só em áudio.

Tribalistas é um grupo que traz acoplado a si vários elementos que se repetem nas obras que lançou. A sonoridade tem um forte elemento folk pop que influenciou decisivamente artistas do pop nacional surgidos neste século. Adicionados, entram doses de world music, bossa, MPB dos anos 1970 (especialmente Novos Baianos), rock e uma atmosfera hippie impregnada em cada nota tocada e cantada por Marisa, Arnaldo, Carlinhos e seus parceiros habituais (Dadi e Cézar Mendes).

A apresentação em vídeo das músicas é perfeita para o entendimento do projeto como um todo. Temos aqui cenas registradas durante as gravações do álbum, com direito a alguns momentos mais íntimos entre os três integrantes. A aparente curtição entre eles exala um clima de “como são lindos os nossos umbigos”, num êxtase que aparentemente ignora o mundo exterior.

O espectador atento perceberá que em momento algum o grupo tenta algum tipo de interação mais intensa com o público, que se sente como se estivesse presenciando uma festa estranha com gente esquisita através de uma fresta, sem ser convidado para o regabofe. Somos lindos, geniais e se por ventura você não estiver gostando, azar o seu. Sacou?

Isso obviamente não significa que o trabalho seja totalmente autoindulgente, ou que não tenha criatividade e qualidade. Afinal de contas, são três artistas bastante talentosos e com uma trajetória repleta de momentos interessantes, incluindo o primeiro álbum no formato trinca, com os deliciosos hits Já Sei Namorar e Velha Infância.

Em uma era em que certos produtores são capazes de vender a alma por mais um hit nas paradas de sucesso, é bom ver artistas que não abrem mão de seus conceitos. Agora, isso tem um preço, que neste caso específico é cativar apenas aqueles que se propuserem a mergulhar nessa atmosfera extremamente peculiar sem dar umas bocejadas ou sentir um certo ar de déjá vu aqui e ali.

Elementos individuais de cada artista transparecem, como as viagens poéticas de Arnaldo, o lirismo romântico de Marisa e o experimentalismo percussivo de Brown. Surpreende o panfletarismo ingênuo de Trabalivre e Lutar e Vencer, ou o momento quase world music de Diáspora. Surpreendem, mas não entusiasmam.

Um Só vai pelo lado do dub e uma letra que tenta por todos os seres humanos em uma mesma cesta. Fora da Memória vai em uma levada meio bossa, enquanto Aliança parece um momento menos inspirado da faceta romântica-valsa extraída de um disco solo de Miss Monte. Baião do Mundo conta com uma levada meio tribal e é o que mais parece ter cara de um hit potencial por aqui, com temática aquática que a aproxima de Segue o Seco, de certa forma.

Um jeitão de cantiga de ninar meio psicodélica impregna Ânima. Feliz e Saudável exala a influência dos Novos Baianos, e Os Peixinhos conta com a participação da cantora e compositora portuguesa Carminho, com um clima delicado e elementos inusitados na percussão.

No fim das contas, o novo capítulo deste projeto musical mantém a essência do anterior sem acrescentar nada muito significativo ao pacote, o que não é algo ruim em sua essência. O problema básico é essa dificuldade em cativar o ouvinte/espectador e envolve-lo na brincadeira. Ao contrário de Tribalistas 1, este volume 2 não leva jeito de que será tão lembrado por público e crítica nos próximos anos. Com a palavra, o tal do senhor da razão, o tempo.

Baião do Mundo (clipe)- Tribalistas:

CD Coleção traz raridades da trajetória de Marisa Monte

marisa monte colecao capa-400x

Por Fabian Chacur

Marisa Monte sempre se disse contrária ao formato coletânea de sucessos. Como forma de encerrar a parceria de seu selo Phonomotor Records com a Universal Music/EMI, a cantora optou por uma compilação norteada por outro conceito, o de reunir não hits, mas canções que a cantora e compositora carioca registrou em discos alheios e que estavam espalhados por aí. Nasceu, assim, Coleção, que curiosamente equivale a seu melhor álbum desde Tribalistas (2002).

A primeira fase da carreira discográfica de Marisa Monte foi simplesmente arrasadora. Com os álbuns MM (1989), Mais (1991) e Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão (1994), ela conseguiu renovar a MPB e se tornar um caso raro de artista que conseguia fazer um trabalho consistente em termos artísticos e ao mesmo tempo disputar com força total os primeiros lugares das paradas de sucesso. A combinação perfeita e sonhada por todos e concretizada por poucos.

A partir do mezzo ao vivo mezzo de estúdio Barulhinho Bom- Uma Viagem Musical (1996), as coisas mudariam de feição. O marco é o fraco Memórias, Crônicas e Declarações de Amor (2000), redundante, autoindulgente e com direito a coisas como Amor I Love You, popularesca até a medula. Com exceção do ótimo projeto Tribalistas (2002), que gerou um belo CD, tornar-se-ia difícil pescar boas músicas nos poucos trabalhos que a cantora lançaria nos anos seguintes.

Os lançados simultaneamente Infinito Particular e Universo Ao Meu Redor, de 2006, são de uma inconsistência assustadora, enquanto O Que Você Quer Saber de Verdade (2011) consegue diluir ainda mais o que já não era lá essas coisas. E isso após anos de espera. Ou seja, a artista não pode alegar pressão de gravadora ou coisa que o valha para justificar tal conteúdo fraco. Felizmente, nos shows a mistura das poucas músicas novas boas com várias dos bons tempos e alguns covers mantiveram o alto padrão dos anos de ouro de 1988 a 1996.

Temos em Coleção 13 faixas gravadas entre 1993 (Alta Noite, na versão incluída no disco solo de Arnaldo Antunes, Nome) e 2015 (Chuva no Mar, do CD Canto, de Carminho). São muitas coisas boas. Ilusão, por exemplo, dueto gravado ao vivo em 2011 com a ótima Julieta Venegas. Ou Esqueça (Forget Him), hit da Jovem Guarda que Marisa regravou em 2003 para a trilha do filme A Taça do Mundo é Nossa.

A versão da clássica Carinhoso, que reúne Marisa e Paulinho da Viola, no melhor estilo voz e violão, estava relegada apenas ao belo documentário O Meu Tempo é Hoje (2003). E David Byrne aparece na curiosa e quase divertida Waters Of March, versão bilíngue do clássico Águas de Março de Tom Jobim registrado em 1996 para o CD beneficente Red Hot + Rio. Coleção ficou uma coletânea muito boa de se ouvir.

O álbum, no entanto, não reúne todas as faixas de Marisa Monte perdidas por aí. Sem pesquisar a fundo, posso citar três delas: a deliciosa Mais Um Na Multidão, dueto com Erasmo Carlos registrado em 2001 no álbum Pra Falar de Amor, do Tremendão, Flores, gravada ao vivo e lançada no álbum dos Titãs Acústico MTV em 1997, e Sábado à Noite. Esta última merece um parágrafo próprio.

Lançada em 1985 na trilha do filme Tropclip, Sábado à Noite, de Sérgio Sá (o autor de Eu Me Rendo, hit com Fábio Jr, entre outras) foi a primeira música gravada e lançada oficialmente por Marisa Monte, com apenas 18 anos na época. Trata-se de uma faixa constrangedora, um funk pop cheio de clichês do gênero. Pior: Marisa aparece nela como se fosse mera coadjuvante. A música tem 3m52 de duração, sendo que ela aparece em míseros 35 segundos, mais precisamente dos 2m01 até os 2m36. Não é de se estranhar que isso não faça parte de Coleção

Carinhoso– Marisa Monte e Paulinho da Viola:

Waters Of March– Marisa Monte e David Byrne:

Ilusão (Ilusión)– Marisa Monte e Julieta Venegas:

Sábado à Noite- Marisa Monte (da trilha de Tropclip-1985):

Marisa Monte faz Folha de S.Paulo pagar mico

Por Fabian Chacur

Iniciei minha carreira como jornalista e crítico musical na metade dos anos 80, e tive a oportunidade de acompanhar o início da carreira de diversos artistas importantes durante tal período.

Uma delas foi Marisa Monte, que bastante jovem surpreendeu a todos com shows marcantes e um disco de estreia significativo, MM (1989).

Até 1996, a cantora e compositora carioca se manteve acessível, sempre concedendo entrevistas e divulgando seus novos lançamentos e shows de forma ampla e democrática.

No momento em que sua carreira se consolidou de forma definitiva e ficou claro que a moça tinha em suas mãos um público fiel e uma conta bancária generosa, essa atitude começou a se alterar.

Nos últimos 15 anos, Dona Marisa se tornou cada vez menos fácil de se entrevistar, mantendo-se o mais longe possível da imprensa.

No DVD Infinito Ao Meu Redor (2008), ela chegou ao ponto de tirar sarro da cara dos repórteres, colocando registros com vários deles fazendo à “diva” perguntas iguais, provavelmente para ridicularizar o trabalho dos jornalistas e desmerecê-los.

Pois esse processo atinge agora o auge. Na edição deste domingo (30) da revista Serafina, distribuída junto com a edição do mesmo dia do jornal Folha de S.Paulo, Marisa Monte concedeu a primeira entrevista “muda” da história da música pop.

De forma bizarra, a assessoria de imprensa da intérprete de Bem Que Se Quis propôs à revista o seguinte: a cantora faria uma sessão de fotos no Rio de Janeiro com locais e poses prédeterminadas pela estrela e indicando o fotógrafo para realizar tal missão, Walter Firmo, que em sua carreira registrou vários nomes clássicos do samba.

Ah, tinha mais uma “pequena” condição: a revista não teria direito a nenhuma palavrinha da cantora. Nada. Zero. “Vocês terão de respeitar o silêncio dela, que não quer falar com a imprensa”, teriam dito.

A “diva” não falaria nem mesmo sobre o que seria o tema principal da tal matéria, o lançamento de seu novo CD, intitulado O Que Você Quer Saber de Verdade (título irônico, heim?). O “repórter” de texto poderia apenas acompanhar a sessão de fotos, sem direito a uma única questão sequer. Não podia atrapalhar “the delicate genius”.

A Serafina topou. Acho meio antiético avaliar a qualidade da matéria resultante de tal acordo absurdo, mas não ficarei em cima do muro: parece um release insosso, sem nenhuma informação sobre o novo CD, fase atual da carreira da intérprete… Nada, só babação de ovo podre.

Teria sido muito mais digno para a publicação simplesmente recusar-se a fazer a matéria nessas circunstâncias absurdas. Enfim, cada publicação que cuide do seu próprio nariz.

O mais importante aqui é frisar a atitude arrogante de Miss Monte, que alega não ter tempo a perder com esse tipo de “coisa”.

Teria sido muito mais digno para a moça simplesmente não dar entrevista alguma para divulgar seu disco do que fazer essa publicação pagar um mico desse tamanho.

É nessas horas que muita gente que adora desmerecer o tempo todo a imprensa deveria refletir melhor, e ver que também há o outro lado, ou seja, artistas que nos usam e depois nos descartam na maior cara de pau.

Será que esse afastamento da imprensa teria a ver com a visível queda de qualidade da obra de Miss Monte, que não nos proporciona um disco à altura de seu inegável talento desde os anos 90?

Nos últimos 15 anos, a coisa mais próxima a isso foi o simpático Tribalistas (2002), que gravou ao lado de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown. De resto, só repetição, diluição, autoindulgência etc. Amor, I Don’t Love You This Way!!!

É, Dona Marisa, não precisa perder tempo com a imprensa, não. Mas, ao menos, grave discos que prestem!!!

Veja o clipe de Ainda Bem, do novo CD de Marisa Monte:

© 2024 Mondo Pop

Theme by Anders NorenUp ↑