Escrita em 1934 pelos históricos parceiros Noel Rosa (1910-1937) e Vadico (1910-1962), Feitiço da Vila é uma linda homenagem a um dos berços do samba, o bairro carioca de Vila Isabel. Uma das mais célebres crias de lá, Martinho da Vila escolheu a sua filha Mart’nália para uma belíssima releitura desse clássico da nossa música, registro da Biscoito Fino que integra a trilha sonora da recém-estreada novela global Travessia, de Glória Perez.
Como seria de se esperar, o entrosamento entre pai e filha se mostra excelente. O arranjo, produção e piano ficaram a cargo do competente Luiz Otávio, que teve nesta gravação a companhia de Humberto Mirabelli (violão), Hudson (violão 7 cordas), João Rafael (baixo acústico) e Menino Brito (percussão). Uma bela dose de lirismo e sutileza em um momento tão áspero como o que vivemos atualmente.
Feitiço da Vila (clipe)- Martinho da Vila e Mart’nália:
Há artistas que possuem uma forte assinatura autoral naquilo que fazem. Mart’nália integra esse restrito grupo a partir de sua voz, que consegue conciliar um registro mais áspero com uma doçura que você reconhece logo nos primeiros segundos de suas interpretações. Versátil, ela é cantora, compositora, musicista, produtora… Com 32 anos de carreira discográfica, ela dedica o seu novo álbum a um dos repertórios mais nobres da música brasileira. O título entrega o conteúdo: Mart’nália Canta Vinícius de Moraes, lançamento da Biscoito Fino que já está disponível em CD e nas plataformas digitais.
Este novo trabalho de Mart’nália começou bem logo na escolha de seus produtores, o saudoso baixista Arthur Maia e o guitarrista Celso Fonseca. Essa dupla talentosíssima soube arregimentar músicos que, junto com eles, foram capazes de dar conta de uma sonoridade centrada na música brasileira, mas com uma fluência jazzística e apego às sutilezas elegantes.
A escolha do repertório equivale a uma significativa amostra do que melhor o nosso amado Poetinha fez em sua carreira no mundo da música popular, trazendo exemplares de suas parcerias com Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell, Carlos Lyra e Hermano Silva. De quebra, temos a voz do próprio abrindo e fechando o CD, com seu tom agradável e mais afinado do que quem não conhece a sua história pode imaginar. Poeta, sim, e dos bons, mas um vocalista bastante respeitável, sem ser um Pavarotti, obviamente.
Com seu estilo próprio e descontraído, Mart’nália aproveita essa roupagem bacana imprimida às músicas de Vinícius para dar a elas releituras elegantes, reverentes e respeitosas, mas sem cair na mera repetição, armadilha em que alguns intérpretes caem quando ficam diante de canções tão clássicas e tão icônicas como essas contidas neste trabalho.
Além do homenageado, temos as participações de Maria Bethânia recitando o Soneto do Corifeu, interpolado em Eu Sei Que Vou Te Amar, a cantora italiana radicada na França Carla Bruni em versão bilíngue de Insensatez, e de Toquinho na sua parceria com Vinícius Tarde em Itapoã. A irreverência de A Tonga da Mironga do Kabuletê e Maria Vai Com As Outras, o ode à saudade de Onde Anda Você, o lirismo de Minha Namorada, é um clássico atrás do outro.
Mart’nália Canta Vinícius de Moraes é o tipo do tributo que esse grande nome da cultura brasileira merece, um verdadeiro banho de sensibilidade, talento e respeito. Difícil ser mais elegante e swingada do que Mart’nália foi com essas canções tão maravilhosas, que refletem o melhor de um país que a gente ama e respeita mais do que nunca. Cultura é isso!
Uma bela homenagem à música brasileira, com elenco estrelado e repertório escolhido a dedo. Este é um possível resumo de MPB- A Alma do Brasil, espetáculo que será realizado no Rio de Janeiro nos dias 1 e 2 de agosto (segunda e terça) às 19h no Espaço Cultural BNDES (avenida República do Chile, nº 100- Rio de Janeiro- fone 0800-7026337), com ingressos gratuitos que devem ser retirados uma hora antes das apresentações.
Com idealização e direção geral a cargo do badalado Ricardo Cravo Alvin, o espetáculo procura contar a história da MPB valendo-se de algumas de suas musicas mais emblemáticas como trilha sonora, de autores como Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Donga, Pixinguinha, Lamartine Babo, Noel Rosa, Gonzaguinha, Gilberto Gil, Chico Buarque e João Bosco, entre outros. A narração fica por conta do próprio Cravo Albin e da diva Fernanda Montenegro.
O time escalado para os dois shows é composto por nomes do porte de Fagner, Mart’nália, Claudette Soares, Zélia Duncan, Doris Monteiro, Lenny Andrade e João Bosco. Os dois shows terão músicas e elenco distintos, sendo que a primeira noite se encerra com Asa Branca, na voz de Fagner, e a segunda com O Que É O Que É, com Zélia Duncan.
Um momento que deve ser muito especial será o que mostrará Imyra, filha de Taiguara, interpretando duas músicas de seu saudoso pai, Universo do Teu Corpo e Cavaleiro da Esperança. O show é uma realização do Instituto Cravo Albin, com apoio do BNDES e do Ministério da Cultura. Quem quiser poderá doar alimentos não perecíveis que serão enviados ao Retiro dos Artistas.
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