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Por Fabian Chacur

O título dessa resenha pode parecer meio bizarro para a maior parte dos leitores. E não irei contestar. Afinal de contas, como considerar obscuras músicas lançadas basicamente nos anos 1980 que venderam milhões de cópias mundo afora? Mas de certa forma são, sim. Estamos falando do repertório de Messenger Of The Gods- The Singles, luxuosa coletânea dupla lançada no Brasil pela Universal Music trazendo canções gravadas pelo saudoso e genial Freddie Mercury fora do Queen.

Meu ponto de vista é simples. Após sua prematura morte, aos 45 anos, em 1991, o cantor, compositor e músico passou a ser muito mais lembrado pelo que fez ao lado de Brian May, John Deacon e Roger Taylor. E não é de se estranhar. Afinal de contas, foram 20 anos com o Queen, com direito à gravação de clássicos do rock que invadiram as paradas de sucesso de todo o planeta e se transformaram em trilhas sonoras eternas dos fãs de boa música.

A carreira-solo de Mercury teve curta duração, na verdade. Foi de 1985 a 1988, período durante o qual o Queen atuou de forma menos intensa (apesar de ter feito uma grande turnê e lançado o álbum A Kind Of Magic). Tinha começado um pouco antes, com a gravação de Love Kills para a trilha do filme Metropolis, mas pegou mesmo no breu com o lançamento do primeiro álbum individual,Mr. Bad Guy (1985).

Embora fortemente alicerçado no rock, Freddie Mercury sempre se mostrou um artista totalmente aberto a experimentar outros estilos musicais. Sua alma era pop por excelência, e sua trajetória fora da banda que o tornou famoso internacionalmente foi basicamente a oportunidade de mergulhar em um pop mais escancarado, beirando o brega operístico e sem medo de ser feliz. Pop, dance music, música eletrônica, ópera pop, romantismo…Tudo cabia!

Messenger Of The Gods traz o material contido em todos os singles que lançou sem o Queen. O álbum duplo inclui em um CD as faixas principais dos compactos, e no outro os lados B desses mesmos singles. Algumas músicas se repetem, como Living On My Own, que surge em três versões distintas. No total, são 25 faixas. O álbum inclui capa digipack com reproduções das embalagens originais dos singles em vinil, além de um encarte repleto de informações sobre cada canção, cada gravação e tudo o mais. Coisa finíssima.

Algumas dessas músicas apareceriam depois no álbum póstumo do Queen Made in Heaven (1985), em gravações da banda que eu particularmente considero superiores às solo, que, no entanto, também são bem legais. Mais “despachadas”, digamos assim. São elas Made In Heaven e I Was Born To Love You. Outras trazem participações especiais discretas dos amigos do Queen, e temos em Love Kills a parceria com o genial produtor Giorgio Moroder (Donna Summer e tantos outros).

Uma grande raridade contida aqui é o single I Can Hear Music/Goin’ Back, lançado originalmente em 1973 mais ou menos na mesma época do primeiro álbum do Queen, e creditado a um certo Larry Lurex, que na verdade era o próprio Mercury. São gravações curiosas e bem distantes do que o artista faria futuramente. Goin’ Back tem versões bem melhores gravadas por Carole King (sua autora), The Byrds e Phil Collins, mas ficou simpática com Mr. Lurex.

E é lógico que a inesperada parceria de Mercury com a cantora lírica Montserrat Caballé não poderia ficar de fora, com seus impressionantes duetos em Barcelona e How Can I Go On, simplesmente arrepiantes. As duas versões de Exercises In Free Love são também marcantes, pois uma é só com Freddie Mercury, e a outra com a voz de Montserrat, que se apaixonou pela versão original e resolveu imprimir sua marca nos vocalizes do cantor do Queen.

Também lançada no exterior em caixa com os singles no formato vinil colorido (13 compactos, para ser mais preciso), esta compilação é uma boa forma de se mergulhar em uma fase não tão badalada da carreira de Freddie Mercury, mas essencial para entendermos melhor a essência musical deste grande artista, que nunca escondeu a importância que ser popular tinha para si, e que conseguiu atingir esse objetivo com um brilhantismo reservado para poucos.

Love Kills– Freddie Mercury: