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Barrett Strong, 81 anos, um dos grandes autores da Motown

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Por Fabian Chacur

Muita gente conheceu o excelente rockão/r&b Money (That’s What I Want) na bela releitura feita pelos Beatles em seu álbum With The Beatles (1963). A gravação original desta música é histórica, pois foi o primeiro grande hit da então iniciante gravadora Motown, e atingiu o 23º posto na parada pop e o 2º na de r&B. Seu intérprete, Barrett Strong, foi muito além de um one hit wonder. Na verdade, foi um verdadeiro multiple hits wonder. Eles nos deixou neste domingo (29), aos 81 anos.

Nascido em 5 de fevereiro de 1941, Barrett Strong se tornou conhecido inicialmente como cantor, e gravou vários discos, embora nenhum com o mesmo impacto de seu sucesso inicial. No entanto, ele se tornou um dos grandes nomes da história da música pop ao deixar em segundo plano os holofotes de intérprete para se tornar um compositor em tempo integral.

E ele não poderia ter encontrado um parceiro melhor para a tarefa: o produtor Norman Whitfield (1940-2008), com quem estabeleceu uma verdadeira avalanche de clássicos da música pop. Para os The Temptations, por exemplo, são da dupla canções espetaculares como Cloud Nine, Ball Of Confusion, Papa Was a Rolling Stone, Just My Imagination (Running Away With Me), I Wish It Would Rain e I Can’t Get Next To You, entre muitas outras.

I Heard It Through The Grapevine fez sucesso com Gladys Knight & The Pips, Marvin Gaye e Creedence Clearwater Revival, só para citar três gravações matadoras desse clássico. War virou clássico na poderosa voz de Edwin Starr, enquanto Smiling Faces Sometimes se tornou o maior hit do excelente trio vocal The Indisputed Truth. E tem muito mais. Pode procurar!

Lá pelos idos de 1973, no entanto, ele usou a mudança da Motown de Detroit para Los Angeles como deixa para sair fora da gravadora e também encerrar a parceria com Norman Whitfield. A partir daí, ele retomou a carreira como cantor, lançando alguns singles e álbuns sem muito destaque, e foi incluído no Songwriters Hall of Fame em 2004.

Money (That’s What I Want)– Barrett Strong:

Mary Wilson, 76 anos, uma das fundadoras da The Supremes

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Por Fabian Chacur

Há alguns dias, Mary Wilson postou um vídeo no youtube (veja aqui) no qual, de forma jovial e entusiasmada, revelava que a gravadora Universal Music irá em breve relançar seu primeiro álbum solo, autointitulado e de 1979, com direito a quatro faixas-bônus inéditas produzidas em 1980 por Gus Dudgeon, conhecido por seu trabalho com Elton John. Imaginem o susto ao sabermos que, na última segunda (8), a cantora, integrante da formação original do seminal grupo The Supremes, nos deixou, aos 76 anos, de causas não reveladas.

Nascida em 6 de março de 1944, Mary Wilson se uniu à amiga Florence Ballard (1943-1976) no finalzinho dos anos 1950 com o intuito de montar, em Detroit, um grupo vocal. Essa formação ainda incluía Barbara Martin e Betty Travis, mas esta última saiu rapidinho de cena. Aí, o cantor Eddie Kendricks, que integrava um grupo vocal chamado The Primes, sugeriu como substituta uma amiga de nome Diane Ross, fã incondicional do cantor Frankie Lymon.

No início, o quarteto topou fazer backing vocals em shows dos amigos do The Primes, e, por isso, inicialmente, usaram o nome Primettes. Em 1960, quando os Primes foram contratados pela Motown Records, e rebatizados de The Temptations, Mary e sua turma pediram uma chance ao dono da gravadora, o hoje lendário Berry Gordy. Ele as aconselhou a terminarem o colégio, ensaiarem mais um pouco e depois voltarem para novos testes.

Persistentes, as meninas conseguiram uma chance no pequeno selo Lupine Records, gravando backing vocals para artistas como Eddie Floyd e Wilson Pickett, que também davam seus primeiros passos. Naquele mesmo 1960, gravaram dois singles para esta gravadora, ambos com Mary como vocalista principal, sem grande repercussão. Aí, voltaram a frequentar a Motown, até finalmente serem contratadas, o que ocorreu no dia 15 de janeiro de 1961, rebatizadas como The Supremes, sugestão de Florence.

As adolescentes (três com 16 anos e Florence com 17) vibraram com a oportunidade, e seu primeiro single para a gravadora de Detroit, I Want a Guy, saiu no final de 1961. Era apenas o início de uma longa trajetória até o sucesso, com direito ao lançamento de vários singles que passaram batidos e a tentativa de descobrir um som e um formato corretos para aquele grupo. Barbara resolveu sair fora logo após o lançamento do single.

Agora definidas como um trio, as meninas passaram a ter Diana como vocalista principal, seguindo a orientação de Gordy. Florence não curtiu muito a ideia, mas a aceitou, enquanto Mary não ficou tão afetada, por achar que se incumbir dos backing vocals era tão importante para o grupo como a voz principal.

A coisa só foi engrenar quando Gordy resolveu dar ao trio de compositores e produtores Lamont Dozier e os irmãos Brian e Eddie Holland a incumbência de trabalhar para as meninas. Em janeiro de 1964, o single assinado e produzido pelo trio, When The Lovelight Starts Shining Through His Eyes, atingiu o 23º lugar na parada pop americana. E muita coisa boa viria logo a seguir.

Quando compuseram a música Where Did Our Love Go, Eddie achou que Mary seria mais adequada para assumir o vocal principal, enquanto Brian e Lamont preferiam Diana. Com uma mudança de tom, o trio concordou de forma unânime em dar a Diana a missão. Bingo! Esta canção, em julho de 1964, tornou-se a 1ª do grupo a atingir o primeiro posto na parada americana. Até 1970, outras 11 conseguiriam tal façanha.

Enquanto Mary se sentia aparentemente confortável com Diana aos poucos ganhando cada vez mais os holofotes, Florence foi se tornando muito insatisfeita, até que, em julho de 1967, ela acabou sendo substituída por Cindy Birdsong. O nome do grupo também havia mudado, para Diana Ross & The Supremes, o que indicava o que estava por vir em um futuro não muito distante.

Em 1970, Diana sai do grupo rumo a uma carreira-solo de muito sucesso. Mary, então, torna-se a única remanescente da formação original, agora ao lado de Cyndi e da novata Jean Terrel, que se incumbiu dos vocais principais em hits como Stoned Love, Nathan Jones e Floy Joy, entre outros.

O grupo se manteria ativo, com mudanças na formação, até 1977, quando saiu de cena. Nesse meio tempo, lançou um álbum produzido e com canções do grande Jimmy Webb em 1972, e teve single produzido por Stevie Wonder. O último hit foi I’m Gonna Let My Heart Do The Walking, que chegou ao nº 40 nos EUA.

Com o fim das Supremes, Mary lançou seu primeiro álbum solo, intitulado Mary Wilson, em 1979. Centrado em disco music, emplacou um hit modesto, a ótima Red Hot, mas não vendeu bem. Em 1980, ela já havia gravado quatro faixas com Gus Dudgeon para o que seria o seu segundo álbum-solo pela Motown Records, mas a gravadora preferiu abortar o projeto e encerrar o contrato com a cantora.

Os 25 anos da Motown Records foram celebrados com um show intitulado Motown 25: Yesterday, Today And Tomorrow, e uma de suas principais atrações era a participação das Supremes com Diana Ross, Mary Wilson e Cindy Birdsong (Florence Ballard morreu em 1976, após anos tristes e decadentes). Nas gravações, os desentendimentos entre Diana e Mary se mostraram evidentes, embora a versão exibida na TV tenha retirado os momentos mais picantes.

Em 1986, Mary lançou Dreamgirl: My Life as a Supreme, sua primeira autobiografia, escrita em parceria com Patricia Romanovsky e focada na história do seu ex-grupo nos anos 1960. A parceria voltaria em um segundo livro, Supreme Faith: Someday We’ll Be Together (1990), desta vez dedicado ao período pós-Diana Ross do grupo e à sua carreira solo.

Em 1992, a cantora lançou o seu segundo álbum solo, Walk The Line, no qual releu um hit das Supremes, You Keep Me Hangin’ On, e uma composição da hitmaker Dianne Warren, Under Any Moon, além de I Am Changing, do musical Dreamgirls (1981), supostamente baseado na carreira das Supremes. Ela também participou de discos de artistas como Neil Sedaka, The Four Tops, Paul Jabara e do grupo australiano Human Nature.

Os fãs do grupo que marcou a história da música pop com hits como Baby Love, Stop! In The Name Of Love, You Keep Me Hangin’ On e tantos outros ficaram animados em 1999, quando os boatos de uma possível turnê de reunião das Supremes voltou à tona. No entanto, as complicadas negociações e os velhos ressentimentos não permitiram que esse sonho de seus admiradores se realizasse. Pelo menos, não como deveria.

Diana Ross se juntou a duas outras ex-integrantes do grupo, curiosamente da fase anos 1970 em que ela própria não estava mais por lá, Scherrie Payne e Linda Laurence, para a realização de uma turnê intitulada Return To Love. A série de shows, que teve um início promissor com show sold out no Madison Square Garden, acabou sendo interrompida na sua metade, devido à procura de ingressos ter sido muito inferior ao esperado. Triste.

Outro lançamento bacana de Mary Wilson longe das Supremes saiu em 2006 nos formatos CD e DVD. Trata-se de Up Close: Live From San Francisco, show gravado ao vivo em dezembro de 2005 no Blush Room em San Francisco no qual ela releu desde standards da música americana até hits mais recentes de autores como Eric Clapton, Sting e Joni Mitchell. Curiosidade: temos aqui um pot-porry com I Remember You, The Girl From Ipanema e Mas Que Nada.

Uma das canções desse CD-DVD certamente foi escolhida a dedo. Trata-se de Tears In Heaven, feita por Eric Clapton em tributo ao seu filho Connor, morto de forma trágica aos 5 anos de idade. Mary perdeu seu filho de 14 anos em um acidente de carro em janeiro de 1994.

Mary permaneceu uma figura relativamente constante na mídia, sendo entrevistada em programas de TV e rádio. Em 2015, um single inédito dela, Time To Move On, atingiu o 17º lugar na parada dance da Billboard, 36 anos após Red Hot ter atingido essa parada, sendo esse um recorde de distância entre uma classificação e outra de singles de uma mesma artista nesse chart.

Em 2019, participou do popular reality show norte-americano Dancing With The Stars, além de lançar uma nova biografia, Supreme Glamour: New York, Thames & Hudson, escrito em parceria com Mark Bego. Vale lembrar que em 1999 ela publicou uma versão condensando as duas primeiras bios em um único volume.

Red Hot– Mary Wilson:

Diana Ross lança novo álbum de remixes Supertonic Mixes dia 29

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Por Fabian Chacur

Com mais de cinco décadas de carreira, Diana Ross ainda mostra fôlego para invadir as paradas de sucesso. Em 2017, o remix de seu clássico hit Ain’t No Mountain High Enough (ouça aqui) atingia o topo da parada Dance Club Songs da Billboard, a bíblia da indústria fonográfica mundial. Era o início de uma série de quatro hits número 1 nas mesmas listas- os outros são I’m Coming Out/Upside Down (ouça aqui), The Boss (ouça aqui) e Love Hangover (ouça aqui). E não é só isso.

Além de disponibilizar uma quinta faixa com as mesmas características, It’s My House (será que também chegará ao topo?), a ex-cantora das Supremes e uma das maiores divas da história da música promete para o dia 29 deste mês um álbum com estas e outras pérolas de seu longo currículo de sucessos em versões repaginadas. Trata-se de SUPERTONIC Mixes, que aqui só chegará às plataformas digitais, mas que no exterior terá versões em CD e LP.

Com produção da própria Diana, o trabalho teve como autor dos remixes o badalado produtor, músico, compositor e remixador americano Eric Kupper, que desde meados dos anos 1980 se firmou como um dos mais bem-sucedidos nessa área, tendo feito trabalhos para artistas como Whitney Houston, Janet Jackson, Sheryl Crow, Lenny Kravitz, New Order, Depeche Mode, Donna Summer, Myley Cyrus e inúmeros outros do mesmo alto calibre.

Lógico que as versões originais desses grandes sucessos continuam sendo as melhores, mas essas releituras equivalem a uma nova visão de grandes canções, e não as invalidam, além de preservarem a essência de cada uma delas, o que não é pouco. Nada mal para uma artista tão celebrada e que em 2019 recebeu uma homenagem na cerimônia do Grammy, o Oscar da música, em função de tudo o que conquistou nesses anos todos.

It’s My House (remix)- Diana Ross:

Stevie Wonder celebra 70 anos como um dos gênios da música

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Por Fabian Chacur

A voz de Stevie Wonder entrou na minha vida com a música Yester-Me Yester-You Yesterday, que lá pelos idos de 1969-1970 tocava e muito nas rádios paulistanas. Era faixa de seu álbum My Cherie Amour (1969). A partir dali, fui aos poucos mergulhando no maravilhoso universo musical desse grande cantor, compositor e músico americano, que nesta quarta-feira (13) chegou aos 70 anos de vida, dando-nos de presente uma carreira brilhante e repleta de grandes momentos. Um autêntico gênio no setor musical.

Stevie é um daqueles caras que parecem talhados para o estrelato. Seu talento para a música foi descoberto quando ele ainda era criança. Não enxergar se mostrou um obstáculo que o cara soube superar com uma desenvoltura absolutamente absurda. Tanto que, em 1962, lançou seu primeiro álbum, The Jazz Soul Of Little Stevie, jovem aposta da gravadora Motown, que então começava a despontar no cenário americano.

Após gravar um álbum em homenagem a uma de suas inspirações, Ray Charles (Tribute To Uncle Ray-1962), Stevie surpreendeu a todos ao atingir o topo da parada pop americana com o álbum ao vivo Recorded Live: The 12 Old Genius (1963), sucesso impulsionado pelo galopante single Fingertips, que também ponteou os charts, no setor singles.

Em um período mais ou menos rápido, Wonder foi criando uma personalidade própria, com o apoio do mentor Clarence Paul e do presidente da Motown, Berry Gordy. O crítico e pesquisador musical Zeca Azevedo sempre se queixa do fato de a imprensa musical normalmente deixar um pouco de lado essa fase inicial da carreira do artista, e está repleto de razão, pois temos pencas de momentos bacanas nesses anos de aprendizado.

Não faltam músicas maravilhosas nesse período que vai até 1970. Só para citar algumas, vamos da já comentada Yester-Me Yester-You Yesterday e prosseguir com outras pepitas: I Was Made For Love Her, Uptight (Everything’s Alright), For Once In My Life, My Chérie Amour, Signed Sealed Delivered I’m Yours e Pretty World (versão em inglês de Sá Marina, de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar). Em 1970, Stevie já era um artista repleto de hits e discos bacanas.

Só que em 1971, ao completar 21 anos e atingir a maioridade, ele enfim teve acesso a todo o dinheiro que ganhou naqueles anos todos. Isso lhe deu a independência financeira para experimentar novos rumos musicais, e também para negociar um novo contrato com a Motown Records que lhe desse a liberdade artística que desejava, seguindo os passos do colega de gravadora Marvin Gaye. Gordy rateou, mas acabou dando o braço a torcer.

A parceria com os integrantes do inovador grupo Tonto’s Expanding Head Band, Robert Margouleff and Malcolm Cecil, abriu a ele um universo de novas possibilidade em termos de sons de teclados. Isso veio à tona no álbum Music Of My Mind (1972), que inclui a maravilhosa Superwoman (Where Were You When I Needed You), um de seus clássicos superlativos.

Até o fim dos anos 1970, Stevie Maravilha gravou alguns dos melhores discos de todos os tempos, os maravilhosos Talking Book (1972), Innervisions (1973) e Fulfillingness’ First Finale (1974). Em 1975, não lançou um novo LP, e Paul Simon brincou ao receber seu Grammy de melhor álbum do ano por Still Crazy After All These Years, pois Wonder havia faturado nos dois anos anteriores.

Em 1976, Wonder tirou a diferença com o álbum-duplo Songs In The Key Of Life, que no formato vinil trazia dois LPs e um compacto duplo adicional. O sucesso foi estrondoso, e foi inevitável o cidadão abocanhar mais um Grammy de melhor álbum do ano. Ali, já estava sacramentada a abrangência da música de Wonder, misturando soul, funk, jazz, música africana, latinidades, pop e muito mais.

Nesse período de quatro anos, Stevie Wonder nos proporcionou pérolas sonoras de raríssimo valor do porte de You Are The Sunshine Of My Life, Higher Ground, Superstition, Living For The City, All In Love Is Fair, You Haven’t Done Nothing, Sir Duke, As, I Wish, Boogie On Reggae Woman e muitas outras, entre hits e faixas ótimas “escondidas” nos álbuns.

Em 1979, lançou o ambicioso álbum duplo Stevie Wonder’s Journey Through “The Secret Life of Plants feito inicialmente para trilha de um documentário mas que ganhou vida própria. Se só trouxesse a encantadora e envolvente balada Send One Your Love já valeria o preço, mas tem muito mais, embora não tenha tido o mesmo sucesso comercial de seus trabalhos anteriores.

Hotter Than July (1980) o trouxe com mais força aos charts, trazendo clássicos de seu repertório como o envolvente reggae Master Blaster (Jammin’), uma bela homenagem a Bob Marley, e a fantástica Happy Birthday, tributo ao grande Martin Luther King que virou hino de sua bela campanha para que a data de nascimento desse grande ativista virasse um feriado nacional nos EUA, o que acabou se concretizando.

Em 1982, mais dois itens bacanas em sua trajetória: ele lançou a coletânea dupla Stevie Wonder’s Original Musiquarium I, com 12 hits da fase 1972-1980 e quatro petardos inéditos: That Girl, Do I Do (com participação especial do ícone do jazz Dizzy Gillespie), Front Line e Ribbon In The Sky. De quebra, ainda gravou dois duetos com Paul McCartney incluídos no álbum Tug Of War, do ex-beatle: Ebony And Ivory e What’s That You’re Doing, ambas ótimas.

Até o fim dos anos 1980, lançou os hits Part-Time Lover, Overjoyed e I Just Call To Say I Love You e participou com destaque de We Are The World, do projeto beneficente USA For Africa. Characters (1987) não vendeu tanto, mas traz a energética Skeletons e um dueto com Michael Jackson, Get It.

Após a ótima trilha para o filme Jungle Fever (1991), de Spike Lee, os lançamentos inéditos de Stevie Wonder passaram a ser bem mais esparsos. Na verdade, nos últimos 29 anos, foram só dois novos álbuns de estúdio com faixas inéditas: Conversation Peace (1995) e A Time For Love (2005).

Ele continuou fazendo shows e participando de discos de outros artistas, entre os quais Sting, Luciano Pavarotti, Babyface, Herbie Hancock, The Dixie Humminbirds, Elton John, Gloria Estefan e inúmeros outros. Também lançou um esplêndido DVD gravado ao vivo, Live At Last- A Wonder Summer’s Night (2009), gravado ao vivo na imensa O2 Arena, em Londres com altíssima qualidade técnica e na qual ele dá uma bela geral em seu fantástico songbook se mostrando em plena forma.

O astro vendeu mais de 100 milhões de discos nesses anos todos, além de influenciar inúmeros outros artistas. Ele faturou 25 troféus Grammy e também um Grammy pelo conjunto de sua carreira, além de ser o único a ganhar o laurel de melhor álbum do ano com três lançamentos consecutivos. Seus shows no Brasil em 1971 (gravado pela TV Record e exibido por essa emissora) e em 1995 foram marcantes, com grande repercussão de público e crítica.

Com essa trajetória maravilhosa humildemente resumida aqui, Stevie Wonder nos mostrou como um ser humano pode atingir o ponto alto de seu potencial artístico ao superar limitações e desenvolver com rara habilidade canções capazes de cativar as mais distintas gerações. Gênio!

Yester-me Yester-you Yesterday– Stevie Wonder:

Smokey Robinson, 80 anos, um dos grandes gênios da música

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Por Fabian Chacur

Smokey Robinson completou 80 anos de idade nesta quarta-feira (19). É o tipo da efeméride que os fãs da boa música devem celebrar com muita alegria e gratidão. Afinal de contas, poucos caras nessa área possuem um currículo desse naipe. Cantor, compositor, produtor e executivo de gravadora, ele construiu uma obra repleta de grandes momentos, com uma excelência poucas vezes vista. É gênio que se fala? Este cara é!

Nascido em Detroit (EUA) em 19 de fevereiro de 1940, William Robinson Jr. iniciou sua trajetória na música em 1955 ao criar um grupo vocal com os amigos Ronnie White, Pete Moore, Bobby Rogers e Claudette Rogers, contando depois com o guitarrista Marv Taplin como músico de apoio. Depois de alguns anos na estrada, eles conseguiram uma audição com o manager de Jackie Wilson, um grande astro de r&b e soul na época.

Para decepção dos amigos, o empresário não viu muito valor no trabalho deles, encarando-os como uma mera cópia dos Platters. No entanto, alguém que participou desta mesma reunião teve outro pensamento em relação ao que ouviu. Era Berry Gordy, jovem compositor que tentava se firmar na cena musical, escrevendo hits para Wilson como Reet Petite e Lonely Teardrops.

Gordy adorou o grupo, e se propôs a buscar uma gravadora para lançar seus trabalhos. Conseguiu que eles lançassem singles para alguns selos em 1958 e 1959, mas os resultados comerciais eram sempre abaixo do esperado. É nesse momento que Smokey incentiva seu manager a montar uma gravadora própria. Dessa forma, nasceu a Tamla-Motown. E o líder dos Miracles se mostrou decisivo para o sucesso daquela nova empresa discográfica.

Versátil, Smokey Robinson ia além de ter um dos falsetes mais envolventes da história da música pop e de liderar um grupo matador em termos artísticos e comerciais. Ele também era um compositor talentosíssimo, tanto sozinho como com diversos parceiros. Boa parte dos primeiros grandes êxitos da Motown ocorreram com músicas de sua autoria, abrindo caminho para que outros autores também contribuíssem.

Até o fim dos anos 1960, Smokey simplesmente não saiu das paradas de sucesso. Capaz de compor canções românticas e dançantes com várias levadas diferentes, ele de quebra foi considerado o maior poeta da música pop. Sabem por quem? Apenas e tão somente Bob Dylan! De quebra, tinha fãs como os Beatles, por exemplo, que regravaram com categoria You Really Got a Hold On Me em seu álbum With The Beatles (1963).

Com os Miracles, ele emplacou hits eternos do porte de The Track Of My Tears, I Second That Emotion, Going To a Go-Go, Shop Around, Ooo Baby Baby, The Tears Of a Clown e More Love, só para citar algumas.

Como autor, arranjador e produtor, a lista se amplia com clássicos registrados originalmente pelos Temptations (The Way You Do The Things You Do, My Girl, Get Ready), Mary Wells (My Guy) e Marvin Gaye (I’ll Be Doggone e Ain’t That Peculiar). E ele ainda acumulava a função de vice-presidente da Motown, cargo para o qual foi nomeado por Berry Gordy por seu jogo de cintura com os artistas.

Lógico que seria complicado manter esse pique, e em 1972, Smokey anunciou sua saída dos Miracles, com o intuito de se dedicar exclusivamente ao seu lado executivo de gravadora. Isso não teria como dar certo, se levarmos em conta a paixão dele pela música, e em 1973 ele muda de ideia e dá início a sua carreira como artista solo.

No início, teve menos sucesso comercial do que seu ex-grupo, que seguiu em frente com Billy Griffin em sua vaga. Mas isso não significa queda de qualidade artística. Um bom exemplo é Quiet Storm (1975), cuja faixa-título teve tanto sucesso nas rádios black que logo denominou um novo estilo de programação radiofônica, incluindo aquelas canções que misturam o romantismo sensual com o swing, uma “tempestade quieta” mesmo.

Em 1979, enfim a injusta má fase em termos comerciais acabou quando a maravilhosa Cruisin’, escrita em parceria com o velho amigo Marv Tarplin, invadiu a parada pop e o trouxe com força de novo ao topo dos charts. Essa balada estilo “quiet storm” também estourou no Brasil, integrando com destaque a trilha da novela global Água Viva em 1980.

Logo a seguir, em 1981, Being With You mostrou que a década de 1980 não passaria em branco para Smokey Robinson. Na voz dele e também na de outros, vide a excelente repercussão da regravação feita pelos Rolling Stones de Going To a Go-Go, incluída no álbum ao vivo Still Life (1981).

Em sua trajetória, Smokey gravou com vários artistas bacanas, como Tammy Wynette, The Manhattan Transfer e Dolly Parton. Um dos maiores hits oriundos deste tipo de parceria veio em 1983 com Ebony Eyes, dueto com o mestre da funk music Rick James e daquelas baladas que se recusam a sair das programações das rádios especializadas em programação de flash back.

Após um período de quatro anos durante os quais teve de superar problemas pessoais, nosso herói voltou ao mercado discográfico de forma vigorosa. Seu álbum One Heartbeat (1987) emplacou duas de suas faixas no Top 10 da parada americana, a deliciosa balada One Heartbeat e a swingada, com influência até de bossa nova, Just To See Her, ambas de outros autores, prova de que Smokey também sabe transformar composições alheias em ouro puro. De quebra, ganhou um disco de ouro e também seu primeiro Grammy.

O reconhecimento a essa trajetória brilhante veio nos anos seguintes. O astro entrou para o Rock And Roll Hall Of Fame em 1987 e no Songwriters Hall Of Fame em 1990, e ainda foi laureado em 2016 com o Gershwin Prize, premiação oferecida pela Biblioteca do Congresso Norte-Americano. E ainda participou do projeto USA For Africa, em 1985, cuja música We Are The World é uma das maiores reuniões de lendas da música jamais realizada. Ele está lá, merecidamente.

As canções de Smokey Robinson foram regravadas por inúmeros artistas, entre os quais Linda Ronstadt, Johnny Rivers, Michael Jackson e Kim Carnes. Ele também teve canções feitas em sua homenagem. Ninguém menos do que George Harrison compôs a belíssima Pure Smokey, lançada por ele em 1976 em seu álbum 33 1/3, enquanto o grupo pop britânico ABC estourou em 1987 com a incrível When Smokey Sings, do álbum Alphabet City (1987).

Na última década, o cantor permaneceu na ativa, fazendo shows e gravando. Ele lançou em 2014 o álbum Smokey & Friends, no qual relê 11 de seus clássicos em parceria com artistas do porte de Elton John, Steven Tyler (do Aerosmith), John Legend, James Taylor e Sheryl Crow. O álbum foi o mais bem-sucedido do artista em muitos anos, atingindo o 12º lugar na parada americana. E em 2019 ele participou do álbum Ventura, do talentoso astro do r&b Anderson.Paak, mais precisamente da faixa Make It Better.

Se você conseguiu chegar até aqui e desconhecia boa parte ou alguns dos momentos dessa trajetória fantástica, duvido que seus ouvidos não estejam coçando para conhecer melhor o trabalho de Smokey Robinson. Para quem gosta de música pop de alta qualidade, é quase obrigatório ouvi-lo. Se isso ocorrer, minha missão está cumprida!

The Track Of My Tears– Smokey Robinson And The Miracles:

Cantora Martha Reeves fará show grátis em SP, diz jornal

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Por Fabian Chacur

Para tristeza geral dos fãs da soul music e da música pop como um todo, a lendária cantora americana Martha Reeves foi obrigada a cancelar o show que faria em maio durante a Virada Cultural em São Paulo devido a uma chuva terrível. Um horror. Pois agora temos uma boa notícia: ela voltará à cidade ainda este ano, segundo nota publicada na coluna de Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo desta terça-feira (14).

O primeiro show no Brasil desta verdadeira diva da música pop, hoje com 73 anos, está marcado para o dia 16 de novembro no Ibirapuera, como parte do programa Circuito SP, da prefeitura da cidade. A entrada será gratuita, sem horário do show ainda confirmado. Eis uma bela forma de se conferir uma das mais importantes cantoras da geração dos anos 60 que ainda se mantém na ativa.

Martha Reeves nasceu em 18 de julho de 1941 e batalhou muito até conseguir uma oportunidade no meio musical. As coisas começaram a clarear para ela quando foi contratada para ser secretária do departamento artístico da gravadora Motown. Quando o diretor Mickey Stevenson viu o quanto ela cantava bem, começou a usá-la para gravar demos de canções para outros contratados da gravadora.

Em 1962, ela apresentou o grupo vocal que havia criado com duas outras amigas, Martha Reeves And The Vandellas, e inicialmente participaram de singles de Marvin Gaye, entre eles Stubborn Kind Of Fellow e Hitch Hike. Naquele mesmo ano, gravaram seu primeiro single, com pouca repercussão. Mas as coisas mudariam logo.

Come And Get These Memories chegou ao top 30 nos EUA em junho de 1963, criando uma expectativa de que coisas maiores viriam para Martha e sua turma. E isso se confirmou com (Love Is Like a) Heat Wave, que em setembro daquele ano atingiria o quarto lugar na parada ianque. Seria o primeiro de uma série de sucessos.

Com uma sonoridade pra cima e bem dançante, Martha Reeves And The Vandellas emplacariam hits até 1971 na Motown Records, entre eles as estupendas Nowhere To Run, Dancing In The Streets e Jimmy Mack. O grupo parou por uns tempos nos anos 70, quando Martha Reeves dedicou-se a uma carreira solo sem grande repercussão.

Se os discos solo não venderam tanto, embora conquistassem elogios por parte de alguns críticos e fãs, o grupo acabou voltando à tona anos depois, entrando no circuito nostálgico de shows pelo mundo afora. Afinal, quem não quer ouvir essas músicas tão marcantes? E Martha as canta, seja nas eventuais reuniões do grupo, seja sozinha.

Ela teve alguns problemas de saúde em sua trajetória pós-sucesso, mas felizmente os superou, e atualmente se encontra em plena turnê comemorativa dos 50 anos de lançamento do single Dancing In The Streets, denominada “Calling Out Around The World Tour 2014”.

Dancing In The Street– Martha Reeves And The Vandellas:

Nowhere To Run – Martha Reeves ANd The Vandellas:

Marvin Gaye faria 75 anos nesta quarta (2)

Por Fabian Chacur

Marvin Gaye, um dos grandes gênios da música pop, faria 75 anos de idade nesta quarta-feira (2). Infelizmente ele não está mais entre nós para comemorar essa data. Aliás, foi na véspera de completar 45 anos, em um trágico 1º de abril de 1984, que o cantor, compositor e músico americano nos deixou, assassinado pelo próprio pai, um pastor evangélico. Triste demais para ser verdade.

A morte violenta de Marvin soa ainda mais lamentável se levarmos em conta que, na época, ele curtia uma bela volta por cima, tendo superado sérios problemas com drogas e um período longe das paradas de sucesso. O álbum Midnight Love (1982), com seu excepcional single Sexual Healing, tinham dado a ele uma segunda chance de brilhar, momento iluminado que o pai abreviou de forma dramática.

Nascido em uma família religiosa e musical, Marvin Gaye não demorou a se dedicar à música. Após integrar vários grupos, foi convidado pelo cantor, compositor e produtor Harvey Fuqua a integrar uma das últimas formações do célebre grupo vocal The Moonglows, na segunda metade dos anos 50. Fuqua apresentou o protegido a Berry Gordy, presidente da então ainda iniciante Motown Records, e não demorou para que mais um nome fosse integrado ao time.

Durante a década de 60, Marvin Gaye foi quase um curinga na Motown, pois tocou bateria e fez vocais de apoio em gravações de outros artistas, compôs músicas para os astros da casa, gravou duetos com as cantoras Mary Wells, Kim Weston e Tammy Terrell e também gravou seus próprio sucessos, entre os quais I Heard It Through The Grapevine, Hitch Hike e How Sweet It Is (To Be Loved By You).

Em 1970, o artista de temperamento forte não aguentava mais ser tutelado pela linha de montagem da Motown, e mostrou a Berry Gordy uma canção que pretendia gravar, com forte conteúdo social, chamada What’s Going On. O chefão não queria saber daquilo, mas Gaye bateu o pé e ameaçou sair fora da gravadora se não passasse a ter total liberdade artística. Ele ganhou a queda de braço e mudou a Motown Records.

Foi bom para todos. What’s Going On, o single e o álbum, saíram em 1971 rumo ao topo das paradas de sucesso, vendendo muito e arrancando elogios da crítica especializada. Logo a seguir, Let’s Get It On (1973), repleto de sensualidade, consolidou de vez esse período positivo de sua carreira, com a canção título tomando conta dos charts de todo o mundo.

Um certeiro álbum gravado em dupla com Diana Ross (Diana & Marvin-1973) e a estupenda trilha para o filme Trouble Man (1972- incluindo o matador single Don’t Mess With Mr.’T’) davam provas de que o céu parecia ser o limite para a criatividade e popularidade do astro. No entanto, os anos seguintes iriam encaminhá-lo rumo a uma crise cujo auge foi a separação de Anna Gordy, que gerou um dos álbuns baseado em separação mais tristes de todos os tempos, o pungente Here My Dear (1978).

Após um exílio na Europa, problemas de saúde gerados pelo consumo excessivo de drogas e outras encrencas do gênero, ele saiu da Motown e parecia jogado para escanteio pela indústria musical. Até que os executivos da Columbia Records resolveram apostar em Marvin, e se deram bem. Pena que sua morte prematura tenha reduzido esse retorno triunfal proporcionado pela estimulante Sexual Healing.

Marvin Gaye foi um artista completo. Cantor de incríveis recursos técnicos, compositor refinado e sempre ladeado por parceiros do primeiro time, músico dos bons, ótimo performer em shows, ele continua sendo influência para as novas gerações, pois sua discografia é certamente uma das mais consistentes da música pop como um todo. Feliz aniversário!

Don’t Mess With Mr.’T’, com Marvin Gaye:

Morre Bob Babbit, um dos Funk Brothers

Por Fabian Chacur

Morreu nesta segunda-feira (16) aos 74 anos o baixista americano Bob Babbit. Ele entrou para a história como um dos músicos de estúdio da Motown Records nas décadas de 60 e 70.

Desde o seu início, em 1959, a gravadora Motown Records criou uma estrutura própria de trabalho, que incluia um elenco de músicos que se incumbia da parte instrumental das gravações de seus astros, basicamente cantores.

Esse elenco de excelentes profissionais, vários com formação jazzística e até erudita, ajudou lendas da música pop como Marvin Gaye, Stevie Wonder, The Supremes, The Temptations, The Four Tops, Jackson 5 e tantos outros a estourarem mundialmente.

No entanto, esses músicos ficaram durante muito tempo anônimos perante o grande público, pois os discos da Motown não traziam fichas técnicas que dessem os devidos créditos a esses verdadeiros gênios. Eles durante anos ficaram conhecidos pelo apelido Funk Brothers.

Bob Babbit participou do elenco de músicos de apoio da Motown entre 1967 e 1972, e gravou linhas de baixo antológicas, entre as quais as de Signed, Sealed, Delivered (I’m Yours), de Stevie Wonder, Ball Of Confusion, dos Temptations, War, de Edwin Starr, e Inner City Blues, de Marvin Gaye, só para citar algumas das mais geniais.

Em 2002, o excelente documentário Standing In The Shadows Of Motown trouxe à tona a história dos Funk Brothers, fazendo enorme sucesso e mostrando a face de alguns daqueles músicos fantásticos, Babbit entre eles. Saiu em DVD no Brasil. Veja hoje!!!

A partir daí, surgiu um grupo de fato denominado Funk Brothers, que trazia três integrantes originais da banda da Motown: Babbit no baixo, Uriel Jones na bateria e Eddie Willis na guitarra, acompanhados por mais sete músicos. Eles lançaram o excelente DVD Funk Brothers Live In Orlando, gravado ao vivo em 2005. Também saiu por aqui. Já sabe…

What Becomes Of The Broken Hearted, com Joan Osbourne e os Funk Brothers:

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