Mondo Pop

O pop de ontem, hoje, e amanhã...

Tag: música popular brasileira (page 2 of 2)

Caixa de luxo reúne boa parte da obra de Zeca Pagodinho

zeca pagodinho caixa

Por Fabian Chacur

Um dos gêneros mais populares da nossa música, o samba possui algumas unanimidades. Das gerações surgidas a partir dos anos 1980, Zeca Pagodinho é certamente a maior de todas, com aceitação em todas as camadas sociais e faixas etárias. Como forma de marcar uma carreira repleta de sucessos, a Universal Music acaba de lançar Partido Alto, luxuosa caixa com 20 CDs que dá uma bela geral nessa trajetória.

A discografia completa do Zeca tem 27 itens, incluindo CDs de carreira, ao vivo e coletâneas especiais temáticas. Ficaram de fora da caixa sete álbuns: os dois lançados pela RGE (Zeca Pagodinho-1986 e Patota do Cosme-1987), três dos seis lançados pela BMG (Pixote-1991, Um dos Poetas do Samba-1992 e Alô Mundo-1991), o projeto O Quintal do Zeca (2012, no qual seus compositores favoritos são os intérpretes e no qual ele só canta uma música) e o recém-lançado Ser Humano (2015).

Além de 19 álbuns de carreira em suas versões originais em embalagens convencionais, a caixa também nos oferece uma compilação inédita, Com Passo de MPB, que inclui 18 faixas que nunca fizeram parte de um dos trabalhos do sambista, oriundos de parcerias com artistas como Erasmo Carlos, O Rappa, Beth Carvalho, Chico Buarque e Hebe Camargo e também em participações em songbooks de artistas como João Bosco e Chico Buarque.

Além da belíssima embalagem, o pacote conta com um livreto que dá detalhes sobre cada um dos discos, faixa a faixa. Trata-se de um belo mergulho na carreira desse cantor e compositor carioca nascido em 4 de fevereiro de 1959, que começou a ficar conhecido ao ser gravado em 1983 por Beth Carvalho, Grupo Fundo de Quintal e Alcione. Em 1985, participou como intérprete e autor da coletânea Raça Brasileira, um grande sucesso de vendas.

Seu primeiro álbum solo, autointitulado, chegou às lojas em 1986. Desde então, Zeca consolidou sua carreira com um trabalho com sólida base nas raízes do samba, sempre aberto aos novo autores mas sem nunca cair em um comercialismo barato ou em apelação. Como ele mesmo me disse em uma entrevista, “sei falar com o povão e com os bacanas”. E sabe mesmo. Além de ter muito carisma, boa voz e uma simpatia que o tornaram a unanimidade que é no meio musical.

Lógico que para quem coleciona a obra de Zeca esta caixa acaba sendo supérflua, pois o obrigaria a comprar de novo 19 álbuns que já tem por causa de uma única coletânea. Mas para quem possui apenas alguns ou mesmo nenhum, é o tipo da compra interessante, apesar do preço médio de R$ 459,00 não ser exatamente uma barganha. Partido Alto é a prova concreta de que dá para se fazer uma obra ao mesmo tempo popular e de alta qualidade artística.

Acústico Mtv- Zeca Pagodinho (veja o DVD em streaming):

Ao Vivo (1999)- Zeca Pagodinho (CD na íntegra em streaming):

Samba Pras Moças (1994)- CD na íntegra em streaming:

Lembranças para comemorar os 70 anos do grande Wando

WANDO-400x

Por Fabian Chacur

Se ainda estivesse entre nós, Wando, uma das figuras mais interessantes e marcantes da história da nossa música popular, estaria completando 70 anos de idade nesta sexta-feira (2). Como forma de manter viva a memória de seu trabalho, foram anunciados a produção de um documentário e de uma espécie de museu móvel com memorabilia ligada ao artista mineiro morto de forma prematura em 2012. Esse deixou saudade.

A partir da metade dos anos 1980, tive a oportunidade de entrevistar Wando em diversas ocasiões. Tratava-se de um cara inteligente, articulado e extremamente educado e bem-humorado, sempre capaz de tiradas incríveis. Seu marketing para divulgar discos e shows era imbatível, com direito a colocar uma calcinha na capa de um LP e sortear “ingressos” para motéis e até mulheres infláveis nos espetáculos ao vivo.

Por trás desse lado mais espetaculoso, digamos assim, vivia um compositor talentoso, ótimo músico e cantor que sabia das coisas. Falar de amor e de sexo era com ele mesmo, e com uma classe digna dos grandes e badalados compositores. Basta citar Moça, Senhorita Senhorita, Gosto de Maça e Lenda de Um Menino Rei como bons exemplos disso.

As histórias da vida de Wando poderão render um belo documentário. Lembro que cheguei a propor a ele fazer uma biografia, mas na época (início dos anos 2000), ele pensava ser mais viável e lógico investir em um site. Seus casos eram imbatíveis, como os bailes que dava no português de quem alugava um quarto em uma pensão em Sâo Paulo.

Fazem falta na atual música brasileiras caras que consigam fazer essa transição competente entre a música bem feita e bem harmonizada com o forte apelo popular, algo que Wando concretizava com uma competência e categoria fora do comum. Saudade do artista e do ser humano, uma figura carimbada. Leia mais sobre ele aqui .

Moça– Wando:

Senhorita Senhorita– Wando:

Lenda de um menino Rei– Wando:

Aquele Amor FDP Me Deixou (ao vivo)– Wando:

Nega de Obaluaê– Wando:

Martinho da Vila vai receber uma homenagem em evento

martinho-da-vila-400x

Por Fabian Chacur

Martinho da Vila, um dos grandes mestres da música brasileira, receberá uma merecida homenagem em breve, segundo nota publicada na edição desta terça-feira (18) do jornal Folha de S.Paulo. O tributo ocorrerá na edição 2015 da Flink Sampa, festa dedicada a literatura e cultura afro prevista para ocorrer de 13 a 15 de novembro em São Paulo, no Memorial da América Latina, com entrada gratuita.

Com 77 anos de idade, mais de 50 de carreira e mais na ativa do que nunca, Martinho da Vila tem uma trajetória simplesmente irretocável. Ajudou a consolidar o samba no Brasil como gênero musical popular e de alta qualidade artística, aumentando o nível técnico das gravações do gênero e oferecendo ao público um repertório repleto de clássicos.

Fácil citar boas músicas desse cantor, compositor e músico nascido em Duas Barras (RJ) em 12 de fevereiro de 1938. Segure Tudo, Disritmia, Batuque na Cozinha, Canta Canta Minha Gente, Mulheres e Aquarela Brasileira são apenas algumas das canções marcantes que fizeram sucesso em suas gravações. Seus mais recentes trabalhos são os retrospectivos e luxuosos Sambabook (2013) e Enredo (2014).

Vale lembrar que além de cantor e compositor, Martinho também é autor de 13 livros, além de ter escrito artigos em jornais. A Flink Sampa será realizada pelo terceiro ano consecutivo, e ocupará 12 espaços do Memorial da América Latina, com direito a debates literários, lançamentos de livros, espetáculos de teatro e de dança, exibição de filmes e a entrega,(na Sala São Paulo), do 13º Troféu Raça Negra.

Segure Tudo– Martinho da Vila:

Seleção de Partido Alto– Martinho da Vila:

Você Não passa de uma mulher– Martinho da Vila:

Aquarela Brasileira– Martinho da Vila:

Cláudio Foá nos mostra a sua viagem particular em livro

claudio foa capa livro 400x

Por Fabian Chacur

A mente humana foi, é e sempre será um grande e insolúvel mistério. O que há nela? Como determinar o que é normal e o que não é em seu dia-a-dia? Como distinguir alguém “normal” de alguém “com a cuca fundida”, como se dizia nos já longínquos anos 1970 do século passado? São essas e outras importantes questões que nos vem à mente com a leitura de Memories Of a Shrinked Person, primeiro livro do arquiteto e fã/estudioso/colecionador de música Cláudio Finzi Foá.

Nascido em Jundiaí (SP) e com 59 anos de idade, Foá dá um mergulho em seu passado, compartilhando com o leitor boas experiências de vida. A descoberta do passado e das tristes e dramáticas circunstâncias da morte de seu pai, ocorrida quando ele era muito pequeno, daria por si só o roteiro de um filme dos mais tocantes. E isso é só o começo.

O relato das experiências do protagonista em instituições dedicadas a esses tais de “doidos”, ou “doentes mentais”, ou seja lá como se queira rotular pessoas com distúrbios fora dos padrões das tais “pessoas civilizadas e normais” são bem ilustrativos de como são tratadas de forma empírica e sem lógica pacientes com problemas nada definidos.

A narrativa de Foá é feita com um texto bastante bom, mas que não segue padrões lineares de narrativa. Portanto, idas e vindas por épocas e situações diferentes ocorrem com frequência, sem no entanto impedir que se consiga seguir suas descrições detalhadas. A cada uma delas, novas descobertas, algumas perturbadoras, outras surpreendentes.

Uma das marcas de Memories Of a Shrinked Person é o fato de em vários momentos não ficar claro se estamos diante de um relato fidedigno dos acontecimentos supostamente ocorridos, ou se estamos diante da imaginação do autor, ou mesmo da sua memória pregando peças ao mesmo. Algo que torna a leitura ainda mais interessante.

O delicioso tempero fica por conta dos relatos ligados à música, da qual Finzi é fã desde moleque, possuindo conhecimentos muito acima da média em termos de rock, MPB e quetais. Suas escolhas e dicas musicais são dignas de um Quentin Tarantino, pinçando momentos muito bons de nomes importantes como Santana, Arnaldo Baptista, Traffic etc.

Como cereja do bolo, os desenhos criados por Cláudio para ilustrar a capa e as páginas são simplesmente esplêndidos, com um traço peculiar e facilmente identificável, e um apêndice com direito a incursões bacanas por versões de letras musicais e literatura de cordel by Finzi. Não se trata de um livro fácil e tradicional, mas sua ótima prosa e edição esperta o torna muito bom de se ler. Que venham os próximos!

Arnaldo Batista – Cê Tá Pensando que Eu Sou Loki?:

Hidden Treasure– Traffic:

La Llave– Devadip Carlos Santana:

Coletânea equivale a amostra do brilhante Wilson Simonal

060254723631 encarte.indd

Por Fabian Chacur

Luiz Carlos Miele, um dos grandes produtores e apresentadores do show business brasileiro, afirma que Wilson Simonal foi o maior cantor brasileiro de todos os tempos. Um belíssimo aval para esse intérprete carioca que viveu de 1938 a 2000 e nos deixou um belo legado musical. A coletânea S’Imbora- A História de Wilson Simonal, que a Universal Music acaba de lançar, é bela amostra de uma obra brilhante.

A compilação tem como mote o espetáculo teatral S’Imbora- O Musical- A História de Wilson Simonal, escrito por Nelson Motta e Patrícia Andrade, dirigido por Pedro Bricio e estrelado por Ícaro Silva, que estreou no começo deste ano e vem fazendo bastante sucesso. Embora use a identidade visual do musical na embalagem, a compilação traz as gravações originais do saudoso Simona, e não do elenco da peça.

São 20 faixas, sendo 17 da época áurea do astro carioca, vividos na gravadora EMI-Odeon entre 1961 e 1971, uma de 1975 e duas gravações de seus talentosos filhos, Wilson Simoninha (Nanã, que também está no CD na leitura do pai) e Max de Castro (Afrosamba). O belo encarte traz as letras das faixas e texto do consagrado produtor Jorge Davidson, que trabalhou em diversas gravadoras.

Simonal era o que poderíamos chamar de um artista praticamente completo. Compositor eventual, ele compensava tal “deficiência” com uma voz maravilhosa, um swing irresistível e um carisma no palco capaz de domar as multidões mais exigentes. Um “entertainer” na acepção da palavra, que se tivesse nascido nos EUA teria sido astro internacional.

Do início como seguidor da bossa nova, Simona enveredou por uma brasilidade mestiça, da qual faziam parte a soul music, o jazz, a música latina e o que mais pintasse, até rock. O seu balanço próprio gerou um estilo apelidado de “pilantragem” cuja marca era o ritmo contagiante e irresistível, do tipo de fazer dançar até defunto.

O impecável documentário Ninguém Sabe O Duro Que Dei (2009) ajudou a tirar esse artista brilhante do nimbo a que foi relegado por causa de acusações feitas em 1971 que acabaram se mostrando infundadas. Ele tinha temperamento difícil e criou muitas encrencas em sua vida, mas dedo duro da Ditadura Militar ele nunca foi. Não merecia ter caído na “Sibéria do mundo musical”, pois seu trabalho era de enorme qualidade. Grande injustiça.

Esta compilação da Universal Music serve como uma boa introdução a quem por ventura não conheça essa obra incrível, ou para quem quiser um resumo conciso. Sá Marina, Tributo a Martin Luther King, Zazueira, Carango, Vesti Azul, Aqui é o País do Futebol, Nem Vem Que Não Tem, é uma bala atrás da outra. Um verdadeiro soul man à brasileira e à sua moda.

Nem Vem Que Não Tem– Wilson Simonal:

País Tropical/Sou Flamengo– Wilson Simonal:

Aqui é o País do Futebol– Wilson Simonal:

Caixa traz quatro ótimos CDs do hoje badalado Odair José

odair josé caixa 400x

Por Fabian Chacur

De uns anos para cá, Odair José finalmente passou a ter o respeito que merecia como cantor, compositor e músico. A ponto de a Universal Music lançar no mercado Quatro Tons de Odair José, luxuosa caixa com quatro álbuns inéditos em CD lançados entre 1972 e 1975, sua fase áurea em termos de sucesso comercial. Mas a coisa nem sempre foi assim, caros amigos.

Em 1988, quando entrei no mundo do jornalismo diário como repórter e crítico musical do hoje extinto Diário Popular, ninguém queria saber do cara. Mas eu queria. E sugeri ao meu editor de então, o brilhante Osvaldo Faustino, que fizéssemos uma entrevista com o autor de Pare de Tomar a Pílula. O cara, sempre aberto, deu-me a autorização, e lá fui eu atrás da fera, todo feliz.

Na época, o artista goiano vivia uma fase não muito favorável em sua carreira, e era contratado da gravadora RGE. Liguei para a assessora de lá na época, uma figura simpática chamada Ielda, e fiz o meu pedido para entrevistar o artista dela. A moça ficou uns bons segundos muda, provavelmente sem acreditar no que ouvia. E deu show de bola.

Ela simplesmente trouxe Odair José na redação do Diário, que ficava na rua Major Quedinho, centro de São Paulo. Nem acreditei quando vi a fera ali, na minha frente. A entrevista foi deliciosa, realizada lá pelos idos de 1988, e nela minha admiração por esse artista aumentou ainda mais, por sua simplicidade e honestidade.

Acho que, modéstia à parte, dei sorte a ele, pois não muitos anos depois ele foi redescoberto pelas gravadoras e outros artistas. A partir dos anos 90, Odair começou aos poucos a ser reverenciado, e isso resultou em álbum-tributo de artistas do rock alternativo, disco produzido por Zeca Baleiro e a chance de tocar na íntegra ao vivo na Virada Cultural seu ótimo e polêmico álbum O Filho de José e Maria (1977).

E enfim chegamos à caixa recém-lançada. Sua importância é enorme, pois ela inclui o material que tornou Odair José um dos grandes nomes da música popular, acima da média no gênero. Ele era conhecido em 1972 graças ao sucesso de Eu Vou Tirar Você Desse Lugar, na qual relata sua paixão por uma prostituta. Mas faltava algo a ele. Algo fundamental.

Ele queria se livrar das amarras dos arranjos bregas e travados propostos pela gravadora do Rei Roberto Carlos, a CBS, que só dava liberdade ao autor de Detalhes. Com esse objetivo, ele aceitou a proposta da Polydor, selo popular da gravadora Philips (hoje Universal Music). O presidente da gravadora, o genial André Midani, deu-lhe a liberdade. E nascia um mito.

Falando de temas reais e até então pouco explorados como amores por empregadas domésticas, as restrições trazidas pelo uso da pílula anticoncepcional e as duras separações dos casais, Odair ganhou como moldura instrumental o auxílio de músicos extremamente talentosos, entre eles o trio Azymuth, que se tornaria célebre por seu funk-soul-mpb pouco depois e o soul brother brasileiro Hyldon.

De quebra, Odair buscou inspiração em artistas fora do universo do chamado brega, entre eles Neil Diamond, Paul McCartney, Crosby Stills & Nash, além, é óbvio, do velho mestre Roberto Carlos. O resultado: canções de forte apelo popular, mas ao mesmo tempo com embalagem refinada e repletas de detalhes sofisticados.

Assim Sou Eu… (1972), Odair José (1973), Lembranças (1974) e Odair (1975) são álbuns repletos de músicas legais, tanto os sucessos como outras músicas menos conhecidas, mas tão legais quanto. São discos para se curtir um a um, faixa a faixa, arranjo por arranjo, letra por letra. E a caixa inclui as letras, capas originais e livreto com ótimo texto.

Cristo Quem É Você?, Eu Queria Ser John Lennon, Deixe Essa Vergonha de Lado, Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula), Que Saudade de Você, A Noite Mais Linda Do Mundo (A Felicidade), Dê Um Chega Na Tristeza, é muita música boa. Para quem é preconceituoso em relação a Odair José ouvir e chegar à conclusão de que o cara é um mestre da canção popular.

A Noite Mais Linda do Mundo (Felicidade)– Odair José:

Cadê Você – Odair José:

Odair José toca na íntegra em SP seu álbum mais polêmico

o filho de jose e maria odair jose 400x

Por Fabian Chacur

Em maio de 2013, Odair José mostrou uma surpresa para seus fãs durante a Virada Cultural: tocou na íntegra seu álbum mais polêmico, O Filho de José e Maria (1977). Para quem perdeu, surge uma nova chance neste fim de semana. Sexta (13) e sábado (14) às 21h e domingo (15) às 18h, o cantor, compositor e músico goiano tocará as músicas desse trabalho tão marcante no Sesc Belenzinho (rua Padre Adelino, 1.000- fone 2076-9700), com ingressos de R$ 8,00 a R$ 40,00.

A história de O Filho de José e Maria é das mais interessantes. Após se tornar um dos artistas mais populares do Brasil nos anos 1970, graças a hits certeiros como A Noite Mais Linda do Mundo (Felicidade), Pare de Tomar a Pílula e Cadê Você, Odair José recebeu uma proposta milionária da gravadora RCA e deixou a Polydor (hoje Universal Music) em 1977. Só que ele tinha novos planos para sua carreira.

Ambicioso e visionário, o astro goiano estava apaixonado por trabalhos de artistas como Peter Frampton, Neil Diamond e Paul McCartney, entre outros, e resolveu estrear na nova gravadora com uma ambiciosa ópera-rock na qual explorava temas como sexualidade, casamento, religião e comportamento, com uma sonoridade pop-rock com toques de soul e funk de verdade.

A acompanha-lo, músicos brilhantes como Hyldon (guitarra), Jaime Alem (guitarra e violão),Robson Jorge (piano e órgão Fender Rhodes), Alexandre (baixo), José Roberto Bertrami (órgão, clarinete e arp string) e Ivan Mamão (bateria). Uma verdadeira seleção, que proporcionou a Odair José uma sonoridade consistente e criativa.

Com dez ótimas faixas, entre as quais O Casamento, Nunca Mais, Não Me Venda Grilos (Por Direito), De Volta às Origens e a faixa-título, O Casamento de José e Maria infelizmente não conseguiu boa repercussão comercial, e rapidamente saiu de catálogo. Um exemplar em vinil custa uma verdadeira fortuna, sendo que o álbum nunca foi reeditado na íntegra no formato CD.

Você só encontra faixas de O Filho de José e Maria no formato CD (oito delas, para ser mais preciso) na hoje também rara coletânea Grandes Sucessos, lançada pela BMG (hoje Sony Music) em 2000 e trazendo um total de 20 músicas dessa quase obscura passagem de Odair José pela gravadora RCA. Tomara que esse disco ainda seja reeditado, pois é muito bom e merece ser resgatado.

Nos shows que fará no Sesc, Odair cantará e tocará violão e guitarra, tendo a seu lado os músicos Caio Mancini (bateria), Marco Camarano (guitarra), Marco Bispo (teclados) e seu filho Odair José Jr. (baixo). Pelo que se viu na Virada Cultural, vale e muito a pena não perder essa nova oportunidade de ouvir um clássico obscuro da MPB ao vivo e a cores.

Ouça a versão original de estúdio de O Casamento:

Ouça O Casamento ao vivo na Virada Cultural 2013:

Morre Magro Waghabi, do grupo MPB 4

Por Fabian Chacur

Morreu nesta quarta-feira (8) Antonio José Waghabi Filho (1943-2012), o Magro Waghabi, integrante do MPB 4, um dos mais importantes e talentosos grupos vocais da história da música brasileira de todos os tempos.

Segundo nota publicada no site oficial do quarteto por um de seus integrantes, Aquiles, Magro foi vítima de um câncer contra o qual lutou durante 10 anos.

O grupo gravou e lançou há pouco Boleros-Contigo Aprendi, álbum dedicado a versões em português de boleros clássicos. No citado site (www.mpb4.com.br), existe um post com comentários de Magro referentes ao material registrado no novo CD deles.

O MPB 4 teve sua gênese em 1962 no Centro de Cultura Popular da Universidade Federal Fluminense, em Niterói (RJ), onde estudavam Ruy (primeira voz), Magro Waghabi (segunda voz e direção musical), Aquiles (terceira voz) e Miltinho (quarta voz).

A banda registra o ano de 1965 como seu início na trajetória profissional. Naquele ano, participaram do programa O Fino da Bossa e conheceram Chico Buarque, com quem fizeram inúmeros shows e gravação, entre elas a magnífica Roda Viva.

Inspirados em grupos vocais brasileiros anteriores como Os Cariocas, o MPB 4 rapidamente desenvolveu um estilo próprio de vocalizações, no qual os arranjos e direção musical de Magro se mostraram decisivos.

Outra marca registrada do quarteto sempre foi o extremo bom gosto para selecionar repertório, de autores como Chico Buarque, Caetano Veloso, João Bosco, Milton Nascimento e tantos outros. Também ajudaram a revelar novos talentos, entre os quais Kleiton & Kledir, e a resgatar clássicos da música brasileira.

O grupo gravou álbuns antológicos, entre os quais destaco Bons Tempos, Heim? (1979) e Vira Virou (1980), e estiveram na linha de frente da MPB no combate à Ditadura Militar.

Meu álbum favorito deles é o sensacional Cicatrizes, de 1972, do qual fazem partes clássicos do porte de Partido Alto (Chico Buarque), Pesadelo (Maurício Tapajós e Paulo Cesar Pinheiro), Bom Dia Boa Tarde Boa Noite (Jorge Ben), Canto de Nanã (Dorival Caymmi) e a faixa título, gravadas com arranjos irrepreensíveis e vocalizações matadoras.

Outro momento mágico do MPB 4 é Porto (Dori Caymmi), da trilha da novela global Gabriela (1975), na qual se valem de vocalizações para interpretar uma melodia maravilhosa.

Embora tenha vivido o seu auge de popularidade nos anos 70 e 80, o MPB 4 manteve-se na ativa com muita competência nas últimas décadas, lançando inclusive um álbum, MPB 4 e a Nova Música Brasileira (2000), no qual faziam releituras de músicas de compositores da então nova safra da MPB, como Lenine, Zélia Duncan e Zeca Baleiro.

Ouça Porto, com o MPB 4:

Ouça Pesadelo (ao vivo), com o MPB 4:

Ouça Partido Alto (ao vivo), com o MPB 4:

Wando se vai nesse triste 8 de fevereiro

Por Fabian Chacur

Coube à música O Importante é Ser Fevereiro a tarefa de colocar pela primeira vez nas paradas de sucesso uma música assinada por Wando, lá pelos idos de 1972/73. Infelizmente, também coube ao mês de fevereiro abrigar a sua morte, aos 66 anos, na manhã desta quarta (8), em Belo Horizonte, vítima de ataque cardíaco após vários dias internado.

Nessa minha já longa carreira como jornalista e crítico musical, tive a oportunidade de entrevistar diversas vezes o senhor Wanderley Alves dos Reis, sendo a primeira na segunda metade dos anos 80.

O cara era uma peça rara. Bem-humorado, inteligente e simpático, contava histórias simplesmente sensacionais protagonizadas por ele em sua difícil e longa trajetória rumo ao sucesso.

Nascido em Nova Lima (MG) em 2 de outubro de 1945, teve várias fases em sua trajetória profissional, sendo que na inicial, fez parte de grupos de baile, cantou na noite e se virou como feirante e outras ocupações para sobreviver.

Na primeira metade dos anos 70, investiu no samba, que rendeu sucessos como O Importante é Ser Fevereiro (gravada por Jair Rodrigues)e Nega de Obaluaiê.

O estouro da belíssima Moça, em 1975/76, tornou-o um fenômeno de vendagens em todo o país, em música cuja letra conta a paixão por uma prostituta, uma ousadia em plena Ditadura Militar.

Até o fim dos anos 70, emplacaria outros hits, entre os quais as ótimas Senhorita Senhorita e Gosto de Maça.

A primeira metade da década de 80 marcou um momento de menor repercussão em sua trajetória profissional, a ponto de ele ter sido excluído do circuito das grandes gravadoras.

Para voltar à cena, ele resolveu aceitar o convite e gravar em um recém-criado selo independente em 1985, Arca, fundado pelo jornalista e empresário Ari Carvalho, dono do jornal carioca O Dia.

Esse álbum independente, intitulado Vulgar e Comum é Não Viver de Amor, acabou se transformando em um inesperado sucesso comercial, graças às músicas Fogo e Paixão e Chora Coração, esta última depois incluída na trilha de Roque Santeiro.

Em 1987, não só estava de volta a uma grande gravadora (a Polygram, cujo acervo hoje pertence à Universal Music), como passou a investir em shows superproduzidos e sempre lotados com direito a camas redondas, tendas árabes e distribuição de calcinhas e convites para motéis.

As fãs também adoravam jogar no palco calcinhas, que o cantor colecionava. Wando virou até garoto propaganda da DuLoren…

Esperto, mergulhou de cabeça em um segmento musical criado por ele próprio, o da música romântica centrada no sexo como tema básico. Virou conselheiro sexual e figura obrigatória em programas sobre o tema.

Rotulado como brega, algo que nunca levou a sério, Wando era bom cantor, ótimo músico e compositor de recursos bem amplos. Lógico que não era um Paul McCartney ou Caetano Veloso, mas ficava muito acima da média em sua área. E isso explica um pouco a sua permanência. Vá com Deus. E os corações que ele tanto animou vão chorar bastante, podem ter certeza.

Ouça Moça, com Wando:

Newer posts

© 2024 Mondo Pop

Theme by Anders NorenUp ↑