raquel martins 2-400x

Por Fabian Chacur

Há 20 anos no cenário musical, Raquel Martins é cantora, compositora e violonista. Ela está lançando seu segundo CD solo, Homem Sem Rosto, no qual alterna canções mais sacudidas com momentos introspectivos. Raquel mostra o repertório do novo álbum em show no dia 24 de abril (sexta-feira) às 22h em São Paulo no bar Ao Vivo (rua Inhambu, 229- Moema- fone 5052-0072), com couvert artístico a R$ 30,00 (a pessoa levará o CD como brinde). Saiba mais sobre a sua carreira e sobre este ótimo novo trabalho em entrevista feita por Mondo Pop.

Mondo Pop- Quais as diferenças básicas entre seu novo CD, Homem Sem Rosto, e o anterior, No Vai e Vem do Metrô, de 2008?
Raquel Martins– No primeiro disco me pautei principalmente em minhas próprias experiências individuais, sociais e afetivas, embora algumas canções já apontassem para um interesse mais coletivo e um olhar mais voltado para o mundo externo. A produção também foi feita de modo praticamente artesanal na sala da minha casa e em meu computador. Dividi a produção com Amarante Trindade. Esse processo artesanal conferiu ao disco uma ingenuidade sonora desligada de um compromisso com um resultado perfeito, que muitas vezes interfere negativamente no processo criativo.
Já no segundo disco me pautei principalmente pela experiência coletiva presente nas relações sociais, nos movimentos de massa, nas efervescências urbanas, nos fenômenos globais que incidem na subjetividade do sujeito pós-moderno. Parti do global para chegar ao particular. Em algumas canções as temáticas voltadas aos comportamentos de massa são evidentes. Outras trazem uma leveza na abstração das narrativas. Mas o que os dois discos têm em comum é a autoria do desenho das capas, pois os dois foram feitos por mim. No segundo disco, desenhei o Homem sem Rosto e usei efeitos digitais para compor o fundo a partir de uma foto de meu acervo pessoal. Com relação à produção musical esse segundo disco foi produzido com melhores recursos referentes à parte técnica: estúdios de gravação, masterização, equipamentos etc. Também conta com distribuição feita pela Tratore.

Mondo Pop- Você tem um trabalho solo, e também trabalhou com a Banda Gandaia e o Batuque das Sinhás. Como você encara essas duas possibilidades de atuar, uma na qual tudo depende da sua orientação e outra tendo de se sintonizar com outras pessoas?
Raquel Martins– Cada situação exige uma atuação diferente. Na Banda Gandaia, além de ser instrumentista e cantora, ficava responsável por montar o repertório para adequá-lo às minhas características vocais. Acabava centralizando a função de “administrar” a banda. Com o Batuque das Sinhás, por se tratar de um quarteto vocal, a interligação com o outro é essencial. Para que eu encaixe minha voz na harmonia, preciso ouvir o que a outra cantora está fazendo e assim por diante. Em ambas as situações, é necessária uma sincronia quase perfeita entre os componentes, tanto em banda, quanto em outras formações vocais ou instrumentais. Agora, quando o trabalho é solo como no meu caso, sobra tudo, mas tudo mesmo, pra quem está no front, no caso o responsável e intérprete do trabalho, desde o processo criativo à parte burocrática e de divulgação etc.

Mondo Pop- Como foi trabalhar com o Pedro Arantes como produtor, como surgiu a ideia de trabalhar com ele, e o que você imagina que ele tenha acrescentado a seu trabalho? Onde o CD foi gravado?
Raquel Martins– Eu já havia iniciado a produção do disco que estava pela metade quando o Mateus Schanoski (tecladista da banda) me indicou o Pedro Arantes. A experiência de trabalhar em parceria com o Pedro foi enriquecedora, pois foi mais um aprendizado em minha carreira. Eu chegava com as músicas e as ideias meio que prontas e ele apresentava as suas propostas. Isso gerava um debate de ideias e uma confluência de conhecimentos e influências de ambos. Algumas músicas eu já havia produzido, que são as primeiras do disco (com exceção de Pérolas – 2ª faixa). Da sétima faixa em diante, incluindo a segunda, fizemos meio que a quatro mãos. Eu gravava algumas coisas em meu home studio, como baixo, teclado e percussão e mandava para o Pedro. Ele mixava e colocava as intervenções sonoras dele. Gravamos em São Paulo em alguns estúdios, entre eles o Eco Estúdio, na gravação das vozes e violões. A masterização foi feita por Bruno de Castro, no Eco Estúdio. Eu gostei bastante do resultado.

Mondo Pop- Guilherme Arantes participou da faixa Mais Cedo. Como surgiu essa parceria, e por que especificamente nesta música?
Raquel Martins– Esta música que compus a partir de uma poesia de Bia Clemente, que também toca saxofone na banda, é uma das mais complexas harmonicamente e muito bucólica, cuja letra abstrata sugere paisagens e emoções. Acredito que essas características tenham influenciado a escolha do Guilherme Arantes por essa música. A produtora Coaxo do Sapo, responsável pela produção do disco e que é dirigida por Pedro Arantes é de propriedade do Guilherme Arantes, também seu pai. Esse fato contribuiu em grande parte para sua participação no disco.

Mondo Pop- Você dividiu o repertório do CD em lado A e lado B, como se fosse um disco de vinil. Pensa em lançar Homem Sem Rosto no formato vinil?
Raquel Martins– A ideia de dividir o disco em dois lados surgiu do intuito de destacar as músicas mais dançantes das mais introspectivas e voltadas à reflexão, fazendo uma alusão à lógica do vinil que colocava as canções mais comerciais no lado A. Não pretendo lançar em vinil, pois a produção ainda é cara e a absorção pelo mercado ainda é pequena, embora esteja aumentando a demanda de vinil. Mas são poucas as lojas que comercializam e o público consumidor é muito limitado.

Mondo Pop- Você possui uma formação teórica e formal em música. Qual a influência disso no seu lado autoral? Te dá uma disciplina maior para criar, por exemplo?
Raquel Martins– Minha formação musical como bacharel em violão popular expandiu minhas possibilidades de inserção no mercado de trabalho e me atribuiu conhecimento primordial para elaboração dos arranjos, composição e, sobretudo, para execução e técnica do instrumento. Meu mestrado que estou prestes a concluir na USP ampliou meu olhar para o mundo, concebendo-me subsídios ideológicos e teóricos que penetraram minhas ideias e interferiram em minha estética musical.

Mondo Pop- Você pesquisa diversos ritmos musicais urbanos e isso se reflete no som que faz, especialmente no novo CD. Fale da importância dessas pesquisas em sua criação.
Raquel Martins– Sempre fui apaixonada por música popular brasileira. Mas durante minha pesquisa de mestrado, me dediquei especificamente ao rap e, consequentemente, a manifestações populares produzidas na periferia que são discriminadas. Em razão desse interesse e das leituras que fizeram parte da construção de minhas análises, acabei compondo meu primeiro rap intitulado “Além do bem e do mal”, título homônimo ao do livro de Nietzsche “Para além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro”. Resgatando minhas influências e interesse por gêneros populares, transitei pelo samba-rock, baião, baladas e funk.

Mondo Pop- Quais são as principais influências que você detecta no seu som, em termos de ritmos e de trabalhos alheios?
Raquel Martins– Como toquei muitos anos na noite, sempre trabalhei com ritmos mais dançantes como samba, samba-rock, baião e funk. Mas também toco muito canções do Tom Jobim e do Lô Borges, que influenciam harmonicamente meu processo de composição musical.

Mondo Pop- O que é a música para você?
Raquel Martins– É uma ponte que me faz transitar por dimensões diferentes, uma arte que é construída no tempo-espaço, algo volátil que se esgota no final da performance e se imortaliza por meio da memória. A música é arte que atinge primeiro os sentidos.

Mondo Pop- Última pergunta (ufa!!! rsrsrss): fale um pouco de como será o seu show de lançamento, em termos de repertório, formação (músicos que tocarão com você) e abordagem sonora. Terá só músicas gravadas por você ou também incluirá repertório alheio?
Raquel Martins– A abertura do evento será feita pelo PAXKAYAB – projeto de música eletrorgânica do Pedro Arantes. Depois, será exibido pela primeira vez o videoclipe feito para a música “O Som da Massa”, produzido por Jô Bittencourt. Em seguida, irei tocar guitarra e cantar as músicas do CD junto de minha banda, formada por Bia Clemente (saxofone), Mateus Schanoski (teclado), Ronaldo Gama (baixo), Lilo Cazarini (bateria e Pedro Arantes (base eletrônica e samples). Após a execução das músicas do CD, iremos fazer um “bailinho”, onde tocaremos músicas de Jorge Benjor, João Donato, Tim Maia, Caetano Veloso e Gilberto Gil para o povo terminar a noite dançando muito!

No Vai e Vem do Metrô– Raquel Martins:

Teaser sobre a música O Som da Massa, de Raquel Martins: