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Luiz Schiavon, 64 anos, grande tecladista e compositor do RPM

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Por Fabian Chacur

Quando criou o RPM com Paulo Ricardo lá pelos idos de 1983, Luiz Schiavon sequer imaginava o tamanho da repercussão que aquela banda teria no cenário do show business brasileiro. Quem viveu a época sabe perfeitamente do que estou falando. Um marco inesquecível do rock brasileiro, aliando qualidade artística e massivo sucesso comercial. O tecladista, compositor e produtor paulistano nos deixou na madrugada desta quinta-feira (15) aos 64 anos, vítima de uma doença autoimune que o afligia há quatro anos. Grande perda!

Nascido em 5 de outubro de 1958, Luiz Antonio Schiavon Pereira tinha formação em música, e logo se interessou não só pelo piano, mas também pelos teclados eletrônicos, tornando-se um especialista. Não era de se estranhar que o RPM tomasse o rumo do tecnopop, uma das sonoridades predominantes no rock internacional na primeira metade dos anos 1980.

Schiavon e Paulo Ricardo eram os compositores e líderes da banda. Fernando Deluqui (guitarra) entrou a seguir, e o time foi completado por Paulo PA Pagni já em 1985. O single Loiras Geladas antecedeu o lançamento do primeiro e autointitulado álbum da banda, que surpreendeu a muitos com a sua qualidade em termos de repertório e mesmo qualidade técnica.

O sucesso do quarteto realmente engrenou a partir da segunda metade de 1985 graças a dois elementos muito importantes. O primeiro foi a parceria com o empresário Manoel Poladian, que apostou no potencial da banda e investiu em uma infra-estrutura que lhes permitisse fazer um megashow. E isso se concretizou graças a Ney Matogrosso, que dirigiu este novo show e lhe deu os contornos necessários para cativar o grande público.

O resultado foi tão bom que a gravadora CBS/Sony percebeu que precisava de um novo produto para capitalizar tamanha repercussão. Nascia, assim, Rádio Pirata ao Vivo (1986), uma espécie de versão turbinada do disco de estreia acrescido de material inédito, como as releituras de Flores Astrais (Secos & Molhados) e London London (Caetano Veloso).

Deu super certo. O álbum quebrou recordes de vendagem e ajudou de vez a banda a se tornar o maior fenômeno de popularidade do rock brasileiro, gerando uma verdadeira RPM mania em todo o país. Se Paulo Ricardo era o vocalista e símbolo sexual, Luiz Schiavon era o melhor e mais criativo músico do time, com seus timbres modernos de teclado e ótimas melodias.

No entanto, problemas com drogas geraram desentendimentos entre eles, e levaram o grupo rumo a uma separação precoce, após um ótimo single em parceria com Milton Nascimento e o posterior lançamento do irregular álbum RPM (1988), também conhecido como Quatro Coiotes, uma de suas faixas. Em 1989, o quarteto anunciou a sua separação.

Enquanto Paulo Ricardo investiu em uma carreira solo irregular, Schiavon montou o efêmero Projeto S com o cantor Tzaga Silos. A partir de 1996, passou a compor músicas de sucesso para trilhas de novelas da Globo, entre as quais O Rei do Gado, Terra Nostra e Esperança, além de montar o seu próprio estúdio, situado no bairro do Jardim Bonfiglioli, em São Paulo.

Em 2002, a formação original do RPM volta e grava um álbum ao vivo em parceria com a MTV, no qual releu os grandes sucessos e lançou algumas inéditas, entre elas o tema principal do reality show BBB, que se tornou o último hit de sua carreira. Eles tiveram novas separações e retornos, sendo que Paulo Ricardo saiu de vez em 2017, e Pagni faleceu em 2019.

Em um desses intervalos sem o RPM, Luiz Schiavon foi o diretor da banda do programa Domingão do Faustão, entre 2004 e 2010. Tive a oportunidade de entrevistá-lo em alguma ocasiões, e ele sempre se mostrou um sujeito simpático, esclarecido e muito centrado. Vai deixar saudades.

Rádio Pirata (ao vivo)– RPM:

RPM esbanja maturidade em show em SP

Por Fabian Chacur

A história do RPM daria um filme daqueles sensacionais. Uma história repleta de sucessos, fracassos, brigas, conquistas, altos e baixos e com direito a alguns dos melhores momentos do rock nacional.

De volta à ativa e com um novo álbum no mercado, o excelente Elektra (Building Records), o quarteto se encontra atualmente em turnê pelo Brasil, que os trouxe de novo a São Paulo na noite desta sexta-feira (18), na Via Funchal.

Tive a oportunidade de ver três shows do grupo anteriormente. O primeiro, em novembro de 1986, no estádio Palestra Itália, teve como marca a idolatria de milhares de fãs alucinados que consagraram o quarteto no melhor estilo Beatles. Um dos momentos marcantes da trajetória do rock brazuca. Um show perfeito em termos técnicos e artísticos.

A segunda, no ínicio de 1989, rolou na extinta danceteria Dama Xoc, perante público reduzido e em momento de despedida beirando a pura e triste decadência, após tanto sucesso. A terceira rolou durante a gravação do DVD que marcou a volta da formação original do time, em 2002, retorno seguido por mais uma daquelas brigas homéricas e nova separação, meses depois.

No show desta sexta, ficou claro que a relação entre Paulo Ricardo (baixo e vocal), Luiz Schiavon (teclados), Fernando Deluqui (guitarra) e P.A. Pagni (bateria) deve estar excelente, tal o grau de integração, camaradagem e pique que eles ofereceram aos fãs que praticamente lotaram a casa de shows paulistana.

Detalhe: sem nenhum músico de apoio. Só os quatro mesmo, ao contrário de outras bandas que com o decorrer dos anos vão incorporando novos músicos. Nada contra, mas é bem legal ver um grupo autossuficiente, dando conta do recado dependendo apenas deles próprios. Um banho de habilidade e talento.

O show teve início às 22h43 com duas músicas de Elektra, as vigorosas Muito Tudo e Dois Olhos Verdes. Elas ganharam o público, que entrou em êxtase a partir de Loiras Geladas.

Dois quase lados B do repertório da banda, Juvenília e Liberdade/Guerra Fria, empolgaram pela expressividade das interpretações, com direito a efeitos visuais belíssimos no caso da segunda. Aliás, a iluminação do show merece um capítulo à parte, tal a qualidadade, diversidade e criatividade dignas de um show internacional, perfil que o RPM ajudou o rock brasileiro a assumir, nos heroicos anos 80.

Paulo Ricardo soube preservar seu carisma, energia e ótima voz, e ainda é um dos grandes frontmans do rock brasileiro. Ele também continua incluindo trechos de clássicos do rock internacional no meio de suas músicas. Neste show, tivemos Ruby Tuesday e You Can’t Always Get What You Want, dos Rolling Stones e Light My Fire, dos Doors.

Na parte acústica do show, eles nos apresentaram um ótimo pot-pourry iniciado e encerrado com Wish You Were Here, do Pink Floyd, com Dois (o maior hit da carreira solo de Paulo Ricardo) e Easy, dos Commodores. London London marcou o auge desse momento mais intimista do show, com direito ao cantor sendo elevado ao teto do palco em um praticável.

A surpresa ficou por conta de uma versão inédita em português para Miss You,dos Rolling Stones, que conseguiu ótima repercussão por parte dos fãs. Teve também uma releitura de Exagerado, do saudoso Cazuza.

Aquele arsenal de hits que marcou a história do RPM foi oferecido ao público de forma vigorosa e sem cair em burocracia. Alvorada Voraz, Revoluções Por Minuto, Olhar 43, Rádio Pirata, um exocet após o outro. Delícia!

O show acabou após um bis com Ninfa e novamente Dois Olhos Verdes, às 00h19 deste sábado (19), deixando todos com aquele agradável gostinho de quero mais.

Com um ótimo álbum de inéditas lançado há pouco e um show impecável (que merece ser registrado em DVD), é de se esperar que o RPM tenha voltado para ficar, pois é óbvio que a banda tem muito mais a nos oferecer além dos velhos e bons hits dos anos 80. É uma banda com muita lenha para queimar, com um passado de glórias e um presente digno e elogiável.

Veja o clipe de Dois Olhos Verdes, com o RPM:

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