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Janis Joplin, 27 anos, a bela voz que não era mesmo desse mundo

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Por Fabian Chacur

Pearl foi um dos grandes álbuns lançados no ano de 1971. Manteve-se por longas nove semanas no topo da parada americana, e conquistou o público do mundo todo. Era o atestado pleno da maturidade de uma grande intérprete, que havia conseguido dosar toda a sua garra sem no entanto perder a emoção, jamais. Pena que a protagonista desse trabalho exemplar já não estivesse mais entre nós. Janis Joplin nos deixou em 4 de outubro de 1970, mas seu legado, 50 anos depois, permanece aí, firme e forte. A mais preciosa das pérolas.

A incrível cantora e compositora nascida em Port Arthur, Texas, no dia 19 de janeiro de 1943, saiu de cena no exato dia em que iria colocar a voz na última faixa do álbum que estava gravando na época. O título dessa canção não poderia ser mais sinistro, levando-se em conta o que acabou acontecendo: Buried Alive In The Blues (enterrada no blues, em tradução livre). A gravação instrumental feita por sua banda acabou sendo escolhida para encerrar o lado 1 de Pearl.

Uma overdose de heroína a levou com apenas 27 anos. Só nos cabe especular sobre o que aconteceu naquele dia fatídico, mas tudo leva a crer que se tratou de uma triste fatalidade, e não de um suicídio. Parafraseando a maravilhosa letra de Bernie Taupin para a melodia de Elton John, Candle In The Wind, “parece para mim que ela viveu a sua vida como uma vela ao vento”. E, para tristeza de seus inúmeros fãs, o vento venceu a vela cedo demais.

Uma evidente razão pela qual Janis teve muita dificuldade para encontrar um equilíbrio que no fim das contas não conseguiu descobrir era uma contradição inerente a seu modo de ser. Uma espécie de bipolaridade, digamos assim. De um lado, tínhamos uma tímida e recatada garota caipira, cujo sonho era ter um marido que a amasse e que lhe proporcionasse filhos, um lar, felizes almoços e jantares…. Uma família nos moldes mais tradicionais.

Do outro, tínhamos uma garota irreverente, rebelde, carismática, fã de rock, blues e soul e com o nítido desejo de conquistar o mundo com uma voz incandescente e uma presença de palco cativante, disposta a superar e a vencer as rejeições e o machismo para ser “mais um dos rapazes”. Uma estrela incandescente, para iluminar a tudo e a todos com seu imenso talento.

Mas não existiram e ainda existem vários artistas que conseguiram conciliar esses dois extremos? Sim, mas não podemos nos esquecer de que estamos falando dos anos 1960, quando as mulheres ainda lutavam contra um posicionamento conservador que só admitia a elas um lugar secundário na sociedade. E algumas, entre elas Janis, lutavam contra uma espécie de “sentimento de culpa” por buscar fugir dos padrões tradicionalistas.

Seja como for, Janis, em seu curto tempo de vida, soube criar uma obra que se mantém relevante e deliciosa de se ouvir. E que, certamente, continuará atraindo novos fãs. Eu, por exemplo, a descobri no finalzinho da minha adolescência. Inicialmente, pensava se tratar de uma cantora “gritona” e folclórica no mau sentido, e não me animava a ir atrás de seus trabalhos.

Após ler sobre ela em várias revistas, especialmente a seminal Rock a História e a Glória, resolvi, entre 1980 e 1981, arriscar-me. Na extinta loja Sears do bairro paulistano do Paraíso (onde hoje temos um shopping), fiquei fascinado pela capa de Pearl e o comprei no escuro. Ao chegar em casa, pus a bolacha para tocar. E logo em sua primeira faixa, Move Over, já estava devidamente conquistado por ela. Ao chegar ao final do LP, queria mais, e mais, e mais doses daquela voz.

Em seu curto período de vida, a cantora texana passou por três fases distintas. A primeira ao lado do Big Brother And The Holding Company, grupo cujo vigor superava possíveis deficiências técnicas. Com eles, gravou o promissor Big Brother And The Holding Company (1967) e o empolgante Cheap Thrils (1968), este último com as avassaladoras Summertime, Ball And Chain e Piece Of My Heart.

Suas apresentações ao vivo deram a ela a chance de ampliar e muito o seu público, e ganhar fãs também entre seus colegas de profissão. Um dos momentos mais marcantes nesse sentido, flagrado no documentário sobre o Festival Monterey Pop em 1967, mostra Mama Cass, integtrante dos The Mamas & The Papas, boquiaberta na plateia e soltando um “uau!” ao vê-la interpretar de forma visceral Ball And Chain.

Influenciada pelo empresário Albert Grossman, resolveu sair do Big Brother junto com o guitarrista da banda, Sam Andrew, para montar uma banda com músicos mais tarimbados e com direito a sessão de metais. Nascia a Kozmic Blues Band, que a acompanhou no álbum I Got Dem Ol’ Kozmic Blues Again Mama! (1969), um bom trabalho, mas possivelmente um pouco contido demais, trazendo os hits Try (Just a Little Bit Harder), Maybe e One Good Man.

O segredo do que viria a ser Pearl foi exatamente o poder de síntese, mesclando a energia contagiante dos discos iniciais com a técnica mais apurada de Kozmic Blues. Um álbum nota 10 que parece coletânea, com direito a Me And Bobby McGee (que chegou ao número 1 nos EUA no formato single), Cry Baby, A Woman Left Lonely e My Baby, por exemplo.

A rigor, nenhum disco de Janis Joplin, incluindo aí os gravados ao vivo e os póstumos, pode ser descartado ou considerado inferior. Farewell Song (1982), por exemplo, com nove faixas registradas entre 1965 e 1970, encanta com maravilhas como Tell Mama e a fantástica One Night Stand, esta última uma balada daquelas de cortar os pulsos.

O fato é que Janis não deu conta de encarar o preço que o sucesso cobra de grandes talentos como ela. Em comum com a Pérola do Texas, Amy Winehouse também nos deixou aos 27 anos e também esteve no Brasil no início do ano em que nos deixou, 2011. Joplin nos visitou no início de 1970, causando furor no Rio de Janeiro e dando uma canja ao lado do hoje também saudoso Serguei.

Janis Joplin é audição essencial para qualquer fã de rock, e foi uma das responsáveis pela introdução do blues e da soul music para o público branco jovem daqueles anos 1960. Continua sendo referência e matéria obrigatória para quem deseja conhecer o melhor da música popular do século XX. Que tal ouvir Pearl agora mesmo?

Ouça Pearl, de Janis Joplin, em streaming:

Janis Joplin, a voz eterna que faria 70 anos

Por Fabian Chacur

Neste sábado, 19 de janeiro de 2013, Janis Joplin completaria 70 anos. A Pérola do Texas, no entanto, nem aos 30 chegou, pois nos deixou em um triste 4 de outubro de 1970, aos 27 anos. O ser humano se foi, mas a voz lendária, preservada nos discos, permanece nos arrepiando até hoje. E que voz maravilhosa!

Janis viveu pouco, mas com muita intensidade. Dentro dela, um eterno impasse certamente ajudou a levá-la mais cedo. De um lado, a cantora visceral, a mulher livre, que desejava apenas ser “mais uma da turma” e beber até cair. Do outro, a garota que sonhava em ser esposa, ter filhos e uma vida convencional, “careta”. Muita contradição.

Em termos musicais, a cantora texana misturou com originalidade o blues, o rhythm and blues, o country, o soul, o folk, o jazz e o rock and roll como ninguém antes, nem depois, com uma das vozes mais poderosas jamais apresentadas ao grande público. Dinamite pura, sentimento puro, explosão pura, em uma intérprete carismática.

Em sua concisa discografia, que inclui títulos lançados por ela ainda em vida e outros póstumos bem bacanas, destaco particularmente três. Cheap Thrills (1968), gravado ao lado do grupo Big Brother & The Holding Company, a tornou conhecida mundialmente, graças a petardos como Summertime, Piece Of My Heart e Ball And Chain.

Pearl, lançado de forma póstuma em 1971, é para mim seu momento máximo, quando a emoção e a técnica se equilibraram, gerando um álbum ao mesmo tempo emocionante e tecnicamente impecável, gerando gravações excepcionais como Move Over, Cry Baby, Me And Bobby McGee, My Baby e A Woman Left Lonely. Um dos melhores álbuns lançados em qualquer época e em qualquer estilo musical. Clássico até a medula.

Lançado em 1982, Farewell Song traz nove faixas registradas entre 1968 e 1970, e mostram Janis esbanjando talento, em canções como Tell Mama, One Night Stand e Catch Me Daddy. Nem parece uma coletânea de material deixado de lado dos discos da cantora.

Na verdade, essas são escolhas pessoais minhas, mas recomendo praticamente qualquer um de seus álbuns. Mesmo I Got Dem Ol’ Kosmic Blues Again Mama! (1969), que peca pela produção excessiva e por um pouco de frieza, traz momentos bacanas como To Love Somebody e One Good Man e merece ser explorado pelos ouvintes atuais.

Toda cantora que se preze tem a obrigação de mergulhar na obra de Janis Joplin como forma de aprender a arte de transpor para os estúdios e palcos os sentimentos sem cair na gritaria sem sentido, no tecnicismo barato ou no lugar comum. Janis era original como poucas, e continua nos emocionando em seus discos e DVDs.

Agora, ouça cinco das minhas gravações favoritas de Janis Joplin:

Move Over:

Me And Bobby McGee:

One Night Stand:

Cry Baby:

Summertime:

Janis Joplin, 40 anos sem essa grande voz

Por Fabian Chacur

Minha história em relação a Janis Joplin é curiosa. Durante minha infância e adolescência, tinha apenas uma vaga ideia de quem se tratava. Não ouvi e nem tive acesso a discos da moça, que morreu quando eu tinha nove anos.

Durante um certo período de tempo, achava que era uma cantora de rock que gritava muito, verdadeiro símbolo da era hippie. E nada além.

Mas isso mudaria, curiosamente, em 1980, quando fazia dez anos que a intérprete texana havia nos deixado.

Entrei na faculdade e comecei a trabalhar com registro durante aquele ano. Comecei a ter muita curiosidade de conhecer mais coisas de rock, e como agora eu ganhava o meu próprio dinheiro, passei a comprar discos e mais discos.

Um dia durante aquele revelador 1980, fui ao departamento de discos da finada Sears, onde hoje fica o Shopping Paulista, e peguei o álbum Pearl, de Janis, para dar uma ouvidinha. Logo na primeira faixa, Move Over, senti que a coisa ali era séria. Pirei.

Foi o primeiro álbum da texana que ouvi, e logo o melhor de todos. A partir dali, fui atrás de seus outros trabalhos e virei seu fã incondicional. Ou melhor, um fã crítico, capaz de analisar sua obra sem viajar demais na maionese, mas amando sua voz.

Pearl, lançado de forma póstuma em 1971, marcou o momento em que Janis Joplin conseguiu equilibrar sua energia e vibração com uma técnica vocal impecável. Razão e emoção em doses rigorosamente iguais. Só podia gerar um clássico, ainda mais com aquele repertório.

Além de Move Over, maravilhas do naipe de Me And Bobby McGee, Cry Baby, A Woman Left Lonely, Mercedez Benz….. Meu Deus, que disco maravilhoso. Blues, rock, soul e country em um pacote único.

Pois na próxima segunda-feira, dia 4 de outubro, farão 40 anos que a Pérola do Texas nos deixou. A moça tinha apenas 27 anos e estava no auge do seu talento. Quanta coisa boa poderia nos ter proporcionado, heim?

No entanto, deixou-nos um legado que merece ser apreciado com prazer, incluindo o já citado Pearl e também o visceral Cheap Thrills (1968) e o fantástico póstumo Farewell Song (1981).

Mesmo Kosmic Blues (1969), em que pese sua irregularidade, tem grandes momentos. E as gravações ao vivo da mulher são impressionantes.

Janis se entregava a cada canção como se não houvesse amanhã. Mesmo quando errava notas ou saía do tom, dava um banho de emoção e garra que poucas roqueiras fizeram antes ou depois dela. Que tal ouvi-la agora? E preciso do Farewell Song em CD!

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