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Fats Domino, um precursor do rock, nos deixa aos 89 anos

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Por Fabian Chacur

Quando o cantor, compositor e pianista americano Fats Domino lançou em 1949 o seu primeiro single, The Fat Man, o termo rock and roll nem existia no meio musical. Ele é considerado um dos precursores desse gênero musical, e infelizmente nos deixou nesta terça-feira (24) aos 89 anos. Ele já estava doente há alguns anos, e raramente aparecia em público, para tristeza de seus inúmeros fãs.

Um dos responsáveis pela transição do rhythm and blues rumo ao rock and roll, Domino tinha uma voz deliciosa e um estilo de tocar piano envolvente, além de ser um compositor de primeira e também um artista capaz de reler com categoria obras de outros artistas. Ele nasceu na incrivelmente musical cidade de New Orleans em 26 de fevereiro de 1928, oriundo de uma família na qual a música tinha forte importância.

Começou a tocar e cantar em bares a partir dos 14 anos de idade. Em 1949, conheceu o arranjador e produtor Dave Bartholomew, que não só virou seu parceiro musical como também o indicou à gravadora Imperial Records. Logo em seu primeiro single, The Fat Man, mostrou que não estava ali para marcar bobeira. Essa música é citada por estudiosos como uma das primeiras que podem ser rotuladas como rock and roll. Se bem que, na verdade, boa parte do rock and roll original era, basicamente, puro rhythm and blues. Enfim…

Em 1955, depois de anos lançando trabalhos com repercussão crescente, Domino invadiu as paradas de sucesso com a incrível Ain’t That a Shame, que atingiu o 10º lugar na parada pop na sua interpretação, e o primeiro, em releitura de Pat Boone. A partir daí, o swingado e tímido artista emplacaria diversos hits, entre os quais as clássicas Blueberry Hill, Goin’ Home, I’m In Love Again, Walking To New Orleans, I’m Gonna Be a Wheel Someday, I’m Walkin’ e inúmeras outras.

Em 1963, saiu da Imperial Records e assinou com a ABC, mesmo selo que havia contratado Ray Charles e apostado em sua guinada rumo a bem-sucedidas releituras soul de clássicos country. No caso de Domino, a parceria não deu certo, e o artista saiu das paradas de sucesso, emplacando apenas (e de forma menos intensa) o single com a regravação do clássico do jazz Red Sails In The Sunset (35º lugar nos EUA). No entanto, boas surpresas viriam a seguir.

Em 1964, com um show agendado para New Orleans, os Beatles pediram aos contratantes para que pudessem conhecer Fats. O encontrou gerou boa publicidade para o artista, e um belo reconhecimento público de sua influência sobre a banda. Em 1968, o grupo lançou Lady Madonna, evidente homenagem ao estilo de compor e tocar piano do pioneiro do rock and roll que fez muito sucesso.

No mesmo ano de 1968, Domino retribuiu a força dos Fab Four e regravou de forma brilhante Lady Madonna. Ele também releu à sua ótima moda duas outras composições do grupo, Lovely Rita e Everybody’s Got Something To Hide Except Me And My Monkey. Em seu álbum de covers Rock And Roll (1975), Lennon retribuiu a gentileza ao registrar de forma bem competente Ain’t That a Shame.

Quando resolveu gravar um álbum de covers destinado a sair inicialmente apenas na antiga União Soviética, Paul McCartney incluiu no repertório três músicas de Domino: Ain’t That a Shame, I’m Gonna Be a Wheel Someday e I’m In Love Again. Elas entraram no álbum Choba B CCCP (Back in The USSR, em russo), que saiu naquele país em 1988 e no resto do mundo em 1991.

A partir dos anos 1980, Fats Domino reduziu bastante o número de seus shows. Sua última turnê fora dos EUA ocorreu em 1996 durante três semanas, na Europa. Mesmo os shows nos EUA costumavam se restringir a eventos na sua New Orleans, especialmente no New Orleans Jazz And Heritage Festival. Ele entrou para o Rock And Roll Hall Of Fame em 1986, e mereceu o Grammy Lifetime Achievement Award, pelo conjunto de sua obra, em 1987.

Em agosto de 2005, um baita de um susto. O furacão Katrina arrasou com New Orleans, e durante alguns dias Domino e sua família foram dados como desaparecidos. Eles felizmente foram resgatados, embora a casa do artista tenha sido destruída. Em 2007, foi lançado o álbum-tributo Goin’ Home- A Tribute To Fats Domino, com a participação de astros como Elton John, Neil Young, Paul McCartney (em dueto com Allen Toussaint na faixa I Want To Walk You Home) e o objetivo de ajudar o artista a refazer a sua vida em termos materiais.

I’m Gonna Be a Wheel Someday– Fats Domino:

Night And Day- Joe Jackson: 35 anos e ainda impecável

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Por Fabian Chacur

Em junho de 1982, Joe Jackson lançou o seu álbum mais ambicioso. Aos 27 anos de idade (completaria 28 em agosto daquele mesmo ano), o cantor, compositor e músico britânico havia surgido com força no cenário musical com uma sonoridade rotulada como new wave pela crítica, e conseguiu ótimos resultados comerciais. Mas Night And Day era um passo adiante dos mais arriscados, pois trazia uma sonoridade bem peculiar.

Ao invés do ótimo rock básico com elementos de reggae e pop presentes em hits como Is She Really Going Out With Him, I’m a Man e Fools In Love, Jackson parecia querer trazer para o seu universo próprio algo do surpreendente disco que lançou em 1981, Jumpin’ Jive, composto por releituras de clássicos da era do swing jazz dos anos 1930 e 1940.

Vale lembrar que ele era quase uma exceção em sua geração, pois tem o piano como o seu instrumento base, ao invés da guitarra. E, embora roqueiro de coração, Jackson traz uma formação composta também por música erudita e jazz, elementos que se incorporaram à sua formação quando estudou música formalmente. Portanto, era questão mesmo de tempo que isso aflorasse no seu trabalho.

Night And Day marcou a saída do artista da Inglaterra rumo aos EUA, mais precisamente a Nova York. Nos estúdios da Big Apple, ele teve a inspiração de usar como tema do novo álbum uma espécie de viagem de um dia por aquela cidade, iniciada à noite e encerrada de dia, como o título entrega. De cara, uma ousadia para aqueles dias: nada de guitarra. A formação básica do disco inclui teclados diversos, baixo, bateria e muita percussão.

Ele usou o seu piano como base para um som no qual a latinidade aflorou com força total, trazendo fortes elementos de salsa, mambo e até um bocadinho de bossa nova. O jazz dá o tom, com espaços para solos mas sem cair em uma proposta intrincada demais, sendo, portanto, bem acessível aos ouvidos médios. O tempero pop e elementos eletrônicos, além de pitadas de rock, arredondaram a coisa toda.

Completando tudo, Jackson nos oferece nove faixas, sendo cinco compondo o lado A do disco de vinil, a faceta “night”, e quatro no lado B, a parte “day”. As canções vão se entrelaçando, e funcionam como se fossem a trilha sonora que acompanha um novato na grande cidade, tentando descobrir suas nuances e superar suas dificuldades de contatos e assimilação com as pessoas.

A abertura com Another World é impactante, seguida pela percussiva e misteriosa Chinatown. T.V. Age, ironizando a forte influência da TV na vida das pessoas, é seguida pela salerosíssima Target, que abre alas para a incrível Steppin’ Out. Maior hit da carreira do artista (chegou ao 6º lugar nos EUA), tem uma batida rítmica mágica, que serve como uma transição da noite para o dia, representado pelas canções do lado B.

A parte day do álbum se inicia com a bela balada Breaking Us In Two, que traz em sua melodia, involuntariamente ou não, trechinhos de Steppin’ Out e da clássica Day After Day, hit do grupo britânico Badfinger. Cancer, com sua letra que lida de forma quase sarcástica com a gravidade dessa doença terrível, é outro orgasmo latino, no qual Jackson faz solos endiabrados de piano nos quais mostra um senso rítmico e melódico digno de um gênio dos teclados.

A introspectiva Real Man toca no sempre delicado tema da masculinidade, com um refrão onomatopaico cativante. O álbum é encerrado com uma balada arrebatadora, Slow Song, que desde então costuma encerrar seus shows, e na qual ele defende a necessidade das canções lentas em momentos decisivos da vida. Um encerramento classudo para um grande álbum.

Joe Jackson admite que temia pelo resultado comercial de Night And Day, pelo fato de ser muito diferente dos LPs que havia lançado anteriormente. O público, no entanto, não o decepcionou, pois o álbum atingiu o 3º lugar no Reino Unido e 4º nos EUA, sendo até hoje seu campeão de vendas. Um disco que soa moderno, delicioso e cativante, mesmo 35 anos após seu lançamento. Música boa é para sempre.

obs.: fiz o possível para escrever um bom texto sobre esse, que é um de meus discos favoritos, mas tenho consciência de que não cheguei nem aos pés da crítica que a minha ídala Ana Maria Bahiana escreveu na época, e que não só me levou a procurar esse álbum como, por tabela, acabou me tornando um fã entusiasmado de Joe Jackson. Valeu, Ana!

Night And Day– Joe Jackson:

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