Por Fabian Chacur

Mais uma vez o glorioso João Luiz Woerdenbag Filho, 55 anos, mais conhecido pelo nome artístico Lobão, consegue criar uma grande polêmica em torno de declarações incisivas e agressivas dirigidas aos mais diferentes nomes da música, política e cultura brasileira. Não por acaso, está lançando um novo produto, no caso o livro Manifesto do Nada na Terra do Nunca, onde tais declarações estão inseridas.

Conheço muito bem a figura. A primeira entrevista que fiz com ele foi no já longínquo ano de 1986, quando ele lançou o que eu reputo ser seu melhor trabalho, o álbum O Rock Errou. Desde então, tive a oportunidade de participar de entrevistas coletivas ou fazer exclusivas com ele em pelo menos mais dez ocasiões nesses quase 30 anos.

Em cada uma delas surge um Lobão. Ora mais simpático e tranquilo, ora agressivo, ora até mesmo com jeito de quem tomou umas e outras, para dizer o mínimo. Mas algumas características se mantiveram sempre: a verborragia, as opiniões contundentes, a inteligência, o jeitão de manipulador e de quem diz as tais “verdades”. Sempre dá ótimas entrevistas.

Desta vez, as vítimas de sua língua ferina são Mano Brown, a produtora cultural Paula Lavigne, a presidente Dilma Roussef o Rei Roberto Carlos…Sobrou até para Sérgio Reis, quem diria… E, como de costume, a metralhadora giratória do cantor, compositor e músico carioca angariou apoios e ataques das pessoas mais diferentes possíveis.

Nem vou entrar no mérito das coisas que ele disse nesta nova blitzkrieg opinativa, embora a forma como ele as faz tenha esse abominável formato de “não tenho medo de dizer as verdades”, ou seja, como se tudo o que o autor de Me Chama afirma fosse a verdade absoluta e tudo o que os outros falam são mentiras covardes e imperdoáveis. Ninguém é detentor absoluto das tais “verdades”, Big Wolf. E você sabe bem disso.

Apoiar ou criticar integralmente aquilo que Woerdenbag Filho diz é entrar em uma fria. Ao ler suas declarações, sempre dá para concordar e discordar de muita coisa. O mais ponderado, sempre, é analisar cada opinião dele e tirar suas próprias conclusões. Agora, uma coisa é fato: ele adora atirar nas chamadas “vacas sagradas”.

Se desta vez são Mano Brown, a Doutora Dilma, “Reiberto” Carlos e Paula Lavigne os principais atingidos, em outras ocasiões os alvos foram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Herbert Vianna e tantos outros. Nada de novo no front. E isso costuma ocorrer com mais frequência quando ele lança novos trabalhos.

A obra do artista Lobão é altamente relevante, mas repleta de altos e baixos, o que o torna um fantástico proprietário de telhado de vidro. Vasculhem suas entrevistas nesses anos todos e descubram incoerências em praticamente todas elas. Em uma das coletivas de que partipei, por exemplo, ele detonou os próprios fãs, dizendo que eles “só sabem pedir autógrafos”.

Durante outra entrevista concedida a mim, desta vez uma exclusiva feita em um final de tarde, a assessoria de imprensa da gravadora perguntou se ele poderia conceder mais uma. A resposta: “claro, eu faço tudo o que precisar, pois preciso divulgar muito esse show para lotar o Olympia (extinta casa de espetáculos onde ele iria cantar)”.

Portanto, meus caros, esse filme é bem idoso, e no fim, o Big Bad (or Good) Wolf sempre ganha no final. Seus trabalhos são bem divulgados, alguns artistas estendem as polêmicas e o nome de Lobão circula forte na mídia durante um bom período de tempo. Quer saber? “Eu não quero mais nenhuma chance, eu não quero mais revanche”.

Ah, e não pretendo comprar esse novo livro, não, como não comprei a autobiografia dele. Fiquei satisfeito em ler trechos do mesmo, que já me deram uma boa amostra do que se tratava. Está de bom tamanho. Afinal, tal qual ele, também tenho de pagar minhas contas, que não são poucas. Se um dia ganhar de presente…

Ouça Revanche, com Lobão, do álbum O Rock Errou: