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Mary Wilson, 76 anos, uma das fundadoras da The Supremes

mary wilson supremes

Por Fabian Chacur

Há alguns dias, Mary Wilson postou um vídeo no youtube (veja aqui) no qual, de forma jovial e entusiasmada, revelava que a gravadora Universal Music irá em breve relançar seu primeiro álbum solo, autointitulado e de 1979, com direito a quatro faixas-bônus inéditas produzidas em 1980 por Gus Dudgeon, conhecido por seu trabalho com Elton John. Imaginem o susto ao sabermos que, na última segunda (8), a cantora, integrante da formação original do seminal grupo The Supremes, nos deixou, aos 76 anos, de causas não reveladas.

Nascida em 6 de março de 1944, Mary Wilson se uniu à amiga Florence Ballard (1943-1976) no finalzinho dos anos 1950 com o intuito de montar, em Detroit, um grupo vocal. Essa formação ainda incluía Barbara Martin e Betty Travis, mas esta última saiu rapidinho de cena. Aí, o cantor Eddie Kendricks, que integrava um grupo vocal chamado The Primes, sugeriu como substituta uma amiga de nome Diane Ross, fã incondicional do cantor Frankie Lymon.

No início, o quarteto topou fazer backing vocals em shows dos amigos do The Primes, e, por isso, inicialmente, usaram o nome Primettes. Em 1960, quando os Primes foram contratados pela Motown Records, e rebatizados de The Temptations, Mary e sua turma pediram uma chance ao dono da gravadora, o hoje lendário Berry Gordy. Ele as aconselhou a terminarem o colégio, ensaiarem mais um pouco e depois voltarem para novos testes.

Persistentes, as meninas conseguiram uma chance no pequeno selo Lupine Records, gravando backing vocals para artistas como Eddie Floyd e Wilson Pickett, que também davam seus primeiros passos. Naquele mesmo 1960, gravaram dois singles para esta gravadora, ambos com Mary como vocalista principal, sem grande repercussão. Aí, voltaram a frequentar a Motown, até finalmente serem contratadas, o que ocorreu no dia 15 de janeiro de 1961, rebatizadas como The Supremes, sugestão de Florence.

As adolescentes (três com 16 anos e Florence com 17) vibraram com a oportunidade, e seu primeiro single para a gravadora de Detroit, I Want a Guy, saiu no final de 1961. Era apenas o início de uma longa trajetória até o sucesso, com direito ao lançamento de vários singles que passaram batidos e a tentativa de descobrir um som e um formato corretos para aquele grupo. Barbara resolveu sair fora logo após o lançamento do single.

Agora definidas como um trio, as meninas passaram a ter Diana como vocalista principal, seguindo a orientação de Gordy. Florence não curtiu muito a ideia, mas a aceitou, enquanto Mary não ficou tão afetada, por achar que se incumbir dos backing vocals era tão importante para o grupo como a voz principal.

A coisa só foi engrenar quando Gordy resolveu dar ao trio de compositores e produtores Lamont Dozier e os irmãos Brian e Eddie Holland a incumbência de trabalhar para as meninas. Em janeiro de 1964, o single assinado e produzido pelo trio, When The Lovelight Starts Shining Through His Eyes, atingiu o 23º lugar na parada pop americana. E muita coisa boa viria logo a seguir.

Quando compuseram a música Where Did Our Love Go, Eddie achou que Mary seria mais adequada para assumir o vocal principal, enquanto Brian e Lamont preferiam Diana. Com uma mudança de tom, o trio concordou de forma unânime em dar a Diana a missão. Bingo! Esta canção, em julho de 1964, tornou-se a 1ª do grupo a atingir o primeiro posto na parada americana. Até 1970, outras 11 conseguiriam tal façanha.

Enquanto Mary se sentia aparentemente confortável com Diana aos poucos ganhando cada vez mais os holofotes, Florence foi se tornando muito insatisfeita, até que, em julho de 1967, ela acabou sendo substituída por Cindy Birdsong. O nome do grupo também havia mudado, para Diana Ross & The Supremes, o que indicava o que estava por vir em um futuro não muito distante.

Em 1970, Diana sai do grupo rumo a uma carreira-solo de muito sucesso. Mary, então, torna-se a única remanescente da formação original, agora ao lado de Cyndi e da novata Jean Terrel, que se incumbiu dos vocais principais em hits como Stoned Love, Nathan Jones e Floy Joy, entre outros.

O grupo se manteria ativo, com mudanças na formação, até 1977, quando saiu de cena. Nesse meio tempo, lançou um álbum produzido e com canções do grande Jimmy Webb em 1972, e teve single produzido por Stevie Wonder. O último hit foi I’m Gonna Let My Heart Do The Walking, que chegou ao nº 40 nos EUA.

Com o fim das Supremes, Mary lançou seu primeiro álbum solo, intitulado Mary Wilson, em 1979. Centrado em disco music, emplacou um hit modesto, a ótima Red Hot, mas não vendeu bem. Em 1980, ela já havia gravado quatro faixas com Gus Dudgeon para o que seria o seu segundo álbum-solo pela Motown Records, mas a gravadora preferiu abortar o projeto e encerrar o contrato com a cantora.

Os 25 anos da Motown Records foram celebrados com um show intitulado Motown 25: Yesterday, Today And Tomorrow, e uma de suas principais atrações era a participação das Supremes com Diana Ross, Mary Wilson e Cindy Birdsong (Florence Ballard morreu em 1976, após anos tristes e decadentes). Nas gravações, os desentendimentos entre Diana e Mary se mostraram evidentes, embora a versão exibida na TV tenha retirado os momentos mais picantes.

Em 1986, Mary lançou Dreamgirl: My Life as a Supreme, sua primeira autobiografia, escrita em parceria com Patricia Romanovsky e focada na história do seu ex-grupo nos anos 1960. A parceria voltaria em um segundo livro, Supreme Faith: Someday We’ll Be Together (1990), desta vez dedicado ao período pós-Diana Ross do grupo e à sua carreira solo.

Em 1992, a cantora lançou o seu segundo álbum solo, Walk The Line, no qual releu um hit das Supremes, You Keep Me Hangin’ On, e uma composição da hitmaker Dianne Warren, Under Any Moon, além de I Am Changing, do musical Dreamgirls (1981), supostamente baseado na carreira das Supremes. Ela também participou de discos de artistas como Neil Sedaka, The Four Tops, Paul Jabara e do grupo australiano Human Nature.

Os fãs do grupo que marcou a história da música pop com hits como Baby Love, Stop! In The Name Of Love, You Keep Me Hangin’ On e tantos outros ficaram animados em 1999, quando os boatos de uma possível turnê de reunião das Supremes voltou à tona. No entanto, as complicadas negociações e os velhos ressentimentos não permitiram que esse sonho de seus admiradores se realizasse. Pelo menos, não como deveria.

Diana Ross se juntou a duas outras ex-integrantes do grupo, curiosamente da fase anos 1970 em que ela própria não estava mais por lá, Scherrie Payne e Linda Laurence, para a realização de uma turnê intitulada Return To Love. A série de shows, que teve um início promissor com show sold out no Madison Square Garden, acabou sendo interrompida na sua metade, devido à procura de ingressos ter sido muito inferior ao esperado. Triste.

Outro lançamento bacana de Mary Wilson longe das Supremes saiu em 2006 nos formatos CD e DVD. Trata-se de Up Close: Live From San Francisco, show gravado ao vivo em dezembro de 2005 no Blush Room em San Francisco no qual ela releu desde standards da música americana até hits mais recentes de autores como Eric Clapton, Sting e Joni Mitchell. Curiosidade: temos aqui um pot-porry com I Remember You, The Girl From Ipanema e Mas Que Nada.

Uma das canções desse CD-DVD certamente foi escolhida a dedo. Trata-se de Tears In Heaven, feita por Eric Clapton em tributo ao seu filho Connor, morto de forma trágica aos 5 anos de idade. Mary perdeu seu filho de 14 anos em um acidente de carro em janeiro de 1994.

Mary permaneceu uma figura relativamente constante na mídia, sendo entrevistada em programas de TV e rádio. Em 2015, um single inédito dela, Time To Move On, atingiu o 17º lugar na parada dance da Billboard, 36 anos após Red Hot ter atingido essa parada, sendo esse um recorde de distância entre uma classificação e outra de singles de uma mesma artista nesse chart.

Em 2019, participou do popular reality show norte-americano Dancing With The Stars, além de lançar uma nova biografia, Supreme Glamour: New York, Thames & Hudson, escrito em parceria com Mark Bego. Vale lembrar que em 1999 ela publicou uma versão condensando as duas primeiras bios em um único volume.

Red Hot– Mary Wilson:

Phil Spector, 81 anos, genial na música e um ser humano horrível

phil spector

Por Fabian Chacur

A trajetória de vida de Phil Spector equivale a um belo retrato das contradições inerentes ao ser humano. De um lado, o produtor, compositor e músico que marcou presença em grandes momentos da música, como discos de John Lennon, The Beatles, George Harrison, The Ronettes, The Crystals e The Righteous Brothers, entre outros. Do outro, um ser humano de temperamento difícil, cujo momento mais horrível foi um crime que lhe custou a liberdade. Ele nos deixou neste sábado (16) aos 81 anos, em um presídio na California. Triste final.

Spector nasceu em 26 de dezembro de 1939, fato curioso se levarmos em conta que um de seus trabalhos mais reverenciados foi um álbum natalino sobre o qual falarei mais à frente. Seu primeiro momento importante na carreira musical ocorreu em 1958 graças ao sucesso de To Know Him Is To Love Him, canção de sua autoria e gravada por sua banda na época, a Teddy Bears, na qual ele cantava e tocava guitarra. Atingir o primeiro lugar entre os singles nos EUA com apenas 19 anos e sendo o autor da música não é pra qualquer um.

Com o precoce fim do grupo que o lançou, em 1959, ele resolveu investir em seu lado compositor, produtor e empresário. Com o sucesso de Spanish Harlem, hit em 1960 com o cantor Ben E. King e parceria de Spector com o consagrado compositor e produtor Jerry Leiber (parceiro de Mike Stoller em inúmeros hits), seu prestígio aumentou, e ele resolveu montar a própria gravadora, a Philles Records, no final de 1961.

De forma inteligente, Phil montou um time com ótimos profissionais, entre os quais o arranjador Jack Nitzche (1937-2000), o engenheiro de som Larry Levine (1928-2008) e um elenco de ótimos músicos de estúdio (entre os quais Hal Blaine, Larry Knetchell e Carol Kaye) que depois seriam conhecidos pela alcunha Wrecking Crew. De quebra, buscou nomes promissores, entre os quais os grupos vocais The Ronettes, The Crystals e The Righteous Brothers.

Até 1966, Spector emplacaria inúmeros sucessos nas paradas pop como produtor e compositor pelo seu próprio selo, entre eles Be My Baby (The Ronettes), Da Doo Ron Ron (The Crystals) e You’ve Lost That Loving Feelin’ (The Righteous Brothers). Sua marca registrada era a utilização de uma técnica de estúdio apelidada de Wall Of Sound, na qual ele se valia de uma verdadeira orquestra de músicos para dar um tom apoteótico para cada canção, definida por ele próprio como “uma abordagem Wagneriana para o rock and roll” ou “pequenas sinfonias para as crianças”.

Em 1963, Phil Spector resolveu fazer um disco para celebrar o Natal, uma das festas mais queridas pelo público americano, e lançou A Christmas Gift For You From Phillis Records, com a participação de Darlene Love, The Ronettes e The Crystals, entre outros. O disco não fez sucesso logo de cara, quem sabe pela infelicidade de ter sido lançado no mesmo dia em que John F. Kennedy foi assassinado, mas com o decorrer dos anos se tornou um clássico, também chamado de Phil Spector’s Christmas Album.

Em 1966, apostou todas as suas fichas no sucesso de River Deep-Mountain High, a rigor a primeira gravação solo de Tina Turner. Apesar da inegável qualidade da gravação, elogiada pelos críticos, o single só atingiu o modestíssimo nº 88 nos EUA, embora tenha sido 3º lugar no Reino Unido. Aparentemente, a decepção o levou a sair de cena até 1969.

Naquele ano, começou sua relação com os Beatles e seus integrantes. No início de 1970, Instant Karma!, de John Lennon, foi o primeiro fruto daquela nova fase dele. Em seguida, incumbiu-se da produção da trilha do filme Let It Be, retrabalhando as gravações feitas anteriormente por George Martin e Glynn Johns. O resultado obteve grande resultado comercial, mas teve repercussão diversificada entre os críticos. Paul McCartney odiou o arranjo “wall of sound” para The Long And Winding Road, por exemplo.

Entre outros trabalhos, Spector se incumbiria da produção de clássicos do porte de John Lennon- Plastic Ono Band (1970), Imagine (1971) e Some Time In New York (1972), de Lennon, e All Things Must Pass (1970) e The Concert For Bangladesh (1971), de George Harrison

Em 1973, a excentricidade que já acompanhava o produtor americano começou a se tornar mais aparente. Tudo começou com o álbum de releituras de clássicos do rock que ele começou a produzir para John Lennon. Depois de algumas semanas de trabalho, ele simplesmente sumiu com as fitas master do álbum, deixando o ex-beatle simplesmente atordoado. O material só seria devolvido depois de meses, e a partir dali, Lennon tomou conta ele próprio da produção do LP, que sairia em 1975 com o título Rock And Roll.

Em 1974, Phil sofreu um grave acidente de carro, e por muito pouco não abreviou em uns bons anos o seu tempo de vida. Reza a lenda que foi a partir daí que, por causa de cicatrizes que ganhou com a batida, passou a usar perucas, que com o decorrer dos anos foram se tornando cada vez mais bizarras.

Em 1974, o grande Dion DiMucci, conhecido por clássicos do rock como Runaround Sue e I Wonder Why, resolveu apostar em Spector para produzir um de seus álbuns. O resultado foi Born To Be With You (1975), que Dion odiou tanto a ponto de definir sua sonoridade como de “música para trilha sonora de velório”. Há quem goste muito deste LP, no entanto.

Aliás, essa passou a ser a marca de Spector como produtor a partir daí: assinar trabalhos não apreciados pelos artistas que os lançaram, mas cultuados por fãs e por outros artistas. O próximo da lista foi Death Of a Ladies Man (1977), do canadense Leonard Cohen.

A coisa pegou mesmo em 1980, quando ele foi escolhido para tentar dar aos Ramones um disco que vendesse bastante. End Of The Century (1980) teve um resultado comercial bem modesto, e também arrancou comentários ácidos por parte de Johnny e Marky Ramone acerca do produtor, incluindo relatos de horas infindáveis para gravar um único acorde e reuniões tétricas na mansão de Spector, com direito a filmes bizarros sendo exibidos e armas de fogo podendo ser acionadas a qualquer momento.

A partir de 1981, quando coproduziu Seasons of Glass (1981), álbum que Yoko Ono lançou poucos meses após a morte de John Lennon, Phil Spector foi aos poucos saindo de cena. Um momento de destaque ocorreu em 1991 com o lançamento de Back To Mono (1958-1969), luxuosa caixa com 4 CDs reunindo 60 faixas produzidas e/ou compostas por ele e também o álbum natalino em sua íntegra. Esse produto ajudou a resgatar a importância da sua obr.

Em 2003, no entanto, a parte sombria da personalidade do produtor americano veio mais uma vez à tona, e desta vez de forma trágica. Ele matou com um tiro na boca em sua mansão na Califórnia a atriz e modelo Lana Clarkson (1962-2003). O julgamento final ocorreu em 2009 e rendeu a Spector uma pena de 19 anos de reclusão. Há também provas de que ele teria cometido delitos graves contra filhos e ex-esposas, mas prefiro não me estender nessa área.

Nesses anos de ostracismo, ele foi cogitado para ser um dos produtores de Falling Into You (1996), álbum que solidificou a carreira internacional da canadense Céline Dion, mas ele não teria conseguido se entrosar com a equipe da cantora. Seu provável último trabalho ocorreu no álbum Silent Is Easy (2003), do grupo inglês Starsailor, que traz duas músicas produzidas por ele, incluindo a faixa-título, que no formato single atingiu o 10º lugar na parada britânica. O último hit com sua griffe.

O lado bom de Phil Spector deixou como herança grandes álbuns e canções, mesmo sem nunca ter tido a unanimidade de público e dos outros profissionais do ramo. O negativo, por sua vez, mostrou um profissional nem sempre confiável, de ego exacerbado, e um ser humano capaz das maiores atrocidades em seus relacionamentos pessoais. Uma espécie de Dr. Jeckyl e Mr. Hyde da vida real.

Be My Baby– The Ronettes:

Alex Kapranos relê clássico dos anos 1960 com Clara Luciani

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Por Fabian Chacur

O cantor, compositor e músico escocês Alex Kapranos, vocalista da banda Franz Ferdinand, aproveitou bem sua quarentena gerada pela pandemia do novo coronavírus. Ele se uniu à cantora francesa Clara Luciani para, juntos, relerem um clássico dos anos 1960. Trata-se de Summer Wine, canção do cantor e compositor country americano Lee Hazelwood gravado por ele em 1967 em um dueto com a cantora Nancy Sinatra, filha de vocês sabem quem.

A primeira vez em que Kapranos e Luciani interpretaram essa música ocorreu durante um show dela no icônico Olympia, em Paris, e o resultado agradou tanto que ficou no ar a possibilidade de um registro em estúdio. Kapranos explica:

“Quando a quarentena começou, nós decidimos gravá-la – mais para nós que para qualquer outra coisa. Queríamos criar uma atmosfera de um mundo imaginário longe do confinamento que estávamos vivendo. Não que estivéssemos infelizes, mas a imaginação é o maior meio de escape e aventura. Foi gravada na minha casa na Escócia e mixada por nossos amigos Antonie e Pierre no estúdio em Paris. Quando tocamos para os nossos selos eles sugeriram um lançamento, então, aí está o single”.

Clara é uma das mais badaladas cantoras da nova geração do pop francês, e, graças à boa repercussão de seu bastante elogiado álbum Sainte-Victoire (2018), ganhou o prêmio Victories de La Musique (uma espécie de Grammy da França) como artista feminina este ano.

Summer Wine voltou às paradas de sucesso em 2017 em sua gravação de 1967 (ouça aqui) ao ser utilizada em um comercial de uma loja de departamentos de cunho mundial. A composição de Lee Hazelwood já foi regravada inúmeras vezes, incluindo versões com Demis Roussos e Nancy Boyd, The Corrs e Bono, Evan Dando e Sabrina Brooke e Lana Del Rey e Barrie-James O’Neill, para citar algumas das releituras mais conhecidas.

Summer Wine (clipe)- Alex Kapranos e Clara Luciani:

Stevie Wonder celebra 70 anos como um dos gênios da música

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Por Fabian Chacur

A voz de Stevie Wonder entrou na minha vida com a música Yester-Me Yester-You Yesterday, que lá pelos idos de 1969-1970 tocava e muito nas rádios paulistanas. Era faixa de seu álbum My Cherie Amour (1969). A partir dali, fui aos poucos mergulhando no maravilhoso universo musical desse grande cantor, compositor e músico americano, que nesta quarta-feira (13) chegou aos 70 anos de vida, dando-nos de presente uma carreira brilhante e repleta de grandes momentos. Um autêntico gênio no setor musical.

Stevie é um daqueles caras que parecem talhados para o estrelato. Seu talento para a música foi descoberto quando ele ainda era criança. Não enxergar se mostrou um obstáculo que o cara soube superar com uma desenvoltura absolutamente absurda. Tanto que, em 1962, lançou seu primeiro álbum, The Jazz Soul Of Little Stevie, jovem aposta da gravadora Motown, que então começava a despontar no cenário americano.

Após gravar um álbum em homenagem a uma de suas inspirações, Ray Charles (Tribute To Uncle Ray-1962), Stevie surpreendeu a todos ao atingir o topo da parada pop americana com o álbum ao vivo Recorded Live: The 12 Old Genius (1963), sucesso impulsionado pelo galopante single Fingertips, que também ponteou os charts, no setor singles.

Em um período mais ou menos rápido, Wonder foi criando uma personalidade própria, com o apoio do mentor Clarence Paul e do presidente da Motown, Berry Gordy. O crítico e pesquisador musical Zeca Azevedo sempre se queixa do fato de a imprensa musical normalmente deixar um pouco de lado essa fase inicial da carreira do artista, e está repleto de razão, pois temos pencas de momentos bacanas nesses anos de aprendizado.

Não faltam músicas maravilhosas nesse período que vai até 1970. Só para citar algumas, vamos da já comentada Yester-Me Yester-You Yesterday e prosseguir com outras pepitas: I Was Made For Love Her, Uptight (Everything’s Alright), For Once In My Life, My Chérie Amour, Signed Sealed Delivered I’m Yours e Pretty World (versão em inglês de Sá Marina, de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar). Em 1970, Stevie já era um artista repleto de hits e discos bacanas.

Só que em 1971, ao completar 21 anos e atingir a maioridade, ele enfim teve acesso a todo o dinheiro que ganhou naqueles anos todos. Isso lhe deu a independência financeira para experimentar novos rumos musicais, e também para negociar um novo contrato com a Motown Records que lhe desse a liberdade artística que desejava, seguindo os passos do colega de gravadora Marvin Gaye. Gordy rateou, mas acabou dando o braço a torcer.

A parceria com os integrantes do inovador grupo Tonto’s Expanding Head Band, Robert Margouleff and Malcolm Cecil, abriu a ele um universo de novas possibilidade em termos de sons de teclados. Isso veio à tona no álbum Music Of My Mind (1972), que inclui a maravilhosa Superwoman (Where Were You When I Needed You), um de seus clássicos superlativos.

Até o fim dos anos 1970, Stevie Maravilha gravou alguns dos melhores discos de todos os tempos, os maravilhosos Talking Book (1972), Innervisions (1973) e Fulfillingness’ First Finale (1974). Em 1975, não lançou um novo LP, e Paul Simon brincou ao receber seu Grammy de melhor álbum do ano por Still Crazy After All These Years, pois Wonder havia faturado nos dois anos anteriores.

Em 1976, Wonder tirou a diferença com o álbum-duplo Songs In The Key Of Life, que no formato vinil trazia dois LPs e um compacto duplo adicional. O sucesso foi estrondoso, e foi inevitável o cidadão abocanhar mais um Grammy de melhor álbum do ano. Ali, já estava sacramentada a abrangência da música de Wonder, misturando soul, funk, jazz, música africana, latinidades, pop e muito mais.

Nesse período de quatro anos, Stevie Wonder nos proporcionou pérolas sonoras de raríssimo valor do porte de You Are The Sunshine Of My Life, Higher Ground, Superstition, Living For The City, All In Love Is Fair, You Haven’t Done Nothing, Sir Duke, As, I Wish, Boogie On Reggae Woman e muitas outras, entre hits e faixas ótimas “escondidas” nos álbuns.

Em 1979, lançou o ambicioso álbum duplo Stevie Wonder’s Journey Through “The Secret Life of Plants feito inicialmente para trilha de um documentário mas que ganhou vida própria. Se só trouxesse a encantadora e envolvente balada Send One Your Love já valeria o preço, mas tem muito mais, embora não tenha tido o mesmo sucesso comercial de seus trabalhos anteriores.

Hotter Than July (1980) o trouxe com mais força aos charts, trazendo clássicos de seu repertório como o envolvente reggae Master Blaster (Jammin’), uma bela homenagem a Bob Marley, e a fantástica Happy Birthday, tributo ao grande Martin Luther King que virou hino de sua bela campanha para que a data de nascimento desse grande ativista virasse um feriado nacional nos EUA, o que acabou se concretizando.

Em 1982, mais dois itens bacanas em sua trajetória: ele lançou a coletânea dupla Stevie Wonder’s Original Musiquarium I, com 12 hits da fase 1972-1980 e quatro petardos inéditos: That Girl, Do I Do (com participação especial do ícone do jazz Dizzy Gillespie), Front Line e Ribbon In The Sky. De quebra, ainda gravou dois duetos com Paul McCartney incluídos no álbum Tug Of War, do ex-beatle: Ebony And Ivory e What’s That You’re Doing, ambas ótimas.

Até o fim dos anos 1980, lançou os hits Part-Time Lover, Overjoyed e I Just Call To Say I Love You e participou com destaque de We Are The World, do projeto beneficente USA For Africa. Characters (1987) não vendeu tanto, mas traz a energética Skeletons e um dueto com Michael Jackson, Get It.

Após a ótima trilha para o filme Jungle Fever (1991), de Spike Lee, os lançamentos inéditos de Stevie Wonder passaram a ser bem mais esparsos. Na verdade, nos últimos 29 anos, foram só dois novos álbuns de estúdio com faixas inéditas: Conversation Peace (1995) e A Time For Love (2005).

Ele continuou fazendo shows e participando de discos de outros artistas, entre os quais Sting, Luciano Pavarotti, Babyface, Herbie Hancock, The Dixie Humminbirds, Elton John, Gloria Estefan e inúmeros outros. Também lançou um esplêndido DVD gravado ao vivo, Live At Last- A Wonder Summer’s Night (2009), gravado ao vivo na imensa O2 Arena, em Londres com altíssima qualidade técnica e na qual ele dá uma bela geral em seu fantástico songbook se mostrando em plena forma.

O astro vendeu mais de 100 milhões de discos nesses anos todos, além de influenciar inúmeros outros artistas. Ele faturou 25 troféus Grammy e também um Grammy pelo conjunto de sua carreira, além de ser o único a ganhar o laurel de melhor álbum do ano com três lançamentos consecutivos. Seus shows no Brasil em 1971 (gravado pela TV Record e exibido por essa emissora) e em 1995 foram marcantes, com grande repercussão de público e crítica.

Com essa trajetória maravilhosa humildemente resumida aqui, Stevie Wonder nos mostrou como um ser humano pode atingir o ponto alto de seu potencial artístico ao superar limitações e desenvolver com rara habilidade canções capazes de cativar as mais distintas gerações. Gênio!

Yester-me Yester-you Yesterday– Stevie Wonder:

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