Por Fabian Chacur

O Kiss é uma das bandas mais peculiares da história do rock and roll.

Atualmente, tem boa aceitação perante a crítica especializada, embora fosse totalmente execrado pela imprensa roqueira nas décadas de 70 e 80.

Como explicar o sucesso permanente e totalmente consolidado desse grupo, quase 40 anos após o seu surgimento?

Fazendo uma analogia futebolística, é o fato de a soma de individualidades comuns resultar em algo muito maior do que se poderia esperar.

Explico melhor. Nenhum dos músicos da formação original do Kiss é um virtuose. O melhor é o guitarrista Ace Frehley, que, mesmo assim, não chega aos pés dos grandes mestres do rock and roll.

As músicas da banda também ficam muito aquém de clássicos dos Beatles, Rolling Stones, Deep Purple e tantos outras por aí. Mas são bem bacanas, mesmo assim.

No entanto, o senso de profissionalismo e de profundo respeito aos fãs possibilitou ao grupo americano conquistar um lugar entre as grandes bandas da história do rock.

O carisma, a ambição e a cara de pau do cantor, compositor e baixista Gene Simmons é a pedra de toque do projeto Kiss, ladeado pelo cantor, compositor e guitarrista Paul Stanley.

O já elogiado guitarrista Ace Frehley e o competente baterista e cantor Peter Criss completavam o time.

Com as caras pintadas e shows repletos de efeitos especiais dignos do melhor espetáculo de entretenimento possível em qualquer área, o quarteto lançou seu autointitulado primeiro álbum em 1974.

Hotter Than Hell (1974) e Dressed To Kill (1975) viriam a seguir. Se os shows do quarteto tornavam-se cada vez mais lotados, isso não refletia em grandes vendagens de seus álbuns.

Como superar tal impasse? Afinal de contas, a gravadora Casablanca não iria aguentar muito tempo uma banda com fracos resultados comerciais em seu elenco.

Aí, algum “gênio” teve a seguinte ideia: lançar um álbum duplo gravado ao vivo.

Como? Um disco duplo composto exclusivamente por canções lançadas nos trabalhos de estúdio anteriores que pouco venderam?

Parecia coisa de doido reciclar as mesmas músicas em um pacote mais caro composto por dois discos.

No entanto, se analisado hoje de forma fria e calculista, o projeto tinha tudo a ver, pois traria para o vinil o clima quente e alucinado das apresentações ao vivo que o público prestigiava com tanta fidelidade.

Para a produção, foi convocado Eddie Kramer, que trabalhou com Jimi Hendrix e Led Zeppelin, além de ter produzido uma demo do quarteto em sua fase inicial.

Um cara que sabe como poucos extrair a essência de uma apresentação ao vivo e registrá-la em disco de forma consistente.

O resultado não poderia ter sido melhor. Como bela amostra dos shows do quarteto, Alive! deu uma boa revigorada em músicas legais como Deuce, Strutter, Got To Choose, Nothin’ To Lose e Cold Gin.

Melhor: turbinou a já muito interessante Rock And Roll All Nite, que em sua versão “live” tornou-se o primeiro grande hit do Kiss nas paradas pop.

Melhor: Alive! marcou a primeira vez em que os caras pintadas do rock and roll atingiram o top 10 da parada americana, com um ótimo número 9.

Pronto. O encanto havia sido quebrado, e o Kiss também se tornava um campeão de venda de discos.

Isso, mesmo sem apresentar nada musicalmente original.

Alive! flagra uma banda cuja sonoridade é nitidamente baseada em Free, Jimi Hendrix, The Sweet, Slade e outras bandas de hard e glam rock.

Nada contra, pois a eficiência dos caras é realmente elogiável.

Posteriormente, o Kiss lançou várias coisas interessantes e músicas ainda melhores, como I Was Made For Lovin’ You e I Love It Loud, entre outras.

Mas Alive! é considerado até hoje como um dos momentos máximos de Gene Linguarudo e sua patota.

Tanto que, em sua mais recente passagem pelo Brasil, eles tocaram o repertório do álbum na íntegra.

Se você não pode ser o melhor, seja o maior. Eis o lema do Kiss, cumprido à risca.

Ouça Rock And Roll All Nite, um dos maiores clássicos do Kiss: