Mondo Pop

O pop de ontem, hoje, e amanhã...

Tag: rock anos 1970 (page 2 of 5)

All Things Must Pass será relançado em versões luxuosas

all things must pass capa 400x

Por Fabian Chacur

Como forma de celebrar os 50 anos de All Things Must Pass, um dos álbuns mais importantes e mais bem-sucedidos em termos comerciais da carreira de George Harrison, a Universal Music lançará no dia 6 de agosto novas versões deste trabalho, com produção executiva e coordenação da remasterização a cargo do filho do ex-beatle, Dhani Harrison. Serão disponibilizados diversos formatos físicos e digitais (conheça todos aqui). Também temos um vídeo informativo (veja aqui).

De todos os formatos, o mais completo é intitulado Uber Deluxe Edition, que traz todo o conteúdo, com direito a 5 CDs, 8 LPs de vinil 180 gramas, um livreto com 96 páginas e outro com 44 páginas repletos de fotos, textos e informações detalhadas sobre as gravações e também memorabilia. São 70 faixas no total, sendo 42 delas nunca antes lançadas, entre demos, versões alternativas e quetais. Essa versão tem uma caixa de madeira como embalagem e também traz um blu-ray de áudio com mixagem em surround Atmos hi-res.

Em comunicado enviado à imprensa, Dhani fala sobre essa versão do álbum:

“Trazer maior clareza sonora a este álbum sempre foi um dos desejos do meu pai, e era algo em que estávamos trabalhando juntos até ele falecer, em 2001. Agora, 20 anos depois, com a ajuda de novas tecnologias e o extenso trabalho de mixagem de Paul Hicks, realizamos esse desejo e apresentamos a vocês este lançamento muito especial do 50º aniversário de talvez sua maior obra de arte. Todos os desejos foram atendidos”.

Eis as faixas da versão em 5 CDs de All Things Must Passs:

Disc 1 (Main Album)
1. I’d Have You Anytime
2. My Sweet Lord
3. Wah-Wah
4. Isn’t It A Pity (Version One)
5. What Is Life
6. If Not For You
7. Behind That Locked Door
8. Let It Down
9. Run Of The Mill

Disc 2 (Main Album)
1. Beware Of Darkness
2. Apple Scruffs
3. Ballad Of Sir Frankie Crisp (Let It Roll)
4. Awaiting On You All
5. All Things Must Pass
6. I Dig Love
7. Art Of Dying
8. Isn’t It A Pity (Version Two)
9. Hear Me Lord
10. Out Of The Blue *
11. It’s Johnny’s Birthday *
12. Plug Me In *
13. I Remember Jeep *
14. Thanks For The Pepperoni *

* Newly Remastered/Original Mix

Disc 3 (Day 1 Demos – Tuesday 26 May 1970)
1. All Things Must Pass (Take 1) †
2. Behind That Locked Door (Take 2)
3. I Live For You (Take 1)
4. Apple Scruffs (Take 1)
5. What Is Life (Take 3)
6. Awaiting On You All (Take 1) †
7. Isn’t It A Pity (Take 2)
8. I’d Have You Anytime (Take 1)
9. I Dig Love (Take 1)
10. Going Down To Golders Green (Take 1)
11. Dehra Dun (Take 2)
12. Om Hare Om (Gopala Krishna) (Take 1)
13. Ballad Of Sir Frankie Crisp (Let It Roll) (Take 2)
14. My Sweet Lord (Take 1) †
15. Sour Milk Sea (Take 1)

Disc 4 (Day 2 Demos – Wednesday 27 May 1970)
1. Run Of The Mill (Take 1) †
2. Art Of Dying (Take 1)
3. Everybody/Nobody (Take 1)
4. Wah-Wah (Take 1)
5. Window Window (Take 1)
6. Beautiful Girl (Take 1)
7. Beware Of Darkness (Take 1)
8. Let It Down (Take 1)
9. Tell Me What Has Happened To You (Take 1)
10. Hear Me Lord (Take 1)
11. Nowhere To Go (Take 1)
12. Cosmic Empire (Take 1)
13. Mother Divine (Take 1)
14. I Don’t Want To Do It (Take 1)
15. If Not For You (Take 1)

† Previously Released

Disc 5 (Session Outtakes and Jams)
1. Isn’t It A Pity (Take 14)
2. Wah-Wah (Take 1)
3. I’d Have You Anytime (Take 5)
4. Art Of Dying (Take 1)
5. Isn’t It A Pity (Take 27)
6. If Not For You (Take 2)
7. Wedding Bells (Are Breaking Up That Old Gang Of Mine) (Take 1)
8. What Is Life (Take 1)
9. Beware Of Darkness (Take 8)
10. Hear Me Lord (Take 5)
11. Let It Down (Take 1)
12. Run Of The Mill (Take 36)
13. Down To the River (Rocking Chair Jam) (Take 1)
14. Get Back (Take 1)
15. Almost 12 Bar Honky Tonk (Take 1)
16. It’s Johnny’s Birthday (Take 1)
17. Woman Don’t You Cry For Me (Take 5)

Run Of The Mill (Take 36) (clipe)- George Harrison:

Bob Dylan celebra 80 anos ainda muito relevante e bastante ativo

bob dylan

Por Fabian Chacur

No dia 19 de novembro de 1995, Bob Dylan participou de um show que celebrou os 80 anos de vida de Frank Sinatra. Ele interpretou a canção Restless Farewell no palco do The Shrine Auditorium, de Los Angeles. Posteriormente, regravaria algumas das canções que consagraram The Voice no álbum Shadows In The Night (2015). Agora, chega a vez dele, autor de clássicos como Blowin’ In the Wind, comemorar oito décadas de vida nesta segunda-feira (24) ainda se mantendo bastante relevante e produtivo.

O termo lenda vida (living legend, em inglês) de certa forma se banalizou nas últimas décadas, mas cabe feito luva se nos referirmos a Bob Dylan. Afinal de contas, não faltam elementos para se justificar chamá-lo dessa forma. Para começo de conversa, trata-se da única pessoa a ter em sua estante de troféus ao menos um exemplar de Grammy, Oscar, Globo de Ouro, Pulitzer e Nobel. E isso não ocorreu por acaso ou protecionismo.

Nascido em 24 de maio de 1941, Robert Allen Zimmerman tinha como ídolos Little Richard e Woody Guthrie, dois artistas teoricamente incompatíveis em termos de estilos musicais. Coube a ele ser um dos pioneiros na mistura desses dois caminhos musicais, e ajudou de forma decisiva o rock a ganhar respeitabilidade cultural, graças a letras profundas e com forte conteúdo social.

Inicialmente, Dylan tornou-se conhecido graças a canções folk de temática social como Blowin’ In The Wind e The Times They Are-a-Changing. Em seu 5º álbum, Bringing It All Back Home, surpreendeu os fãs ao injetar fortes doses de rock and roll naquela sonoridade, caminho aprofundado no seminal álbum seguinte, Highway 61 Revisited, lançado naquele mesmo 1965 e incluindo um dos hinos máximos da música popular, a fantástica Like a Rolling Stone.

Nos shows que realizou entre o final de 1965 e a primeira metade de 1966, explicitou essa adesão ao rock, embora sem abandonar sua veia folk. Parte dos fãs, especialmente os seguidores xiitas do folk, passaram a vaiá-lo, com alguns o chamando de Judas, como se estivesse traindo um movimento. Radicalismo purista. Na verdade, Dylan nunca traiu seus princípios, e nem a si mesmo.

Nesses shows, foi acompanhado por um time de músicos que, oriundos do Canadá, ficariam conhecido mundialmente a partir de 1968 como The Band, um dos melhores e mais importantes grupos de rock de todos os tempos. Em 1967, quando o músico americano se recuperava de um grave acidente de moto sofrido no ano anterior, ele gravaria com os amigos um repertório de músicas que só seria lançado em 1975 com o título The Basement Tapes.

A partir deste momento, a trajetória de Bob Dylan se mostra sempre repleta de elementos imprevisíveis. Lançou discos com pegada country. Investiu em sonoridade próxima do gospel. Quando era tido como decadente, voltou em 1974 com Planet Waves, álbum que o colocou no 1º lugar da parada americana pela primeira vez. A turnê que realizou para divulgá-lo, novamente acompanhado pelo The Band, rendeu um dos melhores álbuns ao vivo de todos os tempos, o sublime Before The Flood, lançado naquele mesmo 1974 e atingindo o 3º lugar nos charts.

Daí pra frente, o autor de Like a Rolling Stone sempre surpreendeu. Lançou uma polêmica trilogia de discos para celebrar sua adesão ao cristianismo. Voltou às paradas de sucesso com mais força com Infidels (1983). Nos anos 1980, fez concorridos shows ao lado do Grateful Dead e também com Tom Petty And The Heartbreakers.

Em 1988, integrou um verdadeiro super grupo, The Traveling Wilburys, ao lado de Roy Orbison, George Harrison, Tom Petty e Jeff Lynne, com o qual lançou dois festejados álbuns. Nos anos 1990, foi um dos vários artistas a lançar um álbum Unplugged em parceria com a MTV. O público brasileiro teve, enfim, a chance de vê-lo em shows, que ocorreram no Hollywood Rock em 1990 e abrindo para os Rolling Stones em 1998, entre outras ocasiões, sempre festejadas pelo público e crítica especializada.

Em 2006, mais uma façanha para seu currículo: conseguiu novamente atingir o primeiro lugar na parada americana, desta vez com o álbum Modern Times, 30 anos após ter obtido tal posicionamento com Desire (1976). E seus discos continuam atraindo ótimas vendagens, vide o mais recente, Rough And Rowdy Days (2020), que atingiu o 2º posto nos charts americanos.

E vale lembrar que, nesses anos todos, Dylan se manteve permanentemente na estrada, cantando pelos quatro cantos do mundo. Um artista que nunca se dobrou ao comercialismo, que sempre impôs o seu modo de cantar, tocar e compor às gravadoras e aos contratantes de shows, e que permanece um modelo a ser seguido por quem pensa em fazer um trabalho que possa ser relevante. Ah, ele também celebra neste ano 60 anos do lançamento de seu primeiro álbum. Ou seja, há muito a se comemorar, por ele e por seus milhões de fãs.

Ouça Highway 61 Revisited na íntegra em streaming:

Mud Slide Slim And The Blue Horizon (Warner-1970), álbum que consagrou James Taylor

james taylor mud slide slim capa

Por Fabian Chacur

Em 1º de março de 1971, a revista americana Time, uma das mais importantes e influentes do mundo, estampou em sua capa um músico, algo não muito comum. O personagem em questão era James Taylor, que com seu álbum Sweet Baby James (1970, leia sobre o mesmo aqui) tornou-se o nome de ponta de um novo estilo musical rotulado por alguns como bittersweet rock (rock agridoce). O título dava bem o tom de como o cantor, compositor e musico era encarado naquele momento: “The Face Of New Rock”.

Logo a seguir, no dia 16 do mesmo mês, Taylor concorreu pela primeira vez ao Grammy, o Oscar da música, e logo em duas categorias, Record Of The Year e Album Of The Year, respectivamente com Fire And Rain e Sweet Baby James, perdendo em ambas para Simon & Garfunkel e seu Bridge Over Trouble Water (single e álbum). Como a dupla havia se separado há pouco, era como se fosse um prêmio de despedida para eles, pois no ano seguinte, seria a vez do perdedor dessa ocasião levar os louros.

Era em torno de uma grande expectativa, portanto, que o mundo musical aguardava pelo 3º álbum de James Taylor. Conseguiria ele confirmar toda essa badalação em torno de suas belas canções de tom melancólico, confessional e ao mesmo tempo encantadoras? Ou estaríamos mais uma vez diante de um artista com pouco fôlego para dar sequência a um sucesso tão contundente nos EUA e no resto do mundo?

A resposta começou a ser dada em abril, quando chegou às lojas Mud Slide Slim And The Blue Horizon. Trata-se de um trabalho que percorre basicamente os mesmos caminhos musicais do anterior, mas investindo em sutilezas, consolidação das sonoridades e uma inspiração no mesmo alto padrão de Sweet Baby James. Há fatores que auxiliaram nesse amadurecimento musical, nessa verdadeira lapidação do diamante que Taylor aparentava ser desde suas primeiras gravações, em 1966-67.

Tudo começa com o elenco de músicos escalados para este disco. Além do velho amigo Danny Kortchmar na guitarra e do extremamente consistente Russel Kunkel na bateria, e também da amiga Carole King no piano e vocais, foi acrescido ao time o baixista Lelank Sklar, que com suas linhas de baixo flutuantes e elegantes deu ao time a peça que lhe faltava. O entrosamento deles deu à voz deliciosa, às composições impecáveis e ao violão dedilhado de forma marcante de Taylor um acompanhamento simplesmente perfeito, sem excessos ou buracos.

Com essa roupagem, as 13 canções incluídas no álbum foram apresentadas ao público da maneira mais atrativa possível. E os fãs que compraram o trabalho anterior passaram imediatamente a consumir com avidez este novo, especialmente impulsionados por um single que é curiosamente uma das únicas duas faixas a não levar a assinatura de Taylor, You’ve Got a Friend, uma das obras-primas dessa incrível e icônica Carole King.

Atraído por essa música logo na primeira vez que a ouviu, ele pediu autorização à amiga para gravá-la também, já que Carole também a havia separado para seu próximo trabalho. Generosa, a moça não criou obstáculos, e obviamente se deu bem, pois deve ganhar uma boa grana até hoje com os direitos autorais provenientes da versão de Taylor. Uma curiosidade: ele toca na gravação dela, mas ela não participa da dele, que não inclui teclados.

Essa bela ode à amizade é um oásis de positividade em um universo de canções que evocam amores não concretizados, paixões sendo encerradas com dor e a constatação de que o mundo do sucesso não é esse doce todo que muitos pensam ser. As melodias encantadores mascaram versos que, por vezes, invocam ironia, amargura e uma nostalgia curiosa para alguém que completou apenas 23 anos no dia 12 de março daquele 1971.

O álbum abre com a incisiva Love Has Brought Me Around, na qual o autor dá a entender que não aguenta mais a pessoa com quem está tendo um relacionamento afetivo e resolve que chegou a hora de o amor o levar para algum outro lugar. Há uma curiosidade em torno dessa canção, pois ela parece uma mensagem quase direta à cantora canadense Joni Mitchell, com quem ele tinha tido um tórrido caso de amor que à época do lançamento deste LP já havia se desfeito, e de forma desagradável, gerando uma inimizade que durou uma década, até que os dois voltassem a ser amigos.

Ele, inclusive, refere-se à personagem da canção como “Miss November”, e Mitchell nasceu nesse mês, no dia 7. No entanto, ela participa desta faixa, fazendo vocais de apoio. Será que Taylor seria indelicado a ponto de convidar a musa dessa verdadeira canção de “passa, moleca!” para marcar presença na mesma? Fica o ponto de interrogação. Outro destaque fica por conta da participação do Memphis Horns, uma das mais quentes sessões de metais de todos os tempos, capitaneada por Wayne Jackson e Andrew Love.

You’ve Got a Friend, também com Mitchell nos vocais de apoio, vem a seguir para amainar um pouco o clima, com seu arranjo acústico calcado em violões (Taylor e Kortchmar), percussão e baixo. Uma delícia sonora!

Com Taylor curiosamente no piano, Places In My Past relembra de forma evocativa antigas paixões que, se não geraram uma esposa (como ele mesmo diz na letra), deixaram marcas que às vezes até geram lágrimas pelas saudades geradas pelos dias preguiçosos com aquelas belas garotas, naqueles “lugares do meu passado”.

Riding On A Railroad é a primeira profissão de fé deste álbum na missão estradeira de um cantor e compositor, levando as canções de cidade a cidade, dia após dia. O clima é de puro country, com destaque para o acompanhamento de fiddle (rabeca) de Richard Greene.

Soldiers registra momentos que Taylor presenciou quando era criança-adolescente, vendo o retorno de soldados (da Guerra da Coreia ou do Vietnã), vários deles feridos, comentando que de um destacamento de 20, por volta de 11 não retornaram, “com 11 tristes histórias a serem contadas”.

Mud Slide Slim (a música tem nome reduzido em relação ao título do álbum) soa como uma curiosa visão do mundo, que ele encara como se fosse uma espécie de cowboy, um “Magrelo Enlameado e Escorregadio”, tendo como pano de fundo uma sonoridade com dna latino e dando mais espaços para os músicos mostrarem suas habilidades, sem no entanto cair em improvisações excessivas ou coisa que o valha. A curiosidade fica por conta dos vocais de apoio de sua irmã Kate, que lançaria depois um álbum produzido por ele.

Hey Mister That’s Me Up On The Jukebox, uma vigorosa balada rock, reveste-se de fina ironia e equivale ao uso de metalinguagem, pois fala do próprio ato de cantar para ganhar a vida. “Ei, senhor, sou eu quem você ouve cantando lá naquela jukebox, sou eu quem está cantando essa canção triste, vou chorar toda vez que você colocar outra moeda na máquina”. Fire And Rain?

Valendo-se só de sua voz e violão, Taylor nos oferece uma bela canção de despedida, You Can Close Your Eyes, na qual ele afirma que “não conheço mais canções de amor, e não posso mais cantar blues, mas posso cantar esta canção, e você pode cantar essa canção quando eu for”. Um belo ode a um momento que ficará na memória, um tempo que não será tirado do casal, e durará para sempre na memória. Poesia pura!

Machine Gun Kelly, a outra canção do disco não escrita por Taylor (é de Danny Kortchmar), é um country rock vigoroso (dentro do contexto dele, obviamente) que novamente flerta com o espírito do velho oeste, seus bandoleiros e seus tristes destinos. Aqui, temos vocais de apoio do grande Peter Asher, produtor do álbum e figura decisiva na carreira de James Taylor, sem o qual provavelmente não teríamos o sucesso de nosso trovador pop.

Long Ago And Far Away é outra daquelas canções que casais brasileiros seriam tentados a dançar juntos, coladinhos, tal a beleza de sua melodia. Se soubessem o conteúdo de sua letra, no entanto, talvez pensassem melhor. Outra música de despedida, com versos cortantes como “porque seus arco-íris dourados acabam, porque essa canção que eu canto é tão triste?” E, ironia suprema, adivinhe quem faz vocais de apoio (belíssimos, por sinal) nesta maravilha? Ela, Joni Mitchell.

O momento soul-blues do álbum fica por conta de Let Me Ride, que traz ecos de canções do disco de estreia de Taylor, com direito a vocais de apoio de Kate Taylor e os matadores Memphis Horns. Mais uma profissão de fé na estrada como a grande necessidade dele. E logo a seguir vem outra canção com esta temática, Highway Song, com Kate e Peter Asher nos vocais. Mas as contradições ditam seus versos.

Se por um lado James se diz fascinado e de certa forma hipnotizado pela estrada, ao mesmo tempo deixa no ar uma vontade de que “um dia essa canção da estrada perca o encanto para mim”. E o álbum fecha com a curta, quase vinheta, Isn’t It Nice To Be Home Again, na qual não fica claro se o lar a que ele se refere é de fato um lar ou apenas mais um quarto de hotel da vida. Um fim aberto, como só poderia ser para alguém com tantas dúvidas e carências naquela época como esse genial James Taylor.

Com o apoio dos shows e também das execuções das músicas em rádios e TVs, o single You’ve Got a Friend atingiu o 1º lugar na parada americana, enquanto Mud Slide Slim And The Blue Horizonchegou ao 2º lugar. E aí entrar uma grande ironia: o LP não conseguiu atingir o topo por causa do estouro do álbum lançado na mesma época pela “sua” pianista. Tapestry, de Carole King, esteve durante 15 longas semanas no 1º lugar nos EUA, enquanto seu single It’s Too LateI Feel The Earth Move liderou entre os singles por 5 semanas.

Na edição do Grammy referente a 1971 cujos prêmios foram entregues em março de 1972, Taylor venceu na categoria melhor performance pop vocal com You’ve Got a Friend, enquanto Carole King faturou outros quatro. Curiosidade: a eleita como artista revelação foi Carly Simon, que há alguns meses havia iniciado uma relação afetiva com James Taylor. Eles se casaram naquele mesmo ano, tiveram dois filhos e se separaram em 1983.

Duas curiosidades finais: o elo entre James Taylor e Carole King foi Danny Kortchmar, que após ter integrado o primeiro grupo de James Taylor, o Flying Machine, criou com a cantora e compositora a banda The City, que também contava com o baixista Charles Larkey, então marido dela. Eles lançaram um álbum em 1968, o ótimo Now That Everything’s Been Said, com pouca repercussão, e em seguida Carole resolveu seguir carreira-solo, mas com os dois a acompanhando.

E, não, James e Carole nunca foram namorados. Eles desde sempre foram grande amigos, sendo que, nessa época decisiva de sua vida, King foi uma espécie de confidente dele, ajudando-o a superar suas dificuldades emocionais. E, não também, You’ve Got a Friend não foi composta para ele.

Na entrevista coletiva concedida por Carole King em 1990 em São Paulo quando esteve por aqui para fazer shows, um reporter desinformado perguntou a ela sobre seu “casamento” com James Taylor, e ela, bem-humorada, disse que “Carly Simon chegou primeiro”.

Ouça Mud Slide Slim And The Blue Horizon em streaming:

John Lennon/Plastic Ono Band (1970) volta em edição de luxo

john p o band 400x

Por Fabian Chacur

Lançado em 1970, meses após o fim dos Beatles, John Lennon/Plastic Ono Band é um álbum que aparece em praticamente todas as listas dos melhores trabalhos de todos os tempos. Para celebrar os 50 anos desse disco icônico, sairá no exterior John Lennon/Plastic Ono Band- The Ultimate Collection, que em sua versão super deluxe traz 2 CDs, 2 Blu-rays de áudio, dois cartões postais, um pôster e um livro com capa dura e 132 páginas repletas de fotos, informações e as letras das músicas.

O material, que totaliza 159 faixas, foi trabalhado pelos engenheiros de som Paul Hicks, Rob Stevens e Sean Gannon, e se divide entre demos, ensaios, out-takes, jam sessions e conversas entre os músicos. Um ponto interessante são as evolutionary documentary, montagens que mostram o desenvolvimento de cada uma das faixas do álbum original, desde a fase demo até a gravação final (master).

Um momento que certamente empolgará os fãs é o que traz jam sessions realizadas pelos músicos participantes das gravações (entre eles Ringo Starr) nas quais eles se divertem relendo clássicos do rock como Johnny B. Goode (Chuck Berry), Ain’t That a Shame (Fats Domino) e Send Me Some Lovin’ (Little Richard), sendo que Lennon imita Elvis Presley em um dos momentos mais marcantes.

No Blu-ray, também foram incluídas as versões longas das faixas do álbum Yoko Ono/Plastic Ono Band, que a artista japonesa gravou paralelamente ao álbum do marido. Aliás, o projeto, que também inclui versões em CD simples, CD duplo e LP duplo de vinil, contou com a supervisão dela.

Conheça mais detalhes sobre a box set aqui.

Veja o vídeo de apresentação do projeto John Lennon/Plastic Ono Band:

Can lançará gravações inéditas feitas em shows nos anos 1970

can-live-in-stuttgart-1975

Por Fabian Chacur

A partir do final dos anos 1960, surgiram na Alemanha uma série de bandas com sonoridades bem peculiares e que expandiam as possibilidades do rock, com um sotaque local próprio acrescido ao que já havia sido feito até então especialmente nos EUA e Inglaterra. Essa espécie de movimento foi rotulado pela imprensa especializada na época como Krautrock. Uma das bandas seminais daquele período, a extinta Can, terá uma série de álbuns inéditos ao vivo lançados nos próximos meses. O primeiro será Live In Stuttgart 1975.

O item inicial deste projeto chegará ao mercado internacional no dias 28 de maio nos formatos CD duplo, LP de vinil triplo e também nas plataformas digitais. A supervisão dos lançamentos ficou a cargo do produtor e engenheiro Rene Tinner e também do único integrante da formação original do Can ainda vivo, o tecladista Irmin Schmidt.

Criado em 1968 na cidade alemã de Colonia por Irmin, Holger Czukay (baixo e efeitos eletrônicos), Michael Karoli (guitarra) e Jaki Liebezeit (bateria), o grupo se manteve na ativa até o fim dos anos 1970. Com entradas e saídas de vários outros músicos, incluindo dois ex-integrantes da banda britânica Traffic- Roscoe Gee (baixo e vocais) e Rebop Kwaku Baah (percussão), eles nunca tiveram grande sucesso comercial, mas influenciaram inúmeras bandas e artistas, como Happy Mondays, Brian Eno e The Fall.

Ouça um trecho de Live In Stuttgart 1975:

Fleetwood Mac relança LP ao vivo de 1980 com faixas-bônus

fleetwood mac live 400x

Por Fabian Chacur

Está prevista para o dia 9 de abril o lançamento pela Warner Music da Super Deluxe Edition referente ao álbum Fleetwood Mac Live (1980). Trata-se de um relançamento luxuoso que no Brasil chegará apenas nas plataformas digitais. No exterior, teremos um CD triplo, um LP duplo de vinil e um single bônus de 7 polegadas com demos das faixas Fireflies e One More Night.

Lançado originalmente em dezembro de 1980, o álbum ao vivo flagra a seminal banda no auge de sua popularidade. Além de energéticas versões de canções de sucesso, o disco original também trazia como novidades três faixas até então inéditas na interpretação do quinteto. São elas One More Night (Christine McVie), Fireflies (Stevie Nicks) e The Farmer’s Daughter (Brian Wilson e Mike Love), esta última gravada originalmente pelos Beach Boys em 1963 no álbum Surfin’ USA.

O grande atrativo para os colecionadores é o terceiro CD, que conta com gravações ao vivo realizadas entre os anos de 1977 e 1982. Uma dessas faixas, The Chain, já está disponível nas plataformas digitais, e foi gravada em um show realizado em Cleveland no dia 20 de maio de 1980. O álbum original atingiu o 14º posto na parada dos EUA.

Disco 1: Album Original Remasterizado

Monday Morning
Say You Love Me
Dreams
Oh Well
Over & Over
Sara
Not That Funny
Never Going Back Again
Landslide

Disco 2: Álbum Original Remasterizado

Fireflies
Over My Head
Rhiannon
Don’t Let Me Down Again
One More Night
Go Your Own Way
Don’t Stop
I’m So Afraid
The Farmer’s Daughter

Disco 3 (gravações inéditas)

Second Hand News
The Chain
Think About Me
What Makes You Think You’re The One
Gold Dust Woman
Brown Eyes
The Green Manalishi (With The Two-Pronged Crown)
Angel
Hold Me
Tusk
You Make Loving Fun
Sisters Of The Moon
Songbird
Blue Letter
Fireflies – Remix – Long Version

Ouça The Chain (live 1980- Cleveland)- Fleetwood Mac:

Phil Spector, 81 anos, genial na música e um ser humano horrível

phil spector

Por Fabian Chacur

A trajetória de vida de Phil Spector equivale a um belo retrato das contradições inerentes ao ser humano. De um lado, o produtor, compositor e músico que marcou presença em grandes momentos da música, como discos de John Lennon, The Beatles, George Harrison, The Ronettes, The Crystals e The Righteous Brothers, entre outros. Do outro, um ser humano de temperamento difícil, cujo momento mais horrível foi um crime que lhe custou a liberdade. Ele nos deixou neste sábado (16) aos 81 anos, em um presídio na California. Triste final.

Spector nasceu em 26 de dezembro de 1939, fato curioso se levarmos em conta que um de seus trabalhos mais reverenciados foi um álbum natalino sobre o qual falarei mais à frente. Seu primeiro momento importante na carreira musical ocorreu em 1958 graças ao sucesso de To Know Him Is To Love Him, canção de sua autoria e gravada por sua banda na época, a Teddy Bears, na qual ele cantava e tocava guitarra. Atingir o primeiro lugar entre os singles nos EUA com apenas 19 anos e sendo o autor da música não é pra qualquer um.

Com o precoce fim do grupo que o lançou, em 1959, ele resolveu investir em seu lado compositor, produtor e empresário. Com o sucesso de Spanish Harlem, hit em 1960 com o cantor Ben E. King e parceria de Spector com o consagrado compositor e produtor Jerry Leiber (parceiro de Mike Stoller em inúmeros hits), seu prestígio aumentou, e ele resolveu montar a própria gravadora, a Philles Records, no final de 1961.

De forma inteligente, Phil montou um time com ótimos profissionais, entre os quais o arranjador Jack Nitzche (1937-2000), o engenheiro de som Larry Levine (1928-2008) e um elenco de ótimos músicos de estúdio (entre os quais Hal Blaine, Larry Knetchell e Carol Kaye) que depois seriam conhecidos pela alcunha Wrecking Crew. De quebra, buscou nomes promissores, entre os quais os grupos vocais The Ronettes, The Crystals e The Righteous Brothers.

Até 1966, Spector emplacaria inúmeros sucessos nas paradas pop como produtor e compositor pelo seu próprio selo, entre eles Be My Baby (The Ronettes), Da Doo Ron Ron (The Crystals) e You’ve Lost That Loving Feelin’ (The Righteous Brothers). Sua marca registrada era a utilização de uma técnica de estúdio apelidada de Wall Of Sound, na qual ele se valia de uma verdadeira orquestra de músicos para dar um tom apoteótico para cada canção, definida por ele próprio como “uma abordagem Wagneriana para o rock and roll” ou “pequenas sinfonias para as crianças”.

Em 1963, Phil Spector resolveu fazer um disco para celebrar o Natal, uma das festas mais queridas pelo público americano, e lançou A Christmas Gift For You From Phillis Records, com a participação de Darlene Love, The Ronettes e The Crystals, entre outros. O disco não fez sucesso logo de cara, quem sabe pela infelicidade de ter sido lançado no mesmo dia em que John F. Kennedy foi assassinado, mas com o decorrer dos anos se tornou um clássico, também chamado de Phil Spector’s Christmas Album.

Em 1966, apostou todas as suas fichas no sucesso de River Deep-Mountain High, a rigor a primeira gravação solo de Tina Turner. Apesar da inegável qualidade da gravação, elogiada pelos críticos, o single só atingiu o modestíssimo nº 88 nos EUA, embora tenha sido 3º lugar no Reino Unido. Aparentemente, a decepção o levou a sair de cena até 1969.

Naquele ano, começou sua relação com os Beatles e seus integrantes. No início de 1970, Instant Karma!, de John Lennon, foi o primeiro fruto daquela nova fase dele. Em seguida, incumbiu-se da produção da trilha do filme Let It Be, retrabalhando as gravações feitas anteriormente por George Martin e Glynn Johns. O resultado obteve grande resultado comercial, mas teve repercussão diversificada entre os críticos. Paul McCartney odiou o arranjo “wall of sound” para The Long And Winding Road, por exemplo.

Entre outros trabalhos, Spector se incumbiria da produção de clássicos do porte de John Lennon- Plastic Ono Band (1970), Imagine (1971) e Some Time In New York (1972), de Lennon, e All Things Must Pass (1970) e The Concert For Bangladesh (1971), de George Harrison

Em 1973, a excentricidade que já acompanhava o produtor americano começou a se tornar mais aparente. Tudo começou com o álbum de releituras de clássicos do rock que ele começou a produzir para John Lennon. Depois de algumas semanas de trabalho, ele simplesmente sumiu com as fitas master do álbum, deixando o ex-beatle simplesmente atordoado. O material só seria devolvido depois de meses, e a partir dali, Lennon tomou conta ele próprio da produção do LP, que sairia em 1975 com o título Rock And Roll.

Em 1974, Phil sofreu um grave acidente de carro, e por muito pouco não abreviou em uns bons anos o seu tempo de vida. Reza a lenda que foi a partir daí que, por causa de cicatrizes que ganhou com a batida, passou a usar perucas, que com o decorrer dos anos foram se tornando cada vez mais bizarras.

Em 1974, o grande Dion DiMucci, conhecido por clássicos do rock como Runaround Sue e I Wonder Why, resolveu apostar em Spector para produzir um de seus álbuns. O resultado foi Born To Be With You (1975), que Dion odiou tanto a ponto de definir sua sonoridade como de “música para trilha sonora de velório”. Há quem goste muito deste LP, no entanto.

Aliás, essa passou a ser a marca de Spector como produtor a partir daí: assinar trabalhos não apreciados pelos artistas que os lançaram, mas cultuados por fãs e por outros artistas. O próximo da lista foi Death Of a Ladies Man (1977), do canadense Leonard Cohen.

A coisa pegou mesmo em 1980, quando ele foi escolhido para tentar dar aos Ramones um disco que vendesse bastante. End Of The Century (1980) teve um resultado comercial bem modesto, e também arrancou comentários ácidos por parte de Johnny e Marky Ramone acerca do produtor, incluindo relatos de horas infindáveis para gravar um único acorde e reuniões tétricas na mansão de Spector, com direito a filmes bizarros sendo exibidos e armas de fogo podendo ser acionadas a qualquer momento.

A partir de 1981, quando coproduziu Seasons of Glass (1981), álbum que Yoko Ono lançou poucos meses após a morte de John Lennon, Phil Spector foi aos poucos saindo de cena. Um momento de destaque ocorreu em 1991 com o lançamento de Back To Mono (1958-1969), luxuosa caixa com 4 CDs reunindo 60 faixas produzidas e/ou compostas por ele e também o álbum natalino em sua íntegra. Esse produto ajudou a resgatar a importância da sua obr.

Em 2003, no entanto, a parte sombria da personalidade do produtor americano veio mais uma vez à tona, e desta vez de forma trágica. Ele matou com um tiro na boca em sua mansão na Califórnia a atriz e modelo Lana Clarkson (1962-2003). O julgamento final ocorreu em 2009 e rendeu a Spector uma pena de 19 anos de reclusão. Há também provas de que ele teria cometido delitos graves contra filhos e ex-esposas, mas prefiro não me estender nessa área.

Nesses anos de ostracismo, ele foi cogitado para ser um dos produtores de Falling Into You (1996), álbum que solidificou a carreira internacional da canadense Céline Dion, mas ele não teria conseguido se entrosar com a equipe da cantora. Seu provável último trabalho ocorreu no álbum Silent Is Easy (2003), do grupo inglês Starsailor, que traz duas músicas produzidas por ele, incluindo a faixa-título, que no formato single atingiu o 10º lugar na parada britânica. O último hit com sua griffe.

O lado bom de Phil Spector deixou como herança grandes álbuns e canções, mesmo sem nunca ter tido a unanimidade de público e dos outros profissionais do ramo. O negativo, por sua vez, mostrou um profissional nem sempre confiável, de ego exacerbado, e um ser humano capaz das maiores atrocidades em seus relacionamentos pessoais. Uma espécie de Dr. Jeckyl e Mr. Hyde da vida real.

Be My Baby– The Ronettes:

Stevie Nicks mostra single prévio extraído de novo álbum ao vivo

stevie nicks live in concert 400x

Por Fabian Chacur

A presença de palco de Stevie Nicks sempre foi um de seus pontos altos em termos artísticos, nesses seus quase 50 anos de estrada. Logo, trabalhos nos quais ela foi flagrada ao vivo, na carreira solo ou como integrante do Fleetwood Mac, sempre atraem as atenções dos seus milhões de fãs mundo afora. O mais recente sairá no dia 4 de novembro. Trata-se de Live In Concert- The 24 Karat Gold Tour, gravado ao vivo em 2017 e agora lançado pela gravadora BMG.

O conteúdo deste live album foi registrado em dois shows durante a turnê que divulgou o álbum 24 Karat Gold (2014, leia a resenha aqui), que atingiu o posto de nº 7 nos EUA. Além das plataformas digitais, o trabalho também será comercializado no exterior nos formatos CD duplo e LP de vinil duplo.

O filme que registra estes shows foi exibido nos cinemas americanos nos dias 21 e 25 próximos passados, e estará disponível no formato video in demand entre os dias 29 deste mês e 5 de novembro, também apenas no exterior. Ainda não foi divulgado se teremos lançamentos em DVD e/ou Blu-ray. Nele, além das músicas, Stevie também fala um pouco sobre cada uma das canções do set list.

O repertório de Live In Concert- The 24 Karat Gold Tour se divide entre sucessos do Fleetwood Mac como Gypsy, hits de sua carreira solo como Stand Back e Edge Of Seventeen e algumas surpresas. Entre elas, a primeira versão ao vivo da fantástica Crying In The Night, faixa de abertura do hoje raríssimo álbum Buckingham Nicks (1973), gravado por ela em dupla com Linsey Buckingham antes de ambos entrarem no Fleetwood Mac.

Crying In The Night (live)- Stevie Nicks:

Suzi Q documenta bem a carreira da lendária roqueira Suzi Quatro

suzy quatro 2019

Por Fabian Chacur

Não dá para se analisar a presença das mulheres no rock and roll sem citar logo de cara Suzi Quatro. A cantora, baixista e compositora americana, que recentemente completou 70 anos de idade (leia sobre sua trajetória aqui), é um dos grandes ícones do gênero. Dá pra acreditar que ainda não existia um documentário sobre ela? Felizmente, agora temos um!

Trata-se de Suzi Q, título que faz um bem sacado trocadilho com a clássica canção homônima de Dale Hawkins que muitos conheceram na versão do Creedence Clearwater Revival de 1968. A iniciativa partiu dos australianos Liam Firmager e Tait Brady, e contou com o apoio da artista, que deu uma entrevista especialmente para este projeto, assim como suas irmãs, que a seu lado integraram o grupo The Pleasure Seekers.

Além de se valer de bem pesquisado material de arquivo, com direito a registros da artista em sua fase áurea na década de 1970, quando estourou com hits marcantes como 48 Crash e Can The Can e surpreendeu a todos tocando bem baixo e cantando com vigor e personalidade, temos também depoimentos de um muito bem selecionado elenco de artistas assumidamente fãs da moça.

Entre outros, participam do documentário artistas do alto calibre de Joan Jett, Cherie Currie (The Runaways), Donita Sparks (L7), Debbie Harry (Blondie), Tina Weymouth (Talking Heads), Kathy Valentine (The Go-Go’s), Alice Cooper e Henry Winkler. O documentário está sendo lançado nas plataformas digitais e também terá, no exterior, versão em DVD.

Veja o trailer de Suzi Q:

Elton John (1970), quando Reg Dwight começa a virar um astro

elton john 1970 capa-400x

Por Fabian Chacur

Escolher um entre os aproximadamente 40 álbuns de estúdio que Elton John gravou e nomeá-lo o mais importante de todos é uma tarefa um tanto complicada. Mas pode ser mais simples se levarmos em conta um critério determinante: aquele trabalho que significou a ascensão de um até então completo desconhecido cantor, compositor e músico britânico para o primeiro time da música pop. Se esse for o parâmetro, aí fica fácil. O álbum a ser selecionado, ironicamente, é o único que ele lançou que só leva seu nome artístico, Elton John, como título.

Como grande atrativo inicial, o disco traz Your Song, primeira canção do astro britânico a atingir o top 10 nos EUA e no Reino Unido, chegando mais especificamente ao oitavo posto na terra de Elvis Presley e ao sétimo em seu próprio rincão. Essa doce, emotiva e claramente ingênua balada tornou-se o seu cartão de visitas, aquela canção que Elton não consegue excluir de seu set list sem desagradar e muito seu imenso público.

Esse encantador álbum não conseguiu tal feito por acaso. Uma série de fatores possibilitou que tal disco permitisse ao seu autor ombrear com os grandes nomes da música pop. Até chegar a ele, esse artista genial teve de pagar seus tributos, digamos assim, e não foram poucos. Não faria sentido contar a história deste trabalho sem oferecer ao leitor um resumo do que ocorreu antes de seu surgimento, e é isso que começaremos logo a seguir.

Formação erudita, bares, hoteis e Bluesology

Reginald Kenneth Dwight nasceu em 25 de março de 1947. Com apenas quatro anos de idade, surpreendeu os pais e a avó ao mostrar habilidades precoces no piano. Com o tempo, ficou claro que o rapazinho levava jeito para a música, e ele aos 11 anos de idade começou a estudar aos sábados na prestigiada Royal Academy Of Music, onde permaneceu por cinco anos. No entanto, logo ficou claro para ele que ser um concertista erudito não era o seu sonho.

Aos 15 anos, preferiu tocar em hotéis e bares, inicialmente como pianista solo, e logo a seguir integrando um grupo que fundou com seus amigos, o Bluesology, em 1962. Com o tempo, a banda ganhou musculatura, e além dos shows próprios, também acompanhou artistas americanos de soul music que passavam pela Inglaterra, entre eles Major Lance e Patti Labelle And The Blue Belles.

Com Elton como seu vocalista e pianista, o Bluesology lançou em 1965 o seu primeiro single, Come Back Baby. Outros dois singles viriam até 1966, mas sem grande repercussão. Disposto a ficar o mais próximo possível do cenário da música, Reg (seu apelido) chegou a servir chá na editora musical Mills Music, e nessa época conheceu um jovem brincalhão chamado Caleb Quaye, que adorava fazer bullying com ele por causa de seus quilinhos a mais.

Em setembro de 1966, o cantor Long John Baldry convidou a Bluesology para ser a sua banda de apoio, convite que eles aceitaram. Isso fez com que Dwight se tornasse apenas pianista e eventual compositor do grupo, o que de certa forma o frustrou. Em busca de algum outro rumo, ele viu um anúncio nas páginas do jornal especializado em música New Music Express, publicado em 17 de junho de 1967. Mal sabia que sua vida mudaria a partir dali.

Bernie Taupin, contrato com Dick James e muito trabalho

Após se separar do conglomerado EMI na Inglaterra, o selo Liberty resolveu montar o seu próprio cast, e colocou o anúncio no NME buscando cantores, músicos e similares. Reg Dwight ficou animado e mandou uma carta. Para sua surpresa, foi chamado para uma audição, na qual se mostrou nervoso, cantando músicas do astro country americano Jim Reeves. Aparentemente, não era o cara mais adequado para o novo selo, e não foi selecionado.

No entanto, o responsável por seu teste e um dos homens do A&R (artistas e repertório) da Liberty, Ray Williams, sentiu que havia potencial naquele baixinho gordinho. Antes de se despedir de Reg, ele deu ao jovem um pacote com poemas enviados por um certo Bernard Taupin, e sugeriu como exercício que o pianista tentasse musicar alguns deles.

Nascido em 22 de maio de 1950, apaixonado por cultura pop americana e radicado em um pequeno vilarejo interiorano em Lincolnshire, Bernie também estava em busca de um rumo na vida, e se embrenhou em escrever poemas bem afeitos ao ambiente paz e amor daqueles tempos. Mesmo sem cantar ou tocar um instrumento musical, também respondeu o anúncio do NME, e recebeu como resposta um convite para visitar o escritório da Liberty em Londres.

Umas boas semanas se passaram até que Bernie e Reg se conhecessem. Quando isso enfim ocorreu, o músico contou ao novo amigo que já havia musicado uns 20 daqueles textos. A empatia entre eles foi imediata. Feliz ao ver que conseguiu reunir dois jovens talentos promissores, Ray Williams resolveu indicá-los à editora musical Gralto, criada pelos integrantes da consagrada banda The Hollies e ligada à Dick James Music (DJM).

No início, Reg e Bernie compunham suas músicas e o músico e cantor da dupla as registrava de madrugada, no estúdio da DJM, sem o conhecimento do dono. No entanto, o filho desse dono, Steve James, ouviu as demos, ficou bem impressionado e incentivou seu pai famoso a dar uma chance a eles.

Vale o registro: Dick James foi quem apostou em uma desconhecida banda oriunda de Liverpool e os contratou para editarem suas músicas com ele, na editora criada especialmente para tal fim, a Northern Songs. Sim, eles mesmos, os hoje eternizados Fab Four. Ou seja, era um dos caras mais bem-sucedidos da área. Ele confiou no palpite do filho, ouviu as demos, gostou e convidou aqueles dois jovens para uma reunião.

Contrato com a DJM, os primeiros discos e muito trabalho

Reg Dwight e Bernie Taupin foram para a reunião convocada por Dick James meio ressabiados. Eles pensavam que seriam repreendidos por usarem o estúdio. Aliás, sabe quem tomava conta daquele estúdio? Ninguém menos do que Caleb Quaye, que começava também a investir em uma carreira como guitarrista.

No entanto, os amigos saíram felizes daquele encontro, pois Dick os contratou, no dia 17 de novembro de 1967, para serem compositores residentes da DJM, escrevendo canções e gravando demos (agora em horários mais civilizados…) para serem oferecidas a outros intérpretes, ganhando um salário semanal.

Pouco tempo depois, aquele jovem pianista percebeu que seria duro ir adiante como Reg Dwight, e resolveu criar um nome artístico. Dessa forma, pegou “emprestado” o nome do saxofonista do Bluesology, Elton Dean (que depois tocaria com o grupo progressivo Soft Machine), e o do cantor Long John Baldry, que de certa forma o impulsionou rumo à carreira-solo, e voilá, surgia Elton John.

No início, as coisas não correram muito bem. Apesar de trabalharem muito, os dois amigos não conseguiam agradar a ninguém com suas criações musicais. Steve Brown, um dos funcionários da DJM, percebeu onde estava o problema, e deu um conselho ousado aos garotos: “parem de tentar compor canções pré-fabricadas para os cantores da moda, e façam aquilo que tiverem vontade”.

Foi o pontapé inicial para o surgimento de um trabalho original. O primeiro grande fruto dessa nova estratégia foi Lady Samantha, lançada em compacto simples em janeiro de 1969. Brown foi recompensado virando a partir dali o produtor dos discos de Elton John. A canção teve ótima execução nas rádios britânicas, mas o single não vendeu absolutamente nada, para tristeza geral.

A trajetória de Elton poderia ter tomado outros rumos no início daquele mesmo 1969, quando fez testes para ser o cantor de duas bandas novas com grande potencial, King Crimson e Gentle Giant, mas foi reprovado em ambas. Quem será que perdeu mais, ele ou as respectivas bandas? Nunca saberemos, mas é fato que os três conseguiram desenvolver carreiras de muito respeito. Elton, no entanto, vendeu muito mais discos, sem sombra de dúvidas.

Empty Sky, músico de estúdio e covers

Em 6 de junho de 1969, Elton John lançou o seu primeiro álbum pela DJM, Empty Sky. O disco dava pistas do que viria futuramente, mas ainda apresentava um artista em busca de seu estilo próprio. Mesmo tendo músicas boas como a faixa-título e Skyline Pigeon (que ele regravaria em 1973, em versão que estourou no Brasil), não só passou batido nos charts britânicos como nem sequer chegou a ser lançado no mercado americano naquela época.

Vale o registro detalhista: Empty Sky só saiu nos EUA anos depois de seu lançamento original, e chegou ao 6ª lugar na parada americana. Todas as fontes garantem que esse LP só chegou às lojas americanas em 1975. Curiosamente, a edição americana em vinil que eu tenho, que traz na capa (diferente da que saiu na Inglaterra) um desenho que lembra uma pirâmide, temos 1975 na contra-capa e 1973 no selo do disco. Vacilo dos bons…

Como forma de se manter, o artista não só continuou gravando suas demos e oferecendo músicas a outros artistas como também virou músico de estúdio, marcando presença em diversas gravações. A mais famosa é certamente He Ain’t Heavy He’s My Brother, um dos maiores sucessos dos Hollies e lançada em 1969, na qual ele se incumbiu do marcante acompanhamento de piano.

De quebra, ainda participava como cantor e pianista de gravações de álbuns de covers de sucessos do momento, lançados por selos pequenos que usavam o estratagema de juntar alguns dos maiores hit singles em um único LP, pois as grandes gravadoras na época ainda não faziam isso com as gravações originais. Esses discos não traziam os créditos aos músicos participantes, entre eles o cantor David Byron, que depois integraria a banda Uriah Heep.

Outra curiosidade: Elton e Bernie, toda semana, compravam os mais recentes lançamentos da música pop em LPs e compactos simples, e os dissecavam música a música, letra por letra, em uma espécie de curso intensivo de música pop. A paixão era tanta que o cantor chegou a ser balconista da loja de discos Music Land, no Soho, quando já havia lançado o seu primeiro álbum. Nem é preciso dizer que o dinheiro que ganhava lá virava discos e mais discos…

Novos craques entram no time de Reg Dwight

Ninguém vai adiante na vida se não tiver a ajuda decisiva de algumas pessoas. Elton John não foi diferente. Nesse momento crucial de sua carreira, ele ainda contou com a humildade de Steve Brown. Ao ouvir a demo de algumas das canções que o artista preparava para o que viria a ser o seu segundo álbum, Brown se sentiu pouco qualificado para continuar a produzi-lo, e tomou uma atitude de grande generosidade.

Dessa forma, propôs a Dick James algumas coisas básicas: que ele, Brown, passasse a ser coordenador de produção do novo LP de Elton, contratando um produtor mais experiente e também um arranjador, e que uma pequena orquestra fosse arregimentada para participar das gravações. Dick topou, e Steve Brown foi à luta para achar os nomes ideais.

O primeiro a entrar no projeto foi o arranjador Paul Buckmaster, que se incumbiu do brilhante arranjo para Space Oddity, primeiro hit de David Bowie em 1969. Ao tomar contato com as demos das novas canções de Elton e também ao conhecer o artista, sentiu que o convite era irrecusável.

E quem se incumbiria da produção? Brown sonhou alto: ninguém menos do que George Martin, para muitos o quinto beatle. Ao ser contatado, ele topou, possivelmente por sua relação com Dick James, mas com uma condição: também se incumbiria dos arranjos. Colocado na alternativa de ou ficar com o produtor dos Beatles ou manter Paul Buckmaster no jogo, Steve Brown se mostrou ousado ao preferir a segunda opção.

De quebra, para mostrar que punha fé em Buckmaster, Brown pediu a sugestão de um nome para capitanear aquele projeto. E a dica, que hoje pode parecer óbvia mas na época não soou assim, foi chamar exatamente o produtor que trabalhou com Buckmaster em Space Oddity, Gus Dudgeon. Este, ao ouvir as demos, percebeu que aquela era a chance de sua vida, e bateu o martelo.

Time escalado, mãos à obra

Com Steve Brown, Gus Dudgeon e Paul Buckmaster em suas devidas funções, seguiu-se a escalação dos músicos, e apenas o amigo Caleb Quaye, um dos mais promissores guitarristas britânicos na época, foi mantido do 1º LP, somando-se a Barry Morgan e Terry Cox (bateria), Dave Richmond, Les Hurdie e Alan Weighll (baixo), Colin Green, Clive Hicks, Roland Harker, Frank Clark e Alan Parker (guitarra e violão acústico), Skaila Kanga (harpa), Dennis Lopez e Tex Navarra (percussão), Diana Lewis (sintetizador moog) e Brian Dee (órgão).

Nos backing vocals (comandados por Barbara Moore), Madeline Bell, Leslie Duncan, Kay Garner, Tony Burrows, Tony Hazzard e Roger Cook. Este último merece destaque por ter sido um dos primeiros artistas a gravar composições de Elton John e Bernie Taupin, Skyline Pigeon, e ser o autor (em parceria com Roger Greenaway) de hits como You’ve Got Your Troubles (The Fortunes, em 1965) e I’d Like To Teach The World To Sing (The New Seekers, em 1972).

Além dos músicos de orquestra, outro acréscimo bacana ao projeto foi registrá-lo no Trident Studios, em Londres, aparelhado com muito mais recursos técnicos do que o da DJM e que presenciou gravações dos Beatles, David Bowie e muitos outros artistas desse gabarito. Segundo Paul Buckmaster, o álbum levou exatos 12 dias para ser concretizado, das primeiras gravações à mixagem final, com início no dia 19 de janeiro de 1970.

Além das 10 músicas que entraram na versão original do álbum, outras três foram registradas, e saíram em compactos simples nos meses seguintes. A capa hoje pode ser considerada bem simbólica, pois mostra, em um fundo totalmente escuro, apenas uma parte do rosto daquele jovem gordinho, descabelado e usando óculos com lentes grossas, cujo nome, Elton John, aparecia logo acima, em caracteres pomposos. Clima de mistério…

Elton John, o álbum, faixa a faixa

Your Song– Uma encantadora balada de um romantismo ingênuo e idealista, com um arranjo muito feliz que traz como bela sacada o fato de a seção rítmica só entrar após a primeira execução do refrão, o que ajuda a cativar o ouvinte. O primeiro e inesquecível hit desse grande astro.

I Need You To Turn To– A primeira canção com forte influência erudita do LP, com um jeitão meio medieval gerado pela utilização de um teclado do tipo harpsichord (cravo), e versos que retratam uma relação afetiva de dependência entre os integrantes de um casal.

Take Me To The Pilot– Primeiro momento mais swingado do álbum, uma espécie de funky gospel que se tornou um dos pontos altos dos shows dessa fase inicial de sucesso do astro. Tanto Elton quanto Taupin brincam com o teor vago da letra, dizendo que “se alguém descobrir o significado desses versos, por favor, nos avisem, que nós não temos a mínima ideia”.

No Shoe Strings On Louise– Esta canção meio soul, meio country, mostra forte influência dos Rolling Stones quando abordam essa sonoridade, especialmente em termos vocais. Dá para imaginar Mick Jagger cantando esta deliciosa faixa.

First Episode At Hienton– Cativante balada introspectiva com influência clássica na qual temos uma espécie de nostalgia melancólica referente a alguém que conheceu uma garota ainda jovem, mas que agora a vê já como uma mulher adulta. Belas imagens poéticas.

Sixty Years On– A faixa mais introspectiva e intensa do álbum, com direito a um arranjo absolutamente genial de Paul Buckmaster no qual a orquestra dialoga com a melodia e o vocal de Elton John. Outra letra melancólica divagando sobre uma velhice que curiosamente ainda estava muito distante de Elton e Taupin.

Border Song– Balada gospel com direito a um coral encantador e letra pregando a união e a tolerância sem cair no óbvio. Aretha Franklin a regravaria com muita propriedade naquele mesmo 1970.

The Greatest Discovery– Outra canção na qual o arranjo de Buckmaster se sobressai, em letra que investe na relação entre pais e filhos, no sentido da descoberta da paternidade e seus momentos iniciais.

The Cage– Provavelmente o momento mais roqueiro do álbum, com direito a algumas surpreendentes passagens de teclados eletrônicos.

The King Must Die– O álbum original se encerra com uma balada típica do artista, com uma letra libertária e realista ao mesmo tempo.

A versão em CD lançada em 1995 na série The Classic Years traz três faixas adicionais, oriundas das mesmas sessões de gravações do álbum original:

Rock And Roll Madonna e Grey Seal– lançadas em compacto simples em junho de 1970. A primeira é um rock básico com uso de gravações prévias que tentam dar a falsa impressão de que se trata de um registro feito ao vivo. A segunda é uma balada com belas passagens roqueiras, que seria regravada em 1973 para inclusão no álbum Goodbye Yellow Brick Road (1973).

Bad Side Of The Moon– Saiu como lado B do single Border Song, lançado em março de 1970. Muito boa, costumava fazer parte do set list dos shows de Elton naquela época com uma certa frequência.

Um álbum que demorou, mas enfim teve o sucesso que merecia

Como nada na vida de Elton John veio de bandeja, o sucesso de seu 2º LP seguiu a regra. Saiu na Inglaterra em 10 de abril de 1970, com resposta indiferente de público e crítica inicialmente. Como forma de divulgá-lo, o artista resolveu montar uma nova banda de apoio bem compacta, integrada por ele próprio nos vocais e piano, o baixista Dee Murray e o baterista Nigel Olsson (que havia participado da faixa Lady What’s Tomorrow, do álbum Empty Sky).

O primeiro destaque do trio ocorreu em agosto de 1970 após sua participação no tumultuado festival de Krumlin, em Yorkshire, ganhando novos fãs inclusive na imprensa especializada britânica. Dick James, então, percebeu que precisava pensar em alternativas para divulgar seu artista no mercado mais importante do mundo para a música, o americano, e iniciou negociações com a MCA Records.

Depois de muitas conversas, e com o apoio decisivo do amigo Roger Greenway, o executivo Russ Regan resolveu apostar naquele artista britânico, apesar de inicialmente considerá-lo um pouco “exotérico”. Como forma de apresentá-lo de fato ao público americano, planejou uma série de seis shows em Los Angeles, mais precisamente no Troubadour, badalado local de shows que impulsionou as carreiras de nomes como James Taylor, Carole King e inúmeros outros.

No dia 25 de agosto daquele histórico 1970, uma terça-feira, Elton entrou no palco devidamente anunciado por outro astro do elenco da MCA Records, Neil Diamond. Na platéia, nomes do porte de Quincy Jones, David Crosby, Graham Nash, Henry Mancini e Mike Love (dos Beach Boys). Se previamente se mostrava nervoso, deixou isso pra lá ao começar a tocar e cantar, esbanjando desenvoltura, garra e um talento absurdo.

Foram seis noites naquele mesmo local, com direito a outros nomes famosos para vê-lo, incluindo um de seus ídolos, o cantor, compositor e pianista Leon Russell, integrantes do grupo Bread e vários jornalistas. Um deles, o renomado Robert Hilburn, escreveu uma crítica arrebatadora no Los Angeles Times, classificando-o como o “novo astro do rock”, entre outros elogios.

A seguir, Elton fez mais alguns shows em outras cidades, e deixou no público americano um gostinho de quero mais. O cara estava tão aceso que, em sua volta à Inglaterra, finalizou as gravações de dois novos trabalhos, o álbum Tumbleweed Connection (lançado em outubro no Reino Unido e só em 1971 nos EUA) e a trilha do filme Friends. Ele voltou aos EUA em novembro, quando enfim o LP Elton John havia chegado às lojas de lá, e aumentou ainda mais seu impacto naquelas plagas. A América vai caindo de joelhos perante um novo astro.

A coisa ficou tão quente que ele fez um show no dia 17 de novembro no estúdio do produtor Phil Ramone, perante uma platéia de umas cem pessoas, com transmissão ao vivo via rádio no território americano. O sucesso foi tão grande que no ano seguinte as gravações gerariam um LP, 11.17.70 (na Inglaterra, lançado com o título 17.11.70 e, no Brasil, como Honky Tonk Women, canção clássica dos Rolling Stones que Elton releu com categoria neste show).

Para completar a operação “Elton Estrela”, só faltava uma coisa: lançar Your Song em compacto simples, o que ocorreu no início de 1971. A canção não só vendeu bem nesse formato como deu o impulso final para que Elton John, o álbum, enfim concretizasse o potencial de êxito que sempre demonstrou ter, atingindo o quarto lugar na parada americana e o quinto no Reino Unido. Era só o início de um verdadeiro tsunami de sucessos do hoje Sir Elton John.

Ouça Elton John (1970) em streaming:

Veja o clipe de Your Song, de 1970:

Older posts Newer posts

© 2024 Mondo Pop

Theme by Anders NorenUp ↑