Mondo Pop

O pop de ontem, hoje, e amanhã...

Tag: rock anos 80 (page 3 of 8)

Blitz mostra muita vitalidade e swing em seu novo DVD

DVD Blitz Aventuras II_02_DIGIPACK.indd

Por Fabian Chacur

O ano de 2017 entrará para a história da Blitz como um dos melhores de sua bem-sucedida trajetória iniciada em 1982 com o estouro de Você Não Soube Me Amar. Além de terem divulgado com categoria seu mais recente álbum, Aventuras II, um excelente álbum comparável aos seus lançamentos clássicos dos anos 1980, fizeram inúmeros shows sempre lotados e com ótima repercussão por parte do público. O registro dessa atual fase iluminada da banda carioca acaba de sair, pela gravadora Deck em parceria com o Canal Brasil. Trata-se do DVD Blitz No Circo Voador, prova concreta de que esse time não vive só de seu passado de glórias.

O registro foi realizado ao vivo em abril deste ano no mitológico Circo Voador, mesmo espaço alternativo carioca no qual o grupo despontou rumo ao sucesso nacional. No time, temos três integrantes da formação clássica: Evandro Mesquita (vocal), Billy Forghieri (teclados) e o mitológico Roberto “Juba” Gurgel (bateria). Ao seu lado, uma das formações mais estáveis da história do grupo, que traz Cláudia Niemeyer (baixo), Rogério Meanda (guitarra), Andréa Coutinho (backing vocals) e Nicole Cyrne (backing vocals).

Ao contrário do que alguns fariam nesse momento, a Blitz mostrou ousadia e confiança no próprio taco ao incluir 11 das 13 faixas de Aventuras II no show. Boa oportunidade para se conferir o quanto essas novas músicas são boas, pois se encaixam muito bem em meio aos sete clássicos do período 1982-1985 e a um cover certeiro, Aluga-se (de Raul Seixas), sendo que One Love (Bob Marley) e País Tropical (Jorge Ben Jor) foram interpoladas respectivamente nos hits A Dois Passos do Paraíso e Mais Uma de Amor (Geme Geme).

As canções mais recentes da Blitz mantém o clima alto astral e swingado de seus bons tempos, com direito a maravilhas do naipe de Baile Quente (que abre a festança com tudo), Nu na Ilha, Estrangeiro Aventureiro e Chacal Blues. Todas poderiam se tornar hits radiofônicos, se vivêssemos tempos mais democráticos e afeitos ao pop rock.

Algumas participações especiais marcam o show, sendo a de maior destaque a de Alice Caymmi na assumidamente brega Noku Pardal e na releitura do hit Betty Frígida, nas quais ela faz duetos hilariantes com Evandro Mesquita. Afroreggae, Milton Guedes, George Israel, Diogo Albuquerque, Mafram do Maracanã e Silvio Charles também marcam presença, além de Zeca Pagodinho, este graças a uma gravação em áudio/vídeo exibida no telão em Fominha.

Blitz No Circo Voador mostra como é possível para uma banda com 35 anos de estrada ainda soar refrescante e renovada, sem renegar seu legado. Colabora para isso a excelente forma de Evandro, que aos 65 anos de vida aparenta no máximo uns 40, se tanto, além de continuar com voz afiada/afinada e aquela presença de palco simpática e desencanada que sempre o marcaram. Muito bom ver esses caras com esse gás todo. Sinal de que as aventuras estão longe de acabar…

Baile Quente (ao vivo)- Blitz:

Pat Dinizio, vocalista e o líder dos Smithereens, nos deixa

pat dinizio-400x

Por Fabian Chacur

Em meio ao verdadeiro mar de bandas de tecnopop, heavy/hard rock e new wave que predominavam no cenário rocker dos anos 1980, os Smithereens soavam como uma verdadeira anomalia. Naquele tempo, alguém fazendo uma vigorosa e personalizada releitura do rock anos 1963-1966? Sem chance! Mas eles marcaram época, mesmo assim. Seu líder, o incrível cantor, compositor e guitarrista Pat Dinizio, nos deixou nesta terça (12), com 62 anos.

A morte deste artista oriundo de Scotch Plains, New Jersey, não teve sua causa divulgada, e quem a revelou foram seus ex-colegas de banda em um comunicado oficial nas redes sociais. O fato é que desde 2015, quando sofreu duas quedas que o deixaram com problemas para tocar, o músico sofria com problemas de saúde. Em setembro deste ano, há registros de que ele teria tido nova queda, e que vinha tentando se recuperar. Infelizmente, não foi possível.

Ao lado de Jim Babjak (guitarra e vocais), Dennis Diken (bateria e vocais) e Mike Mesaros (baixo e vocais), também oriundos de New Jersey, Dinizio criou o The Smithereens em 1980. Após lançarem dois ótimos EPs independentes, Girls About Town (1980) e Beauty And Sadness (1983), eles batalharam muito e ouviram inúmeros “não” de várias gravadoras, até enfim conseguiram um contrato com a Enigma Records.

Em 1986, lançaram Specially For You, na minha humilde opinião um dos melhores álbuns de estreia de uma banda oitentista. Com uma mistura da sonoridade de grupos como Beatles, Hollies, The Who e aquele espírito meio Merseybeat 1963-1966, ofereceram aos ouvintes maravilhas como a envolvente e vigorosa Blood And Roses, a balada-bossa In a Lonely Place (dueto com Suzanne Vega, que havia sido chefe de Dinizio em uma pequena empresa) e o rockão Behind The Wall Of Sleep, só para citar algumas faixas.

Com uma voz melódica e ótimas composições, Dinizio era o destaque do time, mas seus colegas eram do mesmo alto nível, com Babjak fazendo uma dobradinha impecável de guitarra com ele e a dupla Diken/Mesaros segurando todas na cozinha rítmica. O álbum não passou do número 51 na parada pop americana, mas conquistou os fãs mais atentos de rock, sendo que Blood And Roses entrou na trilha do filme Dangerously Close (1986) e de um episódio da badalada série de TV Miami Vice.

Green Throughs (1988) veio a seguir, com direito a outras pedradas, como os rockões Only a Memory e House We Used To Live In. Em 1989, sai 11, o álbum que obteve a melhor posição do quarteto nos charts americanos (nº 41) e que traz seu single mais bem colocado nas paradas de compactos, A Girl Like You (nº 38).

A partir dos anos 1990, o quarteto americano praticamente sumiu dos charts, mas prosseguiu fazendo shows e lançando discos bem recomendáveis, entre os quais o excelente e hoje raro A Date With The Smithereens(1994), único trabalho lançado por eles com o selo RCA. Em 1997, Pat Dinizio lança o primeiro dos quatro trabalhos solo que gravaria, o ótimo Songs And Sounds.

Na década passada, os Smithereens prestaram tributo a quem tanto os influenciou com dois CDs: Meet The Smithereens! (2007), no qual regravaram na íntegra o primeiro álbum dos Beatles que a Capitol Records lançou nos EUA (incluindo I Wanna Hold Your Hand, I Saw Her Standing There e It Won’t Be Long, entre outras), e The Smithereens Plays Tommy (2009), com faixas da ópera-rock Tommy, do The Who.

Poucos artistas conseguiram recriar com tamanha inspiração e talento a sonoridade rocker dos anos 1960 como Pat Dinizio, ele que também era fã declarado do genial Buddy Holly, pioneiro do rock e influência decisiva no som dos Beatles. Curiosidade: durante as gravações de Specially For You, mais precisamente no dia 31 de dezembro de 1985, morria Ricky Nelson, certamente um dos artistas que influenciou a sonoridade dos Smithereens.

A primeira faixa dos Smithereens a ser lançada no Brasil foi Blood And Roses, em uma coletânea com músicas de vários artistas intitulada Dancing, em 1986. Depois, tivemos alguns de álbuns em nossas lojas, mas infelizmente nunca o seminal Specially For You. Hoje, todos são raridades daquelas. E algumas de suas músicas tocaram por aqui nas rádios rock nos anos 1980, especialmente A Girl Like You.

Blood And Roses– The Smithereens:

Tears For Fears lança o álbum com seus hits e duas inéditas

Tears-For-Fears-Rule-The-World-400x

Por Fabian Chacur

Para quem ficou encantado com o show feito pelo Tears For Fears em setembro, no Rock in Rio, e gostaria de ter uma compilação com os maiores hits do duo britânico, boa notícia. Já está disponível nas plataformas digitais Rule The World: The Greatest Hits, cuja versão física chegará às lojas brasileiras no dia 8 de dezembro, via Universal Music.

Como tem sido praxe há muito tempo na indústria musical, esta nova compilação do grupo formado há 36 anos por Roland Orzabal e Curt Smith traz atrativos para os fãs casuais e também para quem coleciona tudo o que eles lançam. Quem se encaixa no segundo grupo deve saber que o álbum inclui duas faixas inéditas: a sacudida I Love You But I’m Lost e a mais introspectiva Stay, ambas bem interessantes.

Além das duas inéditas, a compilação tem como diferencial trazer pela primeira vez faixas representando todas as fases da banda, inclusive o período sem Curt Smith (Raoul And The Kings Of Spain, do álbum homônimo, de 1995) e o álbum do retorno Everybody Loves a Happy Ending (Closest Thing To Heaven,de 2004).

Eis a relação das faixas incluídas em Rule The World: 1. Everybody Wants To Rule The World / 2. Shout / 3. I Love You But I’m Lost / 4. Mad World / 5. Sowing The Seeds Of Love / 6. Advice For The Young At Heart / 7. Head Over Heels / 8. Woman In Chains / 9. Change / 10. Stay / 11. Pale Shelter / 12. Mothers Talk / 13. Break It Down Again / 14. I Believe / 15. Raoul And The Kings Of Spain / 16. Closest Thing To Heaven.

I Love You But I’m Lost– Tears For Fears:

Lulu Santos e o seu divertido CD com músicas de Rita Lee

lulu santos 2017

Por Fabian Chacur

Baby Baby!, novo álbum de Lulu Santos, está sendo lançado nesta sexta-feira (20) pela Universal Music no formato CD e também nas plataformas digitais. Trata-se do amplamente divulgado trabalho no qual o cantor, compositor e guitarrista carioca relê 12 músicas de Rita Lee. A homenageada já teceu belos elogios ao colega em seu perfil no Facebook: “Minha vontade é pegar esse menino no colo e encher de beijinhos e carinhos sem ter fim. Gracias muchissimas, mi amor”.

Com 64 anos de idade e na estrada musical desde a década de 1970, Luiz Mauricio Pragana dos Santos já passou por todos os estágios possíveis na carreira. Integrou banda de rock progressivo (Vímana, com Lobão e Ritchie), estourou como artista solo na cena pop-rock dos anos 1980, reinventou-se com pegada dance/r&b nos anos 1990 e dessa forma voltou às paradas de sucesso, sumiu dos charts nos anos 2000, virou em 2012 jurado do reality show musical The Voice…

A essa altura dos acontecimentos, esse cara pode se dar ao luxo de fazer o que quiser, ou nem fazer nada, se for o caso. Seus discos de inéditas deste século passaram batidos, alguns injustamente. Ele os mesclou com trabalhos ao vivo, ou mesmo um só de releituras, Lulu Santos Canta & Toca Roberto e Erasmo (2013). Ao ler Rita Lee- Uma Autobiografia, teve a ideia de gravar este Baby Baby!, uma boa ideia, afinal de contas.

O repertório do disco, cujo título saiu do quase refrão de uma das faixas escolhidas, Ovelha Negra, tem como pontos extremos em termos cronológicos Fuga Nº II (de 1969, dos Mutantes) e Paradise Brasil (única mais recente, de 2015, do álbum Reza). As outras dez são dos anos 1970 e 1980, fase áurea da eterna Rainha do Rock Brasileiro. Nada de lados B, é um hit atrás do outro.

Com arranjos simples e que não descaracterizaram as melodias, Lulu nos oferece um recital leve e descontraído, sem aparente pretensão de criar versões definitivas de cada uma dessas canções. A impressão que temos é de ele ter se divertido bastante ao gravar este álbum, no qual se vale de poucos músicos de apoio e uma infraestrutura enxuta e coesa.

Lógico que não é fácil reler composições de Rita Lee, que costuma ser a melhor intérprete daquilo que escreve. Normalmente, com raras exceções, as versões definitivas de suas musicas levam sua voz. Mas vale o comentário feito para mim pelos integrantes do grupo Roupa Nova, em 1999, quando lançaram Agora Sim!, no qual reliam músicas de seu próprio repertório: “Essas novas versões não invalidam as anteriores”.

É bem por aí. Em alguns momentos, Lulu chega perto, como em Baila Comigo, Fuga Nº II, Caso Sério e Mania de Você. Em outros, não deu muito certo, como exemplificam Ovelha Negra, Agora Só Falta Você e Mamãe Natureza. Mas, no geral, Baby Baby! é extremamente bom de se ouvir como um todo. Nada para se levar muito a sério, ou para se endeusar. É só música boa, cantada por um craque do pop-rock brasileiro em um momento no qual ele só quer saber de se divertir. E consegue nos divertir, também. Tá ótimo!

Baila Comigo (lyric video)- Lulu Santos:

Tom Petty, elo perdido entre os Byrds e o R.E.M., viajou

tom petty rock singer-400x

Por Fabian Chacur

Na melhor resenha que tive a oportunidade de escrever na extinta revista Bizz (acho que já nos tempos de Showbizz), sobre a coletânea Greatest Hits, defini Tom Petty como uma espécie de elo perdido entre os Byrds, grande banda dos anos 1960, e o R.E.M., que trouxe a sonoridade do folk rock para a linguagem dos anos 1980. Um de meus ídolos, esse brilhante e genial cantor, compositor e músico americano nos deixou nesta segunda-feira (2), 18 dias antes de completar 67 anos.

A notícia surgiu no site TMZ, especializado em celebridades e marcado por ter sido quem divulgou em primeira mão o falecimento de Michael Jackson em 2009. Petty foi encontrado inconsciente em sua casa, em Malibu, não respirando e vítima de um ataque cardíaco. Ainda com sinais de vida, foi levado neste domingo (1º) ao Santa Monica Hospital, da UCLA (universidade de Los ANgeles). Chegando ao local, foi constatada morte cerebral, e posteriormente houve a decisão de desligar os aparelhos que o mantinham respirando.

Como a polícia de Los Angeles não confirmou a notícia posteriormente, causando um verdadeiro alvoroço na imprensa, os fãs, como eu, ainda tivemos a esperança de que pudéssemos ter a boa notícia de sua luta pela vida ainda estar ocorrendo. Mas Tony Dimitriades, manager há muitos anos de Tom Petty & The Heartbreakers, confirmou a morte do roqueiro. O link de seu site oficial, com a lamentável notícia, que agora é oficial, pode ser acessado aqui.

O astro americano havia encerrado há alguns dias a turnê comemorativa de 40 anos de carreira de sua banda, Tom Petty & The Heartbreakers, e vivia uma fase importante de sua trajetória. Em 2014, por exemplo, conseguiu colocar seu álbum Hypnotic Eye no topo da parada americana, e em 2016 lançou o segundo álbum (intitulado 2) da sua primeira banda, a Mudcrutch, que se separou no meio dos anos 1970 e só lançaria o primeiro álbum, autointitulado, em 2008.

Thomas Earl Petty nasceu em Gainesville, Florida, em 20 de outubro de 1950. Ele começou a mergulhar no mundo do rock no fim dos anos 1960, e mostrou forte potencial com o grupo o Mudcrutch, com quem só gravou singles, na época. Em 1975, ele e dois colegas daquela banda, o guitarrista Mike Campbell e o tecladista Benmont Tench, resolveram partir para outro projeto. Nascia Tom Petty & The Heartbreakers, cujo álbum de estreia, que leva o nome da banda como título, chegou às lojas em 1976.

Desde o início, o cantor, compositor e guitarrista americano mostrava forte influência rocker sessentista em sua sonoridade, ignorando tendências daquele momento como o glam rock, o punk, o heavy metal e a disco music para mergulhar no folk rock, country e rock básico. Tom Petty & The Heartbreakers (1976) e You’re Gonna Get It (1978) são duas obras-primas, com direito a muita urgência, entrosamento entre os músicos e um rock ao mesmo tempo melódico, retrô e sem soar saudosista. Coisa de craque. O retorno comercial foi mediano.

Foi com o seu terceiro álbum, Damn The Torpedoes (1978), que Petty e seus parceiros estouraram no cenário do rock americano. A partir daí, a banda conseguiu não só se firmar nas paradas de sucesso como também adquirir um incrível prestígio entre os grandes nomes do rock. Após uma turnê ao lado de Bob Dylan, ele, o autor de Blowin’ In The Wind, George Harrison, Roy Orbison e Jeff Lynne criaram o supergrupo Travelling Wylburys. O quinteto se reuniu inicialmente apenas para gravar um lado B de single do ex-beatle, mas a coisa cresceu tanto que virou um verdadeiro evento.

Foram dois álbuns do mais puro rock and roll (Vol.1-1988 e Vol.3-1990), nos quais Petty se mostrou à altura dos colegas de time. Não estava lá por acaso. De quebra, ainda lançou em 1989 seu primeiro disco solo, Full Moon Fever, um de seus grandes êxitos em termos artísticos e comerciais. Curiosamente, Benmont Tench e Mike Campbell, parceiros de Heartbreakers, participaram do CD. Prova da parceria inseparável entre eles.

Nesses anos todos, Tom Petty se manteve na ativa, lançando discos relevantes e lapidando com categoria e bom gosto o seu estilo de fazer rock and roll. Nunca abdicou do total controle artístico. Ele entrou no Rock and Roll Hall Of Fame em 2002, e ganhou o cobiçado Billboard Century Award em 2005.

Em 2007, o cineasta Peter Bogdanovich lançou um documentário sobre Petty, Running Down a Dream. O rock and roll vigoroso, melódico, poético e intenso deste grande artista é um legado maravilhoso que ele nos deixou. Que saibamos valorizá-lo. E chega, não consigo escrever mais nada…É muita dor no meu peito!

You’re Gonna Get It- Tom Petty And The Heartbreakers:

Tears For Fears mostra como fazer show para encantar fãs

tears for fears 2017-400x

Por Fabian Chacur

No mundo da música pop, mais especialmente no das grandes estrelas do gênero, uma das fórmulas mais garantidas para conseguir conquistar uma plateia é oferecer a ela um repertório de sucessos com arranjos bem próximos daqueles presentes nas gravações de estúdio. E foi exatamente isso que o Tears For Fears mostrou na noite desta quinta (22) no Rock in Rio, em um show quase impecável com pouco mais de uma hora de duração.

Acompanhados por ótimos músicos de apoio, Roland Orzabal (guitarra e vocal) e Curt Smith (baixo e vocal) entraram em cena com um de seus megahits, Everybody Wants To Rule The World, mostrando a estratégia que durante toda a apresentação os levariam a conquistar os fãs. Os arranjos, as programações, os vocais e até os solos foram sempre iguais aos das gravações originais, sendo que o bom estado da vozes dos integrantes da dupla ajudou e muito nesse plano.

O repertório foi bem escolhido, embora possa ser contestado por alguns fãs. Eles trouxeram quatro faixas de seu álbum de estreia, mas curiosamente não a sua excepcional faixa-título, The Hurting. Do CD que os tornou conhecidos mundialmente, Songs From The Big Chair (1985), tivemos os três maiores hits, mas Broken, I Believe e Mother’s Talk seriam outras candidatas bem recebidas, se fossem tocadas.

A ausência de Woman In Chains certamente foi a mais lamentada pelo público presente à Cidade do Rock, mas a explicação por sua não inclusão é simples: o grupo não tinha uma cantora que pudesse fazer as vezes de Oleta Adams, e ficaria esquisito ouvir um homem se incumbir daquelas passagens vocais marcantes. Eles poderiam eventualmente convidar alguma cantora brasileira para dar conta do recado, mas acho que ninguém teve essa ideia.

Para quem achar uma viagem tal possibilidade, vale lembrar que, nos anos 1990, Peter Gabriel fez shows no Brasil e quem se incumbiu da parte de Kate Bush na música Don’t Give Up e da de Sinead O’Connor em Blood Of Eden foi a nossa Jane Duboc. Muito bem, por sinal.

Também se mostrou inferior ao resto do repertório a releitura de Creep, primeiro sucesso do grupo britânico Radiohead, que poderia perfeitamente ter dado lugar a outra música própria deles, ou, se fosse o caso de um cover, a interessante releitura que o próprio Tears For Fears fez de Ashes To Ashes, do saudoso mestre David Bowie, incluída na coletânea da banda Saturnine Martial & Lunatic (1996).

Mas chega de “se, se, se”. Vale analisar o show exatamente como foi, e nesse caso a nota é muito alta. O desfile de hits foi matador, e a inclusão de duas ótimas faixas de seu álbum de retorno de 2004, a faixa título Everybody Loves a Happy Ending e Secret World, mostra como esse excelente trabalho não merecia ter sido praticamente ignorado pela mídia e pelo grande público. Discaço!

A curiosidade ficou por conta da inclusão de Break It Down Again, a única música do show extraída de um dos discos que Orzabal gravou com o nome Tears For Fears sem a presença de Curt Smith, o interessante Elemental (1993). Simples, sem invenções e com alma, o show da clássica banda oitentista ganhou o público e mereceu ser considerado um dos melhores do festival. E nada de “mero apelo nostálgico” ou colocações tolas do gênero. Música boa é para sempre!

Set list Tears For Fears Rock in Rio- 22.9.2017

início: 22h43

Everybody Wants To Rule The World (Songs From The Big Chair– 1985)

Secret World (Everybody Loves a Happy Ending-2004)

Sowing The Seeds Of Love (The Seeds Of Love-1989)

Advice For The Young At Heart (The Seeds Of Love– 1989)

Everybody Loves a Happy Ending (Everybody Loves a Happy Ending-2004)

Change (The Hurting– 1983)

Mad World (The Hurting– 1983)

Memories Fade (The Hurting– 1983)

Creep (cover do Radiohead)

Pale Shelter (The Hurting-1983)

Break It Down Again (Elemental– 1993)

Head Over Heels (Songs From The Big Chair-1985)

bis: Shout (Songs From The Big Chair– 1985) final 23h42

Shout (ao vivo Rock in Rio)- Tears For Fears:

Efeito Borboleta, bela viagem rocker de Rodrigo e Fernando

efeito borboleta rodrigo santos fernando capa-400x

Por Fabian Chacur

Quando entrou no Barão Vermelho, em 1992, Rodrigo Santos não só tornou-se membro do primeiro time do rock brasileiro como também ganhou um novo parceiro musical, o guitarrista Fernando Magalhães. Depois de 25 anos, essa amizade não só se consolidou como agora rende um primeiro trabalho em dupla. E que trabalho! Efeito Borboleta (lançado pela Coqueiro Verde) equivale a uma bela viagem rocker.

A ideia dos dois amigos é que este CD seja o primeiro de uma trilogia. Neste volume inicial, temos 15 músicas assinadas por eles. Rodrigo se incumbe de vocais (todos), baixo e violões, enquanto Fernando é o cara das guitarras e violões. Completam o time o tecladista Humberto Barros, que tocou com Rodrigo no Kid Abelha, e o baterista Lucas Frainer, do grupo Rodrigo Santos & Os Lenhadores.

A dobradinha Santos/Magalhães gerou uma fornada de canções roqueiras com várias nuances, sem cair na mesmice. O início não poderia ser melhor, com a virulenta faixa-título, cuja letra detona a situação caótica do mundo e os riscos que corremos de um fim apocalíptico.

A faixa-final, o impactante hard rock A Magnitude da Nossa Insignificância, é uma espécie de complemento da de abertura, trazendo versos ácidos sobre o quanto o ser humano é insignificante perante tudo o que o cerca, embora sempre se ache a última bolacha do pacote.

Entre uma e outra, o ouvinte poderá se divertir com um repertório que investe em rocks certeiros com vocação pop como Navegar, Juntos de Novo e A Vida Bela, a balada com slide guitar inspiradíssima Sem Deixar Pegadas, a ótima stoneana Uma Pequena Lágrima (espécie de Beast Of Burden da dupla), e a belíssima balada folk acústica O Meu Juízo.

Mano é uma bela blues ballad homenageando o saudoso percussionista Peninha, parceiro dos dois no Barãm Vermelho. Sorte é um rock melódico com cara de hit, assim como a incrível Coragem. As duas mereciam entrar imediatamente nas programações das rádios roqueiras deste país, se é que ainda existe alguma. Na pior das hipóteses, nos podcasts dedicados ao rock nacional.

Em outro momento político do repertório (sem cair no panfletário, por sinal), O Fóssil Brasileiro mistura punk e hard rock com versos incisivos como “e se o chão é duro, traiçoeiro, é mais heroico pra partir, do que o espinhoso travesseiro dos assassinos do país”. Por sinal, as letras são sempre muito bem concatenadas, independente do tema desenvolvido- amor, relacionamentos, filosofia de vida, política…

Versátil e com um currículo do tamanho de uma lista telefônica, Rodrigo Santos mostra que aprendeu e muito com todas essas experiências. Ele canta cada vez melhor, com personalidade e estilo, mostrando que sabe tanto ser sideman como frontman, sempre com a mesma categoria. Por sua vez, Fernando Magalhães joga para o time o tempo todo, sem querer ser mais do que as canções, que mandam neste álbum.

O que não significa que, em momentos como 12 Anos de Espera, Sem Deixar Pegadas e A Magnitude da Nossa Insignificância Magalhães não assuma o protagonismo com fúria, técnica e emoção. Como já sabíamos nesses seus tantos anos de Barão Vermelho, é um baita músico. E nas composições, a dupla esbanja inspiração, concisão e talento, manuseando as regras e elementos do rock and roll com uma desenvoltura destinada apenas aos craques.

Se esse é apenas o início de uma trilogia, fica a torcida para que os outros volumes venham logo, pois esta dupla dá provas inequívocas de que estão bem errados aqueles que afirmam ser o rock um gênero morto e com farofa na boca. Provavelmente, são os caras que afirmam uma asneira dessas que se encontram em tal situação. O saudoso mestre Zeca Neves amaria este álbum!

Efeito Borboleta- Rodrigo Santos e Fernando Magalhães (ouça em streaming):

Grant Hart, ex-Husker Du, faz a sua última e triste viagem

grant hart-400x

Por Fabian Chacur

Grant Hart, baterista, vocalista e compositor da seminal banda americana Husker Du, nos deixou nesta quinta-feira (14), aos 56 anos. Ele lutava nos últimos meses contra um câncer no rim, que infelizmente não teve como ser curado. Diversos músicos lamentaram essa inestimável perda, entre eles Bob Mould, seu ex-colega de banda, que divulgou sua tristeza nas redes sociais, conforme ótima matéria da edição online do jornal Star Tribune, da cidade americana de Minneapolis (leia aqui).

Em uma dessas tristes coincidências, o único show de Hart em São Paulo completará quatro anos de sua realização nesta sexta-feira (15). Foi um evento incrível, no qual o artista americano mostrou seu enorme talento e encantou os inúmeros fãs presentes à Galeria Olido (leia a resenha deste show histórico aqui). E o ingresso foi gratuito!

Grantzberg Vernon Hart nasceu em 18 de março de 1961. Ele montou o Husker Du na cidade de Minneapolis, a mesma que deu ao mundo o genial Prince, em 1979. Junto com Bob Mould (guitarra e vocal) e Greg Norton (baixo), o baterista, cantor e compositor resolveu investir em um punk rock bastante agressivo, que ganhou o rótulo de hardcore. O primeiro single do grupo, com as faixas Statues e Amusement, saiu em 1981. O primeiro álbum, o ao vivo Land Speed Record (1982), é um registro básico, cru e hardcore até a medula.

Com o tempo, o Husker Du ampliou os seus horizontes e criou uma sonoridade que pode ser definida de forma geral como se fosse uma mistura do Black Flag com os Byrds. Álbuns como Zen Arcade (1984) e Flip Your Wig (1985) os tornaram bastante conhecidos no meio underground do rock americano, a ponto de atrair a atenção da gravadora Warner, que resolveu apostar nos rockers feiosos e gordinhos, mas muito talentosos.

Candy Apple Grey (1986), a estreia deles na Warner, é uma obra-prima, na qual essa fusão de folk-rock clássico com hardcore soa simplesmente perfeita. Hart e Mould eram os compositores do grupo e também se alternavam como vocalistas principais. Dois craques. Mas as canções de Hart, maravilhas como I Don’t Want To Know If You’re Lonely e Sorry Somehow, são as melhores, poderosos diamantes sônicos bem lapidados, sem perder a energia, nem a ternura, jamais.

Infelizmente, nem esse clássico, nem o seu ótimo sucessor, Warehouse: Songs And Stories (1987), conseguiram bons números de venda. Em 1987, ou seja, há exatos trinta anos, eles acabaram se separando, especialmente devido a brigas entre Hart e Mould, rivalidade que se manteve por muitos e muitos anos e impediu qualquer chance do retorno da banda. E aquela praga que frequentemente atinge pioneiros na música os pegou em cheio.

Logo após o seu fim, bandas como Pixies e, especialmente, Nirvana, beberam com categoria em sua fonte e conseguiram colher os frutos em termos comerciais e de popularidade que foram negados ao Husker Du. Após o fim da banda, Grant Hart iniciou uma carreira-solo com o excelente Intolerance (1989), que este que vos escreve tem autografado pelo autor.

Hart ainda criou a banda Nova Mob, que se manteve por algum tempo na ativa e lançou alguns discos, mas sem sucesso. Depois, retornou à carreira-solo. Seu último trabalho individual foi The Argument (2013). Naquele mesmo ano, foi feito o documentário Every Everyting- The Music, Life & Times Of Grant Hart, de Gorman Bechard (o mesmo de Color Me Obsessed-2011, sobre os Replacements, outra banda seminal de Minneapolis), dando uma geral em sua vida.

Bob Mould voltou a se aproximar do ex-colega de banda nessa fase final. Inclusive, anunciaram há uma semana o lançamento, previsto para novembro deste ano, de Savage Young Du, caixa com três CDs trazendo gravações inéditas da fase inicial do Husker Du. Em julho deste ano, em um de seus últimos shows (ou quem sabe o último), em Minneapolis, Hart teve a participação de integrantes do Soul Asylum, Babes In Toyland e Run Westy Run. Leia mais sobre ele aqui.

Em entrevista concedida em 2009 ao Star Tribune, o músico, que foi amigo de Patty Smith e Willian S. Burroughs, deu uma declaração que pode servir como um belo epitáfio: “Acho que o trabalho que eu produzi durante a minha vida irá mais do que reparar o mundo por alguma inconveniência que eu tenha causado”. Descanse em paz.

Candy Apple Grey- Husker Du (ouça em streaming):

Blitz lançará seu novo DVD e também fará turnê pelos EUA

blitz foto credito JUBA 2-400x

Por Fabian Chacur

Embora nunca tenha saído de cena nos últimos anos, a Blitz retomou com força total a carreira nos últimos meses. Lançou Aventuras 2, CD que celebra os 35 anos de sua estreia em disco com convidados especiais e bons elogios por parte de público e crítica. E as novidades não param de pintar. Em outubro, o grupo carioca lançará um novo DVD, gravado ao vivo em abril no Circo Voador, local cuja importância é impar na sua história de muito sucesso.

O grupo liderado pelo trio Evandro Mesquita (vocal e violão), Billy Forghieri (teclados) e Juba (bateria), integrantes de sua formação clássica, também anuncia que fará em fevereiro de 2018 uma turnê pelos EUA. E de quebra, preparam-se para show no Rock in Rio no dia 16 de setembro com participações especiais de Alice Caymmi e Davi Moraes. Será o seu retorno ao evento após 32 anos, eles que foram uma das atrações da histórica edição inicial do evento, em janeiro de 1985.

Em entrevistas, Evandro Mesquita sempre ironiza de forma simpática a previsão de alguns jornalistas apressados, que, com o estouro da banda em 1982 com Você Não Soube Me Amar, previam que seria o sucesso de um único verão. E, desde então, 30 e tantos verões se passaram, e os caras continuam aí, firmes e fortes, com sua mistura de bom-humor, rock and roll e ritmos tropicais, pondo para dançar e se divertir gerações de brasileiros. Quem ri por último…

Noku Pardal– Blitz e Alice Caymmi:

DVD registra Bryan Adams no auge da sua carreira, em 1996

bryan adams live wembley 1996

Por Fabian Chacur

Em 1996, Bryan Adams era um dos artistas mais populares do mundo. Seu mais recente álbum, 18 Til I Die, ocupava o primeiro posto na parada britânica, e vendia muito em diversos outros países. Foi nesse clima, no dia 27 de julho daquele ano, que o roqueiro canadense se apresentou para aproximadamente 70 mil pessoas no lendário estádio de Wembley, em Londres. Agora, enfim o show chega ao formato DVD no Brasil, com o título Wembley 1996 Live. Um registro histórico e incrível.

Para começo de conversa, são 143 minutos de show durante os quais o cantor, compositor e músico se vale apenas de ótima aparelhagem de som, iluminação discreta e cinco músicos. Entreter uma multidão em um estádio valendo-se apenas e tão somente de música não é coisa para qualquer artista. Hoje em dia, torna-se cada vez mais raro. Pois o nosso personagem dá conta da tarefa com carisma, talento e habilidade, sem apelar ou cair no vulgar.

Sua banda de apoio é absurdamente boa, a começar do guitarrista-solo Keith Scott, que o acompanha desde meados de 1982 e está com ele até hoje, com suas intervenções sempre precisas e sem jogar notas foras. Mickey Curry (bateria), Tommy Mandel (teclados e piano), Dave Taylor (baixo) e Danny Cummings (percussão) são os outros craques que se mostram prontos para quaisquer desafios, ajudando Adams a segurar a plateia o tempo todo.

Esse show é uma prova mais do que concreta de como são desinformados aqueles que classificam o autor de Heaven como “apenas um cantor romântico”. Em seus shows pelo mundo afora, o rock and roll básico e melódico sempre come solto, com direito a muita energia. Para que vocês possam ter uma ideia, a primeira balada, Have You Ever Really Loved a Woman?, aparece como sétima música do show, quando o espetáculo já conta com meia hora de duração.

Bryan Adams não é um daqueles artistas inovadores, ou criadores de novos rumos para o rock ou coisa assim. Ele soube estudar os grandes nomes do rock dos anos 50, 60 e 70 e tirar boas lições de suas obras. A partir dali, criou o seu jeito próprio de compor, tocar e cantar, que se não revolucionou nada, certamente ajudou a injetar energia positiva e muita emoção em fãs dos quatro cantos do planeta. E, porque não, influenciar muitos artistas que vieram depois dele.

Com uma voz potente e belíssima, ele encara tanto rockões como The Only Thing That Looks Good On Me Is You, Kids Wanna Rock e She’s Only Happy When She’s Dancin’ como power balllads matadoras como Heaven, It’s Only Love, Somebody e All For Love. Sua empatia com o público é tão grande que praticamente não precisa chama-los para cantar juntos, o que às vezes até o surpreende, algo captado pelas câmeras.

O repertório generoso traz 24 músicas, com direito a várias de 18 Til I Die e de seus trabalhos anteriores, além de alguns covers bacanas, entre os quais Wild Thing (The Troggs). Os arranjos seguem as gravações originais de estúdio, com direito a algumas brincadeiras legais, como Keith Scott brincando com os amplificadores e gerando microfonia e solos incríveis durante a música Touch The Hand, por exemplo.

O show é repleto de momentos legais, entre os quais temos a participação da estrela americana Melissa Etheridge fazendo as vezes de Tina Turner na impactante It’s Only Love. Outra parte marcante é quando o grupo sai do palco principal e toca cinco músicas em um palquinho colocado no meio do povão. Na hora em que apresentam a última música naquele espaço (She’s Only Happy When She’s Dancin’), um montão de gente sobe para dançar com o ídolo.

No palco principal, em sua parte de trás, foi instalada uma arquibancada na qual dezenas de sortudos puderam ver o show de pertinho. Wembley 1996 Live é uma dessas provas de poder de fogo que poucos artistas no mundo podem se gabar de ter. E Bryan Adams, que se mantém ativo de forma admirável, tem em seu currículo um acontecimento como esse. Podem até ser apenas “tolas canções de amor” as que ele canta/compõe. Mas o que há de errado nisso, como diria Paul McCartney?

Heaven (live Wembley 1996)- Bryan Adams:

Older posts Newer posts

© 2024 Mondo Pop

Theme by Anders NorenUp ↑