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Rita Lee tem Build Up de volta em um vinil azul marmorizado

rita lee build up 400x

Por Fabian Chacur

Aos poucos, a gravadora Universal Music tem feito relançamentos luxuosos em vinil da discografia de Rita Lee. Processo, vale registrar, cujo início foi bem antes da sua prematura partida, no último dia 8 de maio. Desta vez, o álbum escolhido é Build Up, que em 1970 equivaleu ao primeiro item da cantora e compositora paulistana como artista-solo, quando ainda era integrante dos Mutantes.

Duas particularidades certamente deixarão os colecionadores bastante a fim de adquirir essa reedição do álbum inicial da querida e saudosa Tia Rita. Uma é o fato de o LP ter uma prensagem em vinil azul marmorizado. A outra é resgatar a capa dupla da ínfima primeira tiragem original do LP, que em todas as reedições posteriores viria sempre com uma capa simples.

A faixa mais conhecida deste trabalho é José, versão em português assinada por Nara Leão para Joseph, do saudoso cantor e compositor grego radicado na França Georges Moustaki (1934-2013), que tocou bastante em rádios. Outro destaque é uma releitura bem roqueira de And I Love Her, dos Beatles.

Saiba mais sobre esse relançamento aqui.

José (Joseph)– Rita Lee:

Rita Lee, 75 anos, a rainha do rock e da alegria em geral

Rita Lee 1980-400x

Por Fabian Chacur

Rua Joaquim Távora, Vila Mariana, São Paulo. Ali, uma certa Rita Lee Jones viveu e foi criada em sua infância e adolescência. Uma das filhas mais ilustres do bairro de onde eu também vim. Curiosamente, no entanto, só fui conhecê-la pessoalmente no centro de São Paulo, mais precisamente no dia 12 de maio de 1987, em entrevista coletiva realizada no Hilton Hotel para divulgar o recém-lançado álbum Flerte Fatal.

Eu usava uma camiseta amarela do The Cure, e não só peguei um autógrafo dela como também tirei uma foto ao seu lado. Foi uma entrevista até calma, embora tivesse um clima pesado no ar por causa de uma crítica sobre o álbum no qual o polêmico Luis Antonio Giron ironizou a artista, definindo o seu momento de carreira como uma “menopausa criativa”. Grosseria pura, que ela acabou tirando de letra.

Tive mais uma ou duas oportunidades de entrevistá-la nos anos seguintes, uma delas no antigo Palace, também com direito a registros fotográficos. Sempre simpática, franca e sem rodeios.

E estive em 1991 no apartamento em que ela morava na época, ao lado da Praça Buenos Aires, na região central de São Paulo, mas para entrevistar não ela, mas seu parceiro de vida, o grande músico Roberto de Carvalho, um dos caras mais simpáticos e gentis que já tive a honra de conhecer nesse meio de pessoas nem sempre tão gentis e simpáticas.

Todas essas recordações rondam a minha cabeça nesta triste terça-feira (9), quando foi divulgada a partida dessa icônica Rita Lee, aos 75 anos. Ela lutou bravamente contra um câncer, e estava entre os seus entes queridos na hora da despedida. Uma figura que já estava eternizada na história da nossa cultura como um todo, mas que agora sai de cena, para tristeza geral.

Fiz uma geral em sua trajetória quando do lançamento da caixa Rita, há alguns anos (leia aqui), Mas vale ressaltar algumas das marcas registradas dessa artista tão peculiar e tão genial.

Rita se tornou nacionalmente conhecida integrando os Mutantes, um dos grupos mais criativos e marcantes da história do rock brasileiro. Ao sair da banda, no qual era uma coadjuvante de luxo para os irmãos Arnaldo e Sérgio Dias Baptista, mergulhou em uma carreira solo na qual pôs pra fora toda a sua personalidade inquieta, genial e irreverente.

Com o Tutti-Frutti e depois tendo como seu braço direito o também parceiro de vida Roberto de Carvalho, Rita construiu uma discografia na qual o rock foi misturado com r&b, folk, pop, jazz e MPB com uma assinatura própria repleta de irreverência, bom humor, sarcasmo e astúcia.

Sua galeria de hits foi enorme, e seus shows no início dos anos 1980 ajudaram a abrir as portas para os mega-espetáculos de rock no Brasil, com apresentações em ginásios e estádios e produções sofisticadas. Sem o estouro de Rita Lee, a Blitz certamente não teria estourado e aberto as portas para a geração roqueira dos anos 1980.

Além disso, Rita também mostrou que as mulheres tinham o direito de arrombar a festa e tomar conta da coisa toda em termos de sucesso. Sem Rita Lee, o Brasil fica ainda mais triste e careta, embora felizmente viva novamente dias de esperança. Que sua obra linda e pra cima possa nos ajudar a dar a volta por cima e voltarmos a ser um Brasil com S. Saudade da nossa eterna ovelha negra!

Lá Vou Eu– Rita Lee:

Roberta Spindel com Ney Matogrosso em Sangue Latino

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Por Fabian Chacur

Em 2023, o autointitulado álbum de estreia dos Secos & Molhados completará 50 anos de seu lançamento. Um dos grandes clássicos da discografia brasileira, este LP/CD sempre integra a lista dos melhores discos de todos os tempos. Iniciando a comemoração dessa efeméride tão significativa, a cantora Roberta Spindel se une ao cantor da banda, Ney Matogrosso, para a releitura de Sangue Latino, uma das faixas mais conhecidas deste trabalho marcante.

Um lançamento da Kuarup e Algorock com distribuição nas plataformas digitais pela The Orchard, Sangue Latino recebeu uma nova roupagem que não foge tanto da gravação original, mas acrescenta sutilezas e novos elementos, além de mostrar ótimo entrosamento entre Roberta e Ney.

De autoria de João Ricardo e Paulinho Mendonça, Sangue Latino conta nesta nova versão com as participações dos músicos Rodrigo Campello (arranjo, violão, guitarra e teclados), Marcos Suzano (percussão), Federico Puppi (cello) e Pedro Mibieli (violino e viola).

Roberta Spindel lançou seu primeiro álbum em 2011, Dentro do Meu Olhar, com participação especial de Caetano Veloso e duas faixas incluídas em trilhas de novelas globais. Ela lançou este ano o EP Alma D’Água, com participações especiais de Zeca Baleiro e Suricato.

Sangue Latino (clipe)- Roberta Spindel e Ney Matogrosso:

Erasmo Carlos, 81 anos, o meu, o seu, o nosso amigo de fé…

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Por Fabian Chacur

“E agora, com vocês, o meu amigo Erasmo Carlos!” Era dessa forma irreverente e simpática que Roberto Carlos apresentava, no programa Jovem Guarda, da TV Record, nos anos 1960, seu maior parceiro, o grande Erasmo Carlos. Eu era muito pequeno para me lembrar de algo daquele programa, mas me recordo e muito de um compacto simples do meu irmão, A Pescaria, que eu amava, mesmo com meus cinco aninhos. Duro saber que o Gigante Gentil se foi nesta terça-feira (22), aos 81 anos.

Fui ter a honra de conhecer esse imenso cantor, compositor e músico no ano de 1992, quando ele lançou o álbum Homem de Rua, muito bom, por sinal. A entrevista coletiva foi em uma hoje extinta casa de shows situada na rua Turiassu, em São Paulo, e ficou na minha memória para sempre. Tenho aquele álbum no formato vinil com o precioso autógrafo do Tremendão.

Fui reencontrá-lo pessoalmente lá pelos idos de 2003, quando ele participou de uma entrevista coletiva ao lado da amiga Wanderlea, e desta vez com direito à foto que ilustra este post, gentileza da minha querida amiga Giseli Martins Turco. Também o entrevistei por telefone, e em todas essas ocasiões pude presenciar um cara extremamente simpático, gentil e sempre com histórias deliciosas para nos contar.

O tamanho da obra de Erasmo é imenso. Tanto suas eternas parcerias com Roberto Carlos como o que fez como artista solo já o eternizaram há muitas décadas entre os mestres da nossa música. O rock o marcou desde sempre, mas em sua sonoridade também entraram elementos de música brasileira, latina, pop e um romantismo repleto de inspiração e poesia.

A minha querida A Pescaria, Festa de Arromba, Gatinha Manhosa e Sentado à Beira do Caminho são apenas algumas das canções mais marcantes da fase inicial de sua carreira. O pós-jovem guarda nos trouxe muita coisa boa também, como Cachaça Mecânica, Filho Único, Mesmo Que Seja Eu, Mulher, Homem de Rua, é muita música boa.

Um dos grandes méritos de Erasmo Carlos reside no fato de ter conseguido atingir tanto os roqueiros mais radicais quanto o público mais simples e popular. Ele sofreu com uma parcela barra pesada de headbangers em sua participação no Rock in Rio em janeiro de 1985, mas foi um raro momento em que teve de encarar esse tipo de reação. Ele sabia falar com todo tipo de plateia como poucos artistas na história da nossa música.

Sua autobiografia Minha Fama de Mau (2009- leia a resenha de Mondo Pop aqui) é repleto de histórias de sua rica trajetória.

Outra virtude de Erasmo foi ter se mantido bastante ativo durante todos esses anos, lançando novos trabalhos e fazendo shows, o que lhe permitiu atingir um público bem além dos seus fãs originais dos tempos de jovem guarda. Ele certamente mereceu a linda homenagem de Roberto Carlos na música Amigo, que a partir de agora sempre arrancará lágrimas de todos aqueles que o admiram tanto. Perdemos um amigo de fé, mesmo.

A Pescaria– Erasmo Carlos:

Tony Babalu, o sujeito que nos faz viajar com seu som inspiradíssimo

tony babalu no quarto de som

Por Fabian Chacur

Bom dia, boa tarde, boa noite, caro leitor. Como vai você? O astral não anda dos melhores? Precisa de uma droga lícita que dê uma melhorada no seu momento? Pois Mondo Pop vai te dar uma dica que você certamente agradecerá por muito tempo. É simples. Ouça agora, no volume que for mais conveniente para sua audição, o EP No Quarto de Som…, já disponibilizado nas plataformas digitais pelo grande, genial, encantador e uns mil adjetivos mais Tony Babalu, um dos grandes músicos do rock brasileiro (leia mais sobre ele aqui). São 15 minutos de puro êxtase sonoro. Sem exagero!

Se sempre teve como marca a extrema habilidade e sensibilidade como guitarrista nessas suas quase cinco décadas na ativa como músico profissional, Babalu tem se mostrado absurdamente inspirado em sua maturidade. No Quarto de Som… nos oferece cinco faixas inéditas nas quais ele prova mais uma vez que rock instrumental é não só uma vertente musical viável como também pode te cativar sem cair em exageros tecnicistas ou masturbação sonora à luz da lua. Não, meu amigo. Aqui, quem manda é a música.

Tony Babalu se mostra um servo do som, das melodias, dos timbres, colocando todo o seu extenso ferramental técnico à serviço de cada uma dessas composições. Aqui, ele equivale ao “exército de um homem só”, pilotando não só a sua icônica guitarra como também violões e diversos outros instrumentos. A ajuda ficou por conta da mixagem e masterização, a cargo dos craques Marcelo e Beto Carezzato, do célebre Carbonos Studio, em Sampa City. De resto, é só ele mesmo, se virando nos 30 como poucos seriam capazes de fazer.

A festa começa com a energética Recomeço, uma espécie de tecnobossa com um arranjo simplesmente espetacular. Impressionante como Babalu é cirúrgico na entrada em cena de cada sonoridade que desenvolve nessa e nas outras faixas. São pinceladas de um Picasso, um Rembrandt, um Van Gogh, espalhando sua inspiração em doses certeiras, e gerando dessa forma um todo inseparável, perfeito e deliciosamente digerível pelo ouvinte.

A bela balada soft rock a la James Taylor Lara é dedicada àqueles que já tiveram a triste experiência de perder um animal de estimação. Por sua vez, Tropical Mood vem com um molho saleroso de pura latinidade e ecos do poderoso Carlos Santana, só que no melhor Babalu style, sem cópias ou diluições.

Reflexo incorpora elementos de r&b eletrônico e rock com direito a swing e energia compassada. A faixa que encerra o EP, Francisca, teve como inspiração a saudosa mãe do músico, e tem no baião o seu DNA, inserido em um contexto roqueiro e delicado com rara felicidade pelo guitarrista.

Em um momento no qual passamos a maior parte do tempo em nossos lares, nada melhor do que ouvir músicas que nos levam a viajar, a sonhar com dias melhores, a recordar momentos importantes e de, simplesmente, ter aquele prazer incontrolável e delicioso. No Quarto de Som… equivale a um energético envolvente com sabor de quero mais. Para ouvir, ouvir, ouvir…

Recomeço– Tony Babalu:

Kika Seixas fala sobre sua vida ao lado do saudoso Maluco Beleza

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Por Fabian Chacur

Entre as três esposas e várias companheiras que Raul Seixas teve em seus 44 agitados anos de vida, Kika Seixas certamente ocupa o posto mais alto. Não só pelos cinco anos em que se manteve junto com ele, mas também pelo fato de, após a morte dele em 1989, ter sido decisiva no intuito de gerir a obra do Maluco Beleza. Como forma de registrar essa experiência ao lado de um dos grandes nomes da história do nosso rock, ela, em parceria com um grande amigo de Raul, o engenheiro e escritor Toninho Buda, acaba de lançar Coisas do Coração- Minha História Com Raul Seixas, disponibilizado pela editora UBOOK nos formatos livro impresso, ebook e áudio book, este último contando com narração da própria Kika e da filha, Vivian, e também dos atores Sônia Dias e Nelito Reis.

Kika conheceu o autor de Ouro de Tolo em 1979, quando trabalhava na gravadora Warner-WEA. De uma simples carona que ela proporcionou ao roqueiro, sairia um relacionamento intenso, com altos e baixos e que resultou também em uma filha, Vivian, nascida em 28 de maio de 1981. Não só afetivo, mas também profissional, pois ela assinou 15 canções bem legais em parceria com Raul, entre as quais Só Pra Variar, Nuit e Coisas do Coração.

Com um texto delicioso e fluente, o livro narra momentos íntimos entre os dois e os bastidores de produção e gravação dos discos Abre-te Sésamo (1980), Raul Seixas (1983), Raul Seixas Ao Vivo Único e Exclusivo (1984) e Metrô Linha 743 (1984). O legal é a forma como Kika e Buda nos oferecem as informações, que ganham muita credibilidade exatamente por esse método.

Além da reprodução de inúmeras matérias publicadas naquele período por diversos jornais e revistas, Kika vai além de se valer apenas de suas memórias. Como era uma espécie de arquivista compulsivo em relação à tudo que se relacionava a si próprio, Raul guardava todas as cartas que recebia e enviava. Dessa forma, em vários momentos os fatos apresentados são mostrados com esses registros, no calor da hora e repletos de emoção.

A paixão entre eles, os problemas do roqueiro com drogas, incluindo um bizarro vício de cheirar litros e litros de éter, sua insegurança em termos profissionais e pessoais, a forma como negligenciava sua saúde, as passagens por hospitais e clínicas, temos aqui um verdadeiro mergulho na vida de Raul nesses anos tão difíceis e ao mesmo tempo tão produtivos de sua trajetória artística e pessoal.

Entre outras revelações, ficamos sabendo como a irresponsabilidade de Raul o levou a perder uma gravação de clipe para o Fantástico em 1980, o que gerou uma forte reação negativa da emissora e também do meio artístico. Como eles conversavam muito, Kika também soube de fatos anteriores, como o da mentira acerca de um mitológico encontro entre ele e John Lennon em Nova York que, na verdade, nunca ocorreu.

O perfil do genial artista baiano apresentado aqui é de um ser humano contraditório, capaz de ser carinhoso, generoso e humano e também inconsequente, inseguro e seu pior inimigo. Kika não doura a pílula nem dele, nem de si própria, esbanjando honestidade e paixão ao nos apresentar o Raul Seixas que só ela conheceu.

Uma personagem importante que o livro nos revela é Maria Eugênia Seixas, a mãe de Raul, uma pessoa incrível pela paciência, abnegação e carinho com que tratou o filho mesmo nos momentos mais difíceis, nos quais ele criava os mais incríveis obstáculos entre seus entes queridos, mas que ela superava para cuidar dele. Várias cartas dela endereçadas a Kika falando sobre fatos ocorridos com Raul foram reproduzidas no livro. E foi Dona Maria Eugênia quem designou Kika como a responsável por cuidar da maior parte do acervo do artista, em parceria com o grande Sylvio Passos, que em 1981 criou o Raul Rock Club, o maior e melhor fã-clube do nosso genial roqueiro.

Além dos cinco anos específicos em que viveu com o músico, Kika também nos conta as coisas que fez antes de conhecê-lo, dos cinco anos finais da vida dele, nos quais seus contatos foram menores, mas ainda frequentes, e de tudo o que fez posteriormente para ajudar a manter a obra de Raul Seixas sendo divulgada após a morte dele, incluindo o projeto O Baú do Raul, que envolveu shows, lançamentos de CDs, DVDs e livros, exposições etc.

A versão física do livro é sensacional, com edição impecável que nos proporciona letras bem legíveis, capítulos bem delineados, uma generosa seção de fotos e muitas informações sobre personagens em torno de Raul- parentes, amigos, músicos, colaboradores etc. Sim, muitos livros já foram lançados sobre esse verdadeiro mito da nossa cultura, mas este aqui é certamente um dos mais relevantes e essenciais para quem deseja conhecer melhor o Maluco Beleza.

Coisas do Coração– Raul Seixas:

Lô Borges retoma parceria com o irmão Márcio em single c/Moska

Lô Borges (participação Paulinho Moska) - Muito Além do Fim (single)

Por Fabian Chacur

Em um ano repleto de notícias ruins, qualquer coisa boa que surja no horizonte merece ser comemorada de forma efusiva. E é dessa forma que Mondo Pop saúda a retomada, após dez anos, da parceria entre os irmãos Lô e Márcio Borges. Autores de maravilhas do porte de Clube da Esquina, Um Girassol da Cor do Seu Cabelo e Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor, entre outras, eles acabam de divulgar o primeiro fruto dessa nova safra de canções, já disponível nas plataformas digitais via gravadora Deck.

Trata-se de Muito Além do Fim, um delicioso rock melódico com versos para tentar levantar o nosso astral nesse momento complicado do Brasil e do mundo em plena pandemia do novo coronavírus. Para melhorar ainda mais a coisa, temos a participação de Paulinho Moska, que se encaixa feito luva no balanço de Lô e na poesia de Márcio.

Além de Lô e Moska, marcaram presença nesta gravação Henrique Matheus (guitarra), Thiago Corrêa (baixo, teclados e percussão) e Robinson Matos (bateria). A faixa fará parte de um novo álbum de Lô Borges que está em fase de produção. Que venha logo, pois sua música é sempre um bálsamo para a nossa alma.

Muito Além do Fim– Lô Borges e Paulinho Moska:

Zé Brasil celebra 70 anos em show com convidados em SP

Divulgação - Edgar Franz 2 zé brasil 400x

Por Fabian Chacur

O rock paulistano tem grandes representantes, e Zé Brasil é certamente um deles. Com cinco longas décadas na estrada, este cantor, compositor e músico celebrará seus 70 anos de vida com um show em São Paulo neste domingo (8) às 20h no célebre Café Piu Piu (rua 13 de maio, nº 134- Bela Vista- fone 0xx11-3258-8066), com ingressos a R$ 20,00. Um artista de rock do bom e fortemente ligado à década de 1970, agora setentão. Legal demais da conta!

Como festa boa que se preze precisa ter bons convidados para animar a coisa toda, essa trará, entre outros, figuras do alto calibre de Gerson Conrad (ex-Secos & Molhados), Esméria Bulgari (dos Mutantes) e Marinho (do Casa das Máquinas). Além, é lógico, de sua parceira de música e de vida, a cantora Silvia Helena.

O repertório conta basicamente com faixas de seu mais recente álbum, Povo Brasileiro, que traz canções ótimas como a que dá título ao mesmo e também Festim do Fim, Bicho Grilo e Mistérios Universais, entre outras. Leia mais sobre essa figura seminal do nosso velho e bom rock and roll aqui.

Povo Brasileiro– Zé Brasil:

Flaviola e o Bando do Sol, ótimo LP de 1974, é relançado em vinil

Flaviola e o Bando do Sol - LP 400x

Por Fabian Chacur

O rock psicodélico pernambucano gerou belos frutos, especialmente durante a primeira metade da década de 1970. Muitos dos álbuns lançados nesse fértil período criativo permaneceram durante décadas fora dos catálogos. Nos últimos anos, alguns dos mais expressivos títulos dessa era tem felizmente merecido reedições. Agora, é a vez de Flaviola e o Bando do Sol (1974), em versão de vinil de 180 gramas, mais um item na coleção Clássicos em Vinil, da Polysom.

Com capa cujo estilão lembra o da carreira-solo de Syd Barrett, o disco é o único gravado pelo cantor, compositor e poeta Flaviola, cujo nome de batismo é Flávio Lira. Com 13 faixas, o disco traz como faixa mais conhecida O Romance da Lua Lua, que não só seria relida com muito sucesso como também daria nome ao álbum lançado em 1983 pela cantora cearense Amelinha. A versão original de Flaviola é também muito boa, vale ressaltar.

Trazendo 13 faixas e lançado na época pela mitológica gravadora de Recife (PE) Rozenblit, Flaviola e o Bando do Sol reúne composições dele e também duas versões em português para poemas do espanhol Garcia Lorca (Canção de Outono) e do georgiano Vladimir Maiakovski (Balalaika). Robertinho do Recife é o autor de Brilhante Estrela, e participam do LP Lula Côrtes e Zé da Flauta.

Ouça Flaviola e o Bando do Sol em streaming:

Walter Franco, genial coração tranquilo e malucão de festival

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Por Fabian Chacur

Os festivais de música se tornaram uma febre no Brasil a partir da metade da década de 1960, graças especialmente ao fato de terem sido promovidos por emissoras de TV e transmitidos para todo o país. Ajudaram a divulgar novos nomes, mas também firmaram alguns estereótipos negativos que prejudicaram carreiras. Walter Franco, que nos deixou nesta quinta (24) aos 74 anos, certamente foi um dos mais prejudicados nesse processo perverso que teve origem no mitológico Festival da Record de 1967.

Espécie de avô dos reality shows do século XXI, aquele tipo de competição musical logo apostaria em encaixar seus competidores em padrões. Tipo o galã (Chico Buarque, por exemplo), o moderno (Caetano Veloso), a espevitada (Elis Regina), o simpático carismático (Jair Rodrigues) e por aí vai.

O cantor, compositor e músico Sérgio Ricardo, ao ser furiosamente vaiado quando interpretava sua inusual composição Beto Bom de Bola naquele festival da Record de 1967, o levou a uma reação furiosa e totalmente inesperada: quebrou o violão e jogou seus restos na plateia.

Como seria de se esperar, naquele momento surgia mais um personagem a ser preenchido na escalação dos próximos certames similares. Denomino esse elemento de “malucão de festival”, tarja que passaria a ser imposta a todo competidor que nos oferecesse um trabalho fora dos padrões mais habituais.

De certa forma, Gilberto Gil foi atirado nesse fosso ao defender a depois eliminada Questão de Ordem em festival de 1968, gerando a indignação de Caetano Veloso e seu ácido discurso no meio de É Proibido Proibir.

Surgem os tais de “malditos”

Mas quem melhor se encaixou neste novo perfil foi Walter Franco no Festival Internacional da Canção da Globo de 1972. Afinal de contas, nada mais experimental e fora do padrão habitual do que Cabeça, uma música genial e minimalista que tocava na ferida da pressão que o chamado mundo moderno fazia nas pessoas, e da importância de se cuidar para não explodir. Ao ver aquilo, em horário nobre, o público entrou em parafuso, e a emissora amou estereotipar aquele cabeludo tão criativo.

Pode-se dizer que essa é a origem do rótulo “malditos”, que depois seria usado para abranger artistas como o próprio Franco, Jards Macalé (que também encarnou o “malucão” em festivais), Jorge Mautner, Sérgio Sampaio e outros artistas criativos e rebeldes. Denominação negativa que dava a entender que se tratava de caras doidos, irascíveis e fora do senso comum que mereciam ser devidamente marginalizados. Como fizeram mal a gente tão talentosa!

Walter Franco voltaria, “apesar de tudo”, ao papel no Festival Abertura, promovido pela Globo em 1975, com sua bela Muito Tudo, homenagem a John Lennon e João Gilberto, e também no caótico festival da Tupi, em 1979. Nesta última, trouxe a roqueira e virulenta Canalha, cujo refrão dava ao público presente a chance de por prá fora a agonia daqueles anos de ditadura militar ainda brava e repulsiva. Ficou em segundo lugar.

Aliás, acho que naquele evento o papel do malucão ficou mesmo a cargo de Arrigo Barnabé e sua Sabor de Veneno, que o público jurava ser sabor de outra coisa menos saborosa e gritava na hora do refrão o nome…

Muito além de apenas experimental e polêmico

Eis o porque Walter Franco ficou com esse estigma de maldito. No entanto, seu incrível experimentalismo, registrado de forma direta no cultuado álbum Ou Não (1972, aquele com a mosca na capa), era apenas uma de suas facetas. O roqueiro vibrante, por exemplo, deu as caras com tudo em Revolver (1975), um dos melhores trabalhos do rock setentista.

Ele também sempre se mostrou capaz de escrever canções delicadas, melódicas e com letras de uma profundidade filosófica marcante, como Coração Tranquilo, Vela Aberta, Respire Fundo e Serra do Luar. Atraiu fãs dos mais distintos, o que o fato de ter sido regravado por nomes tão diferentes entre si como Chico Buarque, Leila Pinheiro, Oswaldo Montenegro, Ira!, Camisa de Vênus, Pato Fu e Titãs (com quem fez shows) serve como prova.

A qualidade da herança musical deixada por Walter Franco em seus poucos (e bons) álbuns é um legado que vai muito além do que rótulos como “maldito” ou “malucão de festival” podem dar a entender. Filho do poeta e político Cid Franco e nascido em São Paulo em 6 de janeiro de 1945, sua figura simpática e tranquila será reverenciada pelos fãs da melhor música brasileira, e certamente redescoberta por muitos a partir dessa sua partida.

Ouça Revolver na íntegra em streaming:

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