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Por Fabian Chacur

A foto que ilustra este post, gentilmente cedida por André Luiz Fiori Teixeira, sintetiza de forma perfeita um certo Paulo Alderaban Cavalcanti. Com dois CDs de uma das suas bandas favoritas, os eternos The Beach Boys, dentro de uma loja de discos, e certamente perto de amigos queridos. Neste cenário, você certamente poderia ver este jornalista, pesquisador e crítico musical em seu habitat favorito. Ele nos deixou nesta terça (26) com apenas 56 anos, mas seu trabalho ficará na memória de quem teve a honra de conviver com ele em algum momento (ou em vários) de sua extensa trajetória profissional.

Conheci o Paulo por volta de 1984 na casa de um amigo comum, o lendário Ayrton Mugnaini Jr., quando Mug morava na alameda Santos, próximo da avenida Brigadeiro Luis Antonio. Na época, ele sempre andava com dois outros amigos, Marcelo Orozco e o Jeferson (acho que era Pereira o seu sobrenome). Eles chegaram a assinar matérias como trio, incluindo uma, excelente, sobre os Monkees. Quando me tornei coordenador de redação da editora Imprima, que lançava revistas como Rock Stars, Zorra etc, em 1987, ele era um dos meus colaboradores, e a partir dali a nossa amizade começou a se consolidar.

Uma das grandes matérias feitas pelo Paulo naquele período foi uma sobre os filmes de Elvis Presley, um texto primoroso, bem-humorado e repleto de reflexões e informações que só um cara muito do ramo teria como fazer. Eu brincava com ele que deveríamos, nós dois e o Marcelo, montar um trio com o nome Harum Scarum, e nos especializarmos em tocar apenas temas obscuros das películas estreladas pelo Rei do Rock. Lógico que a ideia ficou só no papel.

Não demorou para que Cavalcanti partisse para os seus próprios voos. Filho de um jornalista que trabalhou durante anos no Notícias Populares, foi muito natural quando ele seguiu os passos do pai naquela mitológica publicação, onde ficou até meados dos anos 1990. Com o tempo, ampliou os horizontes, como colaborador das revistas Bizz-Showbizz e Shopping Music, nas quais esbanjou seu alto conhecimento musical. Suas praias prediletas eram o rock dos anos 1950 e 1960, mas na verdade o cara tinha um gosto musical abrangente, e mergulhava fundo na pesquisa de tudo, dos musicais clássicos até o punk rock.

Nos anos 2000, Paulo foi convidado a trabalhar na ediçáo nacional da Rolling Stone, onde reinou por anos e anos. Generoso, abriu espaços na publicação para vários amigos, entre eles este que voz tecla. Como disse, ele era capaz de escrever sobre qualquer tema na área musical, sempre se preparando para cada desafio e com um texto eficiente e bom de se ler.

Nossa amizade se manteve por todos esses anos. Não vou ser hipócrita e dizer que nossa relação sempre foi um mar de rosas. Paulo era um cara tímido, eventualmente fechado, eu também tenho um milhão de defeitos, e em alguns momentos a gente andou se estranhando por aí. Mas também vale registrar que sempre conseguimos nos entender e seguir adiante. Tanto que em várias ocasiões nos reunimos para pensar em projetos que nos unissem, como o de fazer rough guides em português de grandes nomes da música, por exemplo.

Tínhamos muitas afinidades, especialmente essa obsessão por conhecer os detalhes dos trabalhos e das carreiras dos nossos artistas favoritos. Acho que uma expressão que ele usou para definir um amigo comum nosso, o genial Hamilton Rosa Jr, poderia definir ele próprio: scholar (estudioso). O cara manjava, e muito. E seus amigos mais próximos sabem como era divertido curtir suas tiradas inteligentes e sarcásticas, suas imitações, e seus comentários a sério.

Paulo fará muita, mas muita falta mesmo para todos os envolvidos no meio musical. Em resumo, um fã que virou profundo conhecedor do tema. Ou um cara que virou profundo conhecedor do tema exatamente por ser fã. Sem você por aqui, vai quebrar, meu caro, vai quebrar (essa, só ele entenderia…)

So Close Yet So Far– Elvis Presley: