paulinho roupa nova

Por Fabian Chacur

Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas, eram, na verdade, quatro. E os equivalentes brasileiros do mundo na música eram seis. Sim, infelizmente sou obrigado a colocar o verbo no passado, pois um deles se foi nesta segunda-feira (14) aos 68 anos. Estou me referindo ao Roupa Nova, e seu mosqueteiro que infelizmente se retira de cena é Paulo Cesar Santos, o Paulinho, vocalista e percussionista que nos deixa aos 68 anos, vítima de covid-19, ele que há três meses havia feito um transplante de medula óssea.

E porque a comparação com os personagens da literatura baseados de certa forma na vida real? Simples: em seus exatos 40 anos de carreira, sempre com a mesma formação, Paulinho e seus fiéis parceiros, Cleberson Horst, Ricardo Feghali, Kiko, Serginho Herval e Nando sempre foram adeptos da máxima “um por todos, todos por um”. Não é de se estranhar que essa formação única só se quebre agora por causa de um problema de saúde.

Tudo começou nos anos 1970, quando o grupo Famks foi criando fama na cena dos bailes cariocas. Eles chegaram a gravar discos, mas faltava alguma coisa. Até que Paulinho, Nando, Kiko e Cleberson convidaram para entrar no time dois novos mosqueteiros, Feghali e Serginho. Com a nova escalação, faltava um nome mais bacana, que veio de uma música composta por Milton Nascimento e Fernando Brant de encomenda pra eles. Roupa Nova!

O disco de estreia saiu há exatos 40 anos, e nos mostrou logo de cara que não se tratava de qualquer grupo. Ou você encontra todo dia uma formação em que todos cantem e toquem muito bem, além de serem versáteis e criativos? Logo naquele álbum, intitulado Roupa Nova, emplacaram seus primeiros hits, maravilhas do naipe de Sapato Velho, Bem Simples, Canção de Verão e o presentão de Milton, padrinho da banda.

Apesar da cara amarrada de boa parte da crítica especializada (sempre eles…), o Roupa Nova logo se mostrou não só um grupo com luz própria, emplacando hit em cima de hit, como também se tornaram reis dos estúdios, gravando com artistas como Roberto Carlos, Gal Costa, Tim Maia e quem você imaginar, sempre dando seu auxílio luxuoso a artistas dos mais diferentes estilos. Até a música-tema do Rock in Rio em 1985 eles fizeram!

Em 1986, em uma das primeira entrevistas coletivas de que participei como jornalista, tive a honra de ter meu primeiro contato com o sexteto, e foi paixão à primeira vista, tal a simpatia deles. Embora todos participassem das vocalizações, os cantores que se incumbiam dos solos vocais eram Paulinho, que também se virava bem na percussão, e Serginho Herval, um de nossos melhores bateristas. Aliás, todos nessa banda são cobras criadas.

Um dos grandes méritos do Roupa Nova reside em seus incríveis arranjos vocais, ao mesmo tempo elaborados e extremamente bons de se ouvir. Quem ouviu o que eles fizeram com Yesterday, dos Beatles, sabe bem do que estou falando. Populares, sim, mas bem longe de popularescos, mesmo nas canções mais escancaradamente românticas que gravaram nesses anos todos.

Serginho era o cara das baladas mais doces, como Anjo e Bem Simples, enquanto Paulinho sempre esbanjou potência vocal e agito na hora dos rocks mais dançantes, do tipo Whisky a Go-go e Show de Rock And Roll, ou nas power balladas do tipo Volta Pra Mim e Linda Demais.

Com todos esses atributos, aliados a uma união invejável, o Roupa Nova conseguiu atravessar quatro décadas lotando os shows, frequentando as programações de rádios e mantendo um fã-clube fiel, sempre com um trabalho consistente e capaz de cativas os mais diferentes tipos de público. E bem-humorados, como em uma entrevista para mim nos anos 1990, na qual se autodenominaram os “dinossauros do brega”. Brega? Tá bom…

Linda Demais– Roupa Nova:

Sapato Velho (clipe)- Roupa Nova: