Por Fabian Chacur

Acho que a melhor definição para Roy Orbison eu ouvi de Sérgio Reis, o roqueiro, sertanejo e palmeirense: “ele tinha lágrima na voz”. Poucos cantores interpretaram suas canções de forma tão emotiva e bela como esse americano nascido em 23 de abril de 1936 no Texas.

Um dos pioneiros do nosso amado rock and roll, ele nos deixou como legado maravilhas do naipe de Oh Pretty Woman, Only The Lonely, In Dreams, Crying, Ooby Dooby e Lana, só para citar algumas.

A tal tristeza no timbre vocal tem lá suas razões. Em 1966, perdeu a mulher amada, Claudette, vítima de um acidente automobilístico. Em 1968, foi a vez de seus dois filhos mais velhos perecerem em um incêndio. Não por coincidência, sua carreira viveu momentos de baixa, durante alguns anos.

Na década de 80, quando alguns poderiam pensar que Orbison já era, o apoio de fãs ilustres como Jeff Lynne, Bob Dylan, Tom Petty e George Harrison o ajudaram a voltar ao topo, como integrante da superbanda Travelling Wylburys, montada com os astros citados.

Com a musica Handle With Care estourada, ele havia finalizado as gravações do que seria um grande disco de retorno, o excepcional Mystery Girl. Só que a vida resolveu pregar mais uma peça nele. No dia 6 de dezembro de 1988, o astro sofreu um ataque do coração e se foi, com apenas 52 anos.

Trazendo You Got It como grande hit, Mystery Girl só chegou às lojas em 1989, já como lançamento póstumo. No mesmo ano, saiu o ao vivo A Black & White Night, registro de um show realizado em setembro de 1987 no qual fãs como Elvis Costello e Bruce Springsteen cantaram com o mestre.

Para quem tem saudades desse grande mestre do rock and roll ou gostaria de ter uma ideia de seu poder de fogo, a ST2 acaba de lançar no Brasil o inédito The Last Concert December 4, 1988.

O nome do álbum não deixa margem a dúvidas. Trata-se do registro do último show feito por Orbison, no Highland Heights, na cidade de Akron, situada no estado americano de Ohio. Felizmente, a qualidade de gravação é excelente, com vocais e instrumentos devidamente equalizados.

Ouvir as 14 faixas é um deleite, e fica difícil acreditar que, apenas dois dias depois dessa performance, o mestre se despediria de nós. Ele canta com pique e a bela voz que sempre o caracterizou, acompanhado por ótima banda.

Vez por outra os teclados exageram um pouco, mas nada de ofensivo, pois no geral a banda que o acompanha é muito boa, e entende dessa coisa chamada rock and roll. Vide seu desempenho excepcional nos alucinantes 5m57 de Ooby Dooby, que muita gente (inclusive eu) conheceu em releitura do Creedence Clearwater Revival.

O repertório é uma festa só, começando com um tema instrumental seguido de Only The Lonely e terminando com uma versão turbinada da empolgante Oh Pretty Woman, provavelmente seu maior sucesso e sua canção mais rapidamente reconhecível.

Ooby Dooby, Go Go Go (Down The Line), Working For The Man, Dream Baby, é um petardo atrás do outro, misturando com bom gosto rock dançante e baladas românticas daquelas de cortar os pulsos, tipo Crying.

The Last Concert December 4 1988 é qualquer coisa, menos um macabro souvenir para os mais fanáticos. Trata-se de uma aula refinada do melhor rock and roll, aquele cantado com alma, carisma e a tal lágrima na voz. Mas duvido que você fique triste ao ouvir essa maravilha…