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Ruy Castro, esqueça do rock, para o bem de todo o mundo!

2015 Coachella Valley Music And Arts Festival - Weekend 2 - Day 1

Por Fabian Chacur

Sou leitor assíduo do jornalista e escritor Ruy Castro. Adoro seu texto classudo e fluente e suas informações sempre bacanas sobre bossa nova, música brasileira em geral e jazz. Então, é com muita tristeza que serei obrigado a lhe dedicar umas linhas não muito alegres, tendo como motivação a crônica Música e Tiroteio, publicada na edição desta quarta-feira (27) da Folha de S.Paulo. Na verdade, foi uma espécie de gota d’água.

Quem acompanha a coluna do autor de tantos livros essenciais sabe que, quando ele se mete a opinar sobre rock, a coisa fica feia. Sai de lado o profissional criterioso, pesquisador, bom de texto, e entra em cena o fanfarrão, que obviamente odeia esse gênero musical e faz o possível para deprecia-lo, mesmo que tenha de se valer de argumentos inconsistentes e rasos e de gracinhas bobocas que não cabem em alguém de seu porte profissional. Um horror.

Na verdade, ele já publicou asneiras sobre Beatles, Bob Dylan e muitos outros, e sempre me irrito muito pela falta de argumentos consistentes. Mas agora, o cara se excedeu. Então, vamos lá, começando por dois erros factuais crassos: a banda AC/DC é obviamente australiana, e não canadense, como está na edição impressa. Já corrigiram na online. Outro erro permanece na online: o grupo americano de rock chama-se Eagles Of Death Metal, não Eagles Of The Death Metal. Começou mal a coisa, e só vai piorar daqui pra frente, acreditem.

Em seu texto, Castro comenta sobre a aposentadoria de Brian Johnson, vocalista do AC/DC. E vem com aquele conceito arcaico de que rock não passa de barulho. Meu Deus do céu, em pleno século XXI, ainda existe quem defenda essa bandeira furada? Socorro! Em seguida, ele cita a idade do cantor, 68 anos, que ele acha alta demais para roqueiros. E diz que ele deveria se dedicar a “matar palavras cruzadas ou colecionar selos”. De quebra, ainda manda isso: “O rock é- ou era- uma música jovem e rebelde, e não fica bem ter como um de seus expoentes um hippie velho e de boina”.

Dá para encarar o preconceito contido nessa frase de Castro? Acho que ele certamente não viu ao menos alguns segundos dos shows atuais dos setentões Paul McCartney, Mick Jagger e Keith Richards, entre outros “velhinhos” que continuam mandando ver. E vale lembrar que, há muito, mas há muito tempo mesmo, o rock é considerado música para jovens, sim, mas para jovens de alma, não necessariamente de idade cronológica, que, convenhamos, nesses casos não vale muita coisa.

Para o colunista da Folha, “hoje, o rock é a música mais velha do mundo”. Ah, é? E como o senhor explica a incrível afluência de uma garotada composta por adolescentes e jovens adultos nos shows de artistas veteranos de rock, misturando-se com pais e até avôs para curtir esse estilo musical? Seria anomalia isso? Ou apenas a constatação de que música boa não tem idade, seja ela rock and roll, bossa nova ou seja lá o que for? Acorde, Castro!

E a coisa vai piorando. A seguir, ele diz que Brian Johnson não é o único a ficar surdo, e cita como afetados pela enfermidade Neil Young, Ozzy Osbourne, Eric Clapton, Brian Wilson (dos Beach Boys, pelo menos o nome desse grupo ele acertou…), Pete Townshend (do The Who) e George Martin. E aí, manda a asneira mor, digo, essa frase: “Exceto por Martin, morto há pouco, você não ouviu falar muito deles ultimamente. Devem estar em casa, afinando os aparelhos de ouvido”.

Como? Seu Castro (seria parente de Fidel e Raul Castro?), só se o senhor estiver, também, ficando surdo, pois todos os nomes citados por Vossa Excelência estão ativos, lançando discos, fazendo shows e plenamente relevantes, mesmo com décadas e décadas de carreira. Ou seja, só não ouviu falar muito deles ultimamente quem não se informou nos grandes meios de comunicação impressa, televisiva, radiofônica e virtual.

Aí, ele finaliza citando o triste incidente do atentado na casa de shows Bataclan, em Paris, durante um show do grupo Eagles Of Death Metal. Aí, novamente vem o preconceito (esse, sim, vetusto e empoeirado) de que rock não passaria de barulho, na frase lamentável: “pelo áudio, não é possível distinguir entre a música e o tiroteio. Parece uma coisa só”.

Sr. Castro, nada contra sua aversão ao rock. É um direito, em um mundo democrático em termos de gostos. Mas justificar sua opinião de forma tão tosca não cabe em um profissional tão gabaritado. Especialmente pelo fato de que nem mesmo a maior parte dos artistas que você tanto admira, da bossa nova, bolero, jazz etc, concorda contigo, todos respeitando e admirando Beatles, Rolling Stones, AC/DC etc. Cada um na sua praia musical. Até Sinatra gravou Beatles!

Então, fica a dica: por favor, Señor Castro, continue se dedicando com o talento habitual aos seus estilos preferidos, e nos poupe de suas tolices anti-rock, que soam como a daqueles que, lá pelos idos de 1963-1964, consideravam o rock um modismo passageiro, que não deixaria traços. No entanto….E já dizia Neil Young, citado de passagem pelo senhor: hey, hey, my, my, rock and roll will never die. Não adianta torcer contra. Música boa é para sempre. Grande abraço, sou seu fã!

For Those About To Rock We Salute You– AC/DC:

Hells Bells– AC/DC:

You Shook Me All Night Long– AC/DC:

Loja Modern Sound irá fechar no Rio

Por Fabian Chacur

Comecei minha sexta-feira com uma péssima notícia. A Modern Sound, uma das lojas de discos mais importantes do Brasil (e por que não dizer, do mundo) anunciou que fechará as suas portas no final de 2010.

Fiquei sabendo da informação na edição desta sexta (17) da Folha de S.Paulo, que inclui uma matéria sobre o tema e também uma crônica fantástica de Ruy Casto (intitulada Política Suicida) na página 2 de seu caderno principal.

A loja surgiu em 1966, criada por Pedro Passos, hoje com 71 anos. Com o decorrer dos anos, e graças a uma ótima administração, tornou-se um verdadeiro templo da música na Cidade Maravilhosa.

Tive a honra de conhecer a Modern Sound em 2003 e fiquei simplesmente alucinado.

Segundo informações da matéria da Folha, o acervo dos caras possui 60 mil CDs e 25 mil LPs. O número atual de funcionários é de 43.

O local também tem um espaço para shows com capacidade para 500 pessoas, onde artistas do primeiríssimo time da música lançaram seus trabalhos nos últimos anos.

Nelson Motta, José Wilker, Sérgio Cabral, Nando Reis e o já citado Ruy Castro são apenas algumas das centenas de clientes famosos que frequentavam esse verdadeiro paraíso cultural.

Pois tudo isso chegará ao fim quando 2010 der tchau e 2011 entrar em cena.

O proprietário alega que a despesa mensal de manutenção da loja, situada no bairro de Copacabana, é de R$ 350 mil, valor que tornou a operação inviável.

Pedro Passos, acima de tudo um apaixonado pela música, chegou até mesmo a vender alguns imóveis que tinha com o intuito de tentar salvar sua empresa, mas não foi possível.

Até o final de dezembro, todos os produtos de seu estoque serão vendidos com 30% de desconto.

A Modern Sound é a mais nova vítima da decadência do comércio de discos, sejam eles em formato CD, vinil ou mesmo os DVDs, Blu-rays e quetais.

No momento, só mesmo as grandes redes parece que conseguem sobreviver comercializando esse tipo de produto, especialmente por não dependerem apenas deles para injetar dinheiro em suas empresas.

Adoro comprar CDs e DVDs nas Fnacs, Livrarias Culturas, Carrefours e Lojas Americanas da vida.

Aliás, adoro comprar CDs, DVDs e discos de vinil onde quer que seja.

Mas nada substituiu o prazer absoluto de se frequentar lojas como a Modern Sound, a saudosa Nuvem Nove, a saudosa Josmar Discos, a saudosa Antitedium Discos etc etc etc.

A explição é simples. Nesse tipo de loja, você além de adquirir produtos faz amizades e aprende muito, mas muito mesmo.

Ainda restam alguns herois em cena no mercado das lojas de discos, como o incansável Luis Carlos Calanca, da Baratos Afins.

Restar torcer para que empreendimentos com esse perfil ainda possam sobreviver pelo mundo afora, embora uma perda como essa da Modern Sound seja daquelas para abalar a fé de qualquer um na empreitada.

Meus sinceros votos de saúde e paz para Pedro Passos, e que ele tenha em mente de que não pode se achar um derrotado pelo final das operações de sua empresa.

Ele tem, sim, é de se orgulhar de ter mantido aberta durante 44 longos e produtivos anos um lugar abençoado como esse, em um país tão confuso e ingrato com os empreendedores genuínos e idealistas como esse Brasil.

obs.: obrigado pela reprodução da foto, blog Aquarela Carioca!

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