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Aline Calixto conta os detalhes sobre o seu primeiro DVD

aline calixto 400x

Por Fabian Chacur

Aline Calixto é uma cantora e compositora carioca criada em Minas Gerais cuja carreira fonográfica teve início com um álbum autointitulado em 2009. Em 2011, foi a vez do segundo, Flor Morena, cuja faixa-título, de autoria de Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e Junior Dom, que fez sucesso nacionalmente ao entrar na trilha sonora da novela global Fina Estampa. Os dois discos foram lançados pela gravadora Warner Music.

Concentrando-se no samba mas sempre aberta a outras influências musicais, Aline lançou Meu Ziriguidum (2015- Independente) e Serpente (2017, em parceria com a gravadora LAB 344) e se firmou como uma das grandes cantoras da cena de BH, com direito a uma belíssima voz e muita presença de palco.

Como forma de celebrar essa carreira que tem tudo para proporcionar ainda mais frutos nos próximos anos, ela está lançando 10 Anos Aline Calixto- Ao Vivo em BH, DVD físico e álbum digital mais uma vez em parceria com a LAB 344 e contanto com diversos apoios. Com produção musical, arranjos e violão a cargo do fiel parceiro musical Thiago Delegado, com ela desde o começo, ela conta com as participações especiais de Beth Carvalho e Monarco e a Velha Guarda da Portela, entre outros.

Em entrevista concedida por e-mail a Mondo Pop, ela nos dá detalhes sobre esse ótimo lançamento, certamente um dos melhores do ano em termos de música popular brasileira, e também sobre sua trajetória artística e mesmo acerca de sua opção de se dividir entre o Brasil e a França em termos de residência.

MONDO POP- Para começar, faça uma avaliação desses dez anos de carreira, que hoje na verdade já são 12(rsrsrsrs).
ALINE CALIXTO
– Muita coisa aconteceu, né? Foram 4 discos solos, 1 DVD, participações em CDs e DVDs (Samba Social Clube, Sambabook, Martinho da Vila Canta Noel, dentre outros). Muitos shows pelos quatro cantos do mundo. Parcerias maravilhosas, muito estudo, enfim, só tenho a agradecer por tudo.

MONDO POP- O show foi gravado em junho de 2018, mas o DVD só está saindo agora. Conte um pouco sobre como foi a trajetória para conseguir viabilizar um projeto tão importante para você como esse, e quais foram os principais obstáculos que você teve se superar para concretiza-lo.
ALINE CALIXTO
– Pude realizar esse projeto porque fui contemplada pela Lei Estadual de Incentivo a Cultura de MG e a CEMIG entrou na parceria. Foi um ano totalmente dedicado a sua produção. Alguns percalços apareceram na caminhada, como, por exemplo, a mudança na data de gravação. A primeira data foi exatamente no dia de uma paralização dos rodoviários em BH. Eu e minha equipe decidimos não realizar a gravação, visto que muita gente (artistas que participaram) e equipamentos viriam de fora do estado. Mas ok, no final deu tudo certo! O lançamento era pra acontecer em meados de junho de 2019, porém em fevereiro daquele ano descobri que estava grávida, logo os planos foram adiados. Quando definimos a nova data de lançamento, que seria após o carnaval de 2020, veio a pandemia. Esperamos alguns meses e então dei a palavra final, bora lançar o trabalho e, quando puder, faremos os shows de lançamento. Agora é aguardar a vacina!!

MONDO POP- O repertório do DVD se divide entre músicas dos seus três CDs, inéditas e releituras de músicas alheias. Fale inicialmente das inéditas, especialmente de Dona do Pedaço, e depois sobre os critérios que seguiu para selecionar as músicas dos CDs anteriores que acabaram entrando no DVD.
ALINE CALIXTO
– Não foi tarefa fácil desenhar esse repertório, mas acredito que o resultado ficou bem dentro do que imaginava. Um “resumão” da minha trajetória musical. Somente uma faixa é inédita, que escolhi a dedo. Dona do Pedaço foi um lindo presente do André da Mata e Felipe Acaf. Há também releituras, mas essas o público já conhecia, pois as cantava em meus shows.

MONDO POP- A participação da Beth Carvalho no seu DVD acabou sendo histórica por ter sido o último registro dela. Relembre como foi essa gravação, do seu relacionamento com a Beth e a tristeza que é lançar o DVD sem que ela esteja mais entre nós.
ALINE CALIXTO
– Foi o último registro audiovisual em show que a Beth participou. Ela estava radiante, super feliz! Tínhamos uma relação de amizade muito linda. A conheci no início da minha carreira, e desde então nunca perdemos o contato. Ela era uma “mãe musical” pra mim. Sempre mostrava a ela os repertórios dos meus discos antes de iniciar as gravações. Fiquei muito abalada na época do seu falecimento. Lembro bem que, um dia depois da morte dela, estava pronto o primeiro corte do DVD e eu não consegui assistir. Estava grávida de 5 meses. Precisei segurar a onda e acalmar o coração. Tenho plena certeza que ela está muito feliz com a realização do meu sonho e por ter feito parte dele.

MONDO POP- A presença de Monarco e a Velha Guarda da Portela é quase que um selo de qualidade em seu DVD, tal a importância e a representatividade deles na história do nosso samba. Como surgiu a ideia dessa parceria, e como foi para você tê-los nesse DVD?
ALINE CALIXTO
– Conheço o pessoal há um tempo, né? São pessoas queridas que me acolheram desde o início da minha carreira. Monarco é sempre generoso, é a segunda vez que ele participa de uma gravação comigo. Já cantei algumas vezes com a Velha Guarda e é óbvio que passava pela minha mente que quando eu fizesse um registro audiovisual seria maravilhoso se eles pudessem participar. Quando o projeto saiu do papel, uma das primeiras coisas que fiz foi conversar com eles. Ficaram super felizes e prontamente aceitaram! Escolhi duas músicas, uma é emblemática e ficou conhecida na voz de uma das maiores cantoras desse país, que sempre foi uma das minhas maiores fontes de inspiração, Clara Nunes. Cantar Portela na Avenida com a Velha Guarda foi arrepiante. A segunda foi um lado B da Velha Guarda, Benjamin. Adoro esse samba!

MONDO POP- Temos outras participações bem bacanas no DVD. Comente um pouco sobre cada uma delas.
ALINE CALIXTO
– Tive a honra de dividir o palco com uma das mais importantes figuras da música mineira que é o Maurício Tizumba, e com ele o seu Tambor Mineiro. Foi lindo trazer também ao palco a novíssima geração do samba representada pelo Tavinho Leoni e Isadora Ferreira. Duas grandes vozes de BH também se juntaram ao projeto, Cinara Ribeiro e Marina Gomes. Acho importante dar espaço a outras mulheres. Aposto muito as minhas fichas nesses duas vozes do samba mineiro. Teve também representantes de vários blocos de carnaval de BH dividindo a faixa Beijo Mesmo, foi uma verdadeira festa nesse momento no palco!

MONDO POP- Explique como foi a escolha da rua Sapucaí em BH como palco para o show deste DVD, sua relação com esse local, e a importância desse espaço para o samba em Minas Gerais.
ALINE CALIXTO
– É uma rua emblemática da cidade. Um endereço central, que tem uma vista linda e nos últimos anos se tornou um espaço de grande efervescência cultural. Foi nessa rua que eu cantei em BH pela primeira vez. Mal imaginava que retornaria ao mesmo local para a gravação do meu DVD.

MONDO POP- Flor Morena foi tema da novela global Fina Estampa e é provavelmente o seu maior sucesso em termos nacionais. Você imaginava que essa música teria toda essa repercussão quando a gravou? Qual a sua relação com ela?
ALINE CALIXTO
– Eu sempre soube que essa música seria um marco na minha história por que foi um presente lindo que recebi do Zeca, Arlindo e Jr. Dom. Quando chegou a notícia de que ela faria parte da trilha de uma novela, fiquei meio paralisada e depois foi caindo a ficha. Ela é de fato o meu cartão de visitas. Tenho muito orgulho desse samba.

MONDO POP- Você começou sua carreira quando a indústria fonográfica brasileira caminhava para um momento muito difícil, que só piorou nesses anos todos. Como foi encarar toda essa dificuldade e conseguir sobreviver em termos profissionais, apesar de tudo?
ALINE CALIXTO
– Foi difícil sim, mas nada é eterno, tudo está em constante movimento. Quando vivemos e encaramos essa realidade, as coisas tendem a fluir melhor. Os formatos mudam, as pessoas mudam, a gente só precisa entender o balanço do mar pra melhor saber conduzir o barco.

MONDO POP- Como você avalia hoje a experiência que teve com a Warner, que lançou seus dois primeiros CDs, e como funciona atualmente a parceria com a gravadora independente LAB 344?
ALINE CALIXTO
– A Warner foi minha primeira casa, me abriu muitas portas e aprendi muito lá dentro. Tenho um carinho e respeito eternos pelo Sérgio Afonso e por todos os profissionais que fizeram parte de sua equipe, sempre atenciosos comigo. A LAB é uma empresa que me recebeu de braços e ouvidos abertos! Outro Sérgio na liderança também rsrsrs. Tenho total liberdade e sintonia com eles. É meu segundo projeto que sai com a assinatura do selo. E que venham mais!

MONDO POP- Fale um pouco sobre sua parceria musical com o Thiago Delegado, que está com você desde o início e foi o diretor musical deste DVD, além de participar como músico.
ALINE CALIXTO
– É meu casamento mais duradouro rsrsrs. Eu e ele crescemos musicalmente juntos. Acompanhamos mutuamente nossas trajetórias musicais. Delegado me compreende bem. A gente dá muito certo juntos, o que acho natural pois são muitos anos de parceria e amizade. Ele é um talento nato. Agradeço ao universo por ter colocado ele no meu caminho.

MONDO POP- O DVD traz nos bônus uma faixa especial focada no Bloco da Calixto, que teve início em 2014. Como foi essa experiência para você, especialmente com releituras de músicas de outros estilos musicais para o universo do carnaval?
ALINE CALIXTO
– Esse é um trabalho paralelo que conduzo desde 2014, quando crio o Bloco da Calixto. A ideia era justamente produzir um trabalho em que eu pudesse cantar outras músicas que não somente samba e dar a elas um toque carnavalesco. Eu adoro desenvolver o repertorio do bloco, que a cada ano traz um tema. Em 2017, o tema foi o Amor, daí compus em parceria com o Juliano Butz a música Beijo Mesmo, que acabou entrando também no DVD, juntamente com um pout pourri de canções que foram temas de outros anos.

MONDO POP- Como está a sua vida profissional e pessoal atualmente, e como a pandemia do novo coronavírus influenciou nesse sentido? Você vai mesmo se dividir entre morar na França e no Brasil?
ALINE CALIXTO
– A pandemia mudou de forma geral a vida de todos, umas mais que as outras. Eu e meu esposo há algum tempo já pensávamos em pôr em prática nosso plano de dupla moradia. Só não esperávamos que seria tão rápido. A área dele sofreu muito no Brasil (ele trabalha com enologia e viticultura), mas na França, nunca parou. Como a minha profissão é mais flexível com relação a localização, resolvemos adiantar os planos e nos dividir entre Brasil e França. Nesse momento, estamos finalizando a “temporada França” e voltamos pro Brasil no finalzinho desse ano ainda.

MONDO POP- Como vai ser a divulgação do DVD? Já tem algum show programado dentro da nova configuração atual, ou com lives, ou com drive thru, ou mesmo show presencial com plateias reduzidas?
ALINE CALIXTO
– Estamos em negociação para a realização de um show por hora somente em versão virtual. Acho que show presencial só mesmo depois da vacina, né?

MONDO POP- Quais são os seus planos para 2021?
ALINE CALIXTO
– Vacinação assim que possível e, após, poder retornar aos palcos pra fazer o show que inspirou o DVD.

Nos Combates Dessa Vida (ao vivo)- Aline Calixto e Beth Carvalho:

Thiago Delegado lança o clipe para divulgar seu novo álbum

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Por Fabian Chacur

Conheci Thiago Delegado em 2011, quando vi um show da excelente cantora carioca radicada em Belo Horizonte Aline Calixto, no qual ele era o violonista e diretor musical. Deu para sentir que o cara não era apenas mais um músico, mas sim alguém muito talentoso e com espaço para avançar bastante no cenário musical. E isso ocorreu. Ele acaba de lançar o videoclipe para divulgar Sambete Preguiçoso, faixa que integrará seu quarto álbum solo, Sambetes Vol.1, que está saindo do forno. Belíssima amostra.

Sambete é o apelido que se criou para um estilo musical desenvolvido nos anos 1950 e 1960, predominantemente instrumental, com levada dançante e influências de jazz e samba, além de ter sido incorporado à mistura que gerou a bossa nova. Thiago fez uma versão moderna e bastante vintage deste gênero, tendo a seu lado os ótimos músicos Christiano Caldas (teclados, Hammond entre eles), Aloizio Horta (baixo) e André Limão Queiróz (bateria).

O clipe é descontraído e divertido, mostrando várias pessoas em situações cotidianas nas quais preferem dar um tempo nas atividades que faziam para dar vasão à preguiça. Já disponível nas plataformas digitais, a faixa é uma das oito presentes em Sambetes Vol.1, que será lançado em breve nos formatos CD, vinil e digital. Pela amostra, deve ser delicioso de se ouvir. A expectativa é das maiores.

Nascido em Caratinga (MG), mesma cidade do genial Ziraldo, Thiago tem no currículo os álbuns Serra do Curral (2010), Thiago Delegado Trio: Ao Vivo no Museu de Arte da Pampulha (2012) e Viamundo (2015), todos lançados pela via independente. Ele é compositor, arranjador, diretor musical e um dos grandes nomes da nova geração em um instrumento vital para o samba e chorinho, o violão de sete cordas.

Além da carreira individual, o artista mineiro já teve a oportunidade de atuar com outros músicos e cantores do primeiro escalão. Já tocaram ao vivo e/ou gravaram com ele nomes do gabarito de Leila Pinheiro (turnê em 2014 e 2015), Wagner Tiso, João Donato, Martinho da Vila, Vander Lee, Toninho Horta, Roberto Menescal, Hamilton de Holanda, Aline Calixto, Arlindo Cruz, Dona Ivone Lara e Yamandu Costa.

Não satisfeito, ele também é o anfitrião dos projetos Delegas Samba Clube e Delegascia. Este último é uma jam session semanal sediada em Belo Horizonte e que está sendo realizada há 10 anos e já ganhou até um registro em DVD. Ele também apresenta o programa A Hora do Improviso na Rádio Inconfidência FM e Rede Minas. O show de lançamento do novo trabalho em Belo Horizonte será no próximo dia 26 (quinta-feira) no Teatro Bradesco (saiba mais aqui).

Sambete Preguiçoso (clipe)- Thiago Delegado

Corina Magalhães explora do seu jeito a mineirice no samba

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Por Fabian Chacur

Tem mais uma mineira das boas no samba. Trata-se da cantora Corina Magalhães. Com 32 anos de idade e natural da cidade de Cambui (MG), a moça estreia em disco de forma segura e inspirada, mostrando que se preparou muito bem para executar essa tarefa, algo que infelizmente muitos artistas não fazem em seus primeiros trabalhos. O álbum, intitulado de forma simples e direta Tem Mineira no Samba, é um verdadeiro banho de swing, classe e sutileza. Bom demais da conta!

O conceito por trás do CD que abre a discografia desta intérprete é simples, mas muito bem desenvolvido. Ela selecionou 13 composições de autores mineiros de várias épocas, mais uma, Guerreira, escrita por dois cariocas (João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro), que, no entanto, foi feita e gravada pela mais famosa e bem-sucedida sambista mineira de todos os tempos, a saudosa Clara Nunes.

Com um repertório muito bem selecionado, o próximo passo foi criar uma moldura musical adequada e que se afastasse do óbvio, e nisso Corina mais uma vez se mostrou craque. Sua concepção musical temperou o baticum sambista com bons elementos de chorinho e especialmente de jazz, apostando na sutileza, nas nuances e em um delicioso diálogo entre voz e instrumentos em vários momentos, algo típico dos intérpretes jazzísticos mais bem dotados.

O resultado é um disco que flui gostoso a cada faixa. Uma grande qualidade desta mineirinha é o fato de se valer de um registro vocal doce e suave sem cair em uma mesmice, ou seja, sem se lambuzar de doçura e correr o risco de nos oferecer um trabalho sem variações e proibido para diabéticos. Nada disso. Corina prova que é possível ser suave e ao mesmo tempos nos oferecer variações de timbre e interpretação das mais expressivas, sem gritar ou exagerar.

Corina se porta bem na árdua missão de nos oferecer novas leituras para algumas músicas bem conhecidas, como Sem Compromisso (Geraldo Pereira-Nelson Trigueiro), Ai Que Saudade da Amélia (Ataulfo Alves-Mário Lago), Escurinho (Geraldo Pereira) e Falsa Baiana (Geraldo Pereira). Todas elas aparecem aqui de roupa nova, não se assemelhando a releituras anteriores e soando muito legais.

As três que ela pinçou da obra dos geniais João Bosco e Aldyr Blanc ficaram matadoras. São elas Casa de Marimbondo, Prêt-a-Porter de Tafetá e A Nível de…, esta última um dos momentos mais bem-humorados e sarcásticos da dupla mineiro-carioca. Em Aqui é o País do Futebol (Milton Nascimento-Fernando Brant), a intérprete dá uma aula no quesito suavidade-tensão, trocando de registros com uma categoria absurda.

Das novas gerações, boa representante é a deliciosa Galo e Cruzeiro, do versátil Vander Lee. E tem três do mestre Ary Barroso, Faceira, Camisa Amarela e Morena Boca de Ouro. E quer saber? Melhor você ir atrás e descobrir por si só esta bela obra, uma das estreias mais consistentes dos últimos anos. Muita cantora por aí tem se metido a cantar samba atualmente, mas poucas com esta consistência, esta categoria e essa fluência. Coisa muito, mas muito fina mesmo!

obs.: ah, e também merece muitos elogios a apresentação visual do CD, simplesmente espetacular, com direito a belíssima capa tripla no formato digipack, com direito a um belo encarte com as letras e ficha técnica. Coisa de primeiro mundo.

Aqui é o País do Futebol– Corina Magalhães:

Guerreira– Corina Magalhães:

Faceira– Corina Magalhães:

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