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The World is a Ghetto- War (1972)- a paz dos guerreiros

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Por Fabian Chacur

No dia 17 de fevereiro de 1973, o álbum The World is a Ghetto chegou ao topo da parada americana, onde se manteve por duas semanas, além de vender mais de 3 milhões de cópias por lá. Com este trabalho, a banda War atingiu o ponto máximo de sua carreira em termos de sucesso comercial e criatividade. Prova de que, sim, qualidade artística e ousadia podem gerar muito dinheiro. E a história em torno desta banda é das mais interessantes.

Tudo começou em 1962 em Long Beach, situada na região de Los Angeles, California (EUA), quando os adolescentes Howard Scott (guitarra, percussão e vocais) e Harold Brown (bateria, percussão e vocais) deram início à banda The Creators. No decorrer dos anos, entraram no time B.B. Dickerson (baixo, percussão e vocais), Lonnie Jordan (teclados, percussão e vocais), Papa Dee Allen (percussão e vocais) e Charles Miller (clarinete e sax).

O então sexteto foi pegando corpo e entrosamento graças a inúmeras apresentações em casas noturnas da Califórnia e arredores, e aos poucos criou um estilo próprio, com forte influência de música latina, jazz, rock, soul e r&b. O fato de terem acompanhado o saxofonista Jay Contreli também incorporou elementos de psicodelia ao seu som.

Nesse meio tempo, o cantor britânico Eric Burdon, que havia ganho fama mundial integrando a banda The Animals e depois Eric Burdon & The Animals, foi para os EUA em busca de novos rumos para a sua carreira. Ao lado do produtor Jerry Goldstein, conhecido ser o coprodutor dos hits Hang on Sloopy (1965), dos McCoys, e My Boyfriend’s Back (1963), dos The Angels, percorria Los Angeles em busca de possíveis novos parceiros.

O primeiro a ser arregimentado foi o dinamarquês Lee Oskar, que se mudou para os EUA com a roupa do corpo e a sua harmônica em busca de fama e tocava em bares em troca de dinheiro. Ele, Burdon e Goldstein queriam uma banda para acompanhá-los, e é aí que o The Creators, cujo nome havia sido trocado para The Nighshift, entra em cena. O trio os viu, curtiu seu som e os chamou para uma conversa.

Estávamos em junho de 1969. O papo foi muito produtivo, e o sexteto topou unir forças com eles. A única exigência foi a mudança de nome. Burdon e Goldstein sentiram que, em função da Guerra do Vietnã e do clima vigente, o nome War para um grupo musical poderia ser bem chamativo, e a nova entidade musical seria batizada como Eric Burdon & War.

Mesclando composições de autoria dos músicos a releituras de material de outros artistas devidamente repaginados, o grupo entrou em 1970 com um ótimo álbum de estreia, Eric Burdon Declares War, do qual foi extraído um single explosivo, Spill The Wine, que atingiu o 3º posto na parada norte-americana com sua levada latina e o vocal falado de Burdon.

O álbum, que chegou ao 18º lugar nos EUA, impulsionou shows da banda pelos EUA e também Europa. Em um deles, no dia 16 de setembro de 1970, no badalado Ronnie Scott’s em Londres, contaram com uma canja de ninguém menos do que Jimi Hendrix. Esse evento se tornaria histórico de forma triste, pois foi a última aparição pública do mago da guitarra, que morreria apenas dois dias depois.

Ainda em 1970, sairia Black Man’s Burdon, o 2º álbum do grupo, que chegou à 28ª posição na parada ianque. Em 1971, enquanto faziam shows bem concorridos, o grupo decidiu que iria investir em uma carreira paralela sem Burdon, e lançou War, álbum com pequena repercussão. O que eles não imaginavam é que o instável vocalista inglês sairia da banda em meio a uma turnê, novamente em busca de novos rumos.

Apesar da saída de Eric Burdon, Goldstein resolveu apostar na banda assim mesmo, confiando na qualidade dos caras como músicos e compositores. Naquele mesmo 1971, o agora septeto nos oferece All Day Music, e desta vez a coisa vai bem, com o disco chegando ao 18º lugar nos EUA e emplacando hits como a faixa-título e Slippin’ Into Darkness.

Era nesse clima positivo que o War iniciou os trabalhos para o que viria a ser o seu 3º álbum na fase pós-Eric Burdon. Jerry Goldstein estava tão animado que reservou o Crystal Studios, em Los Angeles, por 30 dias consecutivos, para que a banda pudesse trabalhar à vontade e sem se preocupar com o fim de sessões de um dia para outro. Períodos com 12 horas seguidas de duração das gravações eram comuns.

A ideia de Goldstein não poderia ter sido melhor, porque os sete integrantes do War sempre trabalhavam juntos, criando melodias, letras e arranjos das músicas de forma coletiva, tanto que todos assinavam a autoria das faixas, sendo que em uma ou outra Goldstein também adicionava o seu nome. E foi nesse espírito de time que surgiram as seis faixas de The World is a Ghetto.

O álbum saiu nos EUA em novembro de 1972, e trouxe como uma de suas marcas as letras com temáticas sociais e pacifistas, com direito a umas pitadas de bom humor e de espiritualidade no meio.

Uma análise das faixas de The World is a Ghetto

THE CISCO KID (4m35)- ouça aqui.

Nenhum dos integrantes do War é descendente de latinos. No entanto, o fato de terem sido criados na região de Los Angeles (com a óbvia exceção de Lee Oskar) incorporou à musicalidade deles forte salerosidade, percussão acentuada e um swing irresistível. Cisco Kid é um dos momentos mais emblemáticos e escancarados dessa vertente da banda, e homenageia em sua letra o personagem Cisco Kid, vivido pelo ator Duncan Renaldo (1904-1980) na TV americana entre 1950 e 1956.

Era, então, o único herói latino televisivo, e homenageá-lo deu ao War ainda maior penetração na população latina dos EUA. O single atingiu o 2º lugar na parada ianque, seu maior hit. O grupo premiou Duncan Renaldo, dando a ele um disco de ouro, em encontro eternizado por fotos icônicas.

WHERE WAS YOU AT (3m25)- ouça aqui.

Com uma variação rítmica impressionante, o septeto nesta música se vale da influência do funk de New Orleans, especialmente graças à batida irresistível criada pelo baterista Harold Brown. Outro ponto alto fica por conta dos vocais em uníssono duelando com o habitual vocalista líder, Howard Scott, outra das marcas registradas deste grupo, sempre com efeito contagiante.

CITY, COUNTRY, CITY (13h18)- ouça aqui

O War era uma banda auto-suficiente, pois não precisava de músicos de apoio ou de estúdio em seus shows e gravações. O talento, criatividade, ousadia e entrosamento deles explica faixas como esta.

A única totalmente instrumental do álbum abre com um clima sereno, pontuado pela harmônica de Lee Oskar, e depois envereda por variações pulsantes e envolventes que tornam seus mais de 13 minutos de duração mais do que justificáveis e de puro prazer auditivo.

Seu clima cinematográfico não é por acaso, pois foi concebida para integrar a trilha do filme The Legend of Nigger Charley (1972), mas a banda ficou insatisfeita com o tratamento que recebeu por parte dos produtores e preferiu ficar com City, Country, City para incluí-la neste álbum.

FOUR CORNERED ROOM (8m30)- ouça aqui.

O momento mais psicodélico do álbum, com um clima hipnótico e letra que mergulha nas questões particulares de cada pessoa, naquilo que ocorre internamente com cada um de nós e que ninguém percebe.

Outra prova contundente da qualidade dos músicos, com cada um aproveitando para desenvolver os seus solos mas sem cair no mero exibicionismo. Os poderosos vocais em uníssono e a alternância de sax e harmônica também dão um tempero extremamente envolvente.

THE WORLD IS A GHETTO (10m10)- ouça aqui.

Com uma letra poderosa e de forte conteúdo social, a faixa que dá nome ao álbum começa com um solo memorável de sax de Charles Miller, e depois mergulha em um clima soul e um refrão marcante. Novamente os vocais se mostram poderosos e impactantes, e a guitarra roqueira com pedal wah wah de Howard Scott também acrescenta mais poder a uma música impactante. Uma versão editada foi lançada no formato single e chegou ao 7º lugar nas paradas americanas, mas a do álbum é a melhor.

BEETLES IN THE BOG (3m51)- ouça aqui

O álbum é encerrado com uma canção balançada e divertida, no melhor estilo dançante e também com alguns ecos do som de Nova Orleans. Poderia ter sido lançada em single, mas isso não ocorreu, provavelmente pelo fato de o álbum ter sido um estouro de vendas, sendo apontado pela Billboard, a bíblia da indústria fonográfica norte-americana, como o mais vendido naquele país durante o ano de 1973.

OBS.: a versão remasterizada do álbum lançada em 2012 trouxe quatro faixas-bônus:

Freight Train Jam (5m26)- Ouça aqui– inclui trechos do refrão de The Cisco Kid

58 Blues (5m26)- Ouça aqui. Como o nome já entrega, um blues pontuado pela harmônica de Lee Oskar.

War is Coming (blues version)- ouça aqui. (6m15)

The World is a Ghetto (rehersal take)- Ouça aqui (8m06)-

Apesar do nome, o War sempre foi uma banda de cunho pacifista, o que pode se conferir nas letras de suas músicas. E essa somatória de músicas contagiantes e mensagens fortes deu a eles um grande sucesso comercial na década de 1970. Outros trabalhos marcantes viriam, mas World is a Ghetto é mesmo o seu momento máximo.

Curiosamente, o álbum ficou por muitos anos fora de catálogo por problemas com a gravadora, só retornando nos anos 1990 graças ao selo Avenue Records, criado por Jerry Goldstein exatamente para relançar os trabalhos dessa banda seminal.

The World is a Ghetto (single version)- War:

Timmy Thomas, 77 anos, autor de um belo libelo pela paz mundial

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Por Fabian Chacur anos

No finalzinho de 1972, um verdadeiro libelo pela paz mundial tomou as programações de rádio de todo o mundo. Why Can’t We Live Together levou o seu autor, o cantor, compositor e músico Timmy Thomas, a atingir o 3º lugar na parada pop e o 1º posto no chart de r&b, vendendo só nos EUA mais de 2 milhões de cópias. Tido por alguns como um one hit wonder (maravilha de um sucesso só), ele, no entanto, tem uma história bem bacana. Thomas nos deixou nesta sexta (11) aos 77 anos de idade de causas não reveladas.

Timmy Thomas nasceu em Evansville, Indiana (EUA) em 13 de novembro de 1944. Jovem músico promissor, ele começou aprendendo e tocando ao lado de jazzistas do calibre de Cannonball Adderly e Donald Byrd. Em Memphis, Tennessee, tornou-se músico de estúdio, atuando em gravações para as gravadoras Sun, Stax e Goldwax. Ele também trabalhou como músico para as bandas The Mark-Keys e Phillip And The Faithfulls. Aí, resolveu mudar para Miami, Flórida, inicialmente para montar um barzinho.

Ele fez amizade em 1972 com o músico e compositor Noel “King Sporty” Williams, que depois ficaria mundialmente conhecido como o parceiro de Bob Marley no hit póstumo do rei do reggae Buffalo Soldier (lançada em 1983 no álbum Confrontation). Williams o levou ao estúdio da Glades, um dos vários selos ligados à TK Productions, do veterano Henry Stone. Com ele, Thomas trouxe o seu teclado marca Lowrey e uma precursora das baterias eletrônicas que dali a pouco tomariam conta das gravações, especialmente de dance music.

Cantando, tocando o órgão e valendo-se do ritmo eletrônico, o cantor deu vida a o que inicialmente seria apenas uma demo da canção que ele havia feito há pouco, inspirado pela Guerra do Vietnã. Ele explica melhor, em trecho de entrevista concedida à revista Blues & Soul em 1973:

“Escrevi essa letra baseada na minha frustração em relação ao que ocorria no mundo como um todo naquela época, questionando o porquê não podíamos viver juntos, sem guerra e em paz uns com os outros. Tive como inspiração um ritmo próximo ao da bossa nova, sendo que antes havia experimentado algo ainda mais latino”.

Quando a gravação ficou pronta, os técnicos envolvidos perceberam que a tal demo estava com qualidade para ser lançada do jeito que estava. A gravação ocorreu em agosto de 1972, e em outubro já começava a entrar com força nas programações das rádios. Em 27 de janeiro de 1973, Why Can’t We Live Together tirou nada menos do que Superstition, de Stevie Wonder, da ponta da parada ianque de r&b, mantendo-se lá por duas semanas. O single também atingiria o 3º lugar na parada pop, vendendo em solo americano mais de 2 milhões de cópias.

Tendo com lado B a deliciosa Funky Me (ouça aqui), o single Why Can’t We Live Together fez sucesso nos quatro cantos do mundo, Brasil incluso. Ele veio divulgar a música por aqui. E, em informação que consegui com o querido colega Zeca Azevedo, aproveitou para gravar um compacto duplo de vinil.

O disco, lançado pela Top Tape, traz Eu Só Quero Um Xodó (de Dominguinhos Anastácia e, na época, grande hit com Gilberto Gil- ouça a versão de Timmy Thomas aqui), cantado meio que na raça em português pelo artista e Tá Chegando a Hora (Cielito Lindo- ouça aqui), com um coral brasileiro nos vocais.

O single também trouxe duas canções inéditas feitas por Thomas especialmente para a ocasião, She’s a Rio Girl (ouça aqui) e I’ll Always Remember Brazil (ouça aqui), ambas bem dançantes e divertidas, com direito a cuíca e tudo, além de letras do tipo “turista encantado com o país que está visitando”.

Why Can’t We Live Together se tornou um clássico perene. Além do estouro da versão original, ela também teve diversas regravações, entre as quais de Sade (no CD Diamond Life, de 1984), MC Hammer (no CD Too Legit To Quit, de 1991) Steve Winwood (no CD Junction Seven, de 1997), Joan Osbourne (no CD How Sweet It Is, de 2002) e Carlos Santana (no álbum Warszawa, de 2020). Drake também sampleou a gravação de Thomas no hit Hotline Bling, de 2015.

Depois do estouro dessa música, Timmy Thomas teve dificuldade para superá-lo. Em conversa com Henry Stone, o dono da TK lhe deu uma possível explicação: “meu caro, o tema da sua canção era muito profundo, muito denso, seria mesmo muito difícil você apresentar algo tão forte assim”. Seja como for, ele seguiu adiante. Em 1974, por exemplo, lançou um dueto matador com a cantora Betty Wright, Ebony Affair (ouça aqui).

Em 1977, foi a vez do álbum Touch To Touch, cuja ótima faixa-título seguia uma batida puramente disco-soul (ouça aqui). Essa música fez um certo sucesso no Brasil, incluída na coletânea Miami Sound, lançada pela CBS. Em 1985, outro dueto bacana, New York Eyes, com a cantora Nicole McCloud (ouça aqui).

A partir do final dos anos 1980, Timmy Thomas passou a atuar de forma mais esparsa como artista solo, dedicando-se a produzir outros artistas e também a dar aulas de música em escolas públicas. Ele teve participação, como organista, em quatro faixas no badalado álbum de estreia da cantora britânica Joss Stone, The Soul Sessions (2003). Não é sem ironia que Timmy Thomas se vai quando os versos de Why Can’t We Live Together se mostram mais atuais do que nunca.

Why Can’t We Live Together (ao vivo)- Timmy Thomas:

The Temptations inclui parceria com Smokey Robinson em álbum

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Por Fabian Chacur

Smokey Robinson sempre teve uma bela e frutífera parceria com os Temptations, sendo autor de hits marcantes da banda como My Girl e Get Ready, entre outros. E eles voltaram a se encontrar em Temptations 60, álbum que celebra as seis décadas de estrada do grupo vocal que, embora inclua apenas um de seus fundadores, o grande Dr. Otis Williams, ainda se mantém digno e produtivo. A faixa que reúne essas lendas da soul music é a maravilhosa Is It Gonna Be Yes Or No, uma slow jam envolvente no melhor estilo da black music clássica.

Em press-release, Williams explica a motivação por trás desse trabalho: “Nosso novo álbum carrega consigo nosso legado, nosso amor pela música e nossa esperança de que, através de nossa música, possamos elevar os pensamentos e unir as pessoas. Acima de tudo, queremos que os fãs aproveitem e compartilhem com familiares e amigos ao redor do mundo. É um presente de agradecimento de nossos corações a todos os nossos fãs, passados, presentes e futuros”.

Temptations 60 traz 12 faixas, contando com produção e composições de gente do calibre do consagrado Narada Michael Walden e do artista de hip hop K.Sparks (que participa da faixa Let It Reign). Além do seu fundador, o The Temptations inclui em sua formação atual Ron Tyson (na banda há 39 anos), Terry Weeks (no time desde 1997), Willie Grant (há seis anos nos Temptations) e o recém-apresentado Tony Grant (ex-integrante do grupo Az Yet).

Is It Gonna Be Yes Or No (clipe)- The Temptations and Smokey Robinson:

Sarah Dash, 76 anos, do grupo Labelle e uma ativista social

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Por Fabian Chacur

Durante mais de um mês, pesquisei e ouvi inúmeras vezes o álbum Gonna Take a Miracle, da saudosa Laura Nyro (1947-1997) em parceria com o trio vocal feminino Labelle, com o intuito de fazer um texto celebrando os 50 anos de seu lançamento (leia aqui), que enfim foi publicado no último domingo (19). Pois, para minha imensa tristeza, uma das integrantes do grupo, Sarah Dash, nos deixou nesta segunda (20), aos 76 anos de idade.

Sem causa mortis revelada, embora alguns amigos tenham afirmado que a cantora havia se queixado de desconfortos físicos nos últimos dias, Dash recebeu homenagens nas redes sociais de várias pessoas, incluindo sua parceira de grupo, Pati LaBelle, que afirmou ter cantado com ela em um evento no último sábado (18). Ela também recebeu recentemente uma premiação de sua cidade natal, Trenton (Nova Jersey-EUA) por seu trabalho artístico e também social, pois apoiou várias causas humanitárias, incluindo auxílio a mães solteiras sem lar.

Sarah Dash nasceu em 18 de agosto de 1945 e deu seus primeiros passos como cantora profissional a partir de 1961, quando se uniu a Patti LaBelle e Nona Hendryx no grupo Patti Labelle And The Blue Belles. O grupo passou a década de 1960 inteira lançando trabalhos com menos repercussão do que mereciam, mas sem esmorecer. A partir de 1971, mudaram o nome do trio para Labelle, e gravaram o álbum ao lado de Laura Nyro.

Entre 1971 e 1977, o Labelle lançou seis álbuns próprios, e estourou com o quarto deles, Nightbirds (1974), que atingiu o 7º lugar na parada de álbuns americana e traz como grande atrativo o explosivo single Lady Marmalade (ouça aqui), 1º lugar nos EUA e rendendo ao grupo a capa da revista Rolling Stone.

Após a separação do Labelle, que ocorreu em 1977, Sarah estreou na carreira solo em 1978, com um hit nas discotecas americanas, Sinner Man. Até 1988, ela lançaria quatro álbuns individuais que não obtiveram o mesmo sucesso comercial dos tempos de seu grupo, mas a mantiveram na ativa.

Em 1988, Sarah foi convidada por Keith Richards, que a conhecia desde os tempos em que Patty LaBelle And The Blue Belles abriu shows para os Rolling Stones nos anos 1960, para integrar sua banda Xpensive Winos. Ela não só participou de dois álbuns do cantor e guitarrista britânico, Live At The Hollywood Palladium (1991) e Main Offender (1992), como de quebra ainda marcou presença em Steel Wheels (1989), dos Stones.

A cantora também deu brilho ao trabalho de outros artistas, entre os quais Nile Rodgers (em seu disco solo Adventures in the Land of the Good Groove, de 1983), The O’Jays, David Johansen (do grupo New York Dolls) e The Marshall Tucker Band.

O Labelle teve dois retornos em termos de gravações. Um em 1995, quando gravaram a faixa Turn It Out para a trilha do filme To Wong Foo Thanks For Everything! Julie Newmar e um em 2008, mais robusto, que rendeu o álbum Back To Now, com boa repercussão e atingindo o 45º lugar na parada americana.

Sinner Man– Sarah Dash:

Marilyn McCoo & Billy Davis Jr. releem com classe hit dos Wings

marily mccoo e billy davis jr.

Por Fabian Chacur

Temos perdido tantos grandes nomes da música nos últimos tempos que é um alívio poder dar boas notícias a respeito de alguns deles. Neste caso, a dupla americana Marilyn McCoo & Billy Davis Jr., dois nomes de destaque da música pop americana nos anos 1960 e 1970 integrando o grupo The Fifth Dimension e como duo. Casados há mais de 51 anos e em plena forma, eles acabam de lançar um novo single, Silly Love Songs, já devidamente disponível nas plataformas digitais.

Trata-se de uma releitura muito bem feita e com tempero soul dançante de um grande hit dos Wings de Paul McCartney que foi lançado no ano de 1976 no álbum Wings At The Speed Of Sound. Uma bela escolha de cover, que o casal soube incorporar ao seu estilo com bom gosto e classe, suas marcas registradas.

Marilyn, nascida em 30 de setembro de 1943, e Billy, em 26 de junho de 1938, tornaram-se conhecidos no mundo do show business integrando o grupo vocal The Fifth Dimension, que entre 1968 e 1975 emplacou hits marcantes como Up, Up And Away, Wedding Bell Blues, Stoned Soul Picnic, (Last Night) I Didn’t Get To Sleep At All e Aquarius-Let The Sunshine In, entre outros.

Em 1976, após sair do grupo, lançaram como dupla o álbum I Hope We Get To Love In Time, que trouxe como destaque o single You Don’t Have To Be a Star (To Be In My Show), que atingiu o primeiro lugar na parada americana em janeiro de 1977. Naquele mesmo 1977, apresentaram um programa na TV americana, sendo o primeiro casal de negros a realizar tal feito por lá.

Nos anos 1980, embora continuassem casados, eles começaram a fazer trabalhos artísticos individuais. Ela apresentou por vários anos o programa Solid Gold e também atuou como atriz, enquanto Billy investiu na área da música cristã e como ator. No início dos anos 1990, participaram de uma bem-sucedida turnê de reunião da formação original do The Fifth Dimension.

Em 2004, o casal lançou em colaboração com o escritor Mike Yorkey a autobiografia Up, Up And Away…How We Found Love, Faith & Lasting Marriage In The Entertainment World. O álbum duplo ao vivo Live saiu em 2013, com 18 faixas divididas entre hits da dupla, do The Fifth Dimension e da soul music. Com o grupo e em dupla, ganharam 7 troféus Grammy, 15 discos de ouro e 3 de platina no disputado mercado fonográfico americano.

Silly Love Songs (lyric video)- Marilyn McCoo & Billy Davis Jr.:

Edna Wright, do Honey Cone, feminista sem perder o swing

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Por Fabian Chacur

Edna Wright nos deixou no último dia 12 de setembro, aos 76 anos. Em uma época na qual as mulheres lutam cada vez mais por seus direitos em um mundo ainda predominantemente machista, é sempre bem-vindo relembrar o trabalho de uma cantora e compositora que figura entre as pioneiras nessa direção, em termos musicais. A integrante do grupo Honey Cone e intérprete de poderosos libelos feministas como Want Ads não merece ser esquecida. Então, lá vamos nós, em uma viagem aos anos de ouro desta importante artista negra norte-americana.

Nascida em 1944, Edna é a irmã mais nova de outra cantora do primeiro escalão, Darlene Love, conhecida por seus trabalhos ao lado do produtor Phil Spector. Filha de um pastor evangélico, ela deu seus primeiros passos como cantora atuando em corais de igreja. Nessa área, fez parte do grupo gospel The COGIC (Church Of God In Christ). Com o apoio de Darlene, participou de trabalhos com Spector, e em 1964 foi a vocalista principal do single pop Yes Sir That’s My Baby, creditado a Haze And The Hushabyes, projeto que incluía Brian Wilson, Sonny & Cher e Jackie DeShannon.

Com o pseudônimo Sandy Wynns, a cantora lançou alguns singles entre 1965 e 1967, entre os quais um pequeno hit, A Touch Of Venus. Além disso, participou de gravações de Ray Charles, The Righteous Brothers e Johnny Rivers. Ela também eventualmente marcava presença no grupo vocal de sua irmã, The Blossoms, e fez amizade com outras duas cantoras, Shelly Clark, que foi uma das Ikettes de Ike & Tina Turner, e Carolyn Willis.

Em meados de 1968, Darlene Love não tinha como cumprir o compromisso de se apresentar no programa de TV do cantor Andy Williams, e pediu para que Edna a substituísse. Ela não só aceitou o convite como resolveu levar Shelly e Carolyn junto com ela. Um amigo de Edna, o famoso compositor Eddie Holland, conhecido pelas canções que escreveu ao lado do irmão Brian Holland e de Lamont Dozier para grupos como The Four Tops e The Supremes, viu a performance das meninas, e ficou entusiasmado.

Naquele momento, Holland-Dozier-Holland estavam saindo da Motown Records, onde trabalhavam, para montar seu próprio negócio, os selos Hot Wax e Invictus, e perceberam que as três garotas insinuantes e boas de voz poderiam ser as Supremes ou Martha And The Vandellas de seu novo empreendimento. Convite feito, convite aceito, mesmo que as meninas não tenham ficado muito contentes com o nome com que H-D-H batizaram o grupo: Honey Cone.

Como não podiam assinar novas músicas com seus nomes por causa de uma batalha jurídica com sua antiga empregadora, H-D-H passaram a usar como “laranja” o nome de um de seus colaboradores, Ronald Dunbar, em uma parceria de fachada com uma certa Edyth Wayne que na verdade não existia. Mas, embora o Honey Cone tenha gravado várias músicas de “Dunbar-Wayne”, foram outros os compositores que criaram os hits para o trio.

Um deles deles foi General Johnson, cantor de outro grupo da Hot Was-Invictus, o Chairman Of The Board, de hits como Give Me Just a Little More Time. Seu parceiro nessas canções, o músico Greg Perry, acabou virando o parceiro de vida de Edna, casando-se com ela. Absorvendo o clima feminista da época, eles criaram canções sacudidas com letras nas quais as meninas não se submetiam à tirania masculina, propondo relações afetivas mais justas.

O primeiro single do trio, While You’re Out Looking For Sugar, saiu em 1969, seguido pouco depois pelo álbum de estreia, Take Me With You (1970). A repercussão foi apenas mediana, mas a semente parecia promissora, e H-D-H sacaram que deviam continuar investindo nas meninas. Valeu a pena, e como!

Em 1971, o feminismo empoderado entrou com força total nas paradas de sucesso, e um dos precursores dessa nova vertente musical foi o single Want Ads (ouça aqui), do Honey Cone. Com seu balanço contagiante e uma letra que propunha colocar um anúncio nos classificados de jornal para encontrar substituto para um namorado vacilão, o single com essa faixa chegou ao número 1 na parada pop americana e também na de r&b, destronando nada menos do que Brown Sugar, dos Rolling Stones (simbólico demais!) e vendendo mais de um milhão de cópias.

Sweet Replies (1971), o álbum que traz Want Ads, atingiu o nº 137 entre os álbuns pop e nº 15 nos de r&b. Uma curiosidade: a marcante guitarra-base de Wants Ads foi gravada por um então adolescente Ray Parker Jr., que depois faria fama com o grupo Raydio e em carreira-solo (Ghostbusters e muito mais). Animada com o sucesso, a gravadora Hot Wax resolveu não perder tempo, partindo rapidamente para o lançamento de um novo LP.

Naquele mesmo 1971, Soulful Tapestry chegava às lojas, com faixas inéditas e trazendo os dois hits do trabalho anterior como faixas-bônus, Want Ads e The Day I Found Myself (chegou ao 23º lugar na parada pop, ouça aqui). O álbum chegou ao nº 72 na parada pop e ao 15º no chart de r&b.

Uma das inéditas bateu forte por lá e também aqui no Brasil. Trata-se de Stick Up, petardo dançante que liderou a parada de r&b e atingiu o 15º posto na parada pop, também ultrapassando a marca de um milhão de singles vendidos. Essa faixa e outra de Soulful Tapestry, Don’t Count Your Chickens (ouça aqui) foram incluídas na trilhas sonora internacional da novela global O Primeiro Amor (1972). Outro hit foi One Monkey Don’t Stop No Show Parts 1 & 2 (ouça aqui)

O céu era o limite para essas garotas incríveis? Infelizmente, não. Por problemas de administração, as gravadoras de H-D-H tiveram sérias dificuldades para repetir o sucesso dos lançamentos anteriores, e isso explica o fracasso do 4º álbum do Honey Cone, Love, Peace & Soul (1972), que não passou do nº 189 na parada pop e do nº 41 na de r&b, com o ótimo single Innocent ‘Til Proven Guilty (ouça aqui) fracassando nas paradas.

Aí, Carolyn Willis, insatisfeita com os rumos com o trio estava percorrendo naquele momento, preferiu sair fora. E, logo a seguir, Edna e Shelly decidiram dar um fim ao grupo, em 1973. Em 1976, a Hot Wax tentou reviver a marca Honey Cone com outras cantoras, entre elas Shanon Cash, mas o single lançado, Somebody Is Always Messing Up A Good Thing, foi ignorado pelo público, e essa tentativa ficou por aí.

Willis, que era a arranjadora vocal do grupo, participou do hit Get Closer, da dupla Seals & Crofts, participou das bandas de apoio de artistas do porte de Neil Diamond, Carly Simon e Boz Scaggs e gravou jingles para empresas de grande porte. Por sua vez, Shelly se casou em 1980 com Verdine White, baixista do Earth, Wind & Fire, e passou a trabalhar em produção de programas de TV e em empresas de assessoria de celebridades.

Em 1977, Edna Wright foi contratada pela gravadora RCA, e lançou seu primeiro (e, infelizmente, único) álbum solo, Oops! Here I Go Again (ouça aqui ). Nele, ela mostrou o seu lado compositora, escrevendo as sete canções em parcerias com o marido Greg e também com Angelo Bond e Terrance Harrison. O disco é bem legal, mas fracassou em termos comerciais. Sua espetacular faixa título é cultuada pelos fãs de r&b dançante, e foi resgatada em 2009 na maravilhosa coletânea Rare Groove- The Master Series, lançada pela Sony Music inclusive no Brasil. Ray Parker Jr. também participa deste álbum.

A partir dali, Edna largou mão da carreira individual e passou a trabalhar como vocalista de apoio, trabalhando com nomes do porte de U2, Whitney Houston, Aaron Neville, Kim Carnes, Cher, Mike Love (dos Beach Boys) e Annie Lennox, entre outros. Em 2014, Edna e Shelly Clark reviveram o Honey Cone, com Melody Perry (filha de Edna) na vaga de Carolyn, para dois shows durante o cruzeiro marítimo Soul Train Cruise.

A música do Honey Cone continuou e continua cultuada pelos fãs de r&b e soul, e foi sampleada por outros artistas em algumas ocasiões. Kanye West, por exemplo, sampleou Innocent ‘Til Proven Guilty para criar a sua composição Testify, que ele produziu para o astro do r&b Common em 2005. Edna faz uma rápida aparição no clipe que divulgou Testify.

Por sua vez, o grupo de hip hop De La Soul sampleou Oop! Here I Go Again, do único disco solo de Edna Wright, na sua música Pass The Plugs, faixa incluída no segundo álbum do trio, De La Soul Is Dead (1991).

Ao lado de Jean Knight, Betty Wright (que infelizmente também nos deixou este ano) e Freda Payne, Edna figura entre as pioneiras do som feminino “empoderado”, e não pode ser esquecida nem pelas feministas, nem por quem gosta de dançar e menos ainda pelos fãs de soul music.

Stick Up– Honey Cone:

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