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Paul McCartney esbanja classe em Live Kisses

Por Fabian Chacur

Em 2012, Paul McCartney lançou um álbum dedicado a standards da música americana que ouvia quando era moleque, o mediano Kisses On The Bottom (leia a resenha aqui). Um trabalho correto, mas bastante abaixo do que se poderia esperar de um álbum do eterno Macca.

Como forma de apresentar esse novo CD a uma seleta plateia, o ex-beatle fez um show no lendário Studio A da Capitol, em Los Angeles, California no dia 9 de fevereiro de 2012, acompanhado basicamente dos mesmos músicos que gravaram o álbum com ele e tocando também basicamente o mesmo repertório daquele disco.

O resultado, registrado no DVD (também disponível em Blu-ray) Live Kisses, acaba de sair no Brasil via ST2, e felizmente supera o disco lançado anteriormente. Nele, McCartney se mostra mais à vontade com as canções, provavelmente pelo fato de ter gravado tudo ao vivo e com presença de público, e o resultado é bem mais agradável.

Gravado em preto e branco, o show traz a banda liderada pela pianista e estrela Diana Krall. Do time do CD, Eric Clapton ficou de fora, sendo substituído nas músicas de que participava (My Valentine e Get Yourself Another Fool) por Joe Walsh, dos Eagles. McCartney não toca nenhum instrumento e se dedica exclusivamente aos vocais, algo inédito em sua carreira.

Temos no repertório do DVD 13 músicas, sendo 12 do CD (que tem 14 no total) e um outro standard que ficou de fora do álbum, My One And Only Love. Inch Worm só é tocada nos créditos, enquanto Only Our Hearts, inédita que conta com a participação especial de Stevie Wonder no disco, não entrou no show. Wonder e Clapton, por sinal, dão depoimentos incluídos no vídeo. No mínimo, a agenda deles não coincidiu com a do amigo…

O show é delicioso e flui de forma encantadora e simples, com Paul explorando o lado mais suave de sua belíssima voz, evidenciada na bem sacada introdução vocal/baixo acústico (tocado por John Clayton) em Glory Of Love. Bem-humorado, ele reinicia três vezes My Very Good Friend The Milkman até acertar o tom certo do assovio.

Durante o show, são incluídos comentários sobre as músicas feitos por McCartney, o produtor Tommy LiPuma e outros participantes do show/álbum. A tela é dividida em duas em algumas músicas, possibilitando ao espectador observar a cumplicidade entre o autor de Yesterday e os músicos, que aparentam estar em êxtase por tocar com o mestre.

Da banda de apoio que acompanha Paul nos últimos dez anos, só o baterista Abraham Laboriel Jr. aparece, participando com categoria nos vocais de apoio (backing vocals) em I’m Gonna Sit Right Down And Write Myself a Letter, The Glory Of Love e Ac-Cent-Tchu-Ate The Positive.

Nos extras, foram incluídas as seis versões existentes do clipe da maravilhosa inédita My Valentine, com as participações dos atores Johnny Depp e Natalie Portman, além de entrevistas com Paul McCartney e Tommy LiPuma. A versão em DVD é na forma de livro, com direito a um maravilhoso encarte com informações técnicas e uma entrevista com Paul feita por Elvis Costello, seu parceiro e também feliz marido de Diana Krall.

Veja My Valentine, com Paul McCartney (do DVD Live Kisses):

DVD flagra Stray Cats no início do estrelato

Por Fabian Chacur

Às vezes, a melhor solução para alguém que deseja fazer sucesso é mesmo o aeroporto. O grupo Stray Cats sentiu isso na pele logo no início da carreira, nos EUA, sua terra natal. A releitura energética e inspirada do rockabilly não agradou em princípio seus conterrâneos, lá pelos idos de 1979. O que fazer?

Brian Setzer (vocal e guitarra), Lee Rocker (baixo) e Slim Jim Phantom (bateria) resolveram, no verão de 1980, arriscar uma mudança para Londres, na Inglaterra, onde aparentemente havia um público mais interessado no revival daquela deliciosa mistura de rhythm and blues e o hillbilly de acento capira. Resultado: acertaram na mosca!

Neste excelente DVD que acaba de ser lançado no Brasil pela ST2, Live At Montreux 1981, o trio rock and roller é flagrado em sua primeira e única apresentação no mitológico Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, em 10 de julho de 1981. Eles haviam lançado há não muito tempo no Reino Unido seu primeiro (e ótimo) álbum, auto-intitulado.

O repertóro do show inclui músicas desse trabalho escritas por eles, como as fantásticas Runaway Boys, Stray Cat Strut e Rock This Town, e covers certeiros de clássicos do rock and roll dos anos 50 tocadas de forma ensandecida, entre os quais Somethin’ Else (de Eddie Cochran) e Be Bop a Lula (de Gene Vincent).

É impressionante o agito que eles eram capazes de fazer valendo-se apenas de guitarra, baixo de pau e um kit básico de bateria tocado de pé por Phantom. O suor intenso escorrendo dos rostos dos três (especialmente de Setzer) dão mostras de sua intensa paixão pelo rock and roll, cativando um público que pula o tempo todo.

Tive a chance de ver o trio no Brasil em 1989 no extinto Projeto SP (então situado na Barra Funda, em sua segunda encarnação), e me atrevo a dizer que Brian Setzer é um dos melhores cantores, compositores e guitarristas que se dedicaram ao rockabilly, tão bom como os pioneiros do gênero. Um dos melhores shows que vi na minha vida!

Live At Montreux 1981 é daquele tipo de DVD que você pode reservar para uma festinha de rock and roll, pois seu conteúdo contagiante será capaz de animar até os mais desconsolados com a vida. E a recepção do público certamente fez muito bem ao trio, que em 1982 voltou aos EUA e finalmente estourou em seu país de origem, e de quebra no resto do mundo.

Veja Stray Cat Strut, com os Stray Cats:

Veja Somethin’ Else, com os Stray Cats:

CD flagra Iggy e Bowie ao vivo em 1977

Por Fabian Chacur

Há várias amizades históricas no rock and roll, capazes de gerar frutos que proporcionaram (e proporcionam) aos fãs muito prazer auditivo. A dobradinha David Bowie/Iggy Pop é certamente uma delas.

Fã incondicional dos Stooges, uma das bandas consideradas pioneiras do que se convencionou chamar de punk rock, Bowie deu uma força ao grupo e produziu seu terceiro álbum, Raw Power (1973). Quando a banda acabou, o eterno Ziggy Stardust mais uma vez se fez presente, ajudando o amigo a lançar seus dois primeiros álbuns solo, os seminais The Idiot e Lust For Life, ambos em 1977.

Não satisfeito, Bowie ainda integrou a banda de apoio que tocou com Iggy Pop durante uma histórica turnê em 1977. Já havia sido lançado anteriormente material registrado nessa turnê, mas nada com a qualidade de áudio de Iggy & Ziggy – Sister Midnight- Live At The Agora, que a ST2 acaba de lançar no Brasil em formato digipack.

O CD foi gravado ao vivo no dia 21 de março de 1977 no Agora Ballroom, em Cleveland, Ohio, EUA. Para acompanhar o amigo Iggy, Bowie se incumbiu dos teclados e escalou três outros músicos de primeira linha para cumprir a missão.

O guitarrista escocês Ricky Gardiner (na época com 29 anos) tinha acabado de participar com destaque do álbum Low (1977), de Bowie, e dá um verdadeiro banho de garra, riffs bem colocados e solos criativos durante o show com Iggy.

Completam o time os irmãos Tony (baixo) e Hunt Sales (bateria), que 12 anos depois estariam ao lado de Bowie e do guitarrista Reeves Gabrels na banda Tin Machine, que lançou três simpáticos álbuns de rock básico entre 1989 e 1992.

Esse verdadeiro timaço esbanjou entrosamento e garra nas faixas registradas em Sister Midnight – Live At The Agora. Temos aqui 12 faixas, com as seguintes origens:

I Wanna Be Your Dog, 1969 e No Fun são de The Stooges, álbum de estreia dos Stooges, de 1969;
TV Eye e Dirt integram Fun House, álbum de número 2 dos Stooges, de 1970;
Search And Destroy, Raw Power, I Need Somebody e Gimme Danger estrearam em Raw Power (1973), terceiro LP dos Stooges;
Sister Midnight e Funtime estão em The Idiot, estreia solo de Iggy Pop em 1977;
Turn Blue completa o repertório, sendo faixa de Lust For Life, também de 1977.

A qualidade de áudio é realmente surpreendente, se levarmos em conta que foi gravado há 35 anos, e a da performance da banda é simplesmente eletrizante. Iggy canta muito bem e com aquela personalidade forte que o tornou um dos melhores cantores de rock de todos os tempos.

Os riffs precisos de Ricky Gardiner pontuam a performance segura da cozinha rítmica dos irmãos Sales, enquanto Bowie se mostra um tecladista discreto e eficiente, além de dar uma força nos vocais de apoio.

Do pique resfolegante de Raw Power, TV Eye, No Dog e No Fun, passando pelo clima funk eletrônico de Sister Midnight e do blues a la Doors em Dirt, Sister Midnight – Live At The Agora é um dos melhores ao vivo que ouvi nos últimos tempos, especialmente pelo fato de ir além do simples registro histórico do encontro de dois mitos do rock and roll, com belo resultado artístico. Muito, mas muito bom mesmo. Vale cada centavo que você pagar nele.

Ouça Sister Midnight Live At The Agora na íntegra (a versão em CD é mais legal, mas esta é bem bacana também):

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