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The Captain and Me- The Doobie Brothers (1973)

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Por Fabian Chacur

Quando chegou à cidade de San Jose, na Califórnia, em 1968, Tom Johnston tinha como projeto desenvolver uma carreira como cantor, compositor e guitarrista de rock. Cinco anos depois, ele podia se considerar um vencedor. Após lançar dois álbuns, sua banda, The Doobie Brothers, despontava como uma das mais bem-sucedidas formações do rock americano naquela época (leia mais sobre eles aqui).

Naquele 1973, o novo desafio dos Doobies era manter a onda de sucesso gerada pelo icônico single Listen To The Music e pelo álbum Toulouse Street (1972). Isso, em meio a inúmeros shows e apresentações em TVs e rádios. Diante de tal cenário, Johnston e seu principal colega de banda, o também cantor, compositor e guitarrista Patrick Simmons, tiveram de mostrar muito jogo de cintura para conseguir material à altura de tal missão.

Para felicidade geral de todos, o entrosamento da formação que estreou no LP anterior se mostrou excelente. Tiran Porter (baixo e vocais) deu imensa consistência musical à banda, assim como os dois ótimos bateristas/percussionistas Michael Hossack e John Hartman, seguindo uma tendência de dois bateras em uma mesma banda criada inicialmente pelos Allman Brothers e mesmo Santana.

Como armas secretas adicionais, a banda trouxe como músicos de apoio para este álbum o tecladista Bill Payne, integrante da cultuada banda Little Feat, e o guitarrista Jeff Skunk Baxter, então tocando com o Steely Dan. De quebra, contaram com a programação de sintetizadores de Malcolm Cecil e Robert Margouleff, os mesmos que trabalhavam na época com Stevie Wonder.

Com essa escalação e também com a produção de Ted Templeman, que estreou com tudo na profissão em Toulouse Street e acabaria se tornando um dos grandes do setor, o grupo soube solidificar suas marcas registradas: vocalizações personalizadas, diversificação rítmica e o perfeito encaixe entre os riffs e a guitarra rítmica de Johnston com o dedilhado delicado de Simmons no violão e guitarra.

Resultado: The Captain and Me, o 3º LP dos Doobies, levou a banda pela primeira vez ao top 10 americano entre os álbuns mais vendidos, atingindo a posição de nº 7. Trata-se do ponto mais alto dessa fase inicial do grupo, e até hoje é considerado por muitos como o seu melhor trabalho. Vale uma análise faixa a faixa deste disco antológico.

Natural Thing (Tom Johnston) (ouça aqui)

Os timbres originais de teclados gerados pela programação de Cecil e Margouleff aparecem com muito destaque nesta faixa, com os sintetizadores Arp tocados por Johnston e Simmons. Com um refrão matador e uma levada um pouco mais pop, esta canção traz uma das marcas dos Doobies, que são letras positivas e pra cima, com versos do tipo “todos buscam ser amados, é a coisa natural”. Bela abertura de álbum!

Long Train Runnin’ (Tom Johnston) (ouça aqui)

Precisando de material urgente para o disco, Johnston resgatou um rascunho de música que ele havia apelidado de Osborn. Ouvindo sugestões de Ted Templeman, ele criou uma letra fazendo uma espécie de metáfora da vida como uma “longa viagem de trem”, com o refrão perguntado “sem amor, onde estaríamos agora?”. De quebra, foi criado um clima de rock latino, com ênfase em percussão e guitarra rítmica. Resultado final: um dos maiores hits da banda, que atingiu o nº8 nos EUA no formato single.

China Grove (Tom Johnston) (ouça aqui)

Mostrando mais uma vez seu grande talento em escrever rocks energéticos e diretos, Tom Johnston aumenta o peso na sua guitarra, com um efeito saturado inconfundível. De quebra, aproveita o enorme talento de Bill Payne para uma presença de destaque do piano, aliado a mais um daqueles refrões contagiantes. Resultado: outro single de sucesso, que chegou ao 15º lugar na parada ianque e entrou pra sempre no set list dos shows da banda.

Dark Eyed Cajun Woman (Tom Johnston) (ouça aqui)
Como forma de diversificar um pouco o clima sonoro, Johnston desta vez investe no blues homenageando B.B.King (especialmente o seu marcante hit The Thrill Is Gone). A roupagem ficou linda graças ao inspirado arranjo de cordas assinado por Nick De Caro, que trabalhou com James Taylor, Arlo Guthrie e Fleetwood Mac, entre outros.

Clear As The Driven Snow (Patrick Simmons) (ouça aqui)

Em sua primeira composição neste álbum, Patrick Simmons assume o vocal principal e fala, na letra, sobre o perigo do consumo de drogas, especialmente a cocaína. A canção começa com um clima folk, e depois investe em variações rítmicas energéticas que abrem espaço para solos e demonstram a extrema qualidade dos músicos desta grande banda. Esta faixa encerra de forma marcante o lado A do vinil.

Without You (The Doobie Brothers) (ouça aqui)

Creditada aos cinco integrantes do grupo naquela época, trata-se de um rockão pesado que faz uma homenagem ao The Who, e é outro momento daqueles em que a banda se permite improvisar de forma sólida e criativa. Bill Payne se incumbe do órgão e o produtor Ted Templeman também participa nos vocais de apoio. Os solos são simplesmente maravilhosos, de uma simplicidade e contundência exemplares.

South City Midnight Lady (Patrick Simmons) (ouça aqui)

Depois da virulência da faixa anterior, Patrick Simmons nos oferece essa linda canção folk-rock romântica, com direito a outro arranjo inspirado de cordas de Nick Caro e o piano de Bill Payne, além dos sintetizadores arp dando um tempero. Outro ponto arrepiante é a slide guitar a cargo de Jeff Skunk Baxter, que no ano seguinte seria oficializado como integrante dos Doobies, onde ficaria até o início de 1979.

Evil Woman (Patrick Simmons) (ouça aqui)

Patrick Simmons mostra que também sabe escrever rocks pesados, embora o vocal principal aqui traga Tom Johnston como protagonista. Temos não creditados vocais femininos no refrão, bem adequados se levarmos em conta que a letra fala sobre uma mulher muito, muito má mesmo!

Busted Down Around O’Connelly Corners (James Earl Luft) (ouça aqui)

A única faixa não escrita por um dos integrantes da banda é na verdade um curto e delicado (além de lindo) tema de violão acústico executado com maestria por Patrick Simmons e seus dedilhados inspirados.

Ukiah (Tom Johnston) (ouça aqui)

Com uma levada shuffle, a mesma usada pelo grupo brasileiro Capital Inicial em seu hit Música Urbana, de 1986 (ouça aqui), esta canção balançada traz lindos solos de Tom Johnston e inspiradas passagens de piano de Bill Payne.

The Captain and Me (Tom Johnston) (ouça aqui)

Um álbum tão bom não poderia ser encerrado de qualquer jeito, e a faixa-título se incumbe da tarefa com perfeição, trazendo um início folk e uma progressão que a impulsiona rumo a uma pegada percussiva final de tirar o fôlego. Outra performance magistral de Johnston e também dos vocais de apoio, uma das marcas registradas do som dos Doobies.

Toulouse Street e The Captain And Me marcaram tanto a trajetória dos Doobies que foram executados na íntegra no icônico Beacon Theatre, em Nova York, em 15 e 16 de novembro de 2018, performances que geraram em 2019 o álbum/DVD Live From The Beacon Theatre (leia a resenha aqui).

The Captain and Me– The Doobie Brothers (ouça o álbum em streaming):

The Doobie Brothers releem dois grandes álbuns com classe

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Por Fabian Chacur

Em junho deste ano, celebrei por aqui o anúncio do lançamento de Live From The Beacon Theater, álbum duplo lançado pela Warner Music no Brasil nos formatos digitais e físico (CD duplo). Você pode ler todos os detalhes em termos de informação aqui. Agora, após ter tido a oportunidade de ouvir esse trabalho de forma muito atenta, chegou a hora da resenha desse lançamento histórico de uma das grandes bandas do rock americano.

Comecemos pela formação que se incumbiu da gravação deste trabalho, registro de shows realizados nos dias 15 e 16 de novembro de 2018 no Beacon Theater, em Nova York. Hoje, os Doobie Brothers são um trio, composto pelos fundadores Tom Johnston (guitarra e vocal) e Patrick Simmons (guitarra e vocal, o único que nunca saiu da banda) e mais John McFee (guitarra, pedal steel, dobro, violino, cello, harmônica, banjo e vocais, ufa!), que esteve no time entre 1979 e 1982 e retornou de vez em 1993.

Para darem suporte a eles, temos um timaço liderado pelo tecladista Bill Payne, considerado um dos grandes músicos no setor. Ele integrou nos anos 1970 e 1980 a badalada banda Little Feat, e também gravou com Bryan Adams, Stevie Nicks, Bob Seger, Pink Floyd, Toto, James Taylor e Bonnie Raitt. Aliás, Payne pilotou os teclados dos Doobies nos dois álbuns de estúdio reproduzidos ao vivo aqui, ou seja, ninguém mais qualificado para essa importante missão do que ele.

O elenco de músicos também traz Marc Russo (saxofone), Ed Toth (bateria), John Cowan (baixo e vocais) e Marc Quinones (percussão e vocais). Foram adicionados especialmente para os shows do Beacon Theater os músicos Roger Rosenberg (saxofone) e Michael Leonhart (trompete), que aliados a Marc Russo geraram um naipe de metais afiadíssimo.

Com dez músicos em cena, o grupo americano seguiu uma diretriz das mais interessantes: manteve a estrutura básica dos arranjos originais das canções, acrescentando algumas passagens de metais inéditas e abrindo espaços para solos e improvisos. Como a qualidade dos profissionais envolvidos é imensa, o resultado se mostra delicioso, tendo tudo para satisfazer tanto os fãs mais fieis como aqueles que ainda não conheciam essas canções.

Ao contrário de algumas bandas contemporâneas deles, os Doobie Brothers sempre tiveram a capacidade de criar não só singles matadores, como Listen To The Music, Rockin’ Down The Highway, China Grove e Long Train Runnin’, mas também de gravar álbuns consistentes e nos quais você não encontra uma única faixa fraca daquelas feitas apenas para “encher linguiça”.

Dessa forma, a missão de tocar Toulouse Street (1972) e The Captain And Me (1973) mostra-se das mais deliciosas, pois além de muito boas, as músicas também formam uma amostra preciosa da amplitude da sonoridade desta banda seminal.Se os singles citados trazem como marca a energia roqueira e os riffs de guitarra (com um toque latino em Long Train Runnin’), outras facetas surgem nas faixas que fazem companhia a elas.

O blues, por exemplo, marca presença em Don’t Start Me To Talkin’ e Dark Eyed Cajun Woman. O folk com tons saudosistas e emocionais surge em Toulouse Street e Clear As The Driven Snow. O hard rock pesadão surge em Disciple, Evil Woman e Without You, a levada shuffle marca a deliciosa Ukiah, a leveza mais pop em Natural Thing e o folk progressivo na intensa The Captain And Me.

Das 23 músicas apresentadas, 11 são de Tom Johnston, 6 de Patrick Simmons, uma é assinada por cinco integrantes da banda na época (Without You) e cinco são covers, como o rock gospel Jesus Is Just Alright (de Arthur Reynolds e gravada em 1969 pelos Byrds), Don’t Start Me To Talkin’ (do bluesman Sonny Boy Williamson) e Cotton Mouth (composição da dupla Seals & Crofts, conhecida pelos hits Summer Breese e Diamond Girl)

Se o entrosamento da banda conta muito para esse resultado brilhante, os pontos altos ficam por conta de seus protagonistas. Com 70 anos de idade completados em 2018, Tom Johnston impressiona por sua vitalidade. Seu vozeirão continua intacto, assim como seus riffs e solos de guitarra e uma presença de palco confiante e cativante. A delicadeza do dedilhado na guitarra e violão de Patrick Simmons, assim como sua voz mais suave, também estão intactos, assim como a versatilidade de John McFee.

Após tocar os dois álbuns na íntegra, os Doobies nos oferecem um bis com três músicas: Take Me In Your Arms (Rock Me), cover da Motown que eles emplacaram nas paradas de sucesso em 1975, e a envolvente canção folk-country Black Water, que atingiu o primeiro lugar na parada de singles americana naquele mesmo 1975. Para finalizar a festa, tocaram novamente Listen To The Music, para levar a plateia à loucura.

Os Doobie Brothers nunca tocaram no Brasil, em seus quase 50 anos de estrada. Com o vigor e a qualidade que permanecem firmes em sua fase atual, certamente atrairiam um público bacana se enfim nos visitassem.

Rockin’ Down The Highway (live)- The Doobie Brothers:

The Doobie Brothers lançam histórico disco duplo ao vivo

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Por Fabian Chacur

The Doobie Brothers é uma das bandas mais consistentes e bem-sucedidas da história do rock americano. Em vias de completar 50 anos de estrada, os caras já venderam mais de 48 milhões de cópias de seus álbuns, sendo que um deles, a coletânea Best Of The Doobies (1976), atingiu a marca de mais de 12 milhões de cópias vendidas nos EUA. Mais ativos do que nunca, eles estão lançando um novo trabalho. E não é qualquer um. Trata-se de Live From The Beacon Theater, disponibilizado pela Warner Music no Brasil em CD duplo e nas plataformas digitais e no exterior também em Blu-ray e em dobradinha DVD+CD duplo.

Gravado ao vivo no lendário Beacon Theatre de Nova York, onde o grupo não tocava há 25 anos, o álbum registra um momento único na trajetória da banda criada e ainda hoje liderada pelos incríveis Tom Johnston (vocal e guitarra) e Patrick Simmons (vocal e guitarra). Trata-se da primeira vez em que eles tocaram, na íntegra, faixa a faixa e na ordem original em que foram lançadas, as músicas de seus dois melhores LPs, Toulouse Street (1972) e The Captain And Me (1973).

Esses dois trabalhos, que venderam muito na época e emplacaram hits do porte de Listen To The Music, Rockin’ Down The Highway, Jesus Is Just Alright, Long Train Runnin’ e China Grove, mostram uma original e turbinada mistura de rock and roll, folk, soul, blues e hard rock, tendo como marca registrada o contraponto entre o vozeirão e a guitarra agressiva de Johnston e o dedilhado na guitarra e violão e a voz mais doce de Simmons. Uma combinação perfeita.

Um dos atrativos desse já bem interessante álbum é o fato de termos aqui registros ao vivo de músicas que a banda nunca havia tocado em shows, como as ótimas Mamaloi, Ukiah e The Captain And Me. O segundo disco traz em sua parte final três faixas adicionais incluídas no bis do show: Take Me Your Arms, Black Water e uma segunda versão de Listen To The Music.

Além de Tom Johnston e Patrick Simmons, a atual escalação dos Doobies traz outro cara importante na história da banda, o cantor, compositor e multi-instrumentista John McFee, que entrou no time no final dos anos 1970 e é de uma versatilidade impressionante como músico. Completam o afiadíssimo time Bill Payne (teclados, ex-integrante do grupo Little Feat, de muito sucesso nos anos 1970), Marc Russo (sax) e Ed Toth (bateria), John Cowan (baixo e vocais).

Leia mais textos sobre os Doobies em Mondo Pop aqui

Eis as faixas de Live From The Beacon Theatre:

Disco 1: Toulouse Street

– Listen To The Music
– Rockin’ Down The Highway
– Mamaloi
– Toulouse Street
– Cotton Mouth
– Don’t Start Me To Talkin’
– Jesus Is Just Alright
– White Sun
– Disciple
– Snake Man

Disco dois: The Captain And Me:

– Natural Thing
– Band Intros (apresentação dos músicos)
– Long Train Runnin’
– China Grove
– Dark Eyed Cajun Woman
– Clear As The Driven Snow
– Without You
– South City Midnight Lady
– Evil Woman
– Busted Down Around O’Connelly Corners
– Ukiah
– The Captain And Me
Encore (bis)
Take Me In Your Arms (Rock Me)
Black Water
Listen To The Music (Reprise)

Long Train Runnin’ (live at the Beacon Theatre):

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