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Don Everly, 84 anos, integrante dos seminais The Everly Brothers

don everly

Por Fabian Chacur

Sempre que o tema “artistas mais influentes da história da música pop” vem à tona, um nome que não pode ficar de fora é o dos Everly Brothers. O trabalho desse incrível duo norte-americano faz parte do dna de trabalhos como os dos Beatles, Simon & Garfunkel, The Hollies e por aí vai, e vai longe. Já havíamos perdido Phil Everly em 3 de janeiro de 2014. Neste sábado (21), infelizmente foi a vez de seu irmão, Don, que nos deixou aos 84 anos. A morte foi anunciada por seus parentes, sem detalhes sobre qual teria sido a causa.

Don e Phil começaram a gravar em 1956, e seus primeiros hits vieram logo no ano seguinte, as marcantes Bye Bye Love (nº2 na parada pop) e Wake Up Litle Susie (nº1 na parada pop). Interpretando especialmente composições alheias, mas também com algumas próprias no meio, os irmãos misturaram com muita habilidade a música country com o então emergente rock, criando vocalizações com assinatura própria e muito jogo de cintura.

Até 1962, emplacariam diversos hits, gravando pelos selos Cadence e Warner, maravilhas do naipe de All I Have To Do Is Dream, Claudette, Bird Dog, Gone Gone Gone, Cathy’s Clown e Cryin’ In The Rain, só para citar os mais populares. A partir dali e até 1973, o duo viu sua popularidade nos EUA cair bastante, embora se mantivessem bem cotados no exterior, especialmente no Reino Unido.

Após uma década de separação, período no qual investiram em carreiras-solo sem grande repercussão, eles fizeram um show de retorno em 1983 e lançaram no ano seguinte o álbum EB 84, nº 38 nos EUA (o maior sucesso deles por lá desde 1962), produzido pelo guitarrista britânico Dave Edmunds e com músicas inéditas de Paul McCartney (On The Wings Of a Nightingale, a faixa de maior sucesso do LP) e Jeff Lynne (The Story Of Me), além de uma releitura de Bob Dylan (Lay Lady Lay) e três composições do próprio Don- Following The Sun, You Make It Seen So Easy e Asleep.

A partir dali, os irmãos lançaram mais dois álbuns de estúdio, alguns trabalhos ao vivo e fizeram shows de tempos em tempos. Em 1986, participaram dos vocais da faixa-título do álbum Graceland, de Paul Simon. Em 2003/2004, marcaram presença na turnê Old Friends, de Simon & Garfunkel, com direito às duas duplas aparecendo juntas em um momento marcante dos shows. Vale lembrar que S&G regravaram com sucesso Wake Up Little Susie em seu histórico álbum ao vivo The Concert At Central Park (1982).

Além de vender milhões de discos, os irmãos também integram o Rock And Roll Hall Of Fame (1986) e o Country Music Hall Of Fame (2001). Entre inúmeras homenagens nesses anos todos, Billie Joe Armstrong (vocalista e guitarrista do Green Day) e Norah Jones lançaram em 2013 o álbum Foreverly, no qual regravaram todo o repertório do álbum Songs Our Daddy Taught Us (1958), no qual Don e Phil gravaram músicas tradicionais que aprenderam com o seu pai. George Harrison também regravou Bye Bye Love, em seu álbum Dark Horse (1974), e o A-ha, Crying In The Rain, em seu álbum East of the Sun, West of the Moon (1990).

Wake Up Little Susie– The Everly Brothers:

Morre Phil, dos Everly Brothers, aos 74 anos

Por Fabian Chacur

O rock and roll sofre sua primeira grande perda em 2014. Morreu na última sexta-feira (3), aos 74 anos, Phil Everly, que ao lado do irmão mais velho Don (de 76 anos) integrou os Everly Brothers, um dos duos mais importantes da história da música pop. O músico foi vítima de uma doença pulmonar, que sua esposa Patti atribui ao tabagismo. Ele vivia em Burbank, Califórnia.

Nascido em Chicago em 19 de janeiro de 1939, Phillip Everly era filho de dois cantores de rádio, e estreou na música aos 7 anos de idade ao lado do irmão Don em um programa radiofônico. Após anos batalhando por uma oportunidade, tiveram a ajuda do célebre músico Chet Atkins, que tocou com Elvis Presley e inúmeros outros durante sua brilhante carreira.

Com um background de música country, os Everly logo adicionaram a essa sonoridade o rhythm and blues e o emergente rock and roll, ajudando a criar uma mistura que marcou a história do rock and roll e intitulada rockabilly. Com suas vocalizações, logo invadiram as paradas de sucesso, e seu primeiro sucesso, Bye Bye Love, tem uma origem bastante curiosa.

Obra do casal Felice e Boudleaux Bryant, Bye Bye Love já havia sido rejeitada por ao menos 30 intérpretes antes de ser finalmente registrada pelos irmãos Don e Phil. Valeu a espera. A canção logo se tornou um dos grandes sucessos de 1957, atingindo o segundo posto na parada americana pop e o primeiro na de rhythm and blues. Wake Up Little Susie (1957), também dos Bryant, foi ainda além, dando à dupla de cantores o primeiro lugar na parada pop ianque, mesma posição atingida por All I Have To Do Is Dream (1958) poucos meses depois.

Até 1960, eles emplacaram vários sucessos no selo Cadence, do qual saíram naquele ano ao aceitar uma oferta milionária da Warner por um contrato de dez anos de duração e um milhão de dólares de ganho. O primeiro fruto do novo contrato foi Cathy’s Clown (1960), maior sucesso dos irmãos em sua terra natal, que ficou cinco semanas no topo da parada pop.

As coisas permaneceram bem para os Everly Brothers em termos de sucesso até 1964, com novos hits do naipe de Crying In The Rain, Gone Gone Gone e Ebony Eyes, entre outros. No entanto, o estouro dos Beatles e o surgimento da chamada British Invasion, ironicamente muito influenciada pelo som dos irmãos, acabou tirando as canções deles dos primeiros postos das paradas de sucesso. Eles continuaram seguindo em frente mesmo assim.

Em 1973, no entanto, as desavenças entre os irmãos chegaram ao ápice, e após um show em junho daquele ano, Phil jogou seu violão no chão e saiu do palco, encerrando ali o trabalho com Don. Parecia o fim definitivo da dupla, que a partir daí partiu para carreiras solo. Phil gravou algumas canções bacanas no período, incluindo a primeira e ótima versão de The Air That I Breathe, que depois estouraria em releitura do grupo britânico Hollies, não por acaso bastante influenciado pelo som dos brothers americanos.

Em setembro de 1983, no entanto, o retorno dos Everly Brothers acabou se materializando, em dois shows no Royal Albert Hall londrino que geraram um álbum duplo ao vivo. Em 1984, os irmãos foram além, gravando um novo álbum de estúdio com a produção de Dave Edmunds. EB 84 equivaleu a um retorno certeiro, com ótimas vendas e pelo menos três faixas excelentes.

On The Wings Of a Nightigale leva a assinatura de ninguém menos do que Paul McCartney, que ainda toca violão na gravação. Jeff Lynne, da Electric Light Orchestra, compôs The Story Of Me para a dupla, e participou da gravação (tocando baixo) ao lado de outro colega da ELO, o tecladista Richard Tandy. E temos um cover arrepiante de Lay Lady Lay, de Bob Dylan.

Até o fim dos anos 80, os Everly Brothers ainda nos proporcionariam outras gravações ótimas, como Born Yesterday (faixa título do LP lançado em 1986), uma inspiradíssima releitura de Why Worry (do Dire Straits) e uma parceria histórica com os Beach Boys em uma regravação de Don’t Worry Baby, um dos momentos máximos de Brian Wilson como compositor.

Se não gravaram mais discos de inéditas a partir de Some Hearts (1989), os irmãos continuaram fazendo shows. Em 2003/2004, participaram da turnê Old Friends com Simon & Garfunkel, um de seus discípulos mais famosos, com direito a registro em CD e DVD. Vale lembrar que S&G ajudaram a criar o clima para o retorno dos EB quando gravaram Wake Up Little Susie em seu mitológico álbum ao vivo gravado no Central Park de Nova York em 1981.

Inúmeros artistas releram sucessos dos Everly Brothers nesses anos todos. Em seu álbum Dark Horse (1974), por exemplo, George Harrison fez uma releitura lenta, sofrida e também possivelmente irônica de Bye Bye Love dedicada a Pattie Boyd, sua esposa que o estava largando para ficar com o amigo Eric Clapton, em um dos mais famosos e escandalosos triângulos amorosos da história do rock.

O grupo norueguês A-ha fez muito sucesso relendo Crying In The Rain. E Robert Plant ganhou um Grammy ao regravar de forma inspiradíssima Gone Gone Gone no álbum que gravou em dupla com a cantora e musicista country americana Alison Krauss, o ótimo Raising Sand (2007), grande sucesso de vendas e de crítica. Por sinal, essa regravação foi massacrada na MTV por João Gordo, que a achou ridícula. Que vergonha alheia!!!

Phil Everly nos deixa como herança algumas das melhores e mais influentes vocalizações da história do rock and roll, além de ajudar a firmar um dos estilos musicais mais mestiços de todos os tempos, injetando nele um tempero caipira delicioso que gerou frutos até na nossa música sertaneja, jovem guarda, pop rock etc.

Para quem deseja mergulhar no universo dos Everly Brothers, recomendo a excepcional coletânea tripla Perfect Harmony (Sequel Records/Castle Records), lançada em 1990 e que dá uma geral completa na trajetória da dupla, incluindo 60 faixas de todas as fases do duo (incluindo algumas gravações solo de Don e Phil) e um encarte com dados técnicos e texto impecável. Pode ser difícil de ser encontrada, mas vale cada centavo que você pagar nela.

Wake Up Little Susie, com The Everly Brothers:

Gone Gone Gone, com The Everly Brothers:

On The Wings Of a Nightingale, com The Everly Brothers:

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