Por Fabian Chacur

Confesso que frequentemente sinto arrepios quando descubro que irei ouvir músicas de “filhos ou parentes de”, ou de “namorados/namoradas de” etc.

Ou seja, basicamente artistas que trazem como primeiro apelo o fato de ter algum parentesco, seja de que forma for, com alguém famoso e talentoso.

Nem sempre dá certo, vide Yoko Ono (pobre John Lennon!), Ed Motta (pobre Tim Maia) e Sean Lennon (pobre John Lennon 2- A Missão).

Mas só baixo o cacete naquilo que ouço, pois prefiro sempre dar a qualquer um o benefício da dúvida, famoso, ligado a famoso ou desconhecido.

No caso da britânica Karen Elson, a desconfiança surgiu em duas frentes: ser a atual cara metade de Jack White, do White Stripes, Raconteurs e outros projetos bacanas, e ter sido modelo de griffes como Armani, Prada, Channel e Yves Saint-Laurent.

A moça, depois de alguns anos, resolveu mostrar seus dotes como cantora, guitarrista e compositora, com o aval de White.

Dessa forma, nasceu The Ghost Who Walks, que a Lab 344 acaba de lançar no Brasil. Após várias audições, só posso dizer uma coisa: valeu arriscar.

Karen tem uma voz doce e deliciosa, que sabe trafegar com desenvoltura entre climas lúgubres e melódicos, entre o rock quase hard e o vaudeville, o folk e o pop, o country e o lírico, o blues e o romântico e muito mais.

O álbum é um verdadeiro exercício de minimalismo e delicadeza, com arranjos de extremo bom gosto e nada de exageros, seja de vozes, instrumentos ou timbre.

A faixa que dá nome ao álbum abre a festa com categoria e ecos dos momentos mais reflexivos dos Doors.

A sequência vem de forma certeira, com maravilhas do naipe de The Truth Is In The Dirt, Stolen Roses, The Birds They Circle e 100 Years From Now.

Jack White se incumbe da produção e toca bateria (e só bateria) na maior parte das faixas, sabiamente dando espaço para a sua gata brilhar.

The Ghost Who Walks é um belo início de carreira para Karen Elson, que, se se mantiver nesse rumo, tem tudo para superar de longe essas referências iniciais e passar a ser, ela própria, uma futura referência para novas gerações.

Veja o clipe da música The Ghost Who Walks, de Karen Elson: