Por Fabian Chacur

Leon Russell é um daqueles sujeitos para o qual a expressão “lenda viva” parece ter sido talhada sob encomenda.

Nascido em 2 de abril de 1941 no estado americano de Oklahoma, ele logo se mostrou um prodígio musical, aprendendo a tocar ainda criança.

Ele atuou ainda jovem ao lado de David Gates (que depois ganharia fama com o grupo Bread) e integrou o premiado time de músicos do produtor Phil Spector, no início dos anos 60.

Ainda como profissional de estúdio, participou de gravações como a de Mr. Tambourine Man, dos Byrds, e de discos e shows de Joe Cocker em sua fase áurea.

O cantor e músico (o piano é a sua especialidade) americano também se firmou como compositor daqueles de alto calibre.

São dele canções clássicas da música pop como This Masquerade (sucesso com George Benson e The Carpenters, entre outros), A Song For You (hit com Ray Charles e dezenas de outros) e Delta Lady (estouro com Joe Cocker), só para ficar em três absurdamente antológicas e conhecidas.

Embora ainda na ativa, ele andava meio esquecido nos últimos anos.

Até que, em 2008, um de seus fãs mais ilustres, Sir Elton John, começou a arquitetar um revival do grande músico americano.

O fruto de tal interesse gerou o álbum The Union, gravado em dupla por Elton e Leon.

O que o autor de Goodbye Yellow Brick Road fez em princípio sem o menor compromisso com as paradas de sucesso acabou obtendo um resultado muito além de sua expectativa mais positiva.

The Union entrou na parada da revista Billboard, a bíblia da indústria fonográfica mundial, direto na posição de número 3.

Elton não conseguia isso com um trabalho próprio no país de Barack Obama desde Blue Moves, de 1976, mesma década do álbum solo de maior sucesso de Russel, Carney, que chegou ao número 2 em 1972.

O legal é que a dupla conseguiu isso sem apelar. Pelo contrário.

The Union é um álbum que em momento algum apela para modismos ou tendências atuais.

Suas bases são country, soul, gospel, blues, jazz e aquele som inclassificável vindo de Nova Orleans.

O piano dos dois mestres protagoniza a sonoridade do álbum, cuja produção ficou a cargo do brilhante T Bone Burnett, que já assinou a mesma função em obras de Elvis Costello e outros do mesmo porte.

O conteúdo deste disco é para ser absorvido aos poucos, sem pressa, para que se possa curtir cada detalhe melódico, cada solo, cada sutileza harmônica.

Algumas músicas se sobressaem, como as sacudidas Hey Ahab e Monkey Suit, a arrepiante balada When Love Is Dying (uma das melhores de Elton nas últimas duas décadas), a ágil Jimmie Rogers’ Dream e a repleta de soul I Should Have Sent Roses.

Mas as 14 faixas merecem ser descobertas com a mesma atenção e intensidade.

The Union é a prova concreta de que, enquanto existirem artistas com a criatividade, bom gosto e talento como Elton John e Leon Russell, o formato álbum será mais do que justificável.

Esse lançamento da dupla John/Russell poderia ter sido lançado em 1973 ou 2029 que não faria a menor diferença. É música sem prazo de validade.