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Por Fabian Chacur

Após trabalhar durante três anos em uma agência de publicidade, Isabela Zaremba foi para Londres, onde estudou por um ano na BIMM (The British And Irish Modern Music Institute). Formada em Comunicação pela PUC-RJ e em balé clássico, ela já estava decidida a se dedicar em tempo integral à musica. Desta forma, surgia Bela, cantora, compositora e musicista que toca banjo, banjolele e violão, hoje novamente no Brasil.

Com 26 anos de idade e dois singles autorais já lançados nas plataformas digitais, Desandar (ouça aqui) e The Wolf (em versões acústica e elétrica), ela prepara material para seu primeiro EP. Saiba mais sobre essa jovem talentosa e promissora em entrevista feita por e-mail a Mondo Pop.

MONDO POP- Fale um pouco como teve início o seu interesse pela música: o que ouvia inicialmente (estilos musicais, artistas etc) e em que momento esse interesse teve como foco a criação- cantar, compor, tocar.
BELA
– Eu sempre fui uma criança/adolescente que gostava de escutar música. Não ligava muito para TV. Com o passar do tempo, o folk foi ganhando mais destaque nas minhas playlists, além do pop, trap, clássico, indie e MPB. A descoberta do “cantar” veio quando eu era muito nova, no coral da escola. Mas foi só aos 25 anos que comecei a sentir necessidade de transformar meus sentimentos em som. Passei por mudanças de vida marcantes e vi no ato de compor uma forma de escoar meus sentimentos pro mundo – sempre fui muito mais de escrever do que falar.

MONDO POP- Você trabalhou durante três anos em uma agência de publicidade. Como avalia essa experiência, e o que você traz dessa experiência para o seu trabalho na área musical?
BELA
– Trabalhar no mercado publicitário me deu as ferramentas necessárias para empreender no mercado musical. Me ensinou a ter organização, consistência, profissionalismo e paciência. Também aprendi muito sobre estratégia de marketing, aspecto primordial para um artista alavancar a carreira. Cresci muito como pessoa, e a maturidade que ganhei ao trabalhar em agência foi decisiva para a minha mudança de carreira.

MONDO POP- Além dos nomes mais recentes do folk, como Mumford And Sons e Of Monsters And Men, quais outros você citaria, nacionais e internacionais, como possíveis influências em sua sonoridade?
BELA
– Algumas das minhas influências internacionais são Joni Mitchell, Bon Iver, Sufjan Stevens, Of Monsters and Men e Mogli. Já as nacionais SÃO Tiago Iorc, Silva e Anavitória.

MONDO POP- Você compõe em inglês e em português. A ideia é mesclar canções nesses dois idiomas no seu repertório ou pensa em se dedicar a algumas delas de forma mais constante?
BELA
– Eu tenho escrito mais em português por querer entrar com mais força no mercado brasileiro. Me sinto mais confortável por ser minha língua materna, fora que o vocabulário é riquíssimo. Mas não descarto lançar mais músicas em outro idioma – gosto muito da minha voz ao cantar em inglês. As duas línguas permitem explorar significados e fonéticas completamente diferentes, há muito o que explorar dentro desses dois mundos.

MONDO POP- Como você avalia sua passagem por Londres, onde gravou The Wolf? Se a pandemia do novo coronavírus não tivesse ocorrido, teria ficado por lá ou você já pretendia retornar ao Brasil? Pensa em voltar a Londres?
BELA
– Abriu demais meu horizonte. Vi tantas referências artísticas diferentes, principalmente dentro do folk, do rock, do pop. Fiz shows, fiz busking (n.da r.: cantou na rua e em locais públicos), gravei The Wolf com meus amigos da faculdade… Além disso, pude beber na fonte de outros tipos de arte, como museus, teatros, ballet. Mas, desde sempre, eu já tinha planos de voltar pois quero muito conduzir a minha carreira musical aqui no Brasil. Aqui é o meu lugar no mundo. Mas voltaria, sim, menos no inverno cinza e chuvoso hehehe.

MONDO POP- The Wolf e Desandar, as duas canções autorais já divulgadas por você, são bem diferentes entre si, e não só por causa da língua. Elas são boas representantes de duas vertentes distintas de sua obra enquanto compositora?
BELA
– Acredito que as duas canções mostram dois momentos diferentes da minha vivência artística. Desandar foi a primeira música que eu escrevi, representa o início da minha descoberta criativa. Mas vejo a sua beleza justamente por conta disso: é orgânica, sem fortes influências de técnicas de songwriting. É reflexo da sonoridade folk-pop que eu amava ouvir naquele momento, mais “americanizada”. The Wolf já é mais amadurecida e carrega uma bagagem sonora mais ampla. É a soma de referências que vi ao morar em Londres. Por conta disso, tem uma sonoridade mais permissiva dentro do folk-pop, com mais camadas de vozes e uma atmosfera mais orquestral, por exemplo. O timbre da minha voz também é diferente ao comparar com Desandar por conta do trabalho vocal que desenvolvi na faculdade de música.

MONDO POP- Fale um pouco sobre o que te inspira a compor, o que você tenta transmitir nas suas canções.
BELA
– Acredito que o produto artístico de qualquer artista é o resultado de suas vivências e pela sua busca constante por sua identidade. Este fragmento do livro “Creative Inspiration” diz muito sobre essa busca: “I’m an artist. Those words naturally imply always seeking without ever fully finding. It’s the exact opposite of saying I know it already, I’ve already found it. To the best of my knowledge, those words mean “I seek, I pursue, my heart is in it”.”

MONDO POP- Quais são os seus planos para 2021? Pensa em lançar um EP? E como será o repertório?
BELA
– Vou lançar o meu primeiro EP para mostrar mais da minha identidade musical. Estou planejando lançar 5 músicas nesse novo trabalho, que irão transitar entre o folk, pop e nova MPB.

MONDO POP- Você divulgou há pouco uma releitura de Feliz e Ponto, do cantor e compositor Silva. Já tem projetos para fazer outras releituras? De que artistas especificamente?
BELA
– Sim, estou fazendo um projeto em parceria com uma marca para lançarmos outras quatro releituras no formato digital. As gravações já estão em andamento, e teremos canções bem diversificadas entre si, que vão desde o axé e MPB até o rock.

MONDO POP- Com a pandemia atual, a possibilidade de shows presenciais para divulgar seu trabalho parece um pouco distante, no momento. Você pensa em fazer lives ou algo no gênero para preencher essa lacuna? Algo na linha da versão acústica e ao vivo de The Wolf?
BELA
– Sim, a live é uma ótima saída para manter um contato próximo com o público enquanto o presencial não acontece. Fiz lives para promover o lançamento de The Wolf e fortalecer a conexão com a minha rede. Venho aproveitando esse momento para melhorar a qualidade da interação com meu público e para alcançar novos ouvintes por meio das redes sociais.Como parte da estratégia de lançamento, lancei a versão de estúdio de The Wolf e, poucas semanas depois, fiz a versão acústica especialmente para o meu canal do Youtube. Mas, claro, espero ansiosamente para poder cantá-la ao vivo em um show presencial.

MONDO POP- Você pensa em lançar sua música exclusivamente pela via digital ou pretende investir em formatos físicos (CD, LP de vinil etc)?
BELA
– No momento, estou focando em disponibilizar minhas músicas por via digital, pois estou investindo em outras frentes atualmente. Mas penso em diversificar para a mídia física futuramente.

MONDO POP- Para fechar: cite cinco álbuns de que você mais gosta, e faça um pequeno comentário sobre cada um deles.
BELA
– Aí vão eles:
My head is an animal – Of Monsters and Men
O que há de melhor no folk/pop alternativo. É um convite para mergulhar numa sonoridade grandiosa embalada por uma percussão marcante e letras inspiradas na natureza misteriosa da Islândia.

Carrie & Lowell – Sufjan Stevens
Um álbum extremamente sensível mas que, apesar da melancolia, traz leveza à tona através dos dedilhados agudos e da voz sussurrante do Sufjan. É perfeito pra ouvir numa tarde chuvosa.

Wanderer – Mogli
Wanderer tem o poder de transportar o ouvinte para uma atmosfera etérea indie/pop através dos vocais angelicais de Mogli. O álbum foi criado durante uma expedição da artista alemã pela América, o que explica a sua principal inspiração ao compor as canções: a natureza.

Bon Iver – Bon Iver
Bon Iver é um álbum de indie/folk experimental que foge da estrutura convencional de verso/pré-refrão/refrão. Aliás, nada é convencional neste álbum. A sonoridade eletrônica encontra as cordas do violão e as infinitas camadas vocais de Vernon, culminando num resultado incomum e memorável.

Brasileiro – Silva
Silva afina sua brasilidade em Brasileiro, álbum com influência da bossa-nova, pop e samba. As canções trazem calmaria e reforçam a conexão do artista com o mar. É de sentir areia nos pés ao ouvir Duas da Tarde, minha faixa favorita do álbum.

Veja o clipe de The Wolf – Bela: