Por Fabian Chacur

Com 31 anos de uma carreira repleta de grandes momentos, os Titãs não parecem dispostos a dormir em cima dos louros conquistados. Boa prova é o show que a banda paulista mostrou nesta quinta-feira (10) na choperia do Sesc Pompeia, que será repetido nesta sexta-feira (11), com ingressos já esgotados. Uma hora e meia de garra, vibração, criatividade, vitalidade e carisma. O pulso ainda pulsa. Mesmo!

Titãs Inédito é um espetáculo corajoso, pois mostra em sua parte inicial dez canções inéditas em uma enfiada só. Essas músicas poderão estar presentes no próximo álbum de inéditas do hoje quinteto, previsto para sair em 2014. A safra é boa, tendo como marcas a urgência, a concisão e a simplicidade bem trabalhada. Mensageiro de Desgraça, República de Bananas e Não Pode são destaques, mas a rigor nenhuma delas merece ser rejeitada.

Após a première do novo repertório, os Titãs deram um mergulho em seu passado, com direito ao petardo de 1987 (embora atualíssimo) Desordem, a divertida (e pouco tocada ao vivo) Dona Nenê, a encantadora pop-rock Flores, as energéticas Bichos Escrotos e Polícia, a infalível Sonífera Ilha e a evocativa Domingo. Predominaram faixas do antológico Cabeça Dinossauro (1986), marco do rock brasileiro que eles releram em CD/DVD ao vivo em 2012.

Poucas bandas de rock ou de qualquer outro estilo no mundo conseguiriam se manter firmes e fortes após as saídas de integrantes do naipe de Nando Reis, Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Charles Gavin. E é exatamente isso o que a atual encarnação dos Titãs está conseguindo, e com louvor. As explicações para esse êxito não são tão difíceis de serem descobertas, especialmente após vê-los ao vivo em seu momento presente.

Começa pela atual autossuficiência do time, que incorporou o baterista Mário Fabre na vaga de Charles Gavin. Branco Mello assumiu o baixo, Toni Belotto se mantém na guitarra e Sérgio Britto e Paulo Miklos investem em guitarra, baixo e teclados. O resultado é uma sonoridade urgente, compacta e sem muitos rodeios e filigranas. Rock na veia, botando os ia-iás para fora o tempo todo de forma contagiante.

E o charme do tipo “cereja do bolo” fica com os três cantores. Paulo Miklos e Sérgio Britto com seus vozeirões e carismas particulares, com o primeiro mais teatral e o segundo visceral por natureza. Branco é o contraponto, com boa voz mais contida e efeito cênico marcante no melhor espírito new wave. Juntos, equivalem a um daqueles ataques goleadores que devastam as defesas adversárias sem dó nem piedade.

O mais legal é constatar que o entrosamento e a fome de bola dos Titãs em seu ano 32 equivale ao de uma banda iniciante talentosa tentando se firmar no competitivo mundo da música de 2013. Não é de se estranhar que eles possuam na plateia de seus shows um número significativo de garotos que nem eram nascidos quando Cabeça Dinossauro dominava as paradas de sucesso nos anos 80.

Como diria aquele clássico lançado por Paul Simon em 1975, esses caras ainda estão doidos, apesar de todos esses anos (Still Crazy After All These Years). Vale a pena conferir seus próximos passos, especialmente esse álbum de inéditas que irá suceder o ótimo Sacos Plásticos, de 2009. Tudo leva a crer que o epitáfio do grupo ainda está longe de ser cravado.

Veja o clipe de Desordem, com os Titãs: