Por Fabian Chacur

John Lennon foi um dos artistas mais importantes da história do rock. Em seus breves 40 anos de vida, teve tempo de construir uma obra colossal, de importância artística e comercial incomensuráveis.

Nos Beatles, o cantor, compositor e guitarrista nascido em 9 de outubro de 1940 na portuária Liverpool se encaixava feito luva com Paul McCartney.

Ambos tinham características próximas, que souberam desenvolver. Eles aprenderam muito um com o outro, e se completavam de forma absurda.

Nem Paul era tão romântico, nem John era tão rebelde, e isso fica claro em alguns momentos doces dos Beatles assinados por ele, como Girl, Julia, If I Fell e Strawberry Fields Forever, só para dar alguns exemplos.

Juntos, John, Paul, George e Ringo construíram o mais valioso acervo da história da música pop.

Lógico que seria difícil superar isso sozinho, e John Lennon não conseguiu em sua carreira solo ir além do que fez com os Beatles.

Mas o que ele nos ofereceu em sua trajetória individual já seria capaz de eternizá-lo, mesmo que os Fab Four nunca tivessem existido.

John Lennon – Plastic Ono Band (1970), por exemplo, é um dos discos mais viscerais e minimalistas de todos os tempos, com direito a pérolas como Mother, I Found Out, Look At MeWell Well Well e God.

Logo em seguida, veio Imagine (1971), cuja faixa título é provavelmente o mais belo e singelo hino pacifista de todos os tempos. Mas o disco tem muito mais.

Vide a deliciosamente romântica e delicada Oh My Love, a visceral e de letra política Gimme Some Truth e a virulenta venenosa How Do You Sleep (cheia de rancor contra Paul McCartney).

Em 1972, o panfletário Some Time In New York City mostra um Lennon não tão inspirado e dando espaços demais para a pseudoartista Yoko Ono, mas mesmo assim, traz ao menos duas maravilhas, o rockão New York City e a balada visceral Woman Is The Nigger Of The World.

A faixa título, um dos momentos mais profundos, iluminados e conquistadores da obra do ex-beatle, é o destaque do álbum Mind Games.

Walls And Bridges, de 1974, é na minha opinião o grande álbum pop da carreira de John Lennon, incluindo clássicos do naipe de Nº 9 Dream, música cuja elaboração beira clássicos dos Beatles como I Am The Walrus e Strawberry Fields Forever, além de ter um refrão arrepiante.

O disco traz também Whatever Gets Yout Thru The Night, sacolejante dueto dele com Elton John, a sombria Scared, a funkeada What You Got e muito mais.

Rock And Roll (1975) é uma simpática demonstração de amor de Lennon ao rock and roll dos anos 50 e início dos 60, com releituras bacanas de clássicos como Slippin’ And Slidin’ e Stand By Me.

Double Fantasy (1980), último álbum lançado em vida por John Lennon, equivale a uma despedida digna, com pelo menos três músicas que se equiparam a seus melhores momentos: a nostálgica e contagiante (Just Like) Startin’ Over, a reflexiva Watching The Wheels e a maravilhsa homenagem ao filho Sean Beautiful Boy.

Se não tivesse nos deixado há 30 anos, Lennon certamente teria feito como Paul McCartney, que nas últimas três décadas nos proporcionou inúmeras músicas novas maravilhosas, aumentando ainda mais seu acervo de clássicos.

Não era para ser. Mesmo assim, o legado de Mr. Lennon tem valor incalculável, e irá inspirar a todos nós até o final dos tempos.