Por Fabian Chacur

A vida prega suas peças eternamente. Diariamente. A cada minuto, segundo, culionésimo de segundo. Dá para encarar Ezequiel Neves, um dos meus ídolos na imprensa musical, morrer exatamente vinte anos após a partida de Cazuza, que ele ajudou a lançar? É muito pra cabeça!

Zeca tinha 74 anos e nos deixa privados de seu imenso talento em um triste 7 de julho de 2010. Se hoje eu me meto a escrever sobre música, é por ter lido durante anos e anos suas excelentes colunas para o Jornal da Tarde aqui de Sampa City. Suas críticas eram sempre deliciosas, e eu as devorava avidamente.

Nem sempre concordava com suas opiniões, embora risse frequentemente com algumas delas. Barry White, por exemplo, de cuja obra eu gosto bastante, ele definia como o “paquidérmico maestro americano”.

Rock progressivo certa vez ele definiu como “head music para cabeça de espantalho”. E por aí vai. Mas quando esse jornalista carioca era fã do artista enfocado, jogava a tal isenção para o alto e mandava ver nos elogios, sempre bem articulados e pertinentes. Escrevia com paixão, ótimo texto e conhecimento de causa.

Ao saber que David Bowie havia estreado no cinema com o filme The Man Who Fell The Earth (1976), ele soltou a pérola:  “não vi, mas já gostei”. Novidades dos Rollings Stones, então, ele sempre adorava.

Quando saiu o disco Black And Blue (1976), se não me engano, ele soltou o clássico “eles me fizeram gostar de uma coisa que odeio, que é o reggae”.

E ele foi um dos raros na imprensa musical que via grande talento em artistas dos quais adoro, como Daryl Hall & John Oates e o grupo Culture Club, do cantor Boy George, que frequentemente eram desprezados por outros críticos preconceituosos em relação ao pop.

Mais: ele descobriu o Barão Vermelho e Cazuza. Li logo que saiu aquela célebre coluna que ele escreveu na revista Som Três falando sobre a então ainda desconhecida banda, com uma paixão que deixou a todos os seus leitores com os ouvidos coçando. E ele estava certo.

Foi o Barão e Cazuza que fizeram Zeca Jagger largar mão do jornalismo musical para virar produtor e eventual compositor. Felizmente o cara se deu bem. Das composições que levam o seu nome, Exagerado, escrita com Cazuza e Leoni, é o marco fundamental. Um clássico que seus amados Mick Jagger e Keith Richards teriam orgulho de assinar.

Querem mais uma? A maravilhosa Codinome Beija-Flor. Zeca continuou trabalhando com os dois após a separação Cazuza/Barão Vermelho.

Quando Cazuza lançou Só Se For a Dois, a Polygram realizou, em abril de 1987, uma coletiva de imprensa com Cazuza. No mesmo dia, tive a honra de conhecer o cantor e também Ezequiel Neves. Duas figuras fantásticas, com as quais tirei foto e tudo.

Na época, tinha com meu amigo Valdimir D’Angelo uma revista independente, a Som & Imagem, e planejávamos entrevistar o crítico e produtor. Infelizmente para mim, não rolou. Mas do papo com Zeca Rotten, nunca mais esquecerei. Vá com Deus, mestre, e mande um abração pro Caju!