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D.A. Pennebaker eternizou as cenas de gênios da música pop

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Por Fabian Chacur

As décadas de 1960, 1970 e 1980 foram palco de grandes momentos da história da música pop mundial. Se por ventura você ainda não era vivo ou não tinha idade suficiente para ter presenciado in loco o que de melhor ocorreu nessas épocas, a única saída é recorrer a documentários. E um dos profissionais que melhor trabalhou no ofício de eternizar performances sublimes em filmes foi o diretor americano D.A. Pennebaker, que infelizmente nos deixou aos 94 anos de idade no último dia 1º (quinta), sendo que sua morte só foi divulgada no último sábado (3). Seu currículo na área musical é simplesmente arrasador.

Don Alan Pennebaker nasceu em Evanston, Illinois (EUA) em 15 de julho de 1925, filho de um fotógrafo. Ele se formou em engenharia, mas acabou se embrenhando pelo cinema. Seu primeiro curta-metragem envolvendo música saiu em 1953, Daybreak Express, no qual cenas registradas em estação de metrô de Nova York ao som da música de mesmo título, de Duke Ellington. Em 1960, ganhou os holofotes com Primary, na qual registrou a disputa das primárias do Partido Democrata que nomearam como candidato John F. Kennedy.

O método com o qual Pennebaker fazia seu trabalho partia de um princípio básico: ser uma espécie de espectador neutro dentro de um contexto, ou “fly on the wall” (mosca na parede), como ficou conhecido esse tipo de abordagem. Em uma entrevista concedida à revista Film Comment, ele delineou seu método de trabalho:”observe. Apenas observe. Não interprete, não explique”.

O pulo do gato em termos de projeção na área musical ocorreu quando foi convidado a registrar a turnê realizada por Bob Dylan na Inglaterra em 1965. O filme resultante desta experiência, Dont Look Back (1967) flagra toda a polêmica passagem do artista de sua fase acústica para uma abordagem mais roqueira, atraindo reações agressivas por parte dos fãs mais puristas, que desejavam ver seu ídolo eternamente atrelado ao folk acústico.

Mama Cass de queixo caído

Em 1967, lá estava Pennebaker registrando o seminal Monterey Pop, festival que se tornou um marco da música pop e do rock em particular, atraindo um público muito maior do que se esperava e escancarando a importância roqueira no universo cultural naqueles anos efervescentes e criativos.

A cena em que ele mostra a cantora Mama Cass, do The Mamas And The Papas, com o queixo caído ao presenciar na platéia uma performance demencial da então ainda desconhecida Janis Joplin na música Ball And Chain é um dos pontos altos do simplesmente espetacular Monterey Pop (1968).

Posteriormente, seriam lançados outros dois filmes com material inédito registrado durante aquele festival, Jimmy Plays Monterey (1986) e Shake! Otis At Monterey (1987), centradas nos shows incríveis realizados por Jimi Hendrix e Otis Redding naquele evento mitológico.

Plastic Ono Band no Canadá

Em 1969, John Lennon montou um grupo com a esposa, Yoko Ono, e os amigos Eric Clapton (guitarra), Klaus Woorman (baixo) e o então desconhecido Allan White (bateria, tocaria depois com o Yes) e participou de um festival de música em Toronto, no Canadá, evento do qual também participaram os pioneiros do rock Bo Diddley, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry e Little Richard.

O show, uma das raras performances ao vivo de John Lennon sem os Beatles, virou filme graças às lentes de Pennebaker, gerando o documentário Sweet Toronto (1971), que embora traga performances dos outros roqueiros, é centrada na performance completa de Lennon e seus asseclas, a mesma que gerou o álbum ao vivo Live Peace In Toronto (1969), o “álbum da nuvem”, creditado à Plastic Ono Band.

Em 1973, chega a vez de Pennebaker filmar o último show da turnê de David Bowie encarnando o personagem Ziggy Stardust, realizado em 3 de julho daquele ano no Hammersmith Odeon, em Londres. Um registro cru e direto de um show no qual Bowie vive um dos vários momentos icônicos de sua trajetória, ao lado da banda Spiders From Mars.

O filme propriamente dito, Ziggy Stardust And The Spiders From Mars- The Motion Picture, só sairia em 1979, e sua impactante trilha sonora, em 1983.

Uma curiosidade sobre esse documentário: o lendário guitarrista Jeff Beck participou do show em sua parte final, no pot-pourry The Jean Genie/Love Me Do e em Round And Round. Essa performance, no entanto, só foi exibida em um especial na TV americana que foi ao ar em 1974, e não aparece nem no filme, nem na trilha sonora. As razões pela qual o guitarrista pediu para que a sua participação fosse tirada do filme nunca foram devidamente esclarecidas.

Chris Hegedus, Depeche Mode etc

Em 1976, Pennebaker ganha uma assistente ao trabalhar pela primeira vez com Chris Hegedus, então com apenas 25 anos. Eles se casaram em 1982, e ela se mostrou uma talentosa documentarista, trazendo nova energia para o trabalho do veterano cineasta. A chamada união do útil com o agradável.

O fruto dessa renovação se mostrou em toda a sua intensidade no genial 101 (1989), que documentou o exato momento em que a banda britânica Depeche Mode deixou de ser mais uma das inúmeras bandas de tecnopop aspirando ao estrelato e entrou com tudo no primeiro escalão da música pop. Isso ocorreu durante a turnê americana do grupo realizada em 1988.

A grande sacada de 101 é mostrar a banda de Dave Gahan e Martin L. Gore sendo acompanhada por um grupo de fãs devotados e carismáticos, algo que seria imitado posteriormente por emissoras de TV como a MTV, por exemplo. Pennebaker e Hegedus afirmaram em entrevistas ter sido este o seu trabalho favorito, na seara musical.

Se boa parte das incursões musicais de D.A. Pennebaker registrou fatos que estavam acontece naquele exato momento, um de seus filmes mais bacanas equivale a um verdadeiro resgate, embora tenha como mote a realização de um show. Trata-se de Only The Strong Survive (2002), que reúne craques da soul music como Isaac Hayes, Jerry Butler, The Chi-lites, Sam Moore (da dupla Sam & Dave), Wilson Pickett, Mary Wilson e Rufus e Carla Thomas, entre outros.

Este documentário chegou a ser considerado uma espécie de Buena Vista Social Club do soul, por reunir artistas seminais daquela vertente musical deixados de lado pela grande mídia. Depoimentos emocionantes, como Sam Moore lembrando dos tempos em que atuou como traficante, Jerry Butler virando político ou o medo de Carla Thomas em arrumar os dentes e eventualmente perder seu estilo vocal, são cerejas de um bolo no qual performances arrasadoras são o mote. Saiu em DVD no Brasil, procurem que vale a pena.

Veja o trailer de Only The Strong Survive:

Hunky Dory, Ziggy Stardust e Heroes relançados no Brasil

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Por Fabian Chacur

A discografia de David Bowie é uma das mais importantes da história do rock. Portanto, nada melhor do que ter acesso a esses títulos tão bacanas, ainda mais se for em formato físico. A Warner Music está disponibilizando no Brasil em CD três joias desse acervo maravilhoso, em versões remasterizadas. São todos da década de 1970: Hunky Dory (1971), The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars (1972) e Heroes (1977), em versões devidamente remasterizadas.

Uma ressalva fica por conta de esses títulos seguirem o padrão das reedições imediatamente anteriores, feitas pela EMI há 20 anos, que retirou as faixas-bônus incluídas na fantástica série de relançamentos promovida pelo selo americano Rykodisc no início da década de 1990 (quem comprou, comprou…), cujo acervo, curiosamente, hoje pertence à própria Warner Music.

Hunky Dory tem vários pontos importantes, entre os quais ser o primeiro LP do astro britânico a incluir os músicos que integraram sua lendária banda de apoio, a Spiders From Mars. São eles Mick Ronson (guitarra), Trevor Bolder (baixo) e Mick Woodmansey (bateria). O convidado especial, tocando teclados, é ninguém menos do que Rick Wakeman. Três grandes hits, todos baladas empolgantes, estão aqui: Changes, Life On Mars? e Oh! You Pretty Things. A deliciosa Kooks, a ardida Queen Bitch e a divertida Andy Warhol são outros destaques.

Responsável por sua explosão em termos de popularidade no Reino Unido, The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars marcou o surgimento do glam rock enquanto fenômeno musical e de popularidade entre o público rocker, alucinando a garotada com petardos como Ziggy Stardust, Sufraggette City, Hang On To Yourself e baladas como Starman e Rock And Roll Suicide. Um dos discos mais “rock na veia” do Camaleão.

Heroes é o irmãos siamês de Low (1977), e traz como marca sua mistura de rock e música eletrônica, com direito a elementos de música vanguardista, krautrock e por aí vai. E vai bem! Não faltam faixas antológicas, entre as quais vale lembrar da envolvente e nervosa Beauty And The Beast e da icônica música que deu título a este CD, um verdadeiro hino rocker. As presenças de Brian Eno e Carlos Alomar são marcantes nessa fase do saudoso astro britânico.

Saiba as faixas contidas em cada CD:

Hunky Dory:

Changes (2015 Remaster) 03:37
Oh! You Pretty Things (2015 Remaster) 03:13
Eight Line Poem (2015 Remaster) 02:55
Life On Mars? (2015 Remaster) 03:55
Kooks (2015 Remaster) 02:53
Quicksand (2015 Remaster) 05:06
Fill Your Heart (2015 Remaster) 03:10
Andy Warhol (2015 Remaster) 03:54
Song For Bob Dylan (2015 Remaster) 04:13
Queen Bitch (2015 Remaster) 03:20
The Bewlay Brothers (2015 Remaster) 05:29

The Rise and Fall od Ziggy Stardust and the Spiders from Mars:

Five Years (2012 Remastered Version
Soul Love (2012 Remastered Version)
Moonage Daydream (2012 Remastered Version)
Starman (2012 Remastered Version)
It Ain’t Easy (2012 Remastered Version)
Lady Stardust (2012 Remastered Version)
Star (2012 Remastered Version)
Hang On To Yourself (2012 Remastered Version)
Ziggy Stardust (2012 Remastered Version)
Suffragette City (2012 Remastered Version)
Rock ’N’ Roll Suicide (2012 Remastered Version)

Heroes:

Beauty And The Beast (2017 Remastered Version
Joe The Lion (2017 Remastered Version)
Heroes (2017 Remastered Version)
Sons Of The Silent Age (2017 Remastered Version)
Blackout (2017 Remastered Version)
V-2 Schneider (2017 Remastered Version)
Sense Of Doubt (2017 Remastered Version)
Moss Garden (2017 Remastered Version)
Neuköln (2017 Remastered Version)
The Secret Life Of Arabia (2017 Remastered Version)

Ouça Hunky Dory em streaming:

André Frateschi e Heroes com o melhor de Bowie em Sampa

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Por Fabian Chacur

Aos 7 anos de idade, André Frateschi ouviu pela primeira vez o antológico álbum Alladin Sane (1973), de David Bowie. Nascia uma paixão que iria gerar, em 2005, o surgimento da banda Heroes, com a qual o cantor, compositor e ator já fez inúmeros e concorridos shows com o repertório do saudoso astro britânico. Ele se apresenta em São Paulo nesta sexta (12) e sábado (13), às 21h, no Teatro Morumbi Shopping (avenida Roque Petroni Junior, nº 2.800- estacionamento do piso G1- fone 0xx11-5183-2800), com ingressos a R$ 25,00 (meia) e R$ 50,00 (inteira).

Pode se dizer que Frateschi realmente incorporou o personagem que representa em seus shows. Acompanhado por ótimos músicos, ele não só canta com muita garra e categoria as sofisticadas músicas do Camaleão do Rock, como também possui uma performance cênica que torna suas apresentações temáticas ainda melhores. Fica claro para todos que ele realmente ama as canções que interpreta, fugindo de cair na armadilha de um projeto caça-níqueis ou coisa que o valha.

A Heroes tem em seu repertório mais de 80 canções de David Bowie ensaiadas, o que possibilita a eles fazer shows bastante distintos uns dos outros. Para essas apresentações em São Paulo, estão previstas algumas canções que priorizam o piano, como All You Pretty Things e Changes, hits como Ziggy Stardust, Let’s Dance, China Girl, Space Oddity e Starman e também Lazarus, esta lançada no início de 2016 no álbum Blackstar, lançado dois dias antes da morte do genial astro britânico.

Além do trabalho com as músicas de David Bowie, Frateschi também ficou conhecido ao participar da turnê de aniversário de 30 anos do primeiro álbum da Legião Urbana ao lado de Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá como o vocalista principal. Ele lançou em 2014 seu primeiro álbum autoral, Maximalista, que conta com a participação especialíssima de Mike Garson, pianista que fez inúmeras gravações e shows com David Bowie, incluindo o demencial solo em Alladin Sane.

Under Pressure (ao vivo)- André Frateschi e Miranda Kassin:

Life On Mars (ao vivo)- André Frateschi:

Cracked Actor (ao vivo)- André Frateschi:

CD flagra Iggy e Bowie ao vivo em 1977

Por Fabian Chacur

Há várias amizades históricas no rock and roll, capazes de gerar frutos que proporcionaram (e proporcionam) aos fãs muito prazer auditivo. A dobradinha David Bowie/Iggy Pop é certamente uma delas.

Fã incondicional dos Stooges, uma das bandas consideradas pioneiras do que se convencionou chamar de punk rock, Bowie deu uma força ao grupo e produziu seu terceiro álbum, Raw Power (1973). Quando a banda acabou, o eterno Ziggy Stardust mais uma vez se fez presente, ajudando o amigo a lançar seus dois primeiros álbuns solo, os seminais The Idiot e Lust For Life, ambos em 1977.

Não satisfeito, Bowie ainda integrou a banda de apoio que tocou com Iggy Pop durante uma histórica turnê em 1977. Já havia sido lançado anteriormente material registrado nessa turnê, mas nada com a qualidade de áudio de Iggy & Ziggy – Sister Midnight- Live At The Agora, que a ST2 acaba de lançar no Brasil em formato digipack.

O CD foi gravado ao vivo no dia 21 de março de 1977 no Agora Ballroom, em Cleveland, Ohio, EUA. Para acompanhar o amigo Iggy, Bowie se incumbiu dos teclados e escalou três outros músicos de primeira linha para cumprir a missão.

O guitarrista escocês Ricky Gardiner (na época com 29 anos) tinha acabado de participar com destaque do álbum Low (1977), de Bowie, e dá um verdadeiro banho de garra, riffs bem colocados e solos criativos durante o show com Iggy.

Completam o time os irmãos Tony (baixo) e Hunt Sales (bateria), que 12 anos depois estariam ao lado de Bowie e do guitarrista Reeves Gabrels na banda Tin Machine, que lançou três simpáticos álbuns de rock básico entre 1989 e 1992.

Esse verdadeiro timaço esbanjou entrosamento e garra nas faixas registradas em Sister Midnight – Live At The Agora. Temos aqui 12 faixas, com as seguintes origens:

I Wanna Be Your Dog, 1969 e No Fun são de The Stooges, álbum de estreia dos Stooges, de 1969;
TV Eye e Dirt integram Fun House, álbum de número 2 dos Stooges, de 1970;
Search And Destroy, Raw Power, I Need Somebody e Gimme Danger estrearam em Raw Power (1973), terceiro LP dos Stooges;
Sister Midnight e Funtime estão em The Idiot, estreia solo de Iggy Pop em 1977;
Turn Blue completa o repertório, sendo faixa de Lust For Life, também de 1977.

A qualidade de áudio é realmente surpreendente, se levarmos em conta que foi gravado há 35 anos, e a da performance da banda é simplesmente eletrizante. Iggy canta muito bem e com aquela personalidade forte que o tornou um dos melhores cantores de rock de todos os tempos.

Os riffs precisos de Ricky Gardiner pontuam a performance segura da cozinha rítmica dos irmãos Sales, enquanto Bowie se mostra um tecladista discreto e eficiente, além de dar uma força nos vocais de apoio.

Do pique resfolegante de Raw Power, TV Eye, No Dog e No Fun, passando pelo clima funk eletrônico de Sister Midnight e do blues a la Doors em Dirt, Sister Midnight – Live At The Agora é um dos melhores ao vivo que ouvi nos últimos tempos, especialmente pelo fato de ir além do simples registro histórico do encontro de dois mitos do rock and roll, com belo resultado artístico. Muito, mas muito bom mesmo. Vale cada centavo que você pagar nele.

Ouça Sister Midnight Live At The Agora na íntegra (a versão em CD é mais legal, mas esta é bem bacana também):

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