Em 2018, os músicos Daniel Migliavacca, Tiago Santos e Vitor Casagrande resolveram montar um projeto musical juntos. Eles se conheceram no programa de mestrado em música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e tinham em comum o fato de todos eles tocarem bandolim.
Nascia o Bandolim Trio, cujo álbum de estreia, Ludicamente, será disponibilizado nas plataformas digitais nesta sexta (31). Eles mostram o repertório do álbum em São Paulo em show gratuito neste sábado (1º/4) às 21h no Instituto Brincante (rua Purpurina, nº 412- Vila Madalena).
A formação traz como novidade o fato de incluir dois bandolins no formato tradicional, com oito cordas, e um com 10 cordas. Os músicos incorporam o espírito da música camerística e a adaptam para a característica do improviso e criatividade da nossa música instrumental, mergulhando em gêneros como chorinho, samba, baião, valsa, tango, maxixe e fox trot.
Daniel explica o conceito e a originalidade da proposta do trio: “Neste projeto tivemos o desafio de escrever para 3 bandolins, já que temos poucas referências desse tipo de trabalho no Brasil e no mundo. Ficamos muito felizes com o resultado e estamos ansiosos para mostrar ao público”.
O repertório de Ludicamente traz 10 composições inéditas, entre as quais Cigana. O grupo é novo, mas seus três integrantes já possuem farta experiência em gravações com outros grupos e em suas trajetórias individuais. Daniel tem 8 discos no currículo, enquanto Vitor e Tiago possuem, cada um deles, 4 álbuns no currículo.
Quando ouço o nome Ivan Lins, sempre me vem à mente o fato de ele ser menos reconhecido do que merece em termos de crítica no Brasil do que no exterior, onde é cultuado em vários e vários países. No entanto, isso não o impede de ter um público fiel, que sempre lota seus shows por aqui. E isso certamente ocorrerá neste domingo (2) às 19h30 em São Paulo no Bourbon Street (rua dos Chanés, nº 194- Moema- fone 11 5185-6100- saiba mais informações aqui).
O novo show deste brilhante cantor, compositor e tecladista carioca tem como título A Gente Merece Ser Feliz, nome do lindo samba composto por ele em parceria com o grande Paulo Cesar Pinheiro e lançada em 2006 no álbum Acariocando. É uma forma de registrar o momento atual pelo qual o brasileiro passa, querendo deixar para trás o sofrimento desses últimos anos.
O repertório dá uma geral nos mais de 50 anos de carreira de Ivan, com direito a clássicos do gabarito de Madalena, Novo Tempo, Começar de Novo e Vitoriosa, só para citar alguns deles. A ideia é trazer o público para cantar junto e curtir essas canções que marcaram época e se mantém na memória afetiva dos fãs da melhor música brasileira.
O formato do show será compacto, com Ivan (no vocal e teclados) tendo a seu lado Marco Brito (teclados) e o genial Mario Manga (guitarra, violão e cello), este último conhecido como um dos líderes do Premeditando o Breque e um desses músicos versáteis e criativos capazes das mais surpreendentes e lindas sonoridades. Será difícil não sair de alma lavada dessa apresentação…
As coisas no mundo pop em termos de shows estão sendo programadas com cada vez mais antecedência. Após o imenso susto gerado pela pandemia entre 2020 e boa parte de 2021, que levou o setor a ser literalmente paralisado, tudo retomou as proporções habituais. E um bom exemplo fica por conta da estrela pop italiana Laura Pausini, que acaba de divulgar uma nova turnê mundial.
O início será na sua terra natal no dia 8 de dezembro, sendo que a cantora passará por Europa, América Latina e América do Norte. Curiosamente, apenas uma data no Brasil está sendo previamente divulgada. O show ocorrerá em São Paulo no dia 2 de março no Espaço Unimed. Conheça os outros destinos da Anteprima World Tour aqui.
Nada melhor do que celebrar aniversários e parabenizar pessoas que você ama e que te fizeram bem de uma forma ou de outra. E, no dia em que completa 80 anos muito bem vividos, George Benson não poderia passar sem ser devidamente reverenciado por este humilde fã. Dos inúmeros artistas da área musical que eu curto, este cantor e guitarrista norte-americano é um dos meus favoritos desde sempre. Um craque do mais alto gabarito, capaz de te fazer rir, dançar e se emocionar.
Minha paixão pela música deste artista nascido em 22 de março de 1943 em Pittsburg, Pensilvania, teve início nos anos 1970, quando conheci suas brilhantes releituras de On Broadway (ouça aqui)- uma das faixas mais irresistivelmente dançantes de todos os tempos- e Love Ballad, onde romantismo e swing se casam de forma irreversível e linda.
A partir daquele momento, lá pelos idos de 1978, o poder cativante de Benson me pegou e não largou mais. Logo, fui atrás e descobri que ele, na verdade, tinha começado sua trajetória “apenas” como guitarrista de jazz, sendo considerado na metade dos anos 1960 um dos mais promissores na área. Com o tempo, no entanto, percebeu que também era bom como cantor, e aos poucos foi incluindo faixas com vocais nos seus discos, algo similar ao ocorrido com um de seus ídolos, Nat King Cole.
Graças a álbuns sublimes como The Other Side Of Abbey Road (1970), no qual relê faixas do célebre álbum dos Beatles, uma ousadia pelo fato de este trabalho ter sido lançado há pouco tempo na época, Benson foi aos poucos se aproximando do público pop, sem que isso significasse queda na qualidade de seu trabalho. Muito pelo contrário, vale ressaltar de forma enfática.
Em 1976, chegou a hora do estrelato, quando seu álbum Breezin’, o 15º lançado por ele até aquele momento, atingiu o topo da parada norte americana, impulsionada pela deliciosa faixa-título instrumental (ouça aqui) e especialmente por sua sublime releitura de This Mascarade (ouça aqui), que muitos conheceram com os Carpenters.
Nem é preciso dizer que os críticos e os jazzistas mais ranzinzas baixaram o cacete em Benson por essa ampliação de horizontes, mas felizmente ele não deu bola e procurou fazer apenas aquilo que o agradava, conseguindo dessa forma transmitir suas emoções positivas para todos nós.
Pronto. O mundo ganhava um astro pop de proporções mundiais, e Benson soube aproveitar com categoria essa fase de muito sucesso comercial e artístico, que durou até a metade dos anos 1980. Com direito a obras primas como o álbum Give Me The Night (1980) (ouça a faixa-título aqui), que inclui duas faixas do nosso Ivan Lins, entre elas Dinorah Dinorah (ouça aqui).
Vi George Benson ao vivo pela primeira vez em 1979, em um show simplesmente espetacular no antigo Palace, em São Paulo. O segundo conferido por este que vos tecla ocorreu em 2009 (leia a resenha aqui), com direito a orquestra, hits e músicas de Nat King Cole.
Se não repetiu mais o sucesso comercial dos 1970 e 1980, este vencedor de 10 troféus Grammy, o Oscar da música, manteve-se sempre ativo e em altíssimo nível, tanto em shows quanto em novas gravações. Bons exemplos são Givin’ It Up (2006), gravado em dupla com o grande cantor Al Jarreau (leia a resenha aqui) e Songs And Stories (2009- leia a resenha aqui).
Além de cantor de timbre doce e delicioso, repleto de swing e sensualidade, e de tocar guitarra com uma habilidade impressionante, George Benson sabe como poucos reler composições alheias. Se ele compõe pouco e raramente, incorpora sua alma e talento às canções de outros autores que grava, tornando-se assim praticamente um coautor dessas obras.
Como último elogio a esse artista que tanto amo, afirmo que sempre que me sinto com o astral mais baixo e preciso de uma dose de energia positiva, sempre apelo para os discos de George Benson. E, acreditem em mim, SEMPRE dá certo! As flores em vida para esse artista completo, e que ele permaneça conosco por muitos e muitos anos ainda, sempre com saúde e paz. Gratidão a ele!
Conhecida por integrar a banda The Go-Go’s e por uma carreira solo bem consistente, a cantora norte-americana Belinda Carlisle curiosamente não lançava um novo trabalho individual em inglês desde A Woman & A Man (1996). Desde então, ela nos ofereceu os álbuns Voilá (2007), trazendo clássicos do pop francês, e Wilder Shores (2017), com cânticos orientais.
Pois a artista acaba de distribuir nas plataformas digitais Big Big Love, canção escrita pela consagrada compositora norte-americana Diane Warren, que já havia proporcionado um grande hit a Belinda em 1987 com I Get Weak. A faixa, um delicioso pop-rock com toda a cara de anos 1980, será uma das 5 faixas do EP Kismet, programado para sair em 17 de maio.
Aos 64 anos, Belinda Carlisle volta e meia faz shows com as Go-Go’s, banda que em sua fase de maior sucesso (1978 a 1985) lançou três álbuns de muito sucesso, entre eles We Got The Beat (1981), que atingiu o topo da parada americana, façanha para uma banda totalmente feminina.
A partir de 1986, Belinda iniciou uma carreira-solo que rendeu a ela hits como Heaven is a Place on Earth e I Get Weak e participações especialíssimas de artistas do porte de George Harrison, Bryan Adams e Brian Wilson em seus oito álbuns individuais.
Dos vários álbuns que marcaram a história da nossa música, Clube da Esquina é certamente um dos mais icônicos. Os seus 50 anos de lançamento estão sendo celebrados de várias formas, inclusive com a última turnê de Milton Nascimento. Outro marco certamente é De Tudo Se Faz Canção- 50 Anos do Clube da Esquina, livro que será lançado em São Paulo nesta sexta (24) às 19h na sede da gravadora Kuarup (Rua Alves Guimarães, nº 309- Pinheiro), com entrada franca.
Além da noite de autógrafos com Márcio Borges e Chris Fuscaldo, teremos também um pocket show de Telo Borges com a participação especial da cantora Alaíde Costa, que marcou presença no álbum lançado em 1972.
Organizado por Márcio Borges, um dos grandes parceiros de Milton Nascimento, e por Chris Fuscaldo, jornalista, pesquisadora musical e biógrafa, o livro é um lançamento da editora Garota FM Books, e equivale a um abrangente mergulho no universo que envolve o célebre álbum de Milton Nascimento e Lô Borges. Em suas 300 páginas, o leitor irá encontrar vários tipos de abordagens e informações.
Temos aqui desde depoimentos de quem participou efetivamente do álbum, como Milton, Lô, Márcio Borges e Alaíde Costa, por exemplo, até uma análise faixa a faixa do trabalho, realizada por nomes como Ana Maria Bahiana, Charles Gavin, Carlos Eduardo Lima, Zeca Azevedo e outros, entre os quais tive a honra de figurar.
A urgência jornalística aparece em um registro no calor do momento da turnê A Última Sessão de Música, que marcou a despedida de Milton Nascimento dos palcos em 2022, ano em que o Bituca completou 80 anos de vida. Tipo do livro que tem tudo para se tornar, ele próprio, histórico.
Me Deixa em Paz (ao vivo)- Milton Nascimento e Alaide Costa:
Há pouco tempo, Yusuf/Cat Stevens divulgou a releitura de Here Comes The Sun (confira aqui), homenagem aos 80 anos que George Harrison teria completado este ano. Agora, fica claro que a gravação teve uma espécie de outro sentido. O cantor, compositor e músico britânico assinou contrato com a Dark Horse Records, selo criado pelo ex-Beatle e hoje gerido por seu filho, o também músico Dhani Harrison.
Com distribuição via BMG, a gravadora lançará em breve o 17º álbum de estúdio do autor de Wild World e tantos outros hits. King of a Land deve chegar ao mercado musical em vários formatos físicos e nas gloriosas plataformas digitais no dia 16 de junho.
A primeira amostra a ser divulgada é deliciosa. Trata-se de Take The World Apart, canção singela e de levada folk envolvente que finaliza o repertório de 12 novas composições do astro pop. Ela está sendo divulgada com um lyric vídeo fofíssimo, criado pelo premiado ilustrador canadense Peter Reynolds, que trabalhou com Yusuf na novela infantil Peace Train em 2021.
O álbum foi gravado em vários estúdios, entre os quais o célebre Hansa, de Berlim (onde David Bowie e U2 gravaram, entre outros), e finalizado no Friar Park, estúdio pessoal de George Harrison.
O repertório de King of a Land equivale a um conto épico e assumidamente ingênuo que busca um lugar onde possa ocorrer um final feliz. Em comunicado à imprensa, Stevens fala mais um pouco sobre isso:
Olhando minha jornada na música, desde os anos 60, sinto que este novo trabalho é como um mosaico. E no fim mostra, claramente, onde eu estive e quem eu sou hoje”.
Desde que ficou conhecida nacionalmente em 1996 graças a uma participação especial das mais marcantes no hit Sr. Tempo Bom, de Thaide & DJ Hum, Paula Lima soube como poucas desenvolver uma carreira sólida, repleta de trabalhos consistentes e com muita personalidade. Ela mostra neste sábado (18) às 22h para os paulistanos o seu novo show, Eu, Paula Lima, no Teatro B32 (Av. Brig. Faria Lima, nº 3.732- Itaim Bibi), com ingressos a R$ 40,00 (meia) e R$ 80,00 (inteira). Saiba mais aqui.
Com direção artística a cargo da própria cantora e de Allex Colontonio, ela será acompanhada por uma banda integrada por Henry Marcelino (bateria), Felipe Pizzu (baixo), Deusnir (teclado), Jorginho Neto (trombone), Guto Bocão (percurssão) e Bruno Nunes (guitarra e direção musical). Em texto enviado à imprensa, ela explica a concepção deste espetáculo:
“Trago canções especiais da música popular brasileira e os meus clássicos também. Tudo com um apaixonante e forte acento da Black Music. Consegui criar o meu melhor show do mundo, ou melhor, do meu mundo. Isso quer dizer que estou mergulhada neste processo e apaixonada pelo que apresentaremos. É um momento positivo, harmonioso, com muitas mensagens sobre quem somos e para onde podemos ir”.
Um dos momentos marcantes do show ficará por conta da música inédita O Universo Que Habita Em Mim, que Emicida compôs especialmente para ela. Será uma das faixas do álbum que ela promete para breve, que trará composições do consagrado rapper e também de Bid, Gabriel Moura, Max de Castro, Amanda Magalhães e Zélia Duncan.
A ideia do show é dar uma geral nas várias vertentes presentes na sonoridade da obra de Paula, incluindo soul, funk raiz, r&b, samba rock, disco music e MPB. Sempre com a personalidade e o vozeirão que sempre marcaram esta carismática e talentosa cantora.
No dia 17 de fevereiro de 1973, o álbum The World is a Ghetto chegou ao topo da parada americana, onde se manteve por duas semanas, além de vender mais de 3 milhões de cópias por lá. Com este trabalho, a banda War atingiu o ponto máximo de sua carreira em termos de sucesso comercial e criatividade. Prova de que, sim, qualidade artística e ousadia podem gerar muito dinheiro. E a história em torno desta banda é das mais interessantes.
Tudo começou em 1962 em Long Beach, situada na região de Los Angeles, California (EUA), quando os adolescentes Howard Scott (guitarra, percussão e vocais) e Harold Brown (bateria, percussão e vocais) deram início à banda The Creators. No decorrer dos anos, entraram no time B.B. Dickerson (baixo, percussão e vocais), Lonnie Jordan (teclados, percussão e vocais), Papa Dee Allen (percussão e vocais) e Charles Miller (clarinete e sax).
O então sexteto foi pegando corpo e entrosamento graças a inúmeras apresentações em casas noturnas da Califórnia e arredores, e aos poucos criou um estilo próprio, com forte influência de música latina, jazz, rock, soul e r&b. O fato de terem acompanhado o saxofonista Jay Contreli também incorporou elementos de psicodelia ao seu som.
Nesse meio tempo, o cantor britânico Eric Burdon, que havia ganho fama mundial integrando a banda The Animals e depois Eric Burdon & The Animals, foi para os EUA em busca de novos rumos para a sua carreira. Ao lado do produtor Jerry Goldstein, conhecido ser o coprodutor dos hits Hang on Sloopy (1965), dos McCoys, e My Boyfriend’s Back (1963), dos The Angels, percorria Los Angeles em busca de possíveis novos parceiros.
O primeiro a ser arregimentado foi o dinamarquês Lee Oskar, que se mudou para os EUA com a roupa do corpo e a sua harmônica em busca de fama e tocava em bares em troca de dinheiro. Ele, Burdon e Goldstein queriam uma banda para acompanhá-los, e é aí que o The Creators, cujo nome havia sido trocado para The Nighshift, entra em cena. O trio os viu, curtiu seu som e os chamou para uma conversa.
Estávamos em junho de 1969. O papo foi muito produtivo, e o sexteto topou unir forças com eles. A única exigência foi a mudança de nome. Burdon e Goldstein sentiram que, em função da Guerra do Vietnã e do clima vigente, o nome War para um grupo musical poderia ser bem chamativo, e a nova entidade musical seria batizada como Eric Burdon & War.
Mesclando composições de autoria dos músicos a releituras de material de outros artistas devidamente repaginados, o grupo entrou em 1970 com um ótimo álbum de estreia, Eric Burdon Declares War, do qual foi extraído um single explosivo, Spill The Wine, que atingiu o 3º posto na parada norte-americana com sua levada latina e o vocal falado de Burdon.
O álbum, que chegou ao 18º lugar nos EUA, impulsionou shows da banda pelos EUA e também Europa. Em um deles, no dia 16 de setembro de 1970, no badalado Ronnie Scott’s em Londres, contaram com uma canja de ninguém menos do que Jimi Hendrix. Esse evento se tornaria histórico de forma triste, pois foi a última aparição pública do mago da guitarra, que morreria apenas dois dias depois.
Ainda em 1970, sairia Black Man’s Burdon, o 2º álbum do grupo, que chegou à 28ª posição na parada ianque. Em 1971, enquanto faziam shows bem concorridos, o grupo decidiu que iria investir em uma carreira paralela sem Burdon, e lançou War, álbum com pequena repercussão. O que eles não imaginavam é que o instável vocalista inglês sairia da banda em meio a uma turnê, novamente em busca de novos rumos.
Apesar da saída de Eric Burdon, Goldstein resolveu apostar na banda assim mesmo, confiando na qualidade dos caras como músicos e compositores. Naquele mesmo 1971, o agora septeto nos oferece All Day Music, e desta vez a coisa vai bem, com o disco chegando ao 18º lugar nos EUA e emplacando hits como a faixa-título e Slippin’ Into Darkness.
Era nesse clima positivo que o War iniciou os trabalhos para o que viria a ser o seu 3º álbum na fase pós-Eric Burdon. Jerry Goldstein estava tão animado que reservou o Crystal Studios, em Los Angeles, por 30 dias consecutivos, para que a banda pudesse trabalhar à vontade e sem se preocupar com o fim de sessões de um dia para outro. Períodos com 12 horas seguidas de duração das gravações eram comuns.
A ideia de Goldstein não poderia ter sido melhor, porque os sete integrantes do War sempre trabalhavam juntos, criando melodias, letras e arranjos das músicas de forma coletiva, tanto que todos assinavam a autoria das faixas, sendo que em uma ou outra Goldstein também adicionava o seu nome. E foi nesse espírito de time que surgiram as seis faixas de The World is a Ghetto.
O álbum saiu nos EUA em novembro de 1972, e trouxe como uma de suas marcas as letras com temáticas sociais e pacifistas, com direito a umas pitadas de bom humor e de espiritualidade no meio.
Nenhum dos integrantes do War é descendente de latinos. No entanto, o fato de terem sido criados na região de Los Angeles (com a óbvia exceção de Lee Oskar) incorporou à musicalidade deles forte salerosidade, percussão acentuada e um swing irresistível. Cisco Kid é um dos momentos mais emblemáticos e escancarados dessa vertente da banda, e homenageia em sua letra o personagem Cisco Kid, vivido pelo ator Duncan Renaldo (1904-1980) na TV americana entre 1950 e 1956.
Era, então, o único herói latino televisivo, e homenageá-lo deu ao War ainda maior penetração na população latina dos EUA. O single atingiu o 2º lugar na parada ianque, seu maior hit. O grupo premiou Duncan Renaldo, dando a ele um disco de ouro, em encontro eternizado por fotos icônicas.
Com uma variação rítmica impressionante, o septeto nesta música se vale da influência do funk de New Orleans, especialmente graças à batida irresistível criada pelo baterista Harold Brown. Outro ponto alto fica por conta dos vocais em uníssono duelando com o habitual vocalista líder, Howard Scott, outra das marcas registradas deste grupo, sempre com efeito contagiante.
O War era uma banda auto-suficiente, pois não precisava de músicos de apoio ou de estúdio em seus shows e gravações. O talento, criatividade, ousadia e entrosamento deles explica faixas como esta.
A única totalmente instrumental do álbum abre com um clima sereno, pontuado pela harmônica de Lee Oskar, e depois envereda por variações pulsantes e envolventes que tornam seus mais de 13 minutos de duração mais do que justificáveis e de puro prazer auditivo.
Seu clima cinematográfico não é por acaso, pois foi concebida para integrar a trilha do filme The Legend of Nigger Charley (1972), mas a banda ficou insatisfeita com o tratamento que recebeu por parte dos produtores e preferiu ficar com City, Country, City para incluí-la neste álbum.
O momento mais psicodélico do álbum, com um clima hipnótico e letra que mergulha nas questões particulares de cada pessoa, naquilo que ocorre internamente com cada um de nós e que ninguém percebe.
Outra prova contundente da qualidade dos músicos, com cada um aproveitando para desenvolver os seus solos mas sem cair no mero exibicionismo. Os poderosos vocais em uníssono e a alternância de sax e harmônica também dão um tempero extremamente envolvente.
Com uma letra poderosa e de forte conteúdo social, a faixa que dá nome ao álbum começa com um solo memorável de sax de Charles Miller, e depois mergulha em um clima soul e um refrão marcante. Novamente os vocais se mostram poderosos e impactantes, e a guitarra roqueira com pedal wah wah de Howard Scott também acrescenta mais poder a uma música impactante. Uma versão editada foi lançada no formato single e chegou ao 7º lugar nas paradas americanas, mas a do álbum é a melhor.
O álbum é encerrado com uma canção balançada e divertida, no melhor estilo dançante e também com alguns ecos do som de Nova Orleans. Poderia ter sido lançada em single, mas isso não ocorreu, provavelmente pelo fato de o álbum ter sido um estouro de vendas, sendo apontado pela Billboard, a bíblia da indústria fonográfica norte-americana, como o mais vendido naquele país durante o ano de 1973.
OBS.: a versão remasterizada do álbum lançada em 2012 trouxe quatro faixas-bônus:
– Freight Train Jam (5m26)- Ouça aqui– inclui trechos do refrão de The Cisco Kid
– 58 Blues (5m26)- Ouça aqui. Como o nome já entrega, um blues pontuado pela harmônica de Lee Oskar.
– War is Coming (blues version)- ouça aqui. (6m15)
– The World is a Ghetto (rehersal take)- Ouça aqui (8m06)-
Apesar do nome, o War sempre foi uma banda de cunho pacifista, o que pode se conferir nas letras de suas músicas. E essa somatória de músicas contagiantes e mensagens fortes deu a eles um grande sucesso comercial na década de 1970. Outros trabalhos marcantes viriam, mas World is a Ghetto é mesmo o seu momento máximo.
Curiosamente, o álbum ficou por muitos anos fora de catálogo por problemas com a gravadora, só retornando nos anos 1990 graças ao selo Avenue Records, criado por Jerry Goldstein exatamente para relançar os trabalhos dessa banda seminal.
Paulo Miklos lançou o seu primeiro álbum solo, autointitulado, em 1994. Desde então, alternou sua participação nos Titãs com alguns trabalhos individuais, até que em 2016 saiu da banda para se dedicar aos seus projetos na música e também como ator e em outras mídias. Enquanto se prepara para uma turnê de retorno provisório com os Titãs, ele lança seu 4º álbum, Do Amor Não Vai Sobrar Ninguém, com shows nesta quarta (15), às 20h e 22h30, no Blue Note São Paulo (saiba mais aqui).
O novo álbum traz 12 músicas de sua autoria concebidas durante a pandemia e com um tempero romântico que marca sua incursão individual no mundo da música. O show trará várias das novas canções entremeadas por outras de seus trabalhos solo anteriores e algumas dos Titãs.
Nestes dois shows, Paulo Miklos se incumbirá de voz, guitarra e direção artística, tendo a seu lado uma banda composta por Michele Cordeiro (guitarra), Michele Abu (bateria) e Otavio Carvalho (baixo).
Do Amor Não Vai Sobrar Ninguém (clipe)- Paulo Miklos:
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