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Let It Be: 40 anos de um disco injustiçado

por Fabian Chacur

Em maio, um dos discos mais polêmicos da carreira dos Beatles completa 40 anos. Trata-se de Let It Be. Para alguns, o pior dos Fab Four. Para outros, entre os quais me incluo, um belíssimo álbum.

Na verdade, existe muito preconceito em relação a Let It Be.  Primeiro, pelo fato de ter sido montado em partes, sem grande participação da própria banda. O álbum demorou mais de um ano para ser finalizado.

Depois, por não ter seguido o projeto original, que era um álbum do tipo back-to-basics, sem grandes truques de estúdio, ao vivo e direto. Os acréscimos orquestrais feitos por Phil Spector quebraram esse espírito.

Mas e daí? Nesse caso específico, não concordo com Paul McCartney, que ficou revoltado com os arranjos com direito a orquestra e coral nas baladas The Long And Winding Road e Let It Be.

Aliás, essa é uma das razões pelas quais não sou muito fã do Let It Be…Naked, lançado em 2003 como uma espécie de “Let It Be despido dos truques de estúdio”.

As duas baladas ficaram sem graça, ao perder os arranjos concebidos por Phil Spector. Aliás, não só elas. O disco soa frio demais, se comparado com o original. Uma bola fora de McCartney, das raras já cometidas por ele.

Let It Be tem uma sequência fantástica de músicas. Começa com a folk/country Two Of Us, deliciosamente despretensiosa e com ar, ouso dizer, de música caipira brasileira.

A seguir, entra o rockão Dig a Pony, grande momento de John Lennon e com direito a passagens de guitarra eletrizantes e um refrão fantástico.

I Me Mine é uma das melhores músicas de George Harrison incluídas em um disco dos Beatles, com suas mudanças de andamento precisas e vibrantes.

Dig It virou só uma vinhetinha (a versão na íntegra, disponível em álbuns piratas, é sensacional), mas funcionou bem como uma espécie de introdução para a faixa a seguir.

Let It Be é Paul McCartney investindo em uma balada no melhor estilo soul music, tanto que até Aretha Franklin a regravou. Um hino de fé e de resignação no melhor sentido na palavra. Um clássico. Outra vinheta, Maggie May, encerra o que era o lado B do vinil.

I’ve Got a Feeling entra em qualquer lista das mais rascantes canções dos Beatles. Um rockão potente, no qual Paul McCartney solta a voz sem dó nem piedade e com belíssimas passagens de guitarra. Pura energia!

One After 909 foi composta pelos Beatles bem no início da carreira, mas sua versão original básica só saiu anos depois. Os fãs a conheceram nessa gravação deliciosa, na qual o acompanhamento de órgão do americano Billy Preston é o toque de classe. Country soul, seria isso? Sensacional!

The Long And Winding Road é emocionante, e o acompanhamento orquestral, ao contrário do que meu ídolo Paul McCartney deve achar, não deu conotação brega à canção. Pelo contrário. A canção pede uma arranjo assim. Ponto para o polêmico Phil Spector.

For You Blue é uma canção desencanada e muito boa de se ouvir de George Harrison, com direito àquela slide guitar que insere um tempero de blues nesse álbum dos Fab Four.

O final da festa é com Get Back, rockinho contagiante com acompanhamento de bateria similar ao de marcha militar que deu à mesma uma originalidade absurda, e com letra ironizando Yoko Ono.

Belo final para um disco perfeito, mesmo com todas as suas possíveis imperfeições.

Tem muita banda por aí que daria um braço, uma perna, tudo para ter em sua discografia um álbum do gabarito de Let It Be. Como diria o Capitão Nascimento de Tropa de Elite, “nunca terão”…..

2 Comments

  1. Oi, Fabian

    Concordo com você em relação ao Let It Be…Naked, aliás, o verdadeiro Let It Be parece que é aquele lendário disco pirata Get Back, cuja capa remete ao primeiro album Please Please me.

    Abraços
    André Luiz

  2. Bem lembrado, André Luiz.. Aliás, essa foto foi utilizada na coletânea 1967-70, a famosa de capa azul. Grande abraço e muito obrigado pela visita!

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